Defeitos de Fábrica escrita por Lorena Luíza


Capítulo 7
VII. Cem por cento


Notas iniciais do capítulo

Oi! Queria agradecer aos comentários e a primeira recomendação que recebi na minha vida inteira! Rai Hikonan, obrigada, muito obrigada mesmo pela força.



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Melhor do que se envergonhar de como você é, apenas se divertir com isso.

Se não fosse o vácuo que levei do Sam naquele sábado, meu ano estaria com certeza impossibilitado de ser mais supimpa. Veja só, conheci duas pessoas e fiz amizade com ambas em menos de dois meses, e isso em minha vida inteira! Poderia estar sendo melhor?

Sim, poderia, e esteve.

Meu pai e a namorada dele vinham ficando cada vez mais próximos e mais felizes. Eu ainda não havia conhecido a moça, mas Angelina sim e disse que, além de a mulher ser muito jovem e já ter filhos, era meio perua e exagerada. Como eu já sabia que a Lina julgava rápido demais, não fui muito na onda dela e fiquei feliz ainda assim, já que o que me importava era apenas o fato de aquela mulher estar deixando o meu pai mais contente do que nunca.

Já a Rebecca... Bom, ela realmente não mentiu ao dizer que não se esqueceria de mim. No fim de semana, nós trocamos tantas mensagens que acho que superava o número de conversas que eu já havia acumulado na minha vida inteira com todos os membros da minha família — já que eles eram os únicos que falavam comigo e Sam raramente me mandava algo.

A Rebecca, diferentemente do Alex, falava demais e abreviava muitas das palavras que usava. Amava de paixão emojis, mandava um monte de coisas histéricas EM CAIXA ALTA e usava risadas enormes e mirabolantes. Era divertido demais conversar com ela e eu mal via a hora passar, muito menos a bateria do celular diminuir.

Além de falar pelos cotovelos, a Rebecca tirava foto de tudo. Foto do cachorro que viu na rua, foto da árvore no jardim de onde ela estava ficando, foto da vista da janela do prédio onde ela estava, foto do piso do quarto, foto daquela lagartixa que havia achado no teto... Logo, logo o espaço do meu celular seria massacrado pelo amor da Rebecca por fotografias. Não que isso me incomodasse, já que raramente eu conversava com alguém e recebia mídia, então estava contente.

Já Sam... Além de eu ter passado a tarde esperando uma mísera mensagem dele, fiquei acordada talvez até mais de uma da manhã apenas esperando ele dizer alguma coisa no Whatsapp, mas só esperei mesmo. Sam não respondeu nenhuma. Eu precisei enviar a ele um trilhão de mensagens antes de, já vendo que faltava vinte minutos para dar uma da manhã e caindo de sono, eu receber algo em resposta.

Como sempre, eu não demorei para perdoá-lo por não ter aparecido no parque. Ele havia me pedido um turbilhão de desculpas logo que respondeu-me, então eu não conseguiria dizer não. Só que, mesmo eu tendo perdoado e dito que estava tudo bem, o motivo de ele não ter ido não me agradou nem convenceu muito. Segundo Sam, ele havia passado a tarde adivinhem com quem? Sim, isso mesmo: com o Kevin. O universo conspira a favor desse moleque.

Sam não havia se importado com o fato de que nós havíamos marcado de sair bem antes de ele ter a grande ideia de arrastar Kevin e Susana para outro encontro que não deu certo, mas ele nunca se importava. Tudo bem que ele havia tido seus motivos, mas eu realmente havia ficado magoada, mesmo tendo Rebecca para suprir um pouco da solidão. Por mais que eu o tenha perdoado, não mentirei que eu estava cem por cento recuperada daquilo.

"Desculpa, é que podia ser que outra oportunidade não surgisse e eu tinha certeza de que você não se importaria nem ficaria irritada, Lia, já que você é meu amorzinho ♥", foi o que ele disse numa das mensagens. "Outro dia a gente sai, tá? Que tal no próximo sábado? É meu aniversário, lembra?! Vamos fazer um bolo! Eu te deixo escolher o sabor!"

"Tudo bem", eu respondi meio desanimada. Acho que estava tudo bem se ele havia tido seus motivos, já que, diferentemente de mim, Sam era ocupado e sempre tinha muito a fazer nos fins de semana. Além disso, eu era amiga dele e amigos devem perdoar os bolos (belo trocadilho, Liana) que levam uns dos outros... Eu acho. "Ora, o aniversário é seu... Você é quem deve escolher como fazer o bolo."

Nem eu ou ele éramos bons cozinhando, mas só de ter sido convidada à fazer alguma coisa em sua companhia, eu já me senti muito contente e não poderia de modo algum recusar. No final das contas, talvez ter ficado sozinha no parque naquela sexta-feira não tivesse sido algo tão ruim assim, já que havia desencadeado coisas como conhecer Rebecca e ser convidada para ir à casa do cara que eu gostava no aniversário dele.

— Sábado o Sam fará aniversário — contei alegremente ao Alex na segunda-feira, como sempre durante o nosso tempo livre do intervalo. — Quero sair para comprar algo legal para ele. Você poderia me ajudar?

