A Arte da Guerra escrita por clariza


Capítulo 11
// Caos e Calma //


Notas iniciais do capítulo

Hey there folks,
Eu tenho um pressentimento que vocês vão gostar >muito< desse capitulo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/614552/chapter/11

Dois meses haviam se passando. Bucky tinha pesadelos contantes, o que a principio me aterrorizaram, mas agora eu tinha me habituado aos gritos no meio da noite, havíamos improvisado várias sessões de terapia ou o melhor que eu podia oferecer, eu o forçava a falar sobre ele mesmo, apresentava fotos e fatos sobre quem ele era e as vezes o soldado conseguia se lembrar de pequenos detalhes, como uma vez em que roubaram a lancheira dele ou sobre uma sorveteria no Brooklyn onde ele costumava ir, pequenas peças de um quebra cabeça de um milhão de peças que tentávamos montar as cegas, algumas partes já estavam claras outras eu não fazia ideia do que fazer, eram escuras e sujas, tinha medo de cutucar demais eu sair algo que eu pudesse me arrepender.

Me convenci de quem ele era é mais importante do que as coisas que ele fez. Bucky Barnes não podia ser responsabilizado pelas ações do soldado invernal. Estávamos construindo uma amizade. Eu sempre fui um desastre em manter relações sociais com outros seres humanos, mas depois de tanto insistir nisso eu via um pequeno jardim crescer entre nós.

Nossos dias eram longe de grandes emoções, menos quando eu tentava cozinhar algo, ai sempre terminava com algo pegando fogo ou coisas não aptas para o consumo humano, Bucky sentava de longe observando as minhas malinações, com seu novo melhor amigo, um notebook em que ele tentava se atualizar do mundo, chagava a passar doze horas seguidas lendo na Wikipédia, até eu o informar que não era um site lá muito confiável já que qualquer um poderia editá-lo, depois eu tive que dar o conceito de editar coisas online que me levou a falar sobre cachês de cookies e me deixou queimar o bolo de laranja que eu tentava fazer naquela tarde. Depois de jogar o bolo fora, já que as partes não queimadas tinham gosto de sabão .

Profundamente frustrada, eu deixei Bucky sozinho na sala com o notebook e subi as escadas, sentando num pequeno sofá que ficava junto a janela saliente, coberto de almofadas azuis.Era o meu lugar favorito da casa. Dela eu podia ver todos os dias o por do sol, que por mais piegas que fosse eu adorava, o entardecer de Brasília era o mais bonito que eu já tinha visto na vida e eu tinha uma vista pro parque, onde as crianças brincavam e as pessoas caminhavam ou corriam.

Aquilo me fazia lembrar da minha infância na Sokovia, uma manhã meu irmão tinha faltado no escola pra ficar comigo porque papai estava doente e mamãe trabalhando, ele tinha feito meus biscoitos favoritos e me levado no parque, mas eu estava muito aborrecida porque não estava conseguindo entender equação de segundo grau, Oskar me empurrava no balanço mas a minha cabeça não saia daquela maldita matéria.

―O que foi, prințesă?― ele perguntou, parando o balanço e se agachando na minha frente, eu expliquei a situação enquanto ela acariciava meu cabelo ela sorria gentilmente ―Você tem dez anos, não entender algo mais avançado que a sua turma não é o fim do mundo.

―Ozzy, isso é importante ― Reclamei, ele estava fazendo pouco caso de mim, como não era o fim do mundo? Eu me sentia tão burra por não entender aquilo ― Eu não quero ficar pra trás, eu quero ser que nem o papai, uma cientista, eu quero ser inteligente!

―Mas você é! Tão esperta pra sua idade, quando chegar o tempo você vai entender equação de segundo grau. Que nem eu.

Aquilo não me deixou bem, eu não queria aprender equação quando “fosse a hora” eu queria aprender agora, a satisfação de saber algo que ninguém mais que eu conhecia soubesse, eu queria aprender aquilo. Quando eu finalmente aprendi, foi a melhor sensação da minha vida, eu me senti espera e poderosa, Eu estava no controle podia controlar o resultado eu sabia o que tinha no final, se eu multiplicasse os elementos certos eu teria o controle. E agora eu estava sentada a beira de uma janela, num país estrangeiro com um cara que me assustava. Quando eu tinha perdido o controle? Quando eu havia desentendido equação de segundo grau?

