A Perdida do Rei escrita por CutiePumpkin


Capítulo 2
Anos depois


Notas iniciais do capítulo

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Capítulo 1- Anos depois.

Victoria cresceu desde os dez anos sentindo a falta da companhia da mãe e da amiga da mesma, Anastasia. Foi criada desde a morte das duas por Elena. Nesse meio tempo, na mesma época, conheceu Felix, filho de um dos camponeses que vivam por ali, como um vilarejo dependente do reino local. Agora com dezessete, aprendeu a usar o arco e flecha, a lutar com uma espada, e a usar uma faca de caçador. Fazia os revezamentos de caça e colheita, como qualquer adulto por ali.

–Será que eles conseguem chegar aqui? – diz Felix, ouvindo o eco do som de pessoas morrendo, pessoas dando ordens, e pessoas obedecendo-as. O vilarejo ficava não muito longe do campo de batalha. Às vezes, o sono era interrompido com os gritos. Além disso, o ápice da guerra acontecia por ali, por ser próximo a capital.

–Não sei... – Victoria segura uma pedra na mão e lança no riacho que observam, sentados à margem. – Mas matariam qualquer um de nós. Mataram minha mãe, tiraram a vida de um inocente sem explicação, e esmagaram qualquer esperança de outro. -disse, pensando no dia que tudo aconteceu, mas logo voltou à realidade- E mesmo que não atirem em nós, nos matariam de fome, caçando como estão caçando.

A conversa foi interrompida pelo som de um arbusto sendo remexido do outro lado da margem, e um gemido de dor. Felix preparou o arco e soltaria a corda a qualquer momento, era uma questão de reflexo. Victoria disse-lhe para ter calma, a faca em mãos, e fez menção que atravessaria.

–Cuidado. Fico aqui e atiro se for preciso. – disse Felix enquanto a moça colocava os pés na água que todo o ano permanece gelada. Assim que atravessou, em posição de ataque, levantou as folhas do arbusto que foi mexido. Nem demorou tanto tempo para descobrir o feitor do ruído.

–Ai, meu deus! Felix, venha aqui!

O rapaz correu até o local e viu o que era um homem praticamente morto. Estava preso nas trepadeiras que pendiam de uma das árvores, e para soltá-lo foi preciso tomar cuidado com todos os cortes e queimaduras por todo seu corpo. A camisa não existia mais, provavelmente carbonizada. Os efeitos da guerra eram mostrados em apenas um homem. Estava praticamente desacordado, e soltava grunhidos de dor enquanto atravessavam o rio, e a água gélida lhe tocava os pés feridos.

+++

Elena segurou-se para não gritar com a visão do homem semi-morto a sua porta. Permitiu que Victoria e Felix entrassem, enquanto se preparava para os primeiros procedimentos, já com ervas recém-colhidas em mãos, trituradas e pressionadas em seus devidos lugares; tudo com muita precisão e cuidado. Após finalizado, o deixou deitado no quarto livre e se juntou aos dois na sala. Uma questão batia em sua cabeça repetidas vezes, e precisava tirar a prova de algo.

–Victoria, você sabe quem ele é, não sabe? Sabe de onde ele vem?- disse, com um olhar severo para a jovem.

–Não... Mas eu não podia simplesmente deixa-lo ali. Podia?

–Podendo ou não, talvez ele seja um inglês, e eu não gostaria de ter um inimigo em minha casa. - abaixou o tom, já que não seria nada delicado para o homem ouvir tal acusação. Suspirou e iniciou a recolher seu material. -De qualquer maneira, hoje à noite é o turno de vocês dois. Vejam se conseguem algum animal para a fogueira, seria ótimo.

Sorriu e beijou a testa da garota, retornando à cozinha. Victoria suspirou e virou-se para Felix, que sentava em uma das poltronas, parecendo exausto.

–Nem consegui perguntar. Como Raul está se saindo? - se recostou na cadeira em que se encontrava. Felix fez o mesmo do outro lado do cômodo.

–Está melhor. Consegue acertar onde mira. Às vezes a flecha não se prende à árvore, mas um dia ele consegue. - por mais que estivesse naquele lugar, parecia distante, pensativo.

–Você parece apreensivo. Aconteceu alguma coisa? - Estava tensa, assim como estava nas últimas semanas, com a escassez de comida.

–Só pensando no que Elena disse. E faz todo sentido, Victoria. Precisamos tomar cuidado.

–Felix, por favor, por que não um mínimo de confiança?

–Estou preocupado, Victoria, preocupado com o que pode acontecer nessa casa se esse homem não tiver boas intenções; preocupado com o que pode acontecer com... você!

Já havia se levantado de onde estava, ofegante com uma dose de adrenalina, acumulada com a consciência do que acabara de dizer, e do modo com que o fez. Podia ser o princípio de uma longa discussão, que talvez não levaria a lugar algum ao seu final, então o rapaz moreno apenas se retirou, sendo recebido pelos últimos raios de sol daquele dia. À noite, viria o turno de caça, que era determinado para os dois grandes amigos.

+++

A floresta ao lado do vilarejo tornava-se sombria à noite. Religiosos locais acreditavam que adoradores do diabo se encontravam nesses locais, e lançavam suas maldições ao rei, e ao feudo. Esses religiosos rezavam para que a guerra exterminasse essa seita. Felix e Victoria, mesmo com as sombras e as formas apavorantes que as árvores tomavam, sabiam do blefe; conheciam grande parte daquele bosque como o interior de seus lares.

–Felix... - Victoria segurava o arco com as duas mãos firmes, os passos confiantes na terra que começava a ser encoberta pela neve recém-chegada. -Eu só... queria me desculpar por hoje mais cedo.

A frente, o rapaz se virou diminuindo seu ritmo, mas sem parar a caminhada.

–Não há pelo quê se desculpar. Eu é que não deveria ter gritado com você.

–Não, você não entendeu. - seu tom era baixo, e aumentava conforme falava. - Você tem toda razão, não posso despejar minha confiança em qualquer um que encontro. É que me sinto completamente inútil; não caçamos nada há semanas. Morreremos cheios de grãos no estômago, e isso por que não levo um esquilo sequer para casa!

Se sentou subitamente no chão, agarrando as pernas e ocultando o rosto com os braços, ao lado da mesma nascente do começo do dia. As lágrimas teimosas, mesmo que não fossem desejadas, se intrometiam no rosto esbranquiçado da francesa. Sentiu, no topo de sua cabeça, a mão suave de Felix.

–Melhor irmos andando. A cerimônia vai logo começar, e não encontraremos nada a tempo.

Victoria enxugou o rosto e se levantou, tomando o arco em suas mãos novamente, seguindo ao lado do amigo, guiada pelos braços que a envolviam. Ao chegar próximo ao vilarejo, Felix parou subitamente e revirou sua bolsa de couro.

–Aqui, entregue para eles. - Victoria não sabia do que se tratava até ter os esquilos em mãos.

–Não, você os pegou, não posso receber o crédito por você. - A jovem tentou devolvê-los, mas foi impedida pela mão do rapaz. - E ainda, como os conseguiu?

–Ah, talvez eu tenha errado o alvo nos treinos hoje à tarde. Mas eles não precisam saber disso, e você merece um pouco de glória.

Glória aquela que não significava muito para a maioria daquele reino. A noite terminou com os dois ainda com as mãos entrelaçadas, o manto de lã cobrindo seus corpos, e a cabeça adormecida de cabelos longos e louros apoiada no ombro amigo.

Continua no Capítulo 2


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