A Arte da Guerra escrita por clariza


Capítulo 12
// Depois da Tempestade //


Notas iniciais do capítulo

Young Folks, espero que gostem.
~update~
eu "fiz" um tumblr sobre a fanfic, eu estou postando umas edits caso queiram ver ou me fazer perguntas por lá, fiquei a vontade.
http://whataboutmegstiel.tumblr.com/
senha: buckybarnes



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Eu não podia dar literalmente mais nenhum passo, cada músculo na minha perna estava travado e o suor frio escorria por cada região do meu corpo. A dor lancinante estava fixada nas minhas panturrilhas, meu coração batia forte a ponto de sair pela boca, meus pulmões lutavam por um pouco de ar que agora parecia escaço demais. Minha cabeça estava zonza demais, como se alguém tivesse tirado todos os sons do mundo e deixasse apenas a minha respiração trêmula, fatigada e cortada. Eu tinha quase certeza que meu corpo estava entrando em colapso e eu iria morrer.

―Já Cansou, Boneca? Não corremos nem 500 metros! ― Bucky tinha voltado correndo até onde eu tinha parado, com as minhas mãos nos joelhos.

―Eu sou uma pessoa da ciência, meu corpo não é adaptado pra esse tipo de coisa ― Gritei involuntariamente, minha respiração ainda estava descompassada.

―Todo mundo é adaptado pra correr, Effy ― ele estava dando pulinhos de excitação.

―Como minha mãe sempre me disse, eu não sou todo mundo ― respondi quando finalmente pude me colocar de pé ―Isso nunca fez tanto sentido.

Eram três da manhã e estávamos correndo no parque, ele precisava se manter ativo e correr era uma boa saída para manter os pesadelos longe, e eu não queria ficar em casa sozinha e como eu não conseguia encontrar algumas soluções eu achei que correr seria bom pra espairecer a cabeça, mas agora eu me arrependia amargamente. Correr não era pra mim, comer era pra mim.

Bucky estava usando um calção de academia e um casaco para esconder o seu braço de metal, como se outras pessoas inventassem de correr no parque numa segunda feira de madrugada, e estava de boné cobrindo a maior parte do seu rosto, ele havia insistido que eu usasse um também, eu recusei tanto porque eu não queria suor acumulado no meu couro cabeludo recém lavado e cheirando a frescor e eu me sentia livre e protegida em Brasília.

―Vamos fazer assim ― ele apontou pra pequena trilha na nossa frente, que terminava numa ponte de metal ― Vamos correr até ali, se eu chegar primeiro você cozinha por uma semana, se você chegar antes de mim eu cozinho.

Ele tentou me subornar com comida, meu ponto fraco, mas isso não ia me convencer nem os meus músculos a se moverem mais um centímetro que não fosse na direção de casa.

―Eu não consigo mexer as minhas pernas, eu sinto como se os meus músculos estivessem se dissolvendo ― cruzei os braços ― E ambos sabemos que você vai chegar primeiro e que eu e é você que vai comer mal por uma semana.

Ele suspirou frustrado.

―Você pode continuar correndo ― olhei em volta e vi um banco de concreto em baixo de uma árvore, o lugar estava escuro e perfeito pra eu ficar “escondida” ― Eu vou sentar ali e esperar.

―É perigoso.

―Se alguém se meter com gracinha comigo eu vou mostrar pra ele meus movimentos búlgaros ninja ― ele procurou as palavras para argumentar comigo ― Vá, eu vou sentar ali, bonitinha, quem sabe tirar uma soneca e você vai correr até cansar.

―Tudo bem, mas você vai ter que me arranjar aquele pão em forma de bola ― gesticulou ― você sabe qual é, o salgado aquele doce era ruim.

―Pão de queijo?

―Exatamente ― Ele se virou e começou a correr, mas parou antes de se afastar muito ― Não durma, é perigoso boneca, e eu não vou estar por perto para te proteger.

Eu sorri quando ele voltou a correr, e fui pro banquinho de mármore gelado observando a minha volta e a procura de uma grande analogia para aquele momento da minha vida que fizesse tudo parecer certo e colocar uma ordem na bagunça. coloquei as minhas pernas sobre o banco as cruzando na minha frente e apoiando meus cotovelos sobre eles e o meu queixo entre as palmas das minhas mãos soltando um longo suspiro.