Sentado ao meu lado no pátio da escola e com seu suquinho preferido e extremamente enjoativo de morango na mão, Alexander fez uma cara de bunda e revirou os olhos, soltando um "ughhh" exagerado que mais parecia ter saído da boca de um monstro. Assim como Rebecca e Kevin, ele também era uma coisa inesperadamente bonitinha demais para fazer algo assim. Suspirei em resposta, vendo que provavelmente nada legal sairia da boca dele naquele dia.

— E o encontro semana passada? — só para me deixar constrangida, ele perguntou. — Aposto que foi uma bosta.

— Ah, deu ruim. — Dando de ombros, sorri desanimada. — Mas não vai se repetir. Ele me pediu desculpas, então está tudo bem. Né?

Emburrando-se, Alex desviou o olhar e repetiu o grunhido descontente, abraçando as pernas e deitando a cabeça nos joelhos depois de colocar a caixinha vazia de suco no chão de concreto. Ficou me olhando feio com aqueles olhos rasgados até finalmente dizer alguma coisa.

— Para de ser tão capacho. — Ele fez bico, me olhando impaciente. — Já está começando a me incomodar. Essa situação sua e dele tá ridícula.

— Ah, me deixa, Alex. Quando você gostar de alguém que não gosta de você e ainda assim quiser algo com ela, vai saber muito bem como é isso e se arrependerá de ter sido chato comigo.

Acho que Alex fez a cara mais feia que eu já havia visto na minha vida inteira quando falei aquilo.

— Seu cu. — O rosto dele se desfigurou numa carranca horrenda. — Só pra você saber, eu não ficaria continuando a tentar fazer alguém que mal tem chance de olhar para a minha cara se apaixonar por mim. Eu não sou idiota, desistiria de cara. Não sou o tipo de pessoa que gosta de ficar alimentando esperança que não existe. Quando vejo que não dá para dar certo, a última coisa que vou ficar fazendo é me iludir.

Em resposta, apenas suspirei e fiz uma careta. Alex era mesmo um cara meio cruel. Eu não sabia se levava aquela sinceridade ofensiva dele como defeito ou virtude, mas logo lembrei do que a Rebecca havia dito, sobre eu poder fazer qualquer coisa e nunca desistir do que queria. Eu havia passado a tarde escutando-a me incentivar para deixar a oportunidade de falar algo tão clichê escapar? Não, não mesmo.

— Diga o que quiser, eu não vou desistir! — Estufei o máximo que pude o peito, o que não deu exatamente o efeito que eu queria. Às vezes, ser uma tábua era uma droga. Sorte que quase nunca. — Nunca vou saber se algo entre o Sam e eu acontecerá ou não se não tentar, entendeu? É por isso que eu não desisto!

— Você fala como se isso fosse determinação. Não é, é burrice — Alex retrucou emburrado. — Você já tentou demais para ter certeza de que isso não vai dar certo.

— Não o suficiente! Eu não vou desistir logo agora, que ele me convidou para fazermos algo juntos outra vez. Vou na casa dele no sábado, nós faremos um bolo lindinho e você vai ficar mofando sozinho em casa! — exclamei, empurrando fraquinho o ombro dele e sorrindo. — E aliás, me ajuda a comprar algo legal para o Sam, vai? Será divertido, a gente pode tomar sorvete depois.

— Não quero — rosnou ele, esticando as pernas e cruzando os braços de um jeito birrento. Admito que às vezes eu o provocava apenas para vê-lo fazer aquela carinha bonitinha de bravo. — Você devia ter pensado nisso antes de jogar na minha cara que o que eu digo não te influencia em nada. — Ergueu uma sobrancelha. — E tá pensando em comprar algo aonde? No shopping?

— Sim! Você gosta de shoppings?

— Pff. Mas é agora que eu não vou mesmo.

— Mas Alex!

Eu já conhecia seu modo de agir, então esperava que dali a cinco minutos a cara brava desaparecesse e ele decidisse realmente fazer o que eu havia pedido — mas ainda assim continuei tentando pedir do modo mais gentil possível. Encarando seus olhos de gato, deitei minha cabeça no ombro dele e sorri do modo mais doce e amigável que pude.

— Ah, não faça isso, sim? — eu disse. Estava tão perto do rosto dele que podia ver seus cílios fartos e cada fiozinho nascido fora da linha de suas sobrancelhas, assim como as várias pintinhas que ele tinha sob o olho direito. Alex era bonito, mas bonito de um jeito que eu não havia visto igual antes. Dava vontade de somente parar e ficar olhando, mas depois do créu que levei ao fazer isso na primeira vez em que o vi de perto, com certeza não repeti o ato. — Vamos lá, Alex! Você é a única pessoa que eu gostaria que fosse comigo.

Não faço a menor ideia do que deu no Alex naquela hora, mas ele simplesmente afastou-se bruscamente um meio metro de onde eu estava sentada, fazendo uma cara ao mesmo tempo impaciente e totalmente constrangida. De duas, uma: ou era extremamente fácil fazê-lo ficar totalmente vermelho, ou ele simplesmente sentia uma vontade incontrolável de brincar de tomate sempre que eu chegava perto.

