A Bastarda escrita por The Rootless


Capítulo 3
Capítulo II


Notas iniciais do capítulo

Não deu tempo de revisar qualquer erro me desculpem tô com sono nem coloquei vírgula aqui



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Belfast, Irlanda, 13 de agosto de 1815, mais ou menos às duas horas da tarde.

Quando nossa princesa e nosso príncipe se encontram

.


America estava a caminho do mercado quando a coisa mais inesperada aconteceu.

Sua bisavó tinha pedido que fosse comprar alguns ovos, embora soubesse que uma mocinha solteira andar até o mercado era, no mínimo, escandaloso. Mas Isabel precisava de ovos. E sua bisneta era seu objeto de tortura preferido.

Então, America foi ao mercado. Ou, pelo menos, tentou ir.

Estava caminhando solenemente pelas ruas de Belfast quando viu um cachorro vira-lata. Não tinha uma pata o coitado, e por isso andava devagar pela avenida. O problema era que, naquela hora do dia, o tráfico de carruagens era enorme - coisa que foi, aliás, um dos argumentos usados por America para tentar convencer Isabel de que ela não deveria ir comprar os malditos ovos - e a jovem temeu pelo cachorrinho.

Principalmente quando viu que uma carruagem, conduzida por um cocheiro distraído, foi em direção ao animal. E não parecia ter a intenção de parar.

America ficou parada por um momento, pensando no que deveria fazer. Deixar o pobre bichinho morrer pisoteado pelos cavalos, ou dar uma de louca e se jogar na frente dele? Refletiu um pouco. Se ela se jogasse no meio da rua, muito provavelmente aquele cocheiro - que não poderia ser tão estúpido assim - iria perceber sua presença e parar rapidamente a carruagem, certo? E mais. Incomodaria profundamente sua bisavó, o que faria a velha se arrepender de ter mandado America ao mercado.

Com esses pensamentos em mente, a jovem foi para o meio da rua.

E o maldito cocheiro não parou.


+++++

Depois de uma viagem de quase três dias, Maxon finalmente chegou em Belfast. Acomodou-se na estalagem Rose & Crown - considerada a melhor da região, conforme o próprio estaleiro orgulhosamente informou ao rapaz - e saiu à procura de algum pub, deixando o trabalho difícil de desarrumar sua mala para o lacaio. Não tardou a encontrar um. O lugar era escuro, com umas mesas sujas de madeira espalhadas pelo salão. Maxon foi até o bar com balcões também de madeira e pediu um whisky.

– SCHREAVE!

Mal havia tomado um gole da bebida quando alguém que, Maxon tinha certeza, estava fazendo o maior esforço para fazer sua voz soar um pouco temível, o chamou. Virou-se e deu de cara com James Hayes, visconde de Caledon. Um dos maiores tagarelas que Maxon já teve o desprazer de conhecer. Blasfemou em pensamento.

– Caledon. – saudou secamente. Quem sabe acontecia algum milagre divino e o jovem percebia que Maxon não estava nem um pouco a fim de conversar.

Claro que não percebeu.

– Mas que coisa, encontrá-lo justamente nesse lugar. – começou – Que diabos faz aqui, afinal? Negócios? Ah, já sei. Uma amante, não é mesmo? Ora, Schreave, não me diga que…

– Negócios. – interrompeu Maxon. Não era exatamente uma mentira.

– Ora, mas que milagre! Pensei que fosse um irresponsável, que só quisesse saber de bebida, jogos e sexo. – parou um pouco – Mas lutou na guerra, claro. Todos nós somos muito gratos por seu serviço prestado à Coroa. Bom, de qualquer modo, vejo que me equivoquei. Embora claramente o senhor esteja caindo de bêbado, devo observar.

Maxon grunhiu. James Hayes, além de tagarela, também era conhecido por sua... sinceridade. E por seus tão detestáveis equívocos. O futuro duque de Illéa juntou toda a sua paciência, e conseguiu fingir uma gargalhada quase convincente.

– É aí que se engana Caledon. Mal toquei em minha bebida. Você, por outro lado…

James riu com vontade, colocando a mão na barriga proeminente, enquanto a outra segurava um copo de cerveja quase vazio. Parecia mais jovem do que realmente era, com o cabelo preto brilhante, os olhos castanhos escuros quase pretos, e com toda a sua gordura. Tinha acabado de sair de Cambridge, e só se interessava por apostas e prostitutas.

