Pensão da tia Odete. escrita por Costa


Capítulo 36
Capítulo 36


Notas iniciais do capítulo

Fala gente. Me desculpem pela demora, mas como expliquei antes, estou sem tempo. Sem mais, deixo-lhes mais esse e espero que gostem.
Forte abraço, gente!



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Já faz um tempo desde que tudo ocorreu. Eu e a criatura estamos bem. A besta foi julgado semana passada. A Lívia não sabe, mas tenho uns conhecidos poderosos e acabei conseguindo que agilizassem o julgamento dele. Com a agressão contra a Lívia e o seu Rodolfo, ele pegou pouco mais de um ano. É pouco, mas servirá para ele pensar sobre o que fez. Sei, também, que foi doloroso para o pessoal da pensão, especialmente para a criatura, tudo isso, apesar de tudo o consideravam da família. Mas fico feliz por ter terminado essa etapa em nossas vidas. Ela também já está oficialmente divorciada dele e livre para que eu faça o pedido para ela. Só me falta o anel e a coragem.

Hoje também fomos ao médico e a criança está bem. O único problema é que o danadinho ou a danadinha não vira pra sabermos o que é. Eu, sinceramente, não tenho preferências. Seja menina ou menino, amarei da mesma forma. A Lívia é que tem me enlouquecido com os seus desejos. Não é nada muito incomum como algumas grávidas sentem, até agora ela ainda não sentiu nenhuma vontade louca. Eu tenho uma conhecida que comeu tampa de filtro de barro. Que nojo! Espero que a minha grávida não chegue a tanto.

Agora, cá estamos nós, nem 10 da matina são e ela devorando um frango assado com farofa num boteco copo sujo. Não sei como aguenta comer tanto a essa hora.

–Quer? –Me perguntou sacudindo a coxa do frango.

–Não, obrigado. Ainda não tá satisfeita não? Você já detonou metade desse frango, sozinha.

–Não, estou até pensando em pedir mais um para a viagem.

–Deus meu! Acho que a tampa de filtro seria melhor...

–Oi?!

–Pensei alto, não é nada.

Amore?

–Diga.

–Vamos hoje visitar minha mãe e o meu irmão?

–Mas eles não moram na serra?

–Moram.

–E como vamos lá?

–Com o pitanga. Daqui até lá, de carro, não leva mais que duas horas. Se formos agora, podemos voltar ainda hoje. Anda, aproveita que hoje você não tem que ir pro bar.

–Eu não sei o caminho.

–Eu sei.

–Mas o seu carro estava falhando hoje cedo. Não é melhor deixar pra outro dia?

–O pitanga não vai nos deixar na mão. Vamos lá. Tá com medo da sogrona?

–Não, pelo contrário, sua mãe é um amor de pessoa.

–E então?

–Tá, vai lá que seja, mas se o pitanga pifar, eu mando ele pro ferro velho.

–Ele não vai pifar, confio no meu carro. –Falou, rindo.

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E subimos a serra. Confesso que fiquei com medo. Uma hora o pitanga deu uma rateada, apagou, mas acabou ligando de novo. Quando voltarmos, a primeira coisa que farei será mandar essa lata velha para uma revisão completa.

A criatura morava em Petrópolis, eu nunca tinha visitado, mas a cidade é bonita, tem uma arquitetura antiga no centro. A família dela morava em um bairro que fica a uns 15 minutos do centro. É aconchegante, faz jus ao nome: Boa Vista. De lá eu conseguia ver toda a beleza das montanhas que cercavam aquele lugar, realmente era bonito. Sua casa era simples: 2 quartos, uma salinha, uma cozinha e um banheiro. Não era grande, mas tinha um enorme terreno para sua simplicidade. No terreno tinha de tudo: Pé de manga, goiaba, limão, mamão, ameixa, chuchu. Era tanta coisa que nem deu pra reparar em tudo. A casa dela também tinha cachorros, mas não um, alguns. Eu consegui contar sete, mas ela disse que eram 12 no total. Todos pegos na rua. Alguns não gostavam de visitas e se escondiam. Agora sei de quem ela puxou essa mania exagerada.

A dona Iracema e o Rafael, barbudinho, nos recepcionaram com calorosos abraços. Deu pra perceber que era uma família muito unida. Me agradeceram até cansar pelo que fiz pela criatura. A velhinha até me confidenciou que desconfiava que terminaríamos juntos. Mãe sempre sabe das coisas. Deixei a Lívia conversando com a mãe dela e fui para a varanda da casa tomar uma cerveja com o Barbudinho. Como só tinha uma rede e ficaria ruim dividirmos, nos sentamos no chão e os cachorros loucos deles me danaram a pular em cima.

–Se falar um pouco mais grosso eles saem. Eles são chatinhos mesmos, mas não fazem por mal. É que quase ninguém vem nos visitar. –Ele falou apontando para os cachorros.

–Não há problema, gosto de animais. Sempre gostei. Só nunca tive tempo para adotar e cuidar de um.

–Quem gosta de animais é boa gente. O Carlos nunca gostou. A Lívia não sabe, mas teve uma vez que sai no braço com ele porque ele chutou o Manfredo.

–Manfredo?

–Esse cachorro amarelo que não para de te pular. –Manfredo, que nome! Tenho até medo de perguntar dos outros.

–Acho que faria o mesmo. O pobre animal não pode se defender.

–Ele sempre foi, como você diz, uma besta. Não sei como a Lívia aguentou ficar tanto tempo com ele.

–Nem eu sei, mas deixa quieto. Já acabou.

–Batman, posso te perguntar uma coisa e você me responde com sinceridade?

–Pode perguntar o que quiser.

–Se o filho da minha irmã não for teu, tu vai assumir ele realmente? Se te restar alguma dúvida, a deixe de uma vez. Ela vai sofrer, mas será menos dolorido. Não te julgarei se fizer, sei que é barra carregar com a mala de outro.

–Rafael, eu amo a sua irmã e também já amo aquela criança que ela espera. Tenha o meu sangue ou não, já é o meu filho. Já não me vejo mais sem aqueles dois.

Ele se chegou mais perto e me deu uns tapas nas costas.

–Sabia que você era diferente, cunhado. Agora sei que a Lívia encontrou alguém que preste.

–E eu fico feliz por ter encontrado um cunhado e uma sogra como vocês. Eu tive poucos relacionamentos sérios e os parentes das minhas ex eram uns capetas.

Ele riu e continuamos ali em uma conversa mais descontraída. Eu comentei com ele o desejo que eu tinha de comprar uma casa maior para mim, para a criatura e para a criança. Apesar de amar a pensão, era estava se tornando pequena. Eu sei que quando o bebê nascer, eu terei que dizer tchau para aquele lugar e procurar um maior. É doloroso, me acostumei com aqueles loucos e me tornei mais um sobrinho de Odete. Contei também que aquela louca da irmã dele cismou de fazer um curso de culinária. Só mesmo da ideia daquela louca para aprender a cozinhar grávida. Ela sempre passava mal com os cheiros dos alimentos, mas depois devorava todos. Eu não sou maluco de falar e também tenho amor pela minha vida, mas ela estava engordando. O barbudinho me aconselhou a não ligar para as loucuras da criatura. Disse que, desde criança, ela sempre foi louca assim. Que sempre gostou de ir contra o convencional.

Depois de do almoço, a Lívia me chamou para dar uma volta pelo bairro. Eu fui. Ela me apresentou as amigas que encontrou pelo caminho e, algumas me analisaram dos pés a cabeça e me devoraram com o olhar. Outras, mais sinceras, desejaram felicidades a nós. Ela foi até mesmo visitar o seu Antônio, o dono de um boteco daqui e que ela conhecia desde criança. Foi interessante de ver o encontro: Pareciam pai e filha. Ele, realmente, parecia meu sogro. Me deu uma bronca e disse para trata-la muito bem. Compramos uns dois quilos de linguiça de porco defumada, a preferida dela e que vendia no boteco do “sogrão”, e voltamos para casa.

Ela cismou de fritar aquilo, colocar em prática as lições que estava aprendendo no curso de culinária. O irmão ficou para ajudar ela e eu e a dona Iracema ficamos na sala conversando.

–Sabe, meu filho, de todos os genros que a Lívia já me arrumou, você foi o melhor.

–E ela teve muitos? –Perguntei, dando corda para saber do passado da criatura.

–Uns 5 ou 6. Só aqueles namoricos da juventude. Sério mesmo foi só você e aquele sujeito que prefiro nem falar o nome.

– Só 5 ou 6?! Isso não é só, é muito!

–Eram namoros juvenis, nada muito sério. Ela sempre terminava depois de alguns meses. Vai me dizer você também não teve vários romances assim?

Tá, ela me pegou, já fui um pouco galinha, mas nunca que vou admitir.

–Só alguns. Acho que a senhora tem razão. Foram sem importância.

–Viu, não falei?

–É, todo mundo já foi jovem e fez suas besteiras.