— Não encosta — Alex rosnou, encolhido "lá longe". — Sua trouxice deve ser contagiosa.

Eu, no vácuo, olhei para ele com os olhos semicerrados de raiva. Só para irritá-lo ainda mais, saí de onde estava e fui sentar-me ao seu lado outra vez. Alex já ia se afastar de novo, mas enganchei meu braço no dele e o fiz ficar sentado. Ele me olhou quase como se estivesse a me fuzilar mentalmente.

— Não adianta fazer essa cara — falei, sorrindo em seguida. — Sério, vamos lá! Eu pago um sorvete para você, vai ser muito legal.

Eu já esperava que ele fosse ceder, mas Alex simplesmente fez bico e bufou.

— Não quero.

— Pô, Alex! Dois então.

— Não! — grunhiu um pouco alto demais. — Você não vai me comprar com um sorvete, Polliana!

— Mas são dois!

— Vai se foder!

Praticamente derrotada, suspirei e relaxei meus ombros, torcendo os lábios e franzindo as sobrancelhas em seguida. Droga, minha presença era realmente tão incômoda para ele ficar se afastando de cinco em cinco minutos? Além disso, seria tão chato passar uma tarde passeando comigo?

— Por que você não quer ir? — murmurei. No momento, aquele papel de bala jogado no chão foi mais fácil de encarar do que o rosto dele. — Eu não sou chata, sou? Tá, às vezes eu exagero, mas eu gosto de você e queria sua companhia, afinal não tem mais ninguém que queira ir comigo. Minha irmã deixou bem claro que não poderá ir e eu nem sonho em chamar meu pai, porque ele me mata se souber que tô querendo comprar algo para dar para um menino.

Alex cruzou os braços, soltando um muxoxo descontente enquanto olhava pro teto. Suspirando, pediu:

— Desista, por favor. Você não me fará pressão psicológica.

— Mas eu nem mesmo sei o que é isso, Alex.

Juro que achei que ele fosse me bater naquela hora, mas Alex bufou de novo e levantou-se bravo, erguendo a calça para esconder o elástico da cueca pelo menos por uns dois minutos até ele aparecer outra vez. Depois de se recompor, jogou a franja para lá e olhou para mim com aquela maldita cara indecifrável antes de resmungar algo:

— Tá. Me liga e me diz em qual shopping você vai, que eu apareço lá para te encontrar, mas vou cobrar três sorvetes.

— Oh, você está bonito, Alex! — exclamei contente ao vê-lo mais tarde. — E aí, vamos?

Ele emburrou-se instantaneamente, vindo até mim e erguendo um pouco os pés para me beijar na bochecha. Usava uma camiseta branca e lisa, calça preta e botinhas de escalada, mas o que eu mais achei bonitinho foi o lenço desfiado — se chama "keffieh"? Bom, não sei — xadrez verde e preto no pescoço. A aparência feminina dele diminuía bastante quando Alex não usava moletons largos demais, então ele estava bem mais menininho sem nada e sem estar de roupas de cores totalmente escuras. Além disso, o cabelo também havia ficado muito harmonioso com as mechas da frente presas atrás.

— Eu não estou — resmungou em resposta, as bochechas ficando com dois grandes círculos vermelhos e as mãos enfiadas nos bolsos frontais da calça. — Eu sou. E você já tem ideia do que vai comprar para o seu boneco de Olinda?

— Oh, é mesmo! — nem dando muita bola para o apelido tosco para o Sam, respondi. — Não pensei em nada. Você pensou?

Olhou-me desacreditando.

— Eu não. O crush é seu, você que deve saber do que ele gosta. — Alex fez um sinal com a cabeça para que nós começássemos a andar, passando ao meu lado. Logo, alcancei-o e comecei a acompanhar seu ritmo tranquilo de caminhada. — Ele não deu nenhuma pista do que queria?

— Não, nenhuma! — Encolhi triste os ombros. — Mas a gente tem tempo, então dá pra procurar algo legal, né? Ou você precisa ir embora cedo?

Ele apenas deu de ombros em resposta, continuando a andar e olhando para algumas vitrines ao nosso redor. Por sorte, o shopping que havíamos escolhido para ir não estava muito cheio naquele dia, diferentemente de como era nos finais de semana — mas ainda assim havia gente o suficiente para passar ao nosso lado e nos olhar torto. Ao contrário de mim, Alex não parecia nem perceber o quão esquisitos eram os olhares que direcionavam para nós dois, mas se percebia estava fazendo um ótimo trabalho em fingir que não.

— Compra um pouco de vergonha para ele passar na cara — sugeriu debochadamente. Apesar de ter falado algo assim, o tom dele era sério, o que apenas me dava vontade de estrangulá-lo ali no meio das pessoas mesmo. — Tá precisando.

— Ah, fica quieto. Você veio para ficar ofendendo ele ou para passear comigo, hein? — Repetindo o que havia feito outro dia, dei-lhe uma leve cotovelada, mas em seguida sorri. — Você é tão rabugento.

Alex deu um sorrisinho e continuou andando. Eu estava um pouco triste por ainda estarmos no começo de maio, já que a minha época favorita do ano depois da Páscoa era o Natal, devido à todo o encanto e decoração incrível que ela trazia aos shoppings e à todos os lugares da cidade. Para mim, não havia coisa mais encantadora que uma árvore de Natal enorme e brilhante, um Papai Noel cobrando o preço de uma alma para tirar foto e moças vestidas de duendes ajudantes andando para lá e para cá com cara de quem queria estar morta. De qualquer modo, o shopping não ficava feio no restante do ano, apenas bem menos interessante.

— Você pensa como uma criança — Alex comentou quando contei isso a ele. Era uma ironia alguém como ele, que só comia porcaria e doces com embalagens atrativas para bebezinhos, dizer algo assim para mim. — Vai dizer que seus pais também escondem ovos de Páscoa pela sua casa para que você procure?

Olhei farta para ele, inflando as bochechas e deixando claro que havia achado aquilo um absurdo (ainda mais porque meu pai realmente fazia isso para eu e Angelina quando éramos pequenas, mas abafa).

— Nada a ver! — exclamei em minha defesa. — Você é tão infantil quanto eu. Lembra daquele dia em que você comprou aquele suco mais caro porque tinha um cachorrinho na embalagem?

— E daí? — Ele ergueu as sobrancelhas escuras. — Preços, preços; cachorrinhos à parte. E o gosto era bem melhor do que o outro.

Encarei-o segurando um sorriso e ele riu, deixando à mostra seus olhos de "n" outra vez. Nós andamos mais um pouco depois disso, só olhando para os lados à procura de alguma loja interessante ou comentando qualquer coisa diferente que víssemos.

Após algum tempo, nós dois nos sentamos num banco qualquer na frente de uma fonte, pois eu não havia achado nada que pudesse deixar o Sam feliz. Eu gostaria de ter ligado ou mandado mensagem para a Angelina, mas ela estava trabalhando no momento e provavelmente não poderia ajudar desse modo.

— Se eu não gostasse tanto de sorvete — resmungou Alex do nada —, nunca que estaria aqui te ajudando por causa daquele cara.

— Por que você não gosta dele? — eu perguntei desanimada. — Tá, ele é que não gosta de você, mas sei lá... O Sam é tão legal. Não sei porque alguém não iria com a cara dele.

Sentado ao meu lado, Alex inspirou e expirou lentamente o ar que tinha no peito.

— Eu é que não sei porque alguém iria com a cara dele — respondeu. — O cara é irritante, grudento e não tem educação. Parece um retardado, não se toca. Não sei que diabos você vê nele.

— Você não entende — suspirei em resposta, sorrindo para ele. — Sabe, eu nunca fui muito de ter amigos, mesmo quando eu ainda não era assim. Mas aí, quando eu entrei no ensino médio, o Sam foi a primeira pessoa que chegou perto de mim mesmo que ninguém fizesse ou quisesse fazer isso. Sabe, eu fiquei muito feliz quando isso aconteceu. Muito mesmo, Alex.

Deixei escapar um sorriso, olhando para os meus joelhos e juntando-os. Ele não mostrou reação alguma, como sempre, então prossegui:

— Mesmo que a intenção dele comigo não fosse a que eu esperava, ainda assim o Sam não quis me magoar e continua sendo meu amigo até hoje. Ele achou que eu fosse um cara, mas não me deixou de lado ao saber que eu não sou um, mesmo sem saber se me magoaria ou não. — Olhei para o Alex, que escutava sem dizer nada, mas logo desviei o olhar por vergonha do que diria a seguir: — Eu gosto muito, mas muito dele, mesmo ele tendo seus defeitos e às vezes fazendo coisas que me magoam, então eu quero encontrar algo que o deixe feliz e também quero que você entenda o que eu sinto. Sabe, eu não acho que um dia eu vá esquecer o que ele fez e faz por mim e pelos outros também. O Sam, Alex, ele é uma pessoa muito boa. Você vai entender um dia.

Ao meu lado, Alexander bufou diante do que eu havia dito, torcendo os lábios e coçando o pescoço desconfortavelmente.

— Bom, que seja — ele disse. — Não fui eu quem passou por tudo isso e mesmo não conhecendo muito de você, mas eu vejo que fica contente com qualquer coisa. Talvez esse Sam tenha só feito coisa mínima contigo, como pedir desculpas depois de ter te confundido com um cara e então começado a andar contigo por pena, e você já acha que isso é motivo para tratá-lo como um deus porque ninguém nunca havia feito metade de algo assim por ti. Claro, não te culpo por isso. Já te conheço o suficiente para ver como você é. Eu, por exemplo. — Por algum motivo, ele suspirou e encostou a cabeça no meu ombro. — Eu sou um cu, Polliana, eu sei que eu sou chato. Eu raramente te trato bem e você faz o quê? Apesar de ficar irritadinha, você continua atrás de mim, e caso eu pergunte, com certeza vai ser legal e dizer que eu sou uma pessoa muito boa. Então dá para entender perfeitamente que com o Sam é a mesma coisa; ele pode ser o maior cuzão do mundo, mas você eleva demais as coisas mínimas boas que ele faz, finge que esquece as ruins e o idolatra por isso. É isso. Esse Sam não é perfeito, não é a melhor pessoa do mundo e muito menos merece que você fique se matando para agradá-lo.

Com ele escorado em mim, não encontrei absolutamente nada para dizer em resposta. Mesmo que pudesse haver um fundinho de verdade no que eu havia acabado de escutar sair de seus lábios, eu simplesmente não gostaria de acreditar naquilo. Não tinha nada a ver com o que eu sentia. Eu não colocava num pedestal qualquer um que fosse um pouquinho gentil comigo, muito menos Sam havia me feito "coisa mínima". Ele havia sido a pessoa mais legal e gentil que eu conhecera até então, e eu não via motivo algum para eu não gostar dele e deixar de demonstrar o quão boa pessoa eu o achava.

A única coisa que eu tinha certeza em mim mesma e me orgulhava disso é que eu sabia dar valor às coisas boas que eu encontrava nas pessoas ao invés de focar-me nos defeitos. Eu gostava disso, e gostava mais ainda de deixar claro o quanto eu gostava do lado bom de cada um.

— Isso não é verdade — foi o que eu disse. — Eu sei muito bem que o Sam não é perfeito e tudo mais, mas não tem absolutamente nada a ver o que você disse antes. Você falou como se eu fosse uma fracassada que nunca havia tido amigos e agora se mata pelo primeiro que teve! Isso é crueldade, tá bom? E mesmo que tenha sido assim, eu não acho que eu esteja agindo errado. Se eu gosto de alguém, eu tenho que demonstrar isso da melhor forma possível! E vamos logo achar algo para comprar para o Sam antes que eu fique brava com você.

Eu me levantei no mesmo momento, pegando a mão dele e tentando fazê-lo ficar de pé. O pior é que, mesmo sendo mais baixo que eu, ele era pesado e não se moveu um centímetro de onde estava, ficando a me olhar com uma cara ao mesmo tempo entediada e debochada.

— Vamos, sério — choraminguei. — Vamos procurar um livro ou algum perfume legal para ele, tudo bem? E eu não quero te ver com essa cara de novo, muito menos falando essas coisas feias para mim.

Alex revirou os olhos, finalmente levantando-se e realizando seu ato de erguer a calça, que já era nele quase tão comum quanto erguer a sobrancelha. Aquilo que ele havia acabado de me dizer tinha me incomodado um pouco, mas eu queria esquecer, afinal eu o achava um bom amigo e não queria que ficássemos de mal. Engraçado que eu estava agindo do exato modo que ele havia acabado de mencionar, ficando brava com algo e logo tentando esquecer isso para logo achar mais algo bom na pessoa, mas isso não importava... Eu acho.

— Quando nós vamos tomar sorvete? — Alex resmungou emburrado, cabisbaixo e com as mãos nos bolsos depois de andarmos mais um pouco. Estávamos vendo livros numa loja naquele momento, e eu passava meu dedo pela lombada deles numa prateleira quando o ouvi reclamando. — Quero ir embora.

— Você é quem tá parecendo criança — falei, tirando um livro qualquer dali e lendo o verso do mesmo. — Nós já, já vamos.

Ele soltou um grunhido, revirando os olhos e saindo de perto. Foi olhar alguma prateleira enquanto eu continuei procurando algo que talvez fosse do agrado do Sam. Eu nunca havia visto ele lendo alguma coisa além do horóscopo ou fofocas no celular, mas havia visto num site de garotas que livros eram presentes educados e elegantes para se dar à garotos, então decidira tentar.

Depois de eu passar muito tempo procurando, Alex apareceu com um livro de cor meio marrom nas mãos. Ele brincou que ia jogar para mim, me assustando, mas logo aproximou-se e entregou-o em minhas mãos.

— Leva esse — ele disse —, não vai exigir muito do cérebro de galinha do seu arranha-céu.

Desconfiada mas ainda assim com interesse, estendi o braço para receber o objeto e olhei a capa do livro que Alex havia me indicado. Ele era extremamente simples, com uma aparência estilosa de papelão amassado e o nome bem no centro, parecendo ser apenas um pedaço de folha de caderno colado com fita adesiva. Lia-se, em letras não muito chamativas, "Destrua este Diário".

— Sobre o que fala? — tive a burrice de perguntar. Alex deu um pedala na minha nuca. — Ai!

— Não fala sobre nada — respondeu. — Só é pra acabar com ele dos modos mais idiotas possíveis. Tipo levar pro banho, furar páginas ou simplesmente rabiscá-las. É uma bosta, mas bom para quem não tem o que fazer. E eu não acho que o Sam tenha, então... É perfeito.

Sem resposta, parei para pensar. A proposta do livro parecia interessante, e como eu não sabia se Sam gostava ou não de ler algo mais sério, talvez ele se interessasse. Além disso, a moça do balcão disse que aquele livro já havia saído bastante algum tempo atrás e que ainda havia gente procurando mesmo após sair de "moda", já que era um bom modo de aliviar o estresse.

