Capítulo 4

Ela encarou os olhos confusos e bravos do homem à sua frente. Seu rosto estava suave, não demonstrava o que ele estava sentindo naquele momento, o que a deixava igualmente confusa. O que viria agora? Kate só conseguia pensar no pior: No exílio e na morte, talvez. Era um momento de medo, arrependimento pela fuga e algo dentro de si que a fazia se sentir culpada.

Ele realmente a amava? Ele foi atrás dela e isso era um bom sinal, ou era para ser. Pelo menos ela pensava que era. Kate sabia que todos aqueles sentimentos não dariam em um bom final para toda aquela história. Ele era um Rei, um Rei que ela nunca entendeu, nem quando lia os pergaminhos que era obrigada a ler para entende-lo bem caso fosse escolhida. – O que aconteceu. – Seu coração batia forte, aquele momento para ela era como um último adeus. Assim como sentia medo, angustia e arrependimento, ela também sentia determinação. Seu coração mandava ela seguir em frente, mas algo a impedia. Era ele. Sempre seria ele. Ela aguentaria se manter distante dele, mas não aguentaria saber que o deixou sem ao menos olhar pela última vez para aqueles olhos que refletiam luz na escuridão dentro dela.

— Não... – Sua voz quase vacilou. As lágrimas ainda caíam pelo seu rosto avermelhado.

Sua mente estava paralisada, tudo veio à sua mente. Ela pensou nas palavras ditas por Seth, Matt e as prometidas. Mesmo ela estando feliz e ao mesmo tempo triste pelas palavras ditas por ele, ela sabia que não poderiam ficar juntos.

— Diz o Rei, iludindo-me não só desta vez, como das outras também. Diz que me ama e que eu iria embora sem me despedir. – Ela limpou as lágrimas e soltou uma risada. – Sim eu ia, não só iria como eu vou embora e estou decidida a isso... Sei que se ficar irei ser condenada. – Ela realmente seria? Eram as regras. Nem mesmo ele poderia contestar, ela teria que servir de exemplo mesmo tendo a amizade e o amor dos Reis. – Você nunca amaria alguém como eu Matt. Você repudia todos de minha linhagem... Sou a sua vilã e o que me consome a cada instante lhe transformou nisso, no que você é!

Ela se perguntava, ele sabia o que ela tinha feito dentro de seu castelo? Ele sabia o que ela fez para sair de suas terras? Sim, ele sabia. Com certeza sabia.

— Você amaria alguém que lhe proporciona raiva e talvez medo? – Ela abaixou sua cabeça e fechou os olhos sabendo que estava magoando ambos. As palavras não só atingiam Matt, como ela também. – Você não sabe o que é sentir algo por alguém e saber que nunca vai ser mais do que mordidas e juras que jamais seriam concretizadas. Você sempre voltaria para ela... Eu estou indo seguir o meu caminho enquanto ainda tenho forças para ir, um que não tenha vampiros, reis e prometidas.

Matt a encarava sério e ela percebia que a mandíbula dele estava trêmula . As pupilas dele estavam cobrindo a íris dos olhos, que antes eram igualados à água do oceano. O que era para ser simples palavras e enfim um beijo de amor, transformou-se em verdades e dor.

— Por que não me mata logo, Matt? Por quê? – No fundo ela temia que realmente ele a ferisse ou tirasse sua vida, ainda mais na frente daqueles humanos. – Acabe com a minha dor, tire sua raiva... Você amaria mesmo alguém que lhe transformou nisso? – Falou apontando para o ser que mudava a cada instante deixando sua verdadeira face aparecer.

Ele a olhava com posse e raiva por tentar deixa-lo. Ele a queria mesmo sendo o que ela era... Mas sempre tinha aquela dúvida e o porém.

— Você é minha! Eu a escolhi... Eu a marquei! Você é minha, Kate. – Falou com sua voz grossa fazendo o corpo de Kate se arrepiar pela milésima vez naquele dia.

Matt andava em sua direção a passos largos, porém lentos. Ele vestia seu sobretudo negro deixando somente uma parte de seu peito definido de fora, calças sociais e mantinha suas mãos dentro dos bolsos da calça. Ele estava em frente a ela, próximo ao seu rosto. Quem os via, pensaria que estavam prestes a se beijar. Os olhos negros encaravam os de Kate e um sorriso travesso surgiu nos lábios de Matt.

— Você é minha propriedade, não me importa de onde veio... Eu a quero e não adianta tentar fugir de mim. – Disse tocando o rosto de Kate com a ponta de seus dedos frígidos. – Eu a caçaria e a traria de volta para mim. Você não me conhece, Katherine . Iria até ao inferno e lutaria com todos os demônios em busca de você. – Ele falava as palavras tão baixas. Sua voz estava rouca e calma. Ele dizia tudo de forma tão serena que causava arrepios de medo em Kate.

Ela fechou os olhos escutando a respