A Perdida do Rei escrita por CutiePumpkin


Capítulo 3
O Inglês Perdido


Notas iniciais do capítulo

Então... Demorou um mês. Mais que isso. Eu sei, eu sei, Pardon. Mas se considerar que esse ficou grande por que me empolguei no dia que escrevi, e tente trazer outro hoje, acho que vale a espera. Ouí? Non? :I



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Capítulo 2- O inglês perdido.

O tal homem refugiado despertou com a felicidade explicitada pelas risadas dos aldeões, que rodeavam a grande fogueira. Esforçando-se, conseguiu se esgueirar na janela, para observar aqueles que o permitiram a vida. Rosto algum era familiar- por mais que a guerra fosse a poucos quilômetros dali-, com exceção de dois. Um homem de cabelos escuros, expressão forte, e claramente tinha algum sentimento ressentido pela moça que dormia tranquila em seu ombro. Era a moça mais linda que já havia visto, por mais que visualizasse apenas seu rosto. Tinha os cabelos claros, e a expressão inocente de uma criança que acabara de sair do ventre. Ou talvez fosse por que dormia profundamente. Como estando hipnotizado, não conseguia lhe tirar os olhos, a moça extraiu-lhe a atenção; a moça que não conhecia nome tampouco idade, mas que lhe dava a mesma sensação da chegada da primavera, e dos poucos resquícios de calor em Britânia.

+++

Era uma noite barulhenta, aquela. Pela primeira vez naquela década, os ingleses decidiram avançar pelo território, e averiguar a existência de pequenas civilizações. Mesmo assim, a pequena Victoria conseguia manter-se no sono, até ouvir um estalo vindo da casa ao lado. Sua mãe atravessara a porta apressada, o olhar preocupado, que logo aliviou-se ao ver que a filha estava bem, mesmo por seu espanto ao ver a casa vizinha em ruínas.

–Victoria, você está bem? Se feriu? - pergunta, procurando uma das mantas guardadas no armário envelhecido.

Non, maman. Para aonde estamos indo? - disse, esfregando os olhos, o sono ainda se sobressaindo no físico da garotinha.

–Elena e os outros criaram um abrigo, no caso de uma invasão. Allez, bébé, levez-vous. Vamos.

As quatro saíram apressadas pela porta, onde encontraram uma fileira de soldados ingleses lado a lado. Maria empurrou a filha para trás de si; Anastasia indo a seu lado. Elena então tomou Victoria nos braços.

–Atirem! - grita o comandante. As armas primitivas deram estalos quando disparadas as balas que acertariam as duas da frente. Elena protegeu a criança, e quando não estava mais em choque, correu para dentro da casa.

Com todos os soldados lá dentro, escalou a janela e se escondeu do lado de fora. Victoria estava com os olhos encharcados, mas sabia que não deveria fazer barulho, e tentou segurar o choro o máximo que pôde. A mulher acariciou seus cabelos e apoiou a cabeça da menina em seus ombros. O choro também se iniciava.

Je suis désolé, Victoire. - disse baixinho. - Sinto muito. Vamos indo.

Saíram na espreita, rezando mais que nunca para que não fossem vistas.

+++

Victoria acordou suando frio, sentando-se rápido na cama. Observou o quarto que ainda ocupava, lembrando do sonho, e que foi ali que vira o rosto da mãe por inteiro pela última vez. Se deitou novamente, os braços acima da testa, e deixou o tempo passar apenas observando os menores defeitos no teto.

Felix estava no bosque, dando as primeiras lições de arco e flecha para o irmão menor, quando viu o forasteiro levantar-se. O calafrio lhe subiu a espinha, até porque caminhava de um lado a outro dentro da casa. Talvez procurasse algo, ou alguém que não conseguia encontrar.

–Raul, recolha as flechas. Eu já volto.

Mesmo depois da aproximação do exército inimigo, e a propagação de incêndios por causa da pólvora e do último resquício do calor, a casa de Elena não sofreu nada disso. A degradação da madeira das paredes acontecia lenta e naturalmente. Felix deixou o irmão cumprindo sua atual tarefa e bateu na porta, sendo recebido por Victoria. Vestia o mesmo de sempre, e tinha os cabelos presos. O arco pendurado em um dos ombros.

–Felix, o que...

–Tudo bem aí dentro? Aquele homem ainda me deixa desconfiado.

–Não o vi aqui. - olha para trás, como se quisesse verificar uma última vez. - Na verdade, não o vejo desde que o tiramos do riacho.

–Às vezes é melhor assim. - Suspirou. - E tudo correu bem com a colheita?

–Não sei. - puxou uma das mechas do cabelo loiro que havia soltado para atrás da orelha. - Elena já havia partido quando acordei. Tomara que consiga chegar a Paris a salvo. Preciso treinar, você me acompanha?

O rapaz concordou, encerrou as lições do irmão e na tarde que tinham disponível foram até a parte da floresta que treinavam tiro e um pouco de combate com uma espada perdida da guerra. Paravam em tempos para prestar atenção na batalha que se seguiam, se os combatentes se aproximavam demais. Aos poucos, as frutas do outono foram sendo consumidas pelos dois, sentados na relva observando a troca de estação que ocorria lentamente.

+++

Victoria foi locomovida até sua casa após a celebração na fogueira. Após Felix acomodá-la na cama, foi chamado por Elena.