Era uma coisa tão simples, deveria ser fácil pra mim. Era uma questão química, a quantidade certa dos ingredientes, deveria dar certo. Mas não dava. Yuri subiu no meu colo, e eu comecei a afagar seus pelos.Alguns minutos depois Bucky subiu as escadas e se sentou perto dos meus pés. O corte de cabelo havia me ajudado muito a distinguir Bucky do Soldado, mas ele ainda me assustava e toda essa proximidade me deixava nervosa.

―Eu tive esse flash agora, não tenho certeza se é verdade ― me informou, coçando a cabeça ― Você está nele.

Me apoiei nas mãos e me sentei, cruzando as pernas em cima do bando e dando espaço pro soldado se ajeitar, ele se sentou na extremidade oposta.

―Fale e eu posso dizer se é verdade ou não.

Seu olhar ficou vazio por um tempo, ele procurava as palavras certas e eu comecei a me preocupar com o que ele estava pensando me aproximei e toquei o joelho dele.Seu olhar se focou no meu pescoço, onde as marcas do estrangulamento estavam começando a amarelar e sumir.

―Estava escuro, e eu tinha que ficar lá, num apartamento pequeno e bagunçado, eu ouvi um barulho na porta, você entrou, seu cabelo estava preso então eu podia ver seu pescoço com clareza, eles disseram “apenas um susto”, meus dedos queriam pegar a arma e acabar com isso, eu queria cumprir uma missão que não havia sido passada, e então você virou, tinha tanto medo nos seus olhos, eu pude ver Freya, você estava com medo e sua primeira pergunta é sobre o gato, eu achei isso ridículo. Arranquei a cortina, e eu... ― Eu tentei não chorar, mas era tarde demais, meus olhos estavam marejados sentia minha boca aberta, respirei fundo.Mas, eu não podia responder isso.Não, era demais pra mim, aquela noite ainda estava muito viva eu quase morri. Ele queria me matar. ―Pela sua reação eu suponho que seja verdade.

A voz dele estava baixa e quebrada, juntei as minhas mãos e cobri parte do meu rosto, tentando regular a minha respiração, eu sentia a histeria crescendo dentro de mim. Eu não podia ter uma ataque de panico aqui, não agora.Fechei os olhos e abaixei a cabeça. Isso era química. Uma troca de gases, o oxigênio entrava nos meus alvéolos pulmonares e era repassado para a minha corrente sanguínea, e era repassado ao meu corpo da ponta dos meus pés até o meu cérebro e então eu exalava gás carbônico. Química me acalmava, saber como as coisas funcionavam me acalmava.

―Eu sinto muito ― ele disse um pouco depois, eu levantei a cabeça e ele me olhava, seus olhos azuis verdadeiramente arrependidos ― Eu… Eu… Nada do que disser justifica o que eu fiz, eu sei disso, nada que eu fizer vai me redimir ou…

―Eu sei, você não tem que me dizer nada…

―Mas eu quero Freya, eu preciso achar um jeito de me livrar disso, dele… de mim, estou cansado de manter isso, eu não sei quem está no controle, eu não sei quem eu sou eu sei o que eu posso fazer e todas essas vozes, eu não consigo fazê-las parar. ― Ele se levantou, andando em círculos pelo quarto ― Eles gritam comigo o tempo todo, mesmo nos meus sonhos, não são sonhos eu só tenho pesadelos!

―Para ― eu gritei, ficando em pé e tentando segurá-lo, ele se afastava das minhas mãos ―Você está me assustando.

Ele parou longe de mim, suas mãos na cabeça.

―Eu não consigo parar com isso ― ele tentava recuperar o fôlego ― Você deveria ter medo de mim.

Eu me aproximei dele, ele respirava muito alto, o panico era visível em seu rosto, segurei com delicadeza seus ombros, uma das minhas mãos pousando em seu rosto e o forçando a olhar pra mim, tentei sorrir pra ele enquanto respirava teatralmente até que James seguiu meu movimento, se acalmando junto comigo, a mão que estava no seu ombro deslizou até o peito dele, o coração batia tão forte parecia querer saltar do seu peito.

―Você tem o controle.Você vai vencer isso.Eu confio em você.― eu falei pausadamente, tentando colocar confiança nas minhas palavras, ele suspirou e tocou o meu pescoço, um arrepio correu pela minha espinha.

―Eu prometo que eu nunca mais vou machucar você, e nem deixar que alguém faça isso, eu vou proteger você.― eu sorri e segurei o queixo dele.