Minha mente voou para ratos de laboratório, em suas jaulas cobertas de feno falso e alimentação controlada,enclausurados, esperando por alguma coisa. Morrer com alguma vacina, ou ser infectado com inúmeras doenças para que alguém num golpe de sorte conseguisse poupar a sua vida para que ela fosse ceifada logo em seguida e seus genes bons arrancados e encubados para ser usados por seres considerados superiores. Eu tinha sido um ser superior por um grande tempo, controlando quais dos ratinhos em suas gaiolas iriam ser infectados, apostando qual deles duraria mais, agora eu era um dos ratos.

Eu realmente me sentia a salvo num pais distante, mas eu também sabia que era uma questão de tempo. Eles iriam me caçar, ninguém nunca sai. E o que mais me surpreendeu no meu pensamento foi: Quem iria cuidar dele?

Era o pensamento mais estupido e contra as minhas raízes feministas que eu tive na vida, ele era adulto, ele poderia se cuidar eu seria aquela a ser morta mas, uma parte de mim tinha medo que ele se quebrasse mais uma vez ele estava avançando tanto, sem pilulas, sem psicólogos só a sua vontade de ficar melhor e ele estava ficando melhor. Estar naquele parque quando ninguém mais estava lá só pra se manter são era a prova disso, eu não queria todo aquele trabalho arruinado e ele jogado no limbo sem passado e sem futuro, preso pra sempre na posição de arma mortal, tratado como um revolver que assim que usado era guardado numa gaveta até que fosse necessário de novo, como se ele fosse descartável.

Mas isso não era a única coisa na minha mente naquele momento, eu estava me sentindo nostálgica, eu sentia falta do meu trabalho, dos meus amigos e principalmente do cheiro reconfortante do meu laboratório cercada por todas aquelas pilhas de papel com dados inconprenciveis pra as pessoas e que eu podia ler perfeitamente, dos aparelhos a minhas disposição.

A coisa sobre a Hydra é que ela apenas era ruim quando você estava contra ela, mas quando você esta dentro os privilégios que eu possuía eram incontáveis, eu nunca tivera problemas financeiros ou precisar de algum patrocinador pras minhas pesquisas, eu estava livre. Eu poderia brincar de cientista maluca e eu sempre teria uma fonte, e também lá eu me sentia provando pros meus pais que eu era capaz, eu poderia me dar bem sozinha eu poderia continuar a minha vida eu poderia viver além das sombras deles eu poderia viver depois do que aconteceu com o meu irmão.

Oskar era algo que eu não gostava de falar, muita pouca gente sabia sobre ele e eu preferia deixar assim, Meu irmão era dois anos mais velho que eu ao contrario de mim tinha herdado todos os traços germânicos do nosso pai, os cabelos loiros, olhos verdes e possuía uma pele pálida e um sorriso contagiante e morreu quando eu tinha doze. Mesmo sendo nós dois duas crianças Oskar sempre foi infinitamente mais responsável e adulto que eu, ele cuidava de mim e eu era a princesinha dele, ele era a pessoa pelo qual eu tinha me interessado por criogenia em primeiro lugar, o pensamento remoto que eu evitava a todo custo era que eu poderia salva-lo, que eu poderia finalmente parar de visitá-lo naquele lugar tão parecido com a antiga morada de bucky, aquele tanque criogenado numa sala fria, metálica e inóspita

Bucky passou correndo perto de mim e eu gritei alguma coisa motivacional para ele, que continuou correndo enquanto eu colava os pedaços que teimavam a cair toda vez que eu pensava nele. Depois de três voltas ele decidiu que era hora de parar e voltamos pro apartamento, mas antes passamos na padaria enquanto o sol nascia no horizonte, e já começava a ficar quente o mormaço subindo no ar as cinco horas da manhã.

―Aquele atendente não tirava os olhos de você ― ele disse, mordendo o pão de queijo, o olhei de soslaio, eu sabia onde ele queria me levar com essa história, o que ele havia feito com muita frequência desde o incidente do beijo.

―Não, ele não estava ― tentei cortar o assunto.

―Você sabe que pode sair com ele se quiser, ele é um homem bastante… apessoado...

―As vezes eu esqueço que você é mais velho que o meu avô, apessoado? O que isso quer dizer como uma pessoa pode não ser apessoada? Gírias das cavernas não fazem sentido! ― reclamei com ele ― E dá pra parar de tentar me arranjar um marido?

―Você não tem que casar com ele… ― ele disse, enquanto entravamos no prédio e o porteiro da manhã assumia o seu cargo, acenamos e entramos no elevador calando a nossa conversa momentaneamente.

