Pensão da tia Odete. escrita por Costa


Capítulo 19
Capítulo 19




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Até que os dias que se passaram foram tranquilos. Estava interagindo melhor com o pessoal da pensão, estava começando a gostar deles. O único que realmente não me descia era a besta. Ele voltou já tinha uns dias e, para não perder o costume, me ameaçava sempre. Aquilo já estava me dando nos nervos. Não podia mais nem me aproximar da criatura que ele já vinha como um touro furioso pra cima de mim. O pior é que havia perdido minha carona por culpa dele. Quando eu finalmente aceitei o risco de andar no pitanga, a besta apareceu e acabou com a minha alegria.

Não sei o porquê, mas pressentia que hoje seria um dia daqueles. Meu ônibus quebrou no caminho para o bar, cheguei atrasado e, pra completar, a praga da minha ex acabou de entrar. Tomara que não me veja.

–Já viu tua ex ali, Rogério? –Lá vem o Jonas apontando pra aquela desgraça de mulher.

–Já e abaixa essa mão. Não quero que ela me veja e nem que te veja. Não tô a fim de falar com aquela praga.

–Mas ela não vai te ver de qualquer forma?

–Provavelmente, mas tentarei evitar o máximo que puder.

–Acho que vai ser meio difícil, mas boa sorte.

Ele voltou pra cozinha e eu fiquei aqui no caixa. Fiquei até meio virado de lado pra não dar visão para aquela víbora. Praga de mulher. Só ajudou a me afundar. Quando eu mais precisei ela correu. É uma maldita, filha da ...

–Aí!

Tomei um susto com uma mão no meu ombro. Olhei e vi que era a criatura.

–Tá devendo? –Me disse, rindo.

–O que você quer, Lívia?

–Calma, não precisa ser estúpido. Só preciso de mais comandas.

–Desculpa.

Peguei logo uns dois blocos e entreguei pra ela.

–Só isso?

–Só, Batman amargado. Que humor, hein!

Ela saiu rindo de mim. Tinha horas que sentia vontade de esganar aquela criatura. Acho que o meu grito e minha pequena discussão com ela chamou a atenção de alguém mais indesejado: Andreia, a praga da minha ex.

–Rogério, não acredito no que meus olhos veem. Achei que era minha imaginação ouvindo sua voz.

–Andreia, que desprazer te ver.

–Pois, pra mim, é um prazer. Não vai me dizer que trabalha aqui?

–Trabalho.

–O bar é seu?

–É. Algum problema?

–Nenhum, muito pelo contrário. Só precisa mudar o pessoal. Essa garçonete é meio sem graça.

–A sem graça aqui é você. Não permitirei que fale mal do meu pessoal, especialmente da Lívia.

–Lívia? É sua peguete? Quando te conheci você tinha um gosto mais fino.

Que vontade de torcer o pescoço dessa mulher...

–A respeite, por favor.

–Já vi que é. Pra você a defender assim...

–Andreia, por que não vai lá com o seu noivinho e me deixa em paz?

–Já deixei o Marcelo. Estou livre e desimpedida.

–Já sugou ele assim como me sugou? Se pretende tentar algo comigo, esqueça. Já estou vacinado de você.

–Não vai me dizer que já esqueceu tudo o que fazíamos?

Ela tentou me acariciar, mas pulei pra trás. Não sei como já pude sentir prazer com ela. Hoje só sinto nojo.

–Não fuja de mim, Rorro.

–Sai pra lá.

Ela veio pra cima de mim, novamente, mas cheguei pra trás. Até que vi a Flávia. Ela chegou de um jeito estranho e me abraçou e falou:

–Algum problema, meu amor? –Meu amor? Ela enlouqueceu?

–Oi?

–Essa periguete tá te incomodando?

Acho que entendi. A Flavia tá se passando por minha namorada.

–Não querida. –Entrei no jogo.

–Periguete é a tua mãe, sua vadia! –A Andreia xingou. Agora a coisa vai ficar feia.

–Pode xingar, despeitada. Agora o Rogério é só meu, não é, amor?

–Claro. Só seu...

Ela nem deixou eu terminar e me tascou um beijo. Como não podia negar, aproveitei. Só vi a praga indo embora e batendo o pé.

–Não, não é isso tudo. –A Flávia falou.

–Como?

–Seu beijo. Sempre sonhei te beijar, mas não é isso tudo. Acho que idealizei demais.

Ela acabou de falar que eu beijo mal? Agora fiquei confuso.

–Eu beijo mal?

–Não é mal, mas não é o que eu imaginava. Não é aquele tchan todo.

–Pra começar, como sabia que eu precisava de ajuda?

–O Jonas. Eu fui lá na cozinha beliscar uns salgados e ele me contou.

Claro, só podia ter sido o Jonas.

–Mas que história é essa do meu beijo?

–Você não beija mal, mas não é o meu tipo de beijo. Tu é bonito, mas agora vejo que não daríamos certo.

Ela está julgando o possível futuro relacionamento a partir de um beijo? A Flávia é louca, só pode, ou melhor, todos naquela pensão são loucos. E eu não beijo mal.

–O que faz por aqui?

–Vim aqui tomar o meu vinho. Lembra que você me prometeu?

–Lembro. Pode pedir o que quiser por conta da casa.

–Vou lá me sentar então. Vou te deixar trabalhar.

Ela saiu e a criatura veio rindo.

–Não vejo graça.

–Pois eu vejo.

–O que quer agora?

–Só rir um pouquinho da sua cara. Gostei da sua ex, “simpática”...

–Você também já sabe?

–O Jonas me contou, mas eu é que não ia te salvar. Uma pena a Flávia chegar. Seria divertido ver você apanhar.

–Ha, ha, ha, muito engraçado. Você não tem que trabalhar não? Quer uma justa causa?

–Já estou indo, chefe.

Achei esse “chefe” tão falso. Virei piada, de novo. Ela foi lá pra onde a Flávia estava e ficaram as duas rindo enquanto me olhavam. Aposto que a louca da Flávia tá falando que eu beijo mal. Estou começando a achar que preferia esse pessoal quando não nos dávamos bem. Ao menos me respeitavam mais.

Continua.


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