A sensação de ser puxada por ele era boa e ruim,era ruim pois eu me sentia uma total inútil e tinha de ser puxada sempre,mas a boa era que eu sentia que poderia ir a qualquer lugar do mundo com aquele garoto.

Carl estava se dirigindo a pequena fogueira improvisada de Rick,de primeira eu quis matá-lo,mas depois percebi que não estávamos indo até a fogueira mas sim até Judith.Não demorou muito para pararmos em frente a Rick,ele tinha a filha nos braços mas ela não parecia querer dormir.

–Quer tentar,Carl?-perguntou ele ao filho.

Carl assentiu,rapidamente,com a cabeça e logo seu pai lhe deu a irmã.

Judith era a beleza que restava no mundo,aos nossos olhos,aquele pequeno ser conseguia tirar um sorriso de cada um de nós e isso era como uma luz em meio a escuridão.Quando Carl a pegou eu pude ver a felicidade passando no olhar do garoto,isso era a magia de Judith.

Com a irmã nos braços,Carl fez um sinal com a cabeça para que eu o seguisse,logo o fiz.Ele se sentou um pouco longe das pessoas da fogueira e disse para eu fazer o mesmo,me sentei ao seu lado e da pequena.Judith não ficava parada no colo de Carl,ela queria subir nele,escalá-lo,pude notar isso pois ela colocava as mãozinhas nos ombros dele e tentava dar algum tipo de impulso pra cima,isso me fez sorrir e pude perceber que estava sob a magia de Judith.

–Ela quer subir em você.-disse ainda com um pequeno sorriso estampado no rosto.

–É,eu sei.-respondeu ele com uma risada,aquilo era fofo de um certo modo.

–Por que ela quer subir em você?-perguntei,trazendo os joelhos até o peito.

–Quem sabe?Acho que ela acha que sou algum tipo de montanha,ou alguma coisa assim.-respondeu ele,ainda rindo da ação da pequena.-Judith é um tipo de bebê aventureiro.

O comentário dele me fez soltar um pequeno riso,como não rir daquela situação,era fofa e engraçada e por um momento me fez esquecer a morte de Jim,por um momento.

–Conseguimos Judith!Somos uma ótima dupla de comediante!-exclamou Carl tentando dar um High Five na pequena mão da irmã.-Tiramos uma risada dela,isso foi um começo muito bom!

–Não faça isso com sua irmã,é como um plano maligno.-disse ainda em um tom risonho,eu sabia que ele ia tentar fazer alguma coisa quanto a minha tristeza,mas não esperava por aquilo.

–Pode até ser,mas acho que ela concorda comigo.-disse ele virando a cabeça para me olhar.

–Concorda com você?Sobre o quê,meu caro?-perguntei,totalmente envolvida por aquela atmosfera.

–Sobre o sorriso no seu rosto,fica melhor assim.

Aquele comentário fez meu coração palpitar,pude sentir meu sangue subindo até a cabeça.Não consegui responder aquilo,apenas desviei o olhar.Pude notar que Carl fez o mesmo,mas logo foi envolvido pela magia da irmã,novamente.

–Acho que a Judith não me quer.-disse ele com um ar risonho,com isso virei a cabeça para olhá-lo.-O que você quer?

A bebê pareceu ter entendido a pergunta pois virou a pequena cabeça na minha direção,me deu um pouco de medo na hora.

–Você quer a Lis?Sua traidorazinha,me trocou.-riu Carl,ainda olhando para a irmã,mas logo se voltando a mim.-Ela te quer.

–Não,não.Eu não tenho jeito pra isso.

Carl pareceu ter ignorado meu protesto pois me deu a Judith,eu tive de me ajeitar para a pequena menina;o fato de ele ter ignorado meu protesto me trouxe indiferença mas mesmo assim não consegui odiá-lo.Judith se ajeitava,agora em meus braços,aquilo era uma coisa completamente nova pra mim pois eu nunca tinha segurado um bebê antes.Quando a pequena parou de se mexer me encarou,aqueles pequenos olhos brilhantes me trouxeram uma nova sensação,uma sensação que me deixava um pouco nervosa mas muito feliz,acho que aquilo era efeito da magia de Judith.

