Pensão da tia Odete. escrita por Costa


Capítulo 43
Capítulo 43


Notas iniciais do capítulo

Fala gente. Essa, realmente, é a reta final. Além desse capítulo de hoje, teremos mais dois: O batizado da criaturinha e o epílogo. Devo conseguir concluir antes do fim do ano.
Queria também agradecer a todos que acompanharam essa história até aqui. Sem mais, deixo esse capítulo e espero que gostem.
Forte abraço, gente!



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Já faz uma semana desde que a Lívia pariu. Eu aproveitei para terminar a casa. Agora só falta a pintura, as janelas e os móveis, mas isso é com ela. Nem me atrevo a escolher uma cor e decorar os cômodos. Nesse tempo, achamos mais prudente e seguro elas ficarem com minha sogra. A pequenina já está em casa. Ficou apenas 5 dias internada e recebeu alta. Triste foi a escolha do nome: Tentamos chegar em um acordo, mas o Camilo fez a cabeça das vovós babonas e, para minha infelicidade, ficou como Camila. Quase enfartei quando a criatura me mostrou o registro. Ela e minha mãe armaram direitinho para registra-la sem eu estar por perto. Ainda mato o Camilo por isso. Hoje era segunda e eu não trabalhava. Aproveitei para passar o dia com meus amores. Subi a Serra e fui para a casa da minha sogra. Os cachorros dali já estavam me conhecendo e nem latiam mais. Entrei sem fazer barulho e encontrei a criatura pronta para sair. Cadê o repouso que ela devia estar fazendo?

–Posso saber aonde vai?

–Oi, amore! Nem te vi chegar. –Ela veio e me deu um selinho.

–Ainda não me respondeu.

–São coisas de mulheres, não se preocupe, volto logo.

–Cadê o repouso que era pra você estar fazendo?

–Eu preciso de resguardo, não repouso. Repouso foi nos primeiros dias. Deixa eu ir pra não perder o ônibus. A Mila tá no quarto com o Rafael. Tchauzinho!

Ela saiu mandando beijinhos. Essa aí tá aprontando... Eu fui para o quarto ver minha filhota. Encontrei ela dormindo no berço e o barbudinho jogando vídeo game.

–Como ela está? –Perguntei.

–Acabou de dormir.

Fui até o berço para ver melhor e ela não estava dormindo, estava com os olhinhos abertos e me olhando. A peguei no colo.

–Como está a coisinha fofa do pai? Quem é a filhinha do papai?

Ela abriu o berreiro. O que eu fiz de errado?

–Agora ferrou. Quando ela começa a chorar assim é difícil acalmar a criaturinha. –O barbudinho disse.

–E como você consegue?

–Não consigo. Na maioria das vezes é minha mãe ou a Lívia que conseguem.

–E cadê sua mãe?

–Saiu com a sua e com o Camilo. Eles foram lá pro Mercadão de Madureira.

–Eu mereço! As conhecendo, não sei onde enfiarei tanta tralha que trarão para a pequena.

–Isso é. Aquelas lá são compradoras compulsivas.

–E agora, o que a gente faz?

–Não sei, tenta mostrar os cachorros pra ela. Eu faço isso e ela costuma se acalmar.

E foi o que tentei. Cheguei da janela e mostrei os bichinhos pra ela. Ela se acalmou, mas, ao tentar me afastar, ela abriu o berreiro e voltei correndo. É, o dia vai ser longo pelo que estou vendo.

*****************************************************************************

Ainda estava com a Mila na janela quando a Criatura chegou.

–Rogério, o que faz aí com essa criança nesse vento?

–Foi o único modo que arrumei pra ela parar de chorar.

–Tu que ensinou, não foi, Rafael?

–Lógico! –Ele concordou.

–As duas antas viram, ao menos, se a fraldinha dela está suja ou se ela está com fome?

Eu olhei para o barbudinho e ele me olhou de volta. Tá, fizemos isso no início, mas há mais de duas horas que não conferimos.

–Fizemos, amore, mas já faz um tempinho...-Falei.

–Tempinho de quanto tempo?

–Desde que você saiu.

–Vocês não servem para cuidar de crianças. Me dá a Mila.

Ela pegou a criaturinha dos meus braços e foi conferir a fralda dela, pra minha sorte, estava seca.

–Ela deve estar com fome. –Ela falou e começou a se acomodar na poltrona para dar de mama pra ela.

–Você não vai dar de mama pra ela aí não, vai? –O barbudinho perguntou.

–Vou. Algum problema com isso?

–Todos. Você é minha irmã e não quero ficar traumatizado vendo tuas tetas.

Ele falou e correu. Sorte dele que a Lívia estava com a criança no colo, mas, mesmo assim, ainda vi um travesseiro voar na direção que ele foi.

–Tu também não vai correr para não ver minhas “tetas”?

–Eu não. Não sou maluco.

–Como, Rogério?

–Já estou cansado de vê-las.

–Melhorou...

Ela amamentou a pequena e, como num passe de mágica, a criaturinha se acalmou e dormiu. Como ela consegue acalmar aquela ferinha tão rápido?

–Por que me olha tanto? –Ela me perguntou.

–Não sei como consegue acalmar a criaturinha tão rápido.

–É prática. Com o tempo você aprende.

–Espero que sim. Agora você pode me contar onde estava?

–Posso, eu fui pegar uma coisa.

Ela fuçou na bolsa e tirou um envelope de lá. Parecia alguma espécie de exame. Será que ela está doente?

–O que é isso?

–Um exame de DNA.

–DNA?

–Sim, para ter certeza de quem a filha é. Se é sua ou daquele outro.

–Como você fez isso sem eu saber? Roubou algum fio de cabelo meu escondido?

–Não. Eu pedi pro médico aproveitar que você tinha desmaiado e tirar uma amostra de sangue pro exame. Sei que, se eu te pedisse, você não faria mesmo.

–E o que deu?

–Não sei, ainda não abri. Sei que já foi errado eu mandar fazer sem sua permissão e não abriria sem você por perto.

–Você quer saber, Lívia?

–Eu queria tirar essa dúvida. Não é justo para nós não sabermos.

–Mas, mesmo que não seja meu, eu continuarei sendo o pai, ok?

–Você já é.

Ela me entregou o resultado e eu, com um pouco de medo abri. Primeiro veio aquele linguajar e códigos que só os médicos entendem e, depois, veio o que eu mais queria saber: Sim, com 100% de certeza, eu sou o pai.

–E então?

–E então que o homem aqui é bom. Com uma tacada eu acertei o alvo.

–você é o pai?

–Com 100% de certeza.

Ela correu com a pequena nos braço, me abraçou e me beijou com os olhos cheios d’água. Eu retribuí na mesma intensidade. Nesse momento eu queria que ela não estivesse de resguardo para podermos comemorar como se devia. Como eu amo essa mulher e como eu amo nossa filha!

*****************************************************************************

Já estávamos felizes com a notícia de que o pai sou eu e agora, depois de trocarmos a fraldinha da Mila e darmos banho nela, descansávamos no sofá.

–Já decidiu com qual roupa vamos assinar o casamento amanhã? –Perguntei.

–Que casamento?

–O nosso pelo civil. Esqueceu?

–Já é amanhã?

–É. Depois nós, homens, que esquecemos a data.

–Como o tempo passou rápido! Temos que ver também os padrinhos para a Mila.

–Temos sim. Já tem alguém em mente?

–Pra padrinho, pensei no Camilo.

–Tá, agora falando sério?

–É sério. Quem melhor do que ele? Ele é o responsável pelo lindo nome da Mila...

–Nem me lembre disso.

–...E já a ama como ninguém. Ele está radiante por ser o tio Camilo.

–Tá, digamos que eu aceite, quem será a madrinha? O Jorge?

–Não seja bobo. O Jorge será considerado um segundo padrinho. Pra madrinha, para não desbancar ou desmembrar nenhum relacionamento, pensei na Roseni.

–Que ótimo! Um gay e uma lésbica como padrinhos da Mila!

–Não seja preconceituoso. Já vi como eles são seus amigos.

–Sei lá. Acho melhor dar ela para o Djair e a Flávia batizarem.

–Até pensei neles, mas eles já batizaram o filho da Roberta mês passado.

–Mas podem batizar outra criança.

–Não seja ruim. Dê essa alegria para o Camilo.

–Camilo e Roseni?

–Sim e o Jorge e a Fátima, namorada da Roseni, poderiam ser os co-padrinhos.

–Tá, vou pensar.

–Obrigada!

–Mas ainda não está decidido.

–Sei que não.

Ela deu um sorriso que me deu medo. Eu, querendo ou não, sei que ela já decidiu. Será o Camilo. E esse não morre tão cedo. Mal terminamos de falar dele, ele, o Jorge, minha mãe e minha sogra entraram pela porta. Ainda me colocaram para trabalhar e trazer as compras para dentro. E, como se já não bastasse esse tanto de gente, dona Iracema ainda convidou a dona Odete, o seu Rodolfo, o Djair e a Flávia para um almoço. Hoje a casa vai ficar cheia...

–Pronto, dona Iracema. Quer que eu faça mais alguma coisa? –Perguntei ao terminar de colocar a última sacola na mesa.

–Queria sim, meu filho. Eu e sua mãe vamos preparar um almoço, mas não tenho todos os ingredientes aqui. Será que poderia ir buscar no mercado para mim?

–Posso.

E lá fui eu. Comprei tudo o que tinha naquela enorme lista. Só ainda estou curioso com o que farão com 3 quilos de carne moída. Compras feitas, voltei pra casa e fui recebido com um beijo no rosto do Camilo. Que merda foi essa?!

–Tá maluco, Camilo? –Perguntei, jogando as bolsas no chão e limpando o rosto.

–Não, é a emoção!

Ele tentou me agarrar, de novo, mas fui mais rápido.

–Camilo, não quero te machucar, mas se não me explicar o que está acontecendo, eu vou te enfiar a mão na cara.

–A Lívia me contou que vocês vão deixar eu ser o dindo da minha princesinha.

Eu ainda mato essa mulher. Tudo bem, ele ia ser, mas eu não disse que pensaria? Ô criatura terrível! Espero que minha criaturinha também não fique assim...

–Vamos, Camilo.

–Obrigado, meu querido! –E lá vem tentar me beijar, de novo.

–De nada, mas sem beijos ou abraços. E me faça o favor de me ajudar a descarregar o pitanga.

–Tá bom, compadre.

Ele saiu até saltitando. O que fiz para ver essas coisas? Deixei as coisas na cozinha e fui ver minha filhota, minha pequena criaturinha. Chegando lá encontrei com minha mãe.

–Já tirou as minhocas da cabeça?

–A Lívia já te falou?

–Já, mas eu não precisava de um papel para saber que a filha é sua.

–Como pode ter tanta certeza?

–Já reparou que sua filha tem uma manchinha de nascença na nuca?

–Tem? –Olhei para conferir e, realmente, tinha. Era uma manchinha avermelhada.

–Achou?

–Achei. Isso é da nossa família?

–Olhe a minha nuca, mas não descabele a sua mãe.

Eu olhei como ela pediu e ela também tinha. Porque a minha mãe não me falou antes? Me pouparia algumas comparações indesejadas e me daria melhores noites de sono.

–Por que não me falou antes, mãe?

–Porque você precisava tirar suas dúvidas antes e aprender a ama-la. Toda a nossa família tem essa marca. Inclusive você.

No fundo, ainda não entendo porque minha mãe me deixou ficar com essa dúvida, mas a verdade é que já amava a criaturinha sem saber e agora, sabendo, a amo mais ainda.

Minha mãe foi para a cozinha ajudar minha sogra a preparar, se não me engano, uma lasanha e eu fiquei ainda no quarto olhando a pequena. Era bom a ver dormindo tão tranquilamente. Ela ainda não tinha preocupações e nem sabia o que se passava ao redor. Deve ser bom ser um bebê. Não sei quanto tempo fiquei ali, mas sei que me desesperei quando ela acordou com a cachorrada latindo. Pelo jeito, o resto da turma chegou. A peguei no colo e fiquei tentando acalma-la quando o Djair entrou.

–É difícil, né, Batman?

–Demais. Não sei como as mulheres conseguem acalmar essas ferinhas em tão pouco tempo.

–Segura essas bolsas e me dá ela aqui.

Eu obedeci e, em poucos segundos, ele a acalmou.

–Como?!

–Depois de três filhos, aprendemos uns truques. E essas bolsas aí, são presentes pra você.

–Pra mim?

–Sim. Todos encheram a mãe e a filha de lembrancinhas, mas esqueceram do pai.

–Pô, cara. Valeu. Não precisava...

Eu comecei a abrir e, logo de cara, me deparo com um vestido. Ele errou o presente.

–Um vestido? Acho que você errou, Djair.

–Não errei. Mês que vem tem o campeonato do futebol das piranhas e você já está escalado.

–Como é que é?! Ninguém me perguntou nada.

–O pessoal mandou te escalar já que o nosso atacante, o Tião, quebrou a perna e colocou pino e, por isso está incapacitado de jogar.

–E quem te faz crer que vou?

–A Lívia. Tenho certeza que ela te faz jogar, como na outra vez.

É, sei que ela vai fazer. Deixei aquele troço florido de lado e fui abrir as outras bolsas e, surpresa, uma bermuda, uma camiseta da Portela, um chinelo e um boné. O que vou fazer com isso?

–Pra que isso? –Perguntei.

–Agora que você virou pai, esses serão itens comuns no seu vestiário.

–Por quê?

–Por que são práticos. Essas camisas polos que você usa não ficarão bem com a barriga que vai ganhar. Bermudas são mais confortáveis. O chinelo é pro calor e o boné para esconder a careca.

–Mas eu não sou careca.

–Vai ficar, acredite em mim. Filhos, além da felicidade, trazem queda de cabelo e aumento do peso.

–Tá, até agradeço, mas não sou Portela, sou Salgueiro.

–Ih, foi mal. Da próxima eu trago uma da Salgueiro.

Apenas concordei. Não vou discutir com gente maluca. Tá bom que aquela pequena criaturinha vai me deixar gordo e careca. Isso serão esses loucos que deixarão. Por falar em gordo, eu senti o aroma delicioso vindo da cozinha. Eu e o louco do Djair fomos para a sala e o restante do pessoal danou a babar na criaturinha. Era bom ver a casa cheia, me sentir parte da família. Aproveitei essa distração deles e fui beliscar alguma coisa pra mastigar na cozinha. É, essa é uma vida boa, mas acho que o Djair tem razão em uma coisa: Com esse tanto de comida boa que estou comendo todo dia, vou ficar gordo.

Continua.


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