Pensando nisso, decidi comprá-lo. Eu ia agradecer o Alex por ter recomendado o livro quando percebi que ele estava entretido lendo alguma coisa ao lado de uma prateleira, mas quando me aproximei ele disfarçou e virou a cara na hora.

— Se interessou por alguma coisa? — perguntei sorrindo e tentando ver o que era.

— É — resmungou somente. — Eu vou levar um para mim.

Ergui contente as sobrancelhas, afinal tê-lo arrastado até lá havia sido útil pelo menos para ele encontrar algo que fosse de seu agrado.

— Que legal! Como se chama?

— Não interessa.

Tentei esticar o pescoço para ler o que era, mas Alex desviou com uma carranca, indo pagar e logo saindo com o objeto dentro de uma sacolinha escura. Ora, o que custava me deixar dar uma olhadinha na capa ou no nome?

— Por que não quer que eu veja? — perguntei alcançando-o. — Eu não vou te zoar!

— Porque não! — Emburrada, tentei tirar a sacola de suas mãos, mas Alex esticou o braço para longe. As pessoas que passavam por perto nos olhavam como se fôssemos duas crianças barulhentas, mas eu tentei ignorar e continuei buscando pegar o livro da mão dele. — Para com isso, é livro de putaria! Você não vai querer ler!

Parando, revirei os olhos, cruzando os braços e suspirando. Tava na cara que era mentira, mas conhecendo Alex como eu conhecia, ele provavelmente não se convenceria facilmente à mostrar ou dizer logo qual era o nome do livro. Garoto chato!

Após desistir de enchê-lo, nós andamos sem rumo por algum tempo, só olhando para lá e para cá sem trocar palavra alguma. Certo momento, Alex enganchou o braço no meu, fazendo com que eu parasse de andar, e então chafurdou a cara no meu braço.

— Quando nós vamos tomar sorvete? — perguntou outra vez, agora com a voz abafada na minha blusa cinza e a mão agarrada na minha.

Balançando a cabeça negativamente, sorri, passando o braço por cima do ombro dele e aproximando-o num meio-abraço meio fuleiro. Mesmo sendo um azedo, o gosto exagerado de Alex por doces era até assustador. Acho que ele morderia até um tênis caso eu jogasse açúcar em cima.

—Tá bem. — Tornei a abrir um sorrisinho, bagunçando de leve os cabelos dele com um pouco de receio em levar uma bofetada depois. — Vamos, vamos.

A sorveteria não estava muito cheia quando chegamos lá. Eu realmente esperava que fosse pagar pelo Alex, mas ele mandou eu deixar de ser tonta quando disse isso e quis usar o próprio dinheiro para si mesmo. Eu disse que não, que era o mínimo que eu podia fazer depois de tê-lo arrastado até ali, mas o orgulho dele falou mais alto e eu tive que calar a boca. Eu sempre tinha, no final das contas.

Enquanto esperava-o, sentei-me numa mesa pequena e vazia, logo ao lado de uma outra com uns cinco adolescentes. Eram três meninas e dois garotos, todos conversando e brincando de um jeito muito alegre. Um grupo comum, com nada que os fizesse parecer extremamente normais ou anormais. Eram simplesmente adolescentes juntos como quaisquer outros.

Perguntei-me quantas vezes eu já quisera andar num grupinho daqueles quando não tinha ninguém. Por algum motivo, eu simplesmente não me sentia normal e não conseguia me imaginar rindo, andando e agindo com ou como pessoas como aquelas, mesmo que um grupinho de jovens amigos parecesse extremamente comum e simples para qualquer pessoa. Pena que eu não era qualquer pessoa.

Parecia-me tão divertido simplesmente pensar em passear com muita gente que eu gostava, sem compromisso algum e apenas querendo ter um pouco de diversão, mas ainda assim tão inalcançável. Era tão ruim não ser como eles, não ter o que eles tinham. Apenas duas pessoas falavam comigo, e nenhuma delas me chamava para sair. Sempre que eu ouvia Sam chamando alguém para passear e ele percebia que eu havia escutado, a única coisa que eu recebia era um "ah, pensei em te chamar, Lia, mas eu já sabia que você não iria querer ir então deixei para lá", ao invés de um convite para fazer sabe-se lá o quê.

Só que sim, eu queria ir, mesmo sem saber aonde. Eu iria querer ficar perto dele mesmo que fosse no lugar mais chato do Brasil, com as pessoas mais chatas do mundo e no clima mais desagradável do universo. O problema é que Sam não me dava nem mesmo chance de dizer isso.

Eu estava pensando nessas coisas quando percebi que estava encarando uma das meninas da outra mesa, uma de óculos e cabelo escuro, sem perceber. Como se estivessem vendo até onde iria a encarada, todos os outros adolescentes pararam de falar, só olhando para eu e ela enquanto eu nem percebia o que estava fazendo. Só acordei de verdade quando uma outra garota começou a soltar risadinhas, contagiando as outras pessoas e logo fazendo a garota de óculos parecer um pimentão de tão vermelha que havia ficado enquanto riam da gente.

