A Arte da Guerra escrita por clariza


Capítulo 9
// A ciência de atravessar janelas //


Notas iniciais do capítulo

Hey there folks!!
postando beem mais cedo do que o de costume.
espero que gostem.



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Eu tinha suportado o mau humor dele o dia inteiro, durante vinte e quatro horas eu ignorei o silencio estrondoso, a cara fechada e os olhares mal humorados pro meu gato, eu pensei que era estresse pós-traumático, que eventualmente ele melhoraria. Mas, não melhorou.

Discutimos três vezes. Primeiro quando eu insisti que ele cortasse o cabelo, ele se recusou. Mesmo com as minhas inúmeras justificativas de por que ele deveria cortar aquela porcaria de cabelo ele se recusou, segundo quando ele trancou Yuri no banheiro e eu considerei do fundo da minha alma enfiar uma faca nele repetidas vezes, e a terceira quando ele passou horas sem dizer uma palavra. Nenhumazinha.

E isso estava me enlouquecendo, apesar de não ser uma expert em manter amigos e relações sociais eu gostava de conversar, gostava bastante e todo aquele silêncio estava me fazendo subir pelas paredes e até quando eu colocava uma música para que o ambiente ficasse suportável, a música parecia alta demais, a TV parecia um apocalipse e eu não entendia uma palavra que as pessoas no rádio diziam.

Por volta das cinco da tarde eu decidi que não aguentava mais e sai de casa, eu não tinha nenhum lugar pra ir então eu subi até o ultimo andar e fui até o telhado. Lá em cima tinha um sofá, significando que eu não era à única que ia ali, eu me sentei nele e apreciei o por do sol.

O sol se escondia entres os prédios cinza espalhados pela cidade parecia que o sol pintava o céu de diversas cores, do azul claro ao lilás com tons de laranja, havia tons de cor de rosa entre as nuvens mergulhadas naquela imensidão, não era como as cidades que eu havia ido a que o sol se escondia exclusivamente em um lugar especifico, o sol estava em todo o lugar, o céu era de tirar o fôlego.

Aconcheguei-me no sofá, eu estava tão frustrada!

Estava num pais estrangeiro, estava cheio de possibilidades e eu poderia conseguir um lugar pra trabalhar, não por necessidade, mas eu não queria ficar só eu queria ter algo pra fazer da vida trabalhar era algo que eu amava fazer, e seria uma distração. Eu não queria ficar um tempo indeterminado sem fazer nada. Eu não queria ter muito tempo pra pensar naquilo.

Aquilo. O aquilo tinha nome sobrenome, estava desmemoriado e mal humorado na minha nova chance de vida. Uma nova chance. Quantas pessoas tem essa oportunidade? Eu sabia que eu tinha uma sorte tremenda, eu tinha um recomeço. Mas, pra variar nada era tão simples, eu tinha ele. Eu tinha que ajudá-lo. Eu não sabia como. Como eu diabos eu poderia ajudar aquele homem? Ele estava quebrado, talvez quebrado num nível além do reparo, eu conhecia o cérebro dele, eu conhecia o dano.

A mente dele era um vaso de vidro quebrado em milhares de pedaços, eu poderia brincar de cola, mas não tem como consertar um vaso depois que ele é esmigalhado, eu não poderia catar seus pedaços e conversar até que eles se juntassem de novo, muito menos levá-lo num especialista. Olhei para os céus em busca de alguma resposta. Nada veio, obviamente.

Pensei nos exames que ele havia feito ainda na hydra, seu cérebro não estava completamente escurecido, não havia partes completamente destruídas apenas cobertas de poeira, poeira pode ser limpa. O quebrado pode ser reparado. Um jato de animo preencheu meu corpo quando me lembrei do episódio das batatas fritas, quando o soldado invernal parou um soco na minha cara, ele não estava além de toda a ajuda, ele tinha me defendido uma vez, pelo menos uma parte do seu senso de moral estava com ele.

Já estava ficando escuro quando resolvi descer, Bucky estava deitado no sofá vendo alguma coisa na televisão e as pernas pra cima, ainda com a roupa de dois dias atrás. E por algum motivo isso me deixou extremamente irritada. Parei em frente à tela, com as mãos na cintura.

―Hora da terapia ― anunciei virando nos meus calcanhares e apertando todos os botões possíveis da TV de plasma para desligá-la. eu fui até a ponta do sofá.― Como você se sente?

