Pensão da tia Odete. escrita por Costa


Capítulo 18
Capítulo 18




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Eu estava estranhando aqueles moradores loucos da pensão. Desde que peguei dengue, todos estavam me tratando muito bem. Até mesmo a criatura e o macho man estavam uns amores comigo. Será que eu tenho uma doença mortal e eles não me falaram? Com doença ou não eu sei que essa foi a melhor semana ali. O pessoal maneirou na música, almocei e jantei decentemente todos os dias graças à dona Odete, mas o melhor mesmo foi que a besta não estava lá.

Mas, como tudo que é bom dura pouco, eu melhorei. E, para compensar o meu descanso, tive que ir cedo nos bancos efetuar os pagamentos do mês. Algumas horas de fila. “Que felicidade!”

Quando terminei de fazer tudo já era quase 5 da tarde. Voltei pra pensão me arrastando e com o estômago colado nas costas de tanta fome. Como não estranho mais nada, vi o Camilo e o Jorge discutindo. O Jorge na sacada do 3º andar e o Camilo na rua. Parece que estavam tentando puxar um sofá já que montaram uma roldana.

–O que houve, gente? –Perguntei.

–Houve que esse teimoso cismou que aguenta puxar esse sofá sozinho. –O Jorge gritou.

–Mas eu aguento!

–Não aguenta não senhor. Esqueceu que da última vez que tu levantou peso arrumou uma torção na coluna e teve que fazer até fisioterapia?

–Ai, Jorginho, deixa de ser chato. Já estou curado.

–Nem pensar, Camilo. Vamos fazer como o combinado e esperar pelo Djair.

–Que esperar que nada. Olha o temporal que está armando. Não quero meu lindo sofázinho encharcado.

O Camilo já ia começar a puxar a corda, mas eu me meti. Eles foram tão legais comigo que não me custaria ajudar. Retirei a corda da mão dele.

–Deixa que eu puxo. Me dá aqui, Camilo.

–Vai ajudar? –O Jorge gritou.

–Claro que vou. É o mínimo que posso fazer depois do tanto que vocês me ajudaram e família é pra essas coisas, não? –Falei. A verdade é que comecei a considera-los como família. Nunca chegaria a ser próximo a ponto de sermos melhores amigos, irmãos, mas os trataria como me tratavam.

O Jorge concordou comigo e puxamos aquilo rapidinho. Bem na hora porque começou a dar uns pingos de chuva. Eles me agradeceram e eu entrei para a pensão. Até que não eram más pessoas. O Jorge e o Camilo eram opostos, um brincalhão e o outro durão, mas, no fundo compreendia o macho man. Ele só era protetor com seu parceiro. Já não guardava mais rancor dele e ele também me tratava melhor. Essa dengue nos fez bem. Já até nos cumprimentávamos pelo corredor e ele não me olhava mais com ódio.

–Rogério, meu filho. Você está melhor? –Dona Odete me perguntou.

–Estou sim, dona Odete. Obrigado.

–Eu fiz uma broa, não quer um pedacinho?

–Quero sim. Estou faminto.

Comi uns dois pedaços daquela broa. Eu aprendi a gostar da comida daquela velhinha. Ela tinha uma boa mão pra cozinhar e o melhor é que eu não tive nenhuma intoxicação alimentar. Agradeci e fui me arrumar para ir trabalhar. Tomei um banho rápido e, saindo do banheiro, encontrei com a Flávia implicando com o Djair.

–Dá pra parar, Flávia? Já deu. Eu sei que sou chifrudo.

–Só chifrudo não, meu querido. Você foi trocado por um homem bem melhor. Até que a Silvia tem um bom gosto. Foi uma boa troca.

–Boa troca nada. Sou mais eu. Esses novinhos não fazem metade do que eu consigo fazer. Respeite meus cabelos brancos. Como dizem, panela velha é que faz comida boa.

–Panela velha que faz comida boa é só na musica do Sergio Reis, Djair. Menos.

–Depois eu que era o implicante. –Tive que me intrometer. Esses dois não iam parar.

–Batman, nem te vi. –O Djair falou.

–Tá melhor, Rogério? –A Flávia me perguntou.

–Estou sim. Depois eu tenho que ver quanto devo pra vocês. Façam suas contas.

–Pra mim não deve nada não. –O Djair falou.

–E nem pra mim. –A Flávia completou.

–Mas vocês trabalharam mais de uma semana pra mim. Não posso deixar assim de graça. Não é justo.

–Hoje por você, amanhã por nós. Mas, se faz tanta questão assim de me pagar, depois deixa uma cerveja paga pra mim que tá tudo certo. –O Djair falou.

–Pra mim pode ser um vinho. –A Flávia disse.

–Tá certo então. A hora que quiserem, podem ir lá no bar e consumirem o que quiserem por minha conta. –Falei.

–Vou em qualquer lado, menos no seu boteco. Não quero ver aquelas visões do inferno que aparecem por lá. –O Djair reclamou.

–Visões do inferno? Tu falava que a tua mulher era linda. Ela não falo, mas o gato que ela arrumou...Deus! –E a Flávia continuou a implicar com o Djair.

–Gato? Só se for um gato atropelado. Homem feio...

Eles continuaram discutindo e eu subi pro meu quarto. Estava começando a achar divertido esses dois. Essa implicância deles ainda ia longe. Acabei de me arrumar e desci. A chuva estava muito forte. Sabia que chegaria encharcado. Abri meu guarda chuva, tomei coragem e sai. Estava quase chegando no meu ponto de ônibus quando escutei a Lívia me gritar:

–Quer carona, Batman?

–Pra mim empurrar essa sua lata velha?

–Ele já foi consertado.

–Agora que já estou todo molhado não adianta mais.

–Se não quer, já vou.

–Espera. Quero sim.

–Agora eu que não quero.

Ela já ia embora, mas eu gritei.

–Criatura nefasta!

Parece que adiantou, ela parou o carro e abriu a porta do passageiro.

–Entra aí, é brincadeira. –Disse, rindo.

Entrei no Pitanga. Era a minha melhor opção para não me molhar mais. Até que ele estava melhorzinho. Fazia menos barulho. Por sorte chegamos sãos e salvos e eu não tive que empurrar nenhum carro velho. Era estranho, mas eu e a Lívia estávamos nos entendendo melhor. Já não brigávamos como antes. Não a considerava como uma amiga, mas também não era mais minha inimiga e isso me assustava.

Continua.


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