Eu desviei o olhar assim que percebi o que estava fazendo, apenas escutando os outros adolescentes tirando sarro de nós duas enquanto me perguntava o maldito motivo de Alex estar demorando tanto para trazer dois sorvetes. Fiquei olhando para minhas mãos quando, do nada, empurraram a garota de óculos na direção de onde eu estava, fazendo a pobre coitada quase cair sobre a mesa e derrubá-la de uma vez só.

Droga, eles eram doidos? Por que estavam fazendo aquilo com ela?

— O-oi — a garota gaguejou bem baixo. Estava tão vermelha que eu cheguei a me perguntar se estava passando bem. — É, eu...

— Fala alto! — falou uma das amigas dela entre risinhos, levantando-se também da outra mesa e vindo para perto. A garota dos óculos abaixou o olhar, corando ainda mais. — Ei, garoto. Ela te achou lindo!

Acho que eu não poderia ficar mais confusa e surpresa naquela hora. Gente, de novo essa história de me acharem lindo? Santo Deus, eu tenho certeza absoluta de que devo ter ficado tão vermelha quanto os cabelos de uma das amigas da garota naquela hora. Sem ter o que falar, sorri totalmente nervosa, erguendo os braços e mostrando a palma das mãos para o teto num gesto de "não sei o que dizer".

— C-cala a boca, Vyh! — a garota de óculos disse para a que havia mandado ela elevar a voz, abaixando a cabeça de novo. — D-desculpa... É mentira dela.

— Caramba, Faby, deixa de ser tímida! — reclamou a outra, empurrando-a de novo. — Oh! E ela quer saber se a japonesa que entrou contigo é sua namora-

— Sou — uma voz de menino, mas ainda assim com uma entonação forçadamente feminina interrompeu. A tal da Faby estava estapeando aquela Vyh quando eu percebi Alex, vindo até a confusão e colocando nossos sorvetes sobre a mesa. Ao fazê-lo, olhou-as com desdém, colocando uma mão na cintura e erguendo esnobe uma sobrancelha. — E vocês, queridas. Estão querendo o que com o meu Gabriel?

Eu acho que eu nunca havia ficado com tanta vontade de rir na minha vida. Alex estava do mesmo jeito que sempre, mas a postura havia mudado, assim como a voz e seu modo de olhar. Estava metido e esnobe, como a pior das patricinhas clichês de filmes adolescentes que vemos por aí. E aquilo era muito, mas muito engraçado. Não existe modo de explicar o quão bizarra foi a expressão que eu fiz enquanto tentava segurar a risada.

Como se quisesse mandar eu calar a boca, ele olhou-me feio e continuou a encenação, agora jogando o cabelo e arrumando a franja depois. Eu realmente achei que não fosse aguentar naquela hora, mas vi que ainda podia piorar quando Alex foi desfilando até a garota e meteu o dedo no peito dela. Estava igualzinho à uma garota, sem tirar nem por.

— O que foi? Fica encarando e se jogando em cima do meu homem pra depois amarelar? — ele perguntou, encarando-a firme e desafiadoramente. A voz dele não era grossa nem fina, mas a entonação, a aparência e os gestos dele haviam tornado Alex uma perfeita garota metidinha. A tal Faby, de olhos arregalados e sem reação, foi recuando até bater na mesa dos amigos dela. Foi nisso que Alex virou-lhe as costas, batendo o cabelo na cara dela e então vindo até mim. — Se toca, biscate.

Só tive tempo de agarrar nossos sorvetes quando Alex puxou-me pelo braço, arrastando-me para fora da sorveteria e deixando para trás uma garota constrangida e adolescentes que provavelmente iriam rir daquilo pelo resto de suas vidas. Meu Deus, eu acho que nunca dei tanta risada na minha vida quando Alex e eu colocamos os pés fora do estabelecimento, pois minhas bochechas até doíam quando consegui dizer alguma coisa. Senti culpa pelo que havia acontecido, mas meu Deus... Eu não conseguia parar de dar risada.

— Santo Deus, Alex! — eu exclamei enquanto a gente ria, a cena dele desfilando aparecendo na minha mente outra vez. — Você foi um arraso! Não ficou com vergonha, não?

Ele deu risada em resposta, afastando o cabelo do rosto e me olhando com seus olhos que mais pareciam dois tracinhos. Eu gostava, mais do que da risada, dos dentes do Alex. Além de ter caninos meio pontudinhos, os incisivos centrais dele eram meio grandes e bonitinhos (não me culpe por reparar, vivendo na mesma casa que um cirurgião dentista a gente acaba pegando as manias e esquisitices dele).

— Vergonha do quê? — Ele agarrou meu braço, erguendo a sobrancelha e sorrindo maldoso. — Só estou cuidando do meu namorado, sinto muito. Essas piranhas de hoje em dia estão impossíveis.

Eu não sei o porquê, mas por algum motivo eu não estava me importando com o fato de ele estar se referindo à mim como um cara, muito menos me ofendendo. Ele também não parecia dar a mínima por terem achado que era uma garota.

— Ui, me desculpe, namorada! — exclamei em resposta, esquecendo-me um pouco do quão estranho continuavam a nos olhar as pessoas que passavam e dando risada. — Quer dizer que a senhorita é ciumenta?

— Eu só cuido do que é meu — Alex respondeu. Não estava mais com a entonação ou os gestos femininos, mas continuava na brincadeira. Deu uma piscadela para mim, o braço ainda enganchado no meu enquanto andávamos sem rumo. Eu não havia reparado até então, mas Alex tinha um cheiro bom. — Desculpe, mas me importo demais com o nosso relacionamento para deixar outra ciscar no meu terreno.

Usei a mão que ele não segurava para cobrir a boca, que estava aberta num "o" de visível surpresa fingida.

— Ora, ora — falei sorrindo. — Quer dizer que a minha garota é possessiva?

— Mais que isso — ele respondeu colado em mim. — Muito mais, querido.

Balancei a cabeça em desaprovação, dando risada e continuando a andar. Reparei no nosso reflexo numa vitrine ao lado, parando para nos olhar. Ao meu lado, Alex não era absurdamente baixo, com o topo da cabeça batendo praticamente na minha sobrancelha. Nós éramos realmente pessoas estranhas, eu alta demais para uma garota e ele meio baixinho para um cara.

A gente realmente não era normal. Cheguei à essa conclusão não apenas por nossa aparência, mas também pelo que havíamos acabado de fazer com uma pobre de uma garota. A gente definitivamente não era normal, só que eu não sabia se era de um modo muito ruim, muito bom ou apenas regular.

— Oh — Alex suspirou repentinamente, parando também para olhar nosso reflexo. — Você não mentiu, Polliana!

— Do que está falando? — eu perguntei.

Ele olhou para mim e sorriu, respondendo em seguida:

— Eu realmente estou bonito, você não acha?

Não estava muito tarde quando fomos para casa, mas já escurecia e estava frio. Passaríamos pelo prédio dele primeiro, já que era mais próximo do que minha casa, e ali estávamos. Acredito que ter achado algo legal para o Sam tivesse sido a última coisa que eu escolheria como a mais legal do passeio todo, já que Alex e eu havíamos nos divertido demais. Eu já nem lembrava do momento em que ele havia dito aquelas coisas ruins quando fomos nos despedir.

— Obrigada pela ajuda hoje! — eu disse simplesmente, vendo-o sorrir e fazendo o mesmo. — Desculpa qualquer coisa, tá? Espero que a gente possa sair mais vezes.

Alex só deu de ombros em resposta, colocando as mãos no bolso da calça e erguendo-se um pouco para beijar meu rosto. Os lábios dele estavam gelados e secos, as bochechas tão frias quanto. Murmurou um som positivo e sorriu, olhando para os lados antes de atravessar a rua e ir em direção ao apartamento.

Fiquei vendo ele se afastar e as luzes da cidade se acendendo conforme a noite chegava enquanto pensava em tudo que havia acontecido no dia. Acho que aquela havia sido a primeira situação na minha vida inteira em que eu dera risada do fato de eu parecer um cara, e aquilo havia sido delicioso, um milhão de vezes melhor do que apenas me sentir às vezes mal por causa disso. Tirando esse fato, toda a tarde que Alex e eu passamos juntos havia sido inexplicavelmente divertida, mesmo com os momentos constrangedores e a pequena, quase ignorável discussão.

Pensando nisso, estava vendo-o a quase entrar no edifício quando decidi berrar alguma coisa. Eu não era de gritar, muito menos no meio da rua à noite, mas decidi fazer isso simplesmente porque havia me dado vontade — afinal, qual é a graça de segurar desejos?

— Ei, namorada! — eu gritei, colocando as mãos na frente da boca de modo a ampliar o som. — Você é uma gostosa!

Sem poder ver direito a expressão do rosto dele de longe, escutei apenas a gargalhada enquanto eu fazia um coração com as mãos e o erguia no ar.

— Eu sou mesmo! — ele gritou de volta. — Não precisa nem dizer!

Eu estava balançando a cabeça quando o vi retribuir o meu gesto, erguendo nitidamente o dedo do meio e depois me virando as costas. Aquele Alex era mesmo uma gracinha.

Fui voltando para casa tranquilamente, olhando para as luzes da cidade no começo de noite e para a lua que surgia no céu já escuro. Parecia que, mesmo diferente do Sol que sempre desaparece, uma Lua que floresce somente à noite também pode muito bem mostrar seus encantos.

Ouvi dizer que você entenderia algum dia
Mas eu não vou viver como você, de qualquer jeito
Eu tenho que entender
Coisas sobre as quais eu não quero nem mesmo saber?

Talvez, eu seja só uma criança agora
Talvez, seja só uma desculpa
Mas isso é tudo o que eu quero dizer
Preste atenção! Você tem que ouvir isso!

Eu vou perder, yeah! Eu vou perder
Se você me trazer sua própria teoria
Tudo bem, tudo bem
Preste atenção! Você tem que ouvir isso!

Você vai perder, yeah! Você vai perder
Se eu trago a você minha esperança de cem por cento
Tudo bem, tudo bem
Preste atenção! Você tem que ouvir isso!
(100%, ONE OK ROCK)


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado.