Carl me puxava com muita energia,eu não estava com ânimo para aquilo mas simplesmente não consegui dizer não a ele,vendo seu rosto era quase impossível.

Rick tomava a liderança mais uma vez,guiando o grupo até onde Daryl se localizava;fui guiada por Carl,que estava bem atrás de Rick e manteve o passo firme,até pararmos abruptamente.Estranhei a parada e levantei o olhar,Daryl se encontrava a nossa frente e junto dele havia um tipo de celeiro,não era muito grande mas suportava nosso grupo,era melhor do que ficar tomando chuva.

–Parece que isso pode ajudar.-disse Daryl,já tentando abrir as portas do celeiro.

–Vai ajudar muito.-respondeu Rick,logo indo ajudar o amigo.

As portas estavam fechadas com algum tipo de corrente e a mesma estava acompanhada por uma cadeado grande,não parecia que duraria muito mais tempo,ambos estavam enferrujados.Rick e Daryl não tiveram muito trabalho,uma pequena batida com o apoio da besta foi suficiente para que a corrente e o cadeado fossem ao chão.Todos sacaram as armas e ficaram atentos,eu,por outro lado,não saquei nada,apenas fiquei atrás de Carl,que ainda segurava minha mão.Quando as portas se abriram minha expressão relaxou um pouco,não havia nada lá dentro,pelo menos de primeira vista.Rick avançou um pouco,com passos lentos e sorrateiros,como sempre fazia,nós avançamos o seguindo e em seguida paramos por um sinal de sua mão,tinha um infectado ali dentro.Todos do grupo começaram a procurar pelo infectado,incluindo Carl e eu;quando escutamos os grunhidos do infectado nos separamos para poder procurar,Carl soltou minha mão levemente e isso me deixou um pouco triste,eu não queria que ele soltasse mas também isso era pedir demais.Fomos em direções opostas,isso tocou,eu ficava tão confortável perto dele.Balancei minha cabeça de um lado para o outro,para tirar esses pensamentos idiotas de minha mente,e tentei me concentrar no grunhido no infectado.Fechei os olhos e segui o som,quando os abri novamente me dou com um alojamento,abro a pequena porta e lá está,um infectado.O mesmo não possuía o braço esquerdo e o ombro direito estava preso na parede,preso por um facão.

–Achei.-disse,tentando alertar o grupo.

Logo mais uma voz ecoou pelo celeiro.

–Também achei um!-alertou Carl,e nesse momento nossos olhares se encontraram,eu não queria desviar dessa vez então fiquei a olhá-lo.

Rick foi em direção a Carl,e Michonne veio até mim.Pude perceber que os pensamentos dele foram interrompidos quando seu pai cruzou a sua frente,logo depois de ele desviar o olhar abruptamente eu fiz o mesmo.Logo percebi Michonne já tinha dado conta do infectado e olhava pra mim com um pequeno sorriso,eu não entendi bem a expressão dela por isso só abaixei a cabeça.

–Parece que esse lugar dá conta.-interrompeu Daryl.-Pelo menos essa noite.

–É,é o melhor que temos.-disse Rick,logo indo em direção a Tyreese e pegando Judith nos braços.-Podem se acomodar.

Com essas palavras o grupo relaxou um pouco,pude notar.Eu não estava mais agüentando ficar em pé,meus joelhos estavam prestes a ceder, foi o que fizeram.Fui ao chão e logo me ajeitei,eu fui a primeira a sentar e a segunda foi Beth.Eu me encostei na parede de madeira e respirei fundo,tudo o que eu queria ouvir era o barulho da chuva mas eu não conseguia.Levei a mão até o pescoço e toquei o meu número de identificação,tentei recapitular tudo o que tinha acontecido até aquele momento,tudo desde o subsolo secreto no hospital psiquiátrico e foi aí que me lembrei.Aquele homem de antes,aquele que invadiu a hidrelétrica,aquele cuja filha se chama Tiffane;aquele homem apareceu no orfanato um dia antes de eu ser levada pelos caras do governo,um dia antes de eu me tornar uma cobaia.

