Pensão da tia Odete. escrita por Costa


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Mais um.
Espero que gostem.



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Agora que conheço as regras da pensão, não cometi mais nenhum erro. Os dias passaram dentro do normal, tirando o fato que agora, graças a nefasta criatura, me apelidaram de Batman amargado. Eu e ela continuamos trocando farpas, como sempre, mas nada mais grave que isso. Só fico mesmo triste em saber que amanha a besta peluda volta. Esses dias passaram tão rápidos.

Era virada de sábado pra domingo, cheguei tarde, como sempre. Dormia tranquilamente, mas parece que o pessoal hoje está alvoroçado. Até o Ricky Martin que é calminho está latindo sem parar. Levantei e não acreditei no horário. Não era 7 da manhã. O que esse pessoal louco está aprontando? Sai para ver. Quase fui atropelado pela Flávia. Estava uma correria só. Desci pra sala e tinha de tudo: desde cadeiras de praia a caixas de isopor. Iriam viajar?

–Batman, vamos na praia com a gente? –Djair me convidou.

–Praia?

–É. Vamos? Um amigo me emprestou uma van. É só dar um troco pra ajudar na gasolina.

Realmente uma praia me faria bem. Fazia anos que eu não ia, mesmo morando a poucos quilômetros dela. Talvez não seja má ideia.

–Que horas vocês voltam?

–Lá pelas 7 da noite, mais ou menos.

–7? Acho que não vai dar. Hoje é domingo e é essa a hora que eu abro o bar. Não vai dar pra mim.

–É uma pena. Deixa pra próxima então.

–Fica pra próxima. Boa praia pra vocês.

–Valeu, Batman.

Já que eu não iria conseguir dormir mesmo com aquela algazarra, fui na padaria tomar um café. Tomei um pingadinho com um misto e voltei pra pensão. Parece que as coisas estavam mais calmas. Acho que eles já saíram de passeio. Já ia subir pro meu quarto para tentar dormir quando esbarrei com a criatura, toda enrolada, cheia de bolsas. Não acredito que ela ia na praia! Será que esqueceu que tem trabalho?

–Vai na praia? –Perguntei.

–Não acho que seja da sua conta, mas vou sim.

–Por acaso se esqueceu do seu trabalho? Sabe muito bem que eu e o Jonas não conseguimos tocar aquilo sozinhos num domingo.

–Claro que não me esqueci. Honro com minhas obrigações. Estarei lá antes das 7.

–Não sei como vai fazer isso, já que eles vão sair de lá nessa hora.

–Eu tenho o pitanga, esqueceu?

Isso! Ainda não perdeu essa mania de esfregar na minha cara que ela tem carro e eu não.

–Claro que não. Aproveite sua praia.

Deixei ela lá sozinha e me enfiei no meu quarto. Essa mulher me irrita! Se passou uns 20 minutos, eu estava quase pegando no sono quando um desgraçado bateu na minha porta. Levantei resmungando e fui ver quem era a santa alma.

–Não acredito! -Falei ao ver que era a criatura. –O que quer?

–Se arruma. 10 minutos. Não vou esperar mais que isso.

–O quê?

–Te dou uma carona pra praia. Vai ficar aí sozinho? Depois voltamos juntos pro bar.

–E quem te disse que eu quero uma carona sua?

–Azar o seu então. Passe esse dia lindo trancado nesse quarto, sozinho. –Disse e começou a ir embora.

Odeio ter que admitir, mas ela tem razão.

–Espera.

Ela parou, mas não virou.

–Você tem razão. Aceito sua carona.

–Finalmente, Batman amargado. Uma praia te cairá bem, pegar uma cor, você está quase transparente. –Disse, apontando para mim.

–Já vai começar?

–Tá, parei. 5 minutos, te espero lá embaixo.

–Não eram 10?

–Eram, mas o tempo que perdemos discutindo fez cair pra 5.

Ela saiu rindo. Começo a duvidar se isso é uma boa ideia. Fui preparar minhas coisas. Começo a perceber que realmente fazem anos que não pego uma praia. Não tenho nenhuma bermuda adequada. A única sunga que achei foi uma antiga vermelha com estampa amarela de flores havaianas. Deus, devia estar louco quando comprei isso! A criatura gritou lá da rua me apressando. Como não tenho outra, vai ter que ser essa. Vesti essa coisa horrorosa mesmo, coloquei uma bermuda de jeans e uma camisa social branca. Preciso atualizar meu vestuário. Peguei uma mochila e joguei uma troca de roupa mais adequada para trabalhar mais tarde. Se não desse tempo de vir aqui, ao menos teria uma roupa melhor que essa pra vestir. Desci correndo e já a encontrei com a lata velha ligada.

–Depois nós mulheres é que demoramos para nos arrumar.

–Não demorei. Vamos logo antes que eu mude de ideia.

Entrei naquela picape velha. Por fora não era grandes coisas, mas por dentro estava um pouco pior. O estofado dos bancos rasgado, painel enferrujado e eu não encontrava o maldito cinto. Ela, gentil como sempre, nem esperou eu me acomodar e já arrancou com o carro.

–Que tanto procura? –Ela me perguntou.

–O cinto.

Ela desatou a rir. Não sei qual a graça. Não disse nada de engraçado e, pelo que sei, também não estou com nariz de palhaço.

–Do que ri?

–Do cinto. Meu carro não tem cinto.

–Como não?

–O rato roeu.

–Como é que é?

–Essa picape ficou guardada muito tempo numa garagem. Os ratos fizeram a festa nela. Por que acha que os bancos estão meio rasgados? Eles usaram ela como ninho.

–Que beleza! Além do tétano eu também vou pegar leptospirose. Para essa lata velha que eu vou descer.

–Se acalma, Batman! Eu lavei muito bem ela e mandei desinfetar. Tá limpinha.

–Não acredito nisso! Não sei porque eu ainda te dei ideia e aceitei andar nisso. Minha mente me falou pra não vir, mas o teimoso aqui não acreditou. Esse carro tá com a documentação em dia, pelo menos?

–Tá.

–E você tem habilitação, né? Não quero sofrer mais nenhuma surpresa.

–Tenho. Deixa de ser tão amargado e curta a viagem. Só mais uma coisa.

–O quê?

–Não se apoia muito na porta não. Essa tranca está meio bamba e, às vezes, ela não fecha direito e a porta pode abrir.

–Quer dizer que eu posso ser cuspido pra fora do carro?

–Poder, pode, mas é só não se apoiar na porta que isso não acontece.

–Maravilha! Bom saber que eu posso morrer. Vem cá, esse carro estava ruim assim quando você comprou?

–Ele não está ruim, só precisa de uns pequenos reparos.

–Claro, muito PEQUENOS...

–Deixa de ser amargado, Batman e curta a viagem. Um sonzinho pra te animar.

Ela ligou o som e colocou numa rádio onde só tocavam samba e pagode. Essa viagem vai ser longa demais...

Continua.


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