–Felix? Eu preciso te dizer algo antes de partir para Paris. E com isso, acho que você recebe uma missão. - sentaram-se, Elena parecia tensa e preocupada, no entanto decidida. - Estou tão aflita quando você quando se trata do novo... hóspede.

–Sim, ele pode ser do país inimigo. - disse, verificando também se as paredes realmente tinham ouvidos.

–Existe algo além disso. Na verdade, a mãe de Victoria, que Dieu la bénisse, era Maria de Anjou.

O choque e a incerteza eram notáveis na mudança de expressão de Felix; olhou novamente à sua volta para ter certeza que não haviam espectadores curiosos da conversa.

–Victoria é a princesa desaparecida?! - gritou, mas em forma de um sussurro assustado.

–Felix, estou confiando-a a você. - seus olhos já acumulavam lágrimas que vinham com as memória que tinha. - Você mesmo deve saber que se a descobrirem... Ela é como a irmã que perdi, no mesmo mês que Maria chegou. O ingleses são poderosos, e cruéis.

+++

–Felix? - Victoria chamava sua atenção, sacudindo as mãos a frente dos olhos do rapaz. Seu olhar era distante e preocupado. - Felix!

–Ah, o que foi?

–Estava muito pensativo. Só achei estranho, já que nunca tinha te visto assim.

–Me desculpe, é só...

Não existiu o fim da frase, apenas uma explosão. E passos, muitos passos. Passos apressados seguidos de gritos em conjunto. Felix correu o máximo que podia, puxando-a pelo pulso. À medida que se afastavam da origem, novas pegadas se aderiam ao solo recém-pisado pelos pés descalços dos dois.

Assim que chegaram numa espécie de caverna, entraram rápido e se esconderam nas sombras por um instante, ofegantes. Victoria mancava levemente, e mesmo que tentasse disfarçar a dor, ela não podia deixar de reclamar o incômodo.

–Se machucou? Deixe-me ver. - se ajoelhou com intuito de ter uma visão do ferimento.

–Não se importe com isso. Primeiro vamos tentar conseguir fogo.

–Certo. Sente-se aí, já volto com lenha.

Victoria tentou protestar, mas sabia que não serviria de nada. Passaram-se longos minutos, e nada do rapaz retornar. Minutos de solidão e ardência na sola do pé da moça. Mas, fosse machucado, fosse ferido, Felix retornava, arrancando um suspiro de alívio dela.

–Os soldados estão regressando. Eram inimigos, mas acho que foram espantados. - disse, montando a estrutura da fogueira. Separou então algumas folhas que tinha trazido. - Consegui para seu pé.

–Talvez as aulas de Elena finalmente terão utilidade. Além disso, eu poderia muito bem tratar meu próprio pé. - disse, quando este estava sendo lavado.

–Tem toda razão. - abriu novamente seu sorriso espontâneo e confortante, que sempre a fazia retribuir. - Mas hoje você será meu teste.

–Oh, Deus, quem poderia me defender?

–Aqui? Nem mesmo os ingleses obrigados. - Se aproximou, e suas expressões voltaram à curvatura normal em questão de segundos. Um sentia a respiração do outro, até compartilharem isso, com o beijo que não conseguia esperar mais do que havia esperado.

+++

Antes da entrada para a grande Paris, Elena percebeu a presença de guardas. Quatro ingleses guarneciam a entrada. Planejou uma rota de fuga, mas era tarde e foi percebida.

–Ei, não há outra rota a seguir, dama. - seu francês era fraco, mas entendível. Com o forte sotaque do país vizinho ecoando em cada sílaba. - Essa é a única entrada para a região da Normandia.

–Seu francês não é tão mal para un simple soldat. -Retirou o capuz, revelando a cabeleira escura que possuía, e o rosto de expressão forte - E ainda se sentiram na liberdade de renomear a região?

–Sim. Nosso país agora detém este território. Agora, precisamos revistar sua mercadoria.

Não podia ser. O Rei a teria avisado, já que a entrega era secretamente para ele, projetos de armas conseguidos da Itália por saqueadores. Tentou reagir, derrubou dois dos homens, mas eles eram em quatro, e Elena acabou por ser pega.

+++

Com o pé regenerado, mas ainda dolorido, Victoria voltou à vila apoiada nos ombros de Felix. O que não perceberam foi a coluna cinza de fumaça, proveniente do incêndio à sua casa. Estavam muito iludidos, e quando o viram, já não podiam fugir. Cada tronco e cada tábua tinha sido engolida pelas chamas.

–Por que... Por que alguém faria isso?

–Temos um ótimo motivo. - uma voz ecoou. Surgiu então o comandante da guarda que coloria o campo de vermelho com suas túnicas. - A dama virá conosco.

–Ela não vai a lugar nenhum! Não com vocês! - Felix se pôs a frente e preparou uma flecha no arco.

–Meu jovem. Você e esse seu mísero graveto não são páreos para nós. - estalou os dedos, e dois homens o arrastaram para trás. Duas espadas se encontravam retas a seu pescoço. -Peguem a princesa!

O choque foi tamanho que nem sentiu que era deslocada. Sua mente trabalhava como nunca, pensando que não tinha como ser a tal princesa. Felix tentou gritar para chamar sua atenção, mas já estava longe para que conseguisse fugir.

E assim, Felix e Victoria foram separados.

E assim, Victoria soube quem era de verdade.

Continua no Capítulo 3


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