Pensão da tia Odete. escrita por Costa


Capítulo 3
Capítulo 3




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Eu não estava acreditando ao ver a Olívia se aproximar de mim, não era possível. Jonas olhava para ela abobalhado, parecia hipnotizado. Tudo bem, admito, era bonita, mas uma praga.

–O senhor, aqui? –Ela falou.

–Não, sou um clone mal feito dele, não tá vendo?

Fiquei com pena do Jonas, o pobre nos olhava sem entender nada.

–Não me diga que também vai trabalhar aqui? –A desgraça perguntou.

Olhei para o Jonas com ódio. Ainda não acreditava que ele a havia contratado. Era muito azar.

–Não, minha querida, não vou trabalhar aqui, eu sou o dono disso aqui.

Ela me olhou espantada. Deve ter pensado o mesmo que eu.

–É brincadeira, não é? –Ela ainda não acreditava.

–Não, não é.

–Mas que merda! –Ela disse. Finalmente concordamos.

–Vocês se conhecem? –Jonas finalmente abriu a boca.

–Sim, infelizmente. Falei.

–Mas isso não é bom? Se já são conhecidos fica mais fácil trabalhar. -Jonas disse.

Gosto muito do Jonas, ele é meu melhor amigo, mas nunca vi pessoa mais lerda. Será que ele ainda não percebeu que estamos quase voando um no pescoço do outro? Ás veze acho que ele faz pra me irritar.

Eu não vou trabalhar com ela. Hoje eu atendo as mesas e amanhã eu faço outra entrevista e contrato alguém melhor. –Resmunguei.

A desgraça também bufava olhando para mim. Mulher do cão.

–Eu já assinei a carteira dela, Rogério. Acho que não temos mais escolha. –Jonas falou, com medo de mim.

–É piada? –Disse

–Não, não é.

–Mas que merda!

–Aqui, se vocês forem me despedir, vou querer meus direitos. –A criatura falou.

–Que direitos? Você nem trabalhou. –Resmunguei.

–É, mas já tenho minha carteira assinada. Se não me pagar meus direitos eu te coloco na justiça. -Me ameaçou.

Mas é muito atrevimento dessa aí. Me segurei para não torcer o pescoço dela como minha avó fazia com as galinhas na fazenda.

–Escuta aqui, criatura nefasta vinda do reino de Hades e que dá medo até no Cérbero, não te pagarei direito nenhum. Já que esse aqui te contratou vou ter que te aguentar. Mas, esteja avisada, não me afogue nenhum cliente. Juro, mesmo sendo preso e processado, que se isso acontecer te tiro daqui aos pontapés. –Ameacei.

–Tá bom, tá bom, mas pare de falar que eu vim do inferno. Tenho nome. –Ela reclamou.

–Tá certo, Olívia. –Falei.

–Lívia, não me venha com sarcasmo.

–Lívia, tanto faz.

–Ainda não sei como se chama.

–Rogério.

Ela teve o descaramento de me estender a mão e ainda dizer que foi um prazer me conhecer. Era muito abusada mesmo a criat... digo, a Lívia. Não posso mais nem chama-la pelo meu apelido carinhoso. Do jeito que a mulher é ainda me processa por isso.

–Que horas o bar abre? –Ela me perguntou.

–Daqui a 20 minutos. Aproveita e vai por aí conhecer o espaço para não correr o risco de tropeçar em nada e derrubar bebida nas caras nos clientes. –Alfinetei.

Ela me olhou com ódio, mas não disse nada. Se afastou e foi conhecer o espaço. Jonas me olhava com cara de deboche. Sabia que vinha piadinhas por aí.

–Solta logo. Se vai zoar, zoa de uma vez.

–Que isso, Rogério. Não falei nada.

–Mas seu sorriso não nega.

–É ex sua?

–Deus me livre! Nunca me relacionaria com essa louca. Ela quase me afogou hoje com uma água suja.

–Depois você me conta essa história direito. Agora tenho que ir lá trabalhar.

Jonas saiu rindo e debochando da minha cara, mas o que podia fazer? Xingá-lo? Não, ficaríamos numa eterna discussão. Preferi deixar os gritos e as gozações para depois e fui trabalhar.

Assim que o bar abriu fomos cada um para o devido posto. Hoje, por ser uma terça feira, foi um dia um pouco movimentado. Até que a tal criatura trabalhou bem e foi simpática com os clientes, pelo menos não matou nenhum. No fim do expediente, fechamos e arrumamos o bar. Jonas foi a pé para casa, morava perto. Eu e a peste fomos para o ponto de ônibus. Como se já não bastasse ter que aturar ela aqui e na pensão, também teria que pegar ônibus com ela. Assim que o ônibus chegou, eu entrei primeiro e, por sorte, tinha um lugar vazio, logo me sentei. Mas como felicidade de pobre dura pouco, veio meu encosto para me perturbar.

–Mas é muito cavalheiro mesmo. Não se toca não? Eu fiquei em pé o dia inteiro. –Ela resmungou.

–Eu também fiquei e também estou cansado. Por isso esse lugar veio mesmo a calhar.

–Não vai mesmo levantar para uma dama?

–Se realmente tivesse uma dama aqui.

Só senti duas mãos na minha gola me jogarem no chão. A nefasta criatura me jogou no chão e sentou no meu lugar. Era o cúmulo e ainda estava com um sorriso na cara. Já ia agarra-la para tirá-la de lá, mas um armário de parede, um negão de mais de 2 metros se meteu e eu desisti. Ela só ria da minha cara e o armário foi me ameaçando a viagem inteira.

Assim que chegamos na maldita pensão, cada um foi para o seu quarto. Por azar, o dela ficava ao lado do meu. Meu Deus, o que fiz nessa vida para que me castigue tanto?

Deitei naquela cama fedida e quando achei que fosse dormir, a vizinha de cima começou a tocar no rádio sertanejo universitário. Tem como voltar para o pagode? Era menos pior. Lá se foi o meu sono. Mas é uma droga de vida.

Continua.


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