―Ok. ― eu me afastei, meu corpo tremendo e agradecendo por ele não me tocar com o braço de metal ― você vai ter que se virar pro jantar.

Nós descemos as escadas e eu peguei o noteboook e voltei para onde eu estava, pesquisando sobre cérebros que era o que eu mais fazia nas ultimas semanas, pesquisas e mais pequisas, buscava um jeito de recuperar as memorias dele e afundar algumas em seu cérebro, criar uma espécie de rede que conectasse as memorias boas e deixasse as coisas ruins passarem por ela, eu tinha medo de isso ser uma péssima ideia e eu não poderia ligar pros meus pais e pedir ajuda sem contar pelo menos como eu tinha me metido nisso tudo.

Eu sabia que tecido cerebral é impossível de ser recuperado uma vez destruído, mas a ultima vez que eu vi os raios-x da cabeça dele elas não estavam completamente escurecidas, eram opacas o que indicava que o tecido não havia sido completamente destruído. Eu precisava olhar dentro da cabeça dele, mas somente eu poderia fazer isso, como explicar pra um bando de médico o que tinha acontecido, nem eu poderia inventar uma desculpa pra aquilo. Não haveria uma justifica plausível pros resultados.

Me desviei das minhas pesquisas com o cheiro de comida que subia no ambiente, a principio foi fácil de ignorar minha mente ainda estava ocupada em possíveis ligações ou planos para conseguir ver dentro da cabeça dele, mas depois o cheiro de molho de tomate tinha preenchido completamente o ambiente, com cuidado eu desci a escada tentando não fazer barulho meus pés descalços ajudaram nisso, o cheiro vinha da cozinha, onde James estava - para o minha mais absoluta surpresa - cozinhando, vários ingredientes espalhados pela bancada de mármore branco, ele parecia bastante concentrado sobre o fogão.

―O que você está fazendo?― perguntei cruzando os braços e o olhando de sobrancelhas, ele me respondeu um “uhum” claramente não prestando atenção em mim, ―James! O que você está fazendo?

―Jantar? ― disse ironicamente.

―Não sabia que você cozinhava.

―Nem eu, mas eu abri a geladeira e vi aquelas coisas e pensei “ eu nasci quando não existia comida congelada caramba, eu devo saber fazer alguma coisa” peguei e comecei a fazer isso e eu realmente sei o que eu estou fazendo ― disse, maravilhado consigo mesmo mal pude conter um sorriso ― e eu me sinto a vontade fazendo isso, mesmo sentido que eu não deveria.

―Porque não deveria?

―Você é a garota da casa ― me informou, ganhando um acesso de risadas minhas, ele pareceu confuso ― Tá rindo de que?

―Não estamos mais nos anos quarenta, eu não devo cozinhar por ser mulher eu posso fazer o que eu quiser, o mundo mudou Sargento Barnes, esta na hora de acompanhar.

―Não tinha isso na minha época… ― Começou a argumentar.

―Não estamos na sua época, estamos na minha. ― Repliquei, meio acida. Ele estreitou os olhos e lambeu os lábios avaliando a minha expressão de tédio pra essa pseudo discussão.

―Se fosse na minha você seria uma mulher casada com três filhos pra criar ― ele continuou cutucando, eu puxei uma cadeira na bancada e me sentei pegando uma folhinha de hortelã e mordiscando.

―Sofrendo pelo meu marido na guerra, não obrigada, dispenso ― apoeie a minha cabeça na mão ― Prefiro ser completamente independente e meu único filho ser o Yuri.

―Ele é um gato ― murmurou, estendendo o braço para a bancada a procura dos pratos, eu me estirei e os entreguei onde ele colocou a comida.

―Ele não chora a noite, eu não tenho que ensinar boas maneiras, não passo vergonha na rua com ele fazendo birra, só preciso colocar comida uma vez por dia e eu posso falar o resto da noite as vantagens de ter um gato ― Bucky colocou o prato de macarrão com uma aparência apetitosa na minha frente, minha barriga roncou de excitação.