Aquelas informações pesavam em minha mente,tudo seguia o mesmo caminho e terminava na morte de Jim,só de pensar naquilo eu já queria chorar.Levei as minhas pernas até o peito e me encolhi.Meu cabelo estava encharcado e pingava deixando uma pequena poça em volta de mim,meu casaco pesava mas eu não podia tirá-lo se não morreria de frio e minha cabeça estava confusa,tudo por causa minha causa.Se eu não tivesse estado na hidrelétrica aquelas pessoas não perderiam o seu abrigo,se eu não tivesse sido uma cobaia aquele homem nunca ia me procurar e se eu nunca tivesse conhecido Jim,ele ainda estaria vivo.Estava tendo uma crise existencial grande,quando meus olhos,magicamente,foram direcionados a Carl,que estava com Judith nos braços enquanto Rick tentava fazer uma fogueira.Se eu não existisse,não teria conhecido Carl...e se eu não o tivesse conhecido,não teria algumas das lembranças mais felizes da mina vida.

Meus pensamentos foram totalmente interrompidos por uma voz familiar.

–Ei,está me ouvindo?Terra para Lissandra,responda!-disse Beth,estalando os dedos bem a minha frente,isso me fez piscar várias vezes.

–Desculpe...o que disse...?

–Eu perguntei se está tudo bem,parece tão distraída...sei que o que aconteceu hoje foi...delicado,mas...não se culpe,não foi culpa sua.-disse ela com um sorriso,eu sabia que ela estava tentando ser legal,mas isso só me fez ficar mais pra baixo.

–Certo...-respondi,tentando forçar um sorriso,Beth pareceu ter caído na minha falsa felicidade pois sorriu também.

Algumas horas se passaram e a noite caiu,minhas roupas ainda estavam um pouco molhadas mas nada que eu não desse conta.Eu continuava no mesmo lugar,não tinha ido até a pequena fogueira que Rick tinha feito,não queria que sentissem pena de mim.Estava enterrada em pensamentos que nem percebi que horas tinham passado,pensando sobre os lados bons e ruins da minha existência.Beth tinha dito para eu não me culpar,mas eu não conseguia não me culpar,todos eles podiam dizer isso mas não faziam ideia de como é ser a causa de tudo,não adiantava negar porque eu era a causa daquilo.Minha cabeça estava enterrada entre meus joelhos e eu estava prestes a cair no sono,mas eu não queria pegar no sono,por isso a levantei e tentei me distrair com algo.Olhei em direção as portas do celeiro,Daryl tinha dado um jeito de colocar a corrente de volta para que o vento não abrisse a porta.A chuva continuava,incessante e forte;olhando para a porta tentei colocar a habilidade em ação,não vi nada de especial,apenas um infectado solitário e estava a alguns metros do celeiro,nada pra se preocupar.

–Ei.-chamou uma voz muito familiar.

Virei a cabeça,um pouco rápido de mais,e me deparei com Carl,por que ele sempre aparecia quando eu mais precisava?Eu não sabia dizer.Foi aí que percebi que ele estava sem chapéu,e me lembrei,eu ainda o tinha na cabeça.

–Posso sentar?-perguntou ele,apontando para o lugar ao meu lado.

Apenas assenti com a cabeça.Logo ele se sentou.

–Você fica bem de chapéu,sabia?-disse ele com um sorriso brincalhão no rosto.

–Fica melhor em você.-respondi,logo retirando o chapéu e o colocando na cabeleira castanha dele.-Pronto,voltou pro dono.

–Ainda acho que estava melhor em você.-retrucou ele,arrumando o chapéu em sua cabeça.

Isso retirou um pequeno sorriso do meu rosto,era uma coisa que só ele conseguiu fazer.

–Você não quer se aquecer?Ainda parece que seu casaco está molhado.

–Não...estou bem aqui,não quero que eles toquem...em um certo assunto.

–Certo,eu já entendi.-respondeu ele,dando uma leve pausa, e em seguida falando novamente.-Vem cá.

Carl se levantou e esticou a mão para me ajudar a fazer o mesmo,logo o fiz.Quando toquei sua mão pude sentir o palpitar de meu coração,eu odiava e amava aquilo ao mesmo tempo.O que ele estava planejando?