―Eu não quero um marido, eu não quero um namorado! Eu estou bem, sei que era comum em 1800 as pessoas se casarem jovens, mas não fazemos mais isso, é estupidez! ― continuei a conversa depois que tranquei a porta, olhando em volta, havia alguma coisa diferente em casa, que eu não podia imediatamente ver o que era.

―Eu não nasci em 1800, tenha algum respeito ― Respondeu, abrindo a geladeira e tomando água direto da garrafa.― E eu estou tentando fazer algo legal por você, boneca.

―Notou algo diferente? ― perguntei enquanto ele colocava a garrafa de volta da geladeira e ganhava um olhar de reprovação.

―Seu cabelo está maior? ― chutou ― Casaco novo?

―Não em mim, na casa. ― caminhei até o sofá, me jogando nele ― Tem alguma coisa diferente.

Ele olhou em volta, vindo até onde eu estava e se sentou na extremidade oposta do sofá o que ele vinha fazendo com frequência, se afastando lentamente e progressivamente.

―Eu sinto cheiro de rosas.

―Eu também ― respondi, sentindo a minha nuca se arrepiar, eles não poderiam ter estado aqui, era coisa da minha cabeça ― Bucks, eu acho que deveríamos conversar.

―Mas, nós conversamos bastante ― ele disse animadamente, se levantando.

―Eu sei, mas tem um elefante na sala e eu não consigo mais ignorá-lo, eu não quero que você pense errado ou algo que não é real. ― tentei ser o mais sutil que eu podia.

―Freya! eu entendi, te beijar foi um erro eu não deveria ter feito isso, eu já entendi isso ― Ele estava visivelmente nervoso, andando em pequenos círculos com suas mãos na cintura e lambendo os lábios.

―E você pensa que é por que eu te repugno ou algo parecido, mas não é. ― ele me olhou atentamente ― Eu só não posso fazer isso com você.

―Fazer o que?

―Te machucar, não de novo, você está tão bem! Todo esse progresso, eu não posso quebrar isso eu não posso interferir, te colocar nessa situação e me colocar nisso, nós somos amigos, não que eu esteja te colocando na friendzone, mas eu não posso tentar te consertar pra te quebrar mais uma vez, isso é o melhor pra você e eu só quero o melhor pra você e fazer isso seria como colocar sal nas suas feridas e eu não posso ser tão cruel.

―O que é Friendzone?― ele perguntou, realmente confuso.

―Esquece disso, é só por isso ― Bucky estreitou os olhos e lambeu os lábios mais uma vez.

―Então você não tem medo de mim? ― perguntou enquanto eu sentia a minha voz desaparecer.

Medo, essa era a pior parte da nossa relação. Eu não queria ter medo dele, mas no fundo era inevitável, eu gostava da pessoa que eu eu estava conhecendo, mas o monstro dentro dele me assustava, na verdade assustava era um apelido, me matava de medo e todos os meus pesadelos eram sobre ele, me estrangulando, me torturando e me matando de diversas formas possíveis o braço de metal com a luz do sol refletida nele era um lembrete.

O campainha tocou e eu suprimi um suspiro aliviado, me levantando e indo até a porta.

―Isso responde o suficiente ― ele arqueou as sobrancelhas e eu parei virando de volta pra ele.

―Eu não tenho medo de você James! Eu estou aqui com você todos os dias sete dias por semana eu não faria isso se eu tivesse medo de você, o que eu tenho medo é dele, não sei como você o chama, mas o outro cara, ele tentou me matar.― levantei os meus braços e soltei o meu cabelo, sentindo a minha cabeça doer ― Eu sei que você não é ele, e só difícil pra mim. Seu braço fica me lembrando o quanto ele é real.

―E o que eu posso fazer pra não te assustar mais? ― perguntou, levemente desolado. Eu sorri, ignorando completamente a pessoa na porta.

―Riddikulus! ― Exclamei excitada.

Cinco minutos depois, Bucky me fuzilava com o seu olhar e tentava permanecer imóvel enquanto eu colava o ultimo imã da geladeira em seu braço e tentava segurar as gargalhadas.

―Isso é realmente necessário? ― perguntou num tom baixo.

―Eu não tenho medo de coisas que me fazem rir ― levantei meu rosto e apoiei no meu braço, sorrindo para ele.

―Como palhaços? ― fiz uma careta.

―Não, palhaços são demoníacos. ― Ele sorriu de volta.

―Obrigada por me deixar fazer isso ― disse desviando meu olhar para o imã em forma de bonequinha de vestido amarelo.

―O prazer foi meu, Boneca.


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