Ele ainda estava chocado com a minha atitude, não havia mexido um músculo, apenas me encarava de boca aberta, quando fechou a boca, apenas fez uma carranca furiosa e cruzou os braços.

―Eu estou esperando ― eu me sentia muito irritada com toda essa falta de conversa, eu queria ajudar e ele mal falava comigo, só parecia uma maldita adolescente emburrada. ―Temos a noite inteira.

―O que você quer que eu diga?

―Você é surdo por acaso? ― perguntei ― Como. Você. Se. Sente? ― falei pausadamente.

―Bem. ―me respondeu, eu olhei pra cara dele, pisando na linha tênue da minha sanidade.

―Por que eu não te digo como eu me sinto agora, pra você entender como se faz? ― ele concordou com a cabeça.

―Bem eu estou trancada num apartamento com a personificação daquele meme do gato mal humorado, e ele nem sabe o que é um meme, ele não sabe de nada, eu entendo. Um trauma do cacete, mas ele é um burro e não me deixa ajudar! Eu fodi com toda a minha vida pra ajuda-lo, eu perdi tudo. Desde o meu armário do trabalho a minha liberdade, então eu fugi, algo até então inédito pra mim. Vim pra um país estrangeiro no qual eu não entendo a língua, e eu o trouxe comigo, eu sinto como se eu tivesse o quebrado ainda mais, eu tenho essa terrível sensação de culpa. Ele tentou me matar e eu estou tentando mantê-lo vivo. Mas em vez de fazer as nossas vidas mais fáceis, ele se senta o dia inteiro sendo um babaca e nem sequer troca uma palavra comigo. Eu me sinto isolada, eu estou com medo de que a qualquer segundo apareça um batalhão da hydra e enfia a porcaria de uma bala na minha cabeça, eu estou nervosa porque eu não sei como te ajudar, eu me sinto culpada pelas pessoas que morreram, e eu estou temerosa sobre a sua mente porque eu não faço ideia do que se passa nela.

Vomitei as palavras entaladas no meu peito desde o inicio do dia, ele comprimiu os lábios seus olhos no topo das arvores do lado de fora visíveis pela janela de vidro.

―Você que saber como eu me sinto? ―Seus olhos azuis e gelados como navalhas se fixaram nos meus ― Fodido. Eu não sei quem eu sou tudo que eu tenho são esses flashbacks, eu não sei o limite entre os meus sonhos e o que é real, você diz que se sente culpadas pelas mortes, querida eu os matei, como você acha que eu me sinto? Eu matei milhares de pessoas e eu nem sei a razão de eu ter feito isso, eles me torturaram por cinquenta anos, eu tenho sido congelado e descongelado por anos. Minha mente é um lugar escuro, esta tudo tão fodido e quebrado que eu nem sei por onde eu começo a limpar a bagunça se é que um dia eu vou poder fazer isso, eu não sei o que eu vou fazer daqui pra frente, eu nem consigo dormir por que eu não tenho sonhos eu só tenho pesadelos, eu tenho memórias e todas essas memórias estão me consumindo vivo.

―Eu poderia te ajudar ― eu disse quando ele parou de falar, o soldado riu em escárnio.

―Como você poderia me ajudar doutora Freya? Tudo que eu tenho são memórias de um homem que eu costumava ser e flashbacks de um monstro que vive dentro de mim.

―Porque eu não acredito que você esteja completamente quebrado, e tudo pode ser consertado. Existe uma ciência de andar na corda bamba, entre o limite de voar e cair, você só precisa aprender a se equilibrar, andar entre o homem que costumava ser e o monstro, você pode se reconstruir um novo você no qual você se sinta bem.

―Você acha que isso é possível? ― ele estava desconfiado, eu torci os lábios e estiquei a mão para tocar o cabelo comprido, ele se afastou, mas deixou que eu o tocasse.

―Acho que cortar o cabelo é um grande passo, eu posso até cortar o meu ― tirei a mão do cabelo dele e toquei o meu próprio cabelo ― precisamos ficar escondidos um tempo.

―Não corte o seu cabelo.

―Eu talvez precise sabe como é…

―Só não faça isso, prenda-o, só não corte o cabelo. ― ele insistiu.

―Okay, mas o seu vai ser cortado.


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