A comida estava deliciosa, e eu só interrompia o meu ritmo de comilança pra comentar isso e que ele era um ótimo dono de casa e que poderia se virar muito bem na minha época e com um pouco de sorte ele poderia ter um food truck já que o braço dele nunca cansava - ganhei um olhar de soslaio que eu ignorei completamente - eu nem sabia o porque de eu estar falando essas coisas idiotas. Mas nos últimos tempos ficávamos tanto tempo isolados minha mente completamente focada em uma coisa sem solução que eu estava cansada, só queria conversar e reclamar disso, queria falar besteira e comer bem. Ignorar o meu problema com o causador dele me parecia ótima.

Ficamos conversando amenidades por algumas horas, ele falava das coisas que se lembrava e eu contava algumas historia de coisas que tinham acontecido comigo, como a primeira vez que eu fui esquiar, o primeiro show da Taylor Swift em que eu fui, depois tive que explicar quem era Taylor Swift.

―E então eu disse pra ele “E eu posso te ver daqui uns anos num bar, falando de alguma coisa com essa sua mesma estrondosa opinião, mas meu caro, ninguém está escutando, você vai estar cansado e falando sobre as mesmas coisas amargas, bêbado e resmungando sobre como eu não sei fazer as coisa do seu modo,por que tudo que você é cruel e um mentiroso, e patético,sozinho na vida” peguei o meu jaleco e sai da sala de aula ― James estava incrédulo, sua boca aberta e os cotovelos escorados na mesa ―Mas, eu tive que voltar pra pegar a bolsa e isso arruinou a minha saída triunfal.

E pela primeira vez eu o vi sorrir de verdade, não aqueles sorrisos tímidos e tristes, mas um sorriso de verdade ligado a uma gargalhada, alta e contagiante. Com direito a algumas linhas do riso em suas bochechas, os olhos espremidos nos cantos, o corpo inclinando para frente a mão sobre a barriga como se ele sentisse algum tipo de dor física, quando ele levantou seus olhos estavam úmidos. Eu gostava dessa visão, eu gostava desse lado e eu não trocaria esse momento por nenhum dos dias dos últimos cinco meses. Eu adorei esse momento, um ligeiro momento de felicidade verdadeira.

―Não ria! Ele continua lá em uma escola na Sokovia e advinha quem ganhou uma medalha de Copley, indicada duas vezes ao deminov, e foi indicada ao Nobel! ― levantei os braços e apontei os polegares pra mim mesma ― Essa garota.

―Toma essa professor da quinta série que faltou respeito com uma senhorita tão inteligente! ―Continuou o soldado, ainda brincando comigo, estiquei a minha mão e demos um hi five e continuamos rindo juntos, ele deu a volta na bancada para pegar meu prato.

―Pode deixar que a Louça é minha, Sargento ― disse batendo continência, comprimindo meus lábios para não sorrir, James colocou o prato sobre a bancada e apoiou uma mão sobre sua cintura, cerrando os olhos.― O que foi?

Foi então que ele se inclinou e me beijou. A principio eu fiquei em choque, quero dizer ele mal estava se lembrando as coisas e já estava distribuindo beijos por ai? Os lábios dele estavam quentes sobre os meus, meu coração parecia um tambor e eu tinha certeza que ele podia ouvi-lo,Meus neurônios deveriam ter entrado em protocolo de emergência já que nenhuma parte do meu corpo se mexeu automaticamente, fiquei parada enquanto o neurônio mestre gritava “Isso não é um teste, isso é real, Freya, Mulher reaja” então eu me afastei dele, absorvendo a situação.Completamente estranha. Isso não poderia acontecer em hipótese nenhuma. Minhas mãos estavam úmidas como um minador de agua e eu definitivamente não poderia levantar, já que eu tinha certeza que as minhas pernas eram feitas de gelatina.

―Você não deveria ter feito isso ― eu disse, sem olhar nos olhos dele. Sentia a respiração dele se afastar do meu rosto, e o ar voltar a correr pelo meu corpo, levantei os olhos e ele estava parado me olhando, parecia tão confuso quanto eu.

―Eu sinto muito, não era minha intenção… eu só… ― ele procurava as palavras, encarando as próprias mãos ― eu não sei, Sinto muito mesmo.

―Tudo bem, vá ver um pouco de TV, eu lavo a louça. ― tentei sorrir pra ele.

―Okay ― ele saiu da cozinha, passando as mãos no cabelo e quando achou que estava fora do meu alcance de visão, socou a parede. E eu fui lavar a louça, tentando imaginar em que diabos de situação eu havia me metido.





Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A sua humilde autora se encontra dançando ao som de work song, enquanto se abraça e espera os comentários sinceros de vocês