E por irritar Maxon, aparentemente.

– É verdade, é verdade…

O jovem já ia começar a falar alguma outra coisa, mas Maxon o interrompeu dando um tapa em suas costas.

– Pois bem, Caledon, acho que já vou indo. Prazer em vê-lo. – pigarreou – Foi no mínimo inesperado.

Colocou uma moeda de ouro na mesa e saiu do recinto, sem esperar para ouvir a resposta do visconde.

Assim que, com alívio, sentiu o ar puro do começo da tarde, notou uma mulher jovem e de cabelos ruivos do outro lado da calçada. Por alguma razão, a moça chamou a atenção de Maxon. Talvez pelo fato de estar na frente de um mercado - lugar nada comum para jovens que não eram criadas, e a moça em questão com certeza não era uma -. Concluiu que era uma viúva, já que estava usando um vestido negro.

Ela olhava atentamente para a rua, os olhos focados em alguma coisa que Maxon, a princípio, não conseguiu identificar. Apertou-os um pouco e viu que se tratava de um cachorro com apenas três patas. Perplexo, focou de novo na mulher, que continuava encarando o cão. Maxon não conseguia entender por que ela prestava tanta atenção no bicho.

Ficou curioso.

Cruzou os braços e esperou, só para ver que fim daria aquilo. A mulher pareceu ficar mais agitada, e Maxon percebeu que os cavalos de uma das carruagens estavam prestes a pisotear o cachorro. Ele assistiu surpreso enquanto ela, sem cerimônias, correu e se jogou na frente dos cavalos. Maldita seja. Agora teria que salvá-la. Não pensou duas vezes e correu para a rua.


+++++

America pensou que fosse morrer. Vira sua vida inteira passar diante de seus olhos, e, enquanto via os cavalos se agitarem e o cocheiro berrar, "o que está fazendo, garota?", preparou-se para o pior.

E, então, sentiu um corpo pesado a empurrando. Pensou que, talvez, fosse a morte. Lera uma vez em um livro que quando se está prestes a morrer é comum sentir um peso sobre o corpo. Estava escrito também que o correto era lutar contra esse peso, mas America estava cansada. Não queria lutar. Aliás, estava até gostando daquele peso, que era meio quente. Talvez a morte não fosse tão ruim assim. Mas o peso foi embora tão rápido quanto veio. Ela reclamou mentalmente.

– Está bem? – perguntou uma voz meio grossa.

America tentou abrir os olhos e falar que sim, estava bem, muito obrigada. Mas seu corpo parecia não querer lhe obedecer. Tentou mexer a cabeça. Nada. Tentou movimentar os dedos dos pés. Nada, também. Entrou em pânico. Finalmente, conseguiu abrir os olhos. Viu um homem de cabelos claros, quase loiros, e bem curtos. Os olhos eram de cor castanho escuro, e não pôde deixar de reparar que o rapaz tinha músculos, e era alto.

– Está bem? – perguntou de novo, os dedos longos agora tocando de leve seu rosto.

Ela tentou se movimentar, levantar a cabeça, que agora doía muito. Tentou dizer algo, mas som nenhum saía de sua estúpida boca. Ele se levantou, estendendo os fortes braços para ajudá-la a ficar de pé. Ela até tentou colaborar, e achou que estava conseguindo juntar forças para esticar seus braços, quando ouviu a voz de sua bisavó.

– America, minha filha! O que aconteceu com você? E você rapaz? Saia já de cima de minha bisneta! – começou, ameaçando-o com sua sombrinha. Sua dama de companhia vinha logo atrás, tentando acompanhar os passos rápidos da senhora.

O homem, então, tentou se explicar, relatar o que ocorreu, mas Isabel, obviamente, não ouvia, sua voz ficando cada vez mais alta, só servindo para aumentar a dor de cabeça de America. Ela começou a enxergar pequenos pontos escuros.

E então desmaiou.


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Notas finais do capítulo

Comente, poucos comentários me desanimam! Bjs e até o próximo cap