Pensão da tia Odete. escrita por Costa


Capítulo 2
Capítulo 2




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Não conseguia acreditar nesse dia louco que estava tendo. Primeiro fui cantado por um gay e agora estava encharcado de uma água com cor duvidosa no meio da rua. A mulher, a autora de tudo, desceu correndo com uma toalha na mão e me entregou aquele trapo. Peguei com violência da mão dela.

–Me desculpe, senhor. Não vi. –Ela falou.

–Como não me viu? Senhora, eu tenho mais de 1m e 80 de altura. Como não me viu? –Gritei.

Me arrependi de ter gritado, o que era um simples incidente se transformou num espetáculo público. Toda a pensão da tia Odete se aglomerava ao nosso redor para assistir a confusão.

–Ui, barraco! Mete porrada nesse abusado, Lívia. –Gritou uma mulher, com pinta de piranha, da sacada da pensão.

Então Lívia era nome daquele ser, daquela criatura nefasta que estava em minha frente e que havia me encharcado.

–O senhor está bem? –A criatura me perguntou ao ver meu olhar de ódio para a piranha da janela.

–Não, como crê? Estou encharcado com uma água suja, uma doida está gritando para você me meter porrada, todos estão me olhando e eu estou sendo a atração principal desse show de horrores.

A desgraça me olhou feio. Tirou aquela cara de susto, colocou as mãos na cintura e começou a falar alto comigo:

–Meu senhor, o culpado disso tudo é você mesmo.

–Então eu que me joguei água?

–Não, isso foi culpa minha, mas esse “show de horrores” não. Se o senhor tivesse levado as coisas numa boa, não precisaríamos chegar nesse ponto.

–Se a senhora olhasse primeiro antes de tacar a água, mesmo porque na rua não se deve jogar água, eu não passaria por isso agora.

–Tá, desculpa.

–E de que suas desculpas vão me adiantar? Agora estou com a roupa suja e atrasado para o meu compromisso.

–A roupa, se é o que lhe incomoda, eu posso lavar. Em questão do banho, não lhe faria nenhum mal. Olhe só como seu cabelo está ensebado! –Disse mexendo no meu cabelo.

Todos riram de mim e que atrevimento dessa criatura mexer assim no meu cabelo. Não dei essas confianças. Como ela ouça falar que tenho cabelo ensebado?

–Sabe, não precisa tentar mais me ajudar. Já fez demais. Não quero que as coisas piorem. Também não quero minhas roupas fedidas a cachorro com cheiro de sabão de coco.

Saí quase espumando para dentro da pensão. Se ficasse mais 5 minutos próximos aquela senhora era bem provável que eu tivesse um enfarte ou que a esganasse. Tomei meu banho rápido naqueles banheiros minúsculos da pensão e fui para meu compromisso.

O meu compromisso era no meu bar, a única coisa que me restou. Confiei num desgraçado, vendi meu apartamento e meu carro. Com o dinheiro entrei de sociedade em uma rede de restaurantes. Tudo ia muito bem, mas o meu sócio começou a desviar dinheiro e o negócio foi decaindo cada vez mais. Quando dei por mim, ele tinha fugido e me restou um restaurante falido que vendi. Com o pouco que me restou montei um pequeno bar/lanchonete. Está no vermelho, cheio de dívidas, mas é meu, não há mais sócios para me roubarem. Levei para trabalhar comigo o Jonas, meu grande amigo e cozinheiro. Agora só preciso de uma atendente. As entrevistas começarão hoje.

Assim que cheguei meu amigo logo veio me abraçar. Esteve comigo desde o restaurante falido e não me abandonou quando mais precisei dele. Um amigo de verdade.

–Atrasado, Rogério. –Ele brincou.

–Sei, tive uns imprevistos, mas me conte: como vão as coisas, Jonas?

–Até agora bem, mas precisamos contratar alguém. Duas mulheres já vieram aqui e deixaram o currículo, mas, sinceramente, nenhuma se encaixa no cargo.

–E não veio mais nenhuma?

–Até agora não.

–Caramba, será que eu terei que ficar de atendente de novo? Isso não é trabalho para mim. Não consigo ficar no caixa e atender ao mesmo tempo.

–Vamos esperar e ver no que dá.

Meu telefone tocou. Mais um problema. O banco recebeu um cheque que passei e não estavam reconhecendo minha firma. Teria que ir lá se quisesse continuar recebendo estoques de bebidas, meu fornecedor não me levaria mais nada se não o pagasse.

–Deixa eu adivinhar: você vai ter que sair. -Realmente me conhecia bem o Jonas.

–Sim, vou.

–Volta hoje?

–Tentarei vir o mais rápido possível.

–E o que faço com as entrevistas, Rogério?

–Decida-se por uma. Confio em você e, depois de mim, você é a pessoa que mais conhece o funcionamento daqui.

–Mas é claro, eu sou o único que trabalha aqui depois de você.

–Resolva isso pra mim, por favor.

–Tá bom, mas não vá reclamar de minha escolha depois.

–Só quero que seja rápida e simpática.

Jonas ficou rindo e eu saí de lá como uma bala. Passei no banco e acabei me tardando mais que o normal. Peguei o ônibus lotado em horário de pico, odiava ter vendido o meu carro, e fui para a maldita pensão. Só daria tempo de me arrumar e rumar para o bar. Ao passar pela entrada dei de cara novamente com a criatura, a Olívia, acho que era esse o nome, não lembro. Ela me olhou feio e resmungou algo indecifrável, acho que me xingou. Não liguei e fui para o meu quarto. Me arrumei rapidamente e corri de novo para pegar o ônibus.

Peguei muito trânsito e cheguei atrasado no bar. Torcia para o Jonas ter contratado alguém.

–E aí? –Perguntei assim que o vi.

–Contratei.

–E como ela é?

–Velinha, sem dente, lenta como uma tartaruga...

–Estou falando sério, Jonas!

–Linda, 1m e 70, acho. Cabelos negros, olhos castanhos, pele bronzeada e simpática. Tá bom pra você?

–É eficiente?

–A melhor das que apareceram por aqui. Tem experiência no ramo.

–Pra mim tá perfeito. Ela vem hoje?

–Acabou de chegar.

Ao me virar dei de cara com a última pessoa a que eu esperava ver: a nefasta criatura que quase me afogou hoje. Não acreditei que o Jonas me contratou isso. Realmente minha vida estava uma merda. Alguém deve ter feito macumba para mim e me mandado esse encosto que eu vi entrar pela porta do meu bar.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem.
Comentários, críticas sempre são bem vindos.
Até a próxima.



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