–Outro dia a Lívia me contou que conheceu sua mãe. Você bem que podia trazer ela qualquer dia desses aqui. Seria legal fazer um encontro entre as famílias.

–Seria legal sim, mas ela não mora aqui, mora na Bahia.

–Você é baiano?

–Não, sou daqui mesmo, de São Gonçalo.

–Quando ela vier então, não deixe de nos visitar. Pelo que a minha filha contou, ela parece ser bem legal.

–Ela é, só não é legal quando conta minhas coisas para todo mundo.

–Das fotos, né? A Lívia me mostrou uma de você pequeno.

–Como? Minha mãe deixou uma foto minha com ela?

–Deixou. Mas espera, posso equilibrar isso.

Ela se levantou me dando uma piscadela. Voltou, pouco depois, com um álbum de fotografias. Dessa vez me vingaria. Ela me mostrou algumas fotos comprometedoras: Desde a Lívia criança, fuçando no barro, até ela adolescente com uns vestidões de formatura com babados, pregas e até ombreiras. Deus, como isso pode ter sido moda um dia? Tinha até fotos do barbudinho e não eram melhores que as da criatura, mas eram menos extravagantes na moda. Ele era mais novo e ainda não tinha tantos podres assim. Eu sei que de todas que ela me mostrou, a que mais gostei foi uma dela criança, aparentava uns 9, 10 anos, em que estava rodeada de um monte de cachorros enquanto rolava no barro. O apelido de porquinha caiu como uma luva.

–O que os dois estão fazendo? Boa coisa não deve ser. Estão muito quietos. –Ela apareceu na porta e nos pegou no flagra.

–Nada, filhinha. Só estou mostrando umas fotos suas para o Rogério.

–Mãe, isso não se faz! Agora ele vai ficar zombando de mim.

–Só zombarei o básico, minha porquinha. –Falei e dei um rápido selinho nela.

–Viu, já começou. Guarde esse álbum e venham comer que já está pronto.

A dona Iracema disse, sem som, que depois me mostrava o resto e foi guardar o álbum. Eu fui rindo para a cozinha. Poderia muito bem me acostumar com uma sogra e um cunhado como esses. Acho que, depois de tanto tempo, eu finalmente compreendo como é bom fazer parte de uma família.

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Fomos embora depois do lanche e de ela me apresentar seus doze cães com nomes estranhos, a maioria escolhido por ela: Manfredo, Freduardo, Odorico, Mojica, Porfirio, Valdete, Orléia, Antonieta, Zenilda, Ursulina, Leopoldina e Caravela. Se ela colocou esses nomes nos cachorros, não quero nem imaginar quais os nomes tem em mente para o pobre bebê.

–O que foi, Rogério? Tá com uma cara. –Ela me perguntou.

–Não é nada, não se preocupe.

–Não é o que diz sua cara. Me conta, vai.

–Você já decidiu o nome do bebê?

Ela me olhou com uma cara de riso e soltou uma gargalhada que até me assustou. Essa louca esqueceu que estou dirigindo e que posso bater com o susto?

–Qual a graça? –Perguntei.

–A graça é que você ainda está encucado com os nomes dos cachorros.

–Tá, estou. Não vai colocar nenhum nome estranho no nosso filho não, vai?

–Não, não se preocupe. Para garota pensei em Cremilda e para garoto Godofredo.

–Eu estou falando sério, criatura.

–Tá, me desculpa. Pensei em Ricardo para garoto e Sofia para garota.

–Ricardo tá bom, até acho um bom nome, mas Sofia...

–Qual o problema com Sofia? Eu sempre achei um nome lindo.

–De fato é bonito, mas, er...

–É o nome de alguma ex sua?

–Não.

–E então, Batman? Qual o problema?

–É que minha avó tinha uma porca com esse nome. Se for menina e se chamar Sofia, eu sempre vou associar isso com a Porca Sofia da minha avó.

–É brincadeira isso?

–Não. Minha avó tinha um casal de porcos: Sofia e Rufino.

Ela desandou a rir, de novo.

–Só tu mesmo, Batman. Se não for Sofia, eu chamo de Camila.

–É menos pior, mas vamos pensar num melhor junto. Pode ser?

–Pode. Nunca vou esquecer isso: Porca Sofia e porco Rufino. Parece até coisa de desenho animado...

Pelo que vi, ela vai me zoar o resto da viagem, mas, pelo menos já a fiz mudar de ideia. Agora só preciso arrumar um nome melhor que Camila. Tá bom que eu vou dar esse gosto pro louco do Camilo. Sonhem!

Continua.


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