–Acho que tem jeito sim.-disse Carl,ele me desconcentrou totalmente.

Quando virei para olhá-lo estranhei,agora o garoto estava deitado,suas mãos estavam de trás de sua cabeça,e seu chapéu estava ao seu lado.

–Por que está deitado?-perguntei.

–Porque eu to cansado,e parece que não sou o único.-respondeu fazendo um sinal com a cabeça,e isso apontava para Judith.

Quando voltei o olhar para a pequena vi que seus olhos estavam semi-abertos,ela parecia exausta naquele momento mas antes parecia ter muita energia,eu não entendia bebês.Resolvi fazer o mesmo que Carl pois eu também estava exausta,antes estava me impedindo de dormir,mas naquele momento achei que não tinha motivo para não fazer.Coloquei Judith,adormecida,sobre a palha em que estávamos sentados e depois me deitei,estávamos eu,Judith e Carl deitados na palha desconfortável,com sono.

–Temos uma bela vista de um teto de madeira podre aqui,né?-brincou Carl,olhando para mim.

–É o que temos pra hoje,não é tão ruim.-respondi ainda olhando para o teto.-Posso te fazer uma pergunta?

–Pode,se me deixar fazer uma também.

–Certo,você primeiro.

–Hum...você gosta do seu super-poder?-perguntou ele,isso me fez virar a cabeça para olhá-lo.

–Super-poder?A minha visão de calor não é um super-poder...no início eu fiquei assustada com ela,não conseguia controlar,eu via tudo e todos e isso era assustador pra uma garota nova.Hoje eu...ainda acho ele ruim,mas com ele eu posso ajudar então...acho que e um meio termo,gosto e desgosto...-respondi,por um momento eu tinha esquecido esse assunto.-Entende?

–Eu entendi,foi uma boa resposta.

–Agora é a minha vez...-eu estava com medo de perguntar.-Como a sua mãe morreu?

Com a pergunta Carl soltou um suspiro,eu não queria fazê-lo falar se ele não quisesse.

–Desculpa,esqueça a pergunta.-soltei,mas logo depois ele começou a falar.

–Eu omiti um pouco da verdade de você,não queria que me achasse assustador ou alguma coisa do tipo...-começou ele,eu não tinha entendido de primeira.-Eu tive que matar a minha mãe,ela deu a vida pra salvar a Judith,foi horrível fazer isso mas...foi necessário,até agora eu não sei se me culpo por isso,é uma coisa meio complicada.Eu teria te contado de primeira mas...não sei o que me deu,achei que você ai ficar com medo de mim.

–Por que eu ficaria com medo de você?Eu entendo...que fez o que tinha de ser feito.Jim me fez atirar nele,então...tecnicamente eu o matei também.-falar aquilo não foi fácil,mas senti que precisava fazer.

–Certo,vamos parar de falar sobre isso,o assunto ficou tão depressivo de repente.-disse Carl,mudando de posição,naquele momento só tinha uma mão sob a cabeça e estava virado pra mim.

–Acho que tem razão.-respondi,fazendo o mesmo que Carl fez,estávamos olhando um para o outro.-Como acha que vamos viver agora?

–Não faço a mínima ideia,mas já estivemos em situações piores,isso está até bom.-explicou ele.-Desde que estejamos todos juntos,acho que tudo vai estar bem.

–É,acho que tem razão...isso pode funcionar.-disse,tentando não acordar a pequena Judith.-Acho que vou acabar caindo no sono.

–Eu também,a terceira mosqueteira já se rendeu a tal sono.-riu Carl.

–Sim.-sorri,aquilo tinha aliviado muito a dor que eu estava sentindo.-Boa noite,Carl.

–Boa noite,Lis.

Não demorou muito para dormirmos como duas crianças inocentes,ao lado de uma pequena garota que tinha o dom de tirar um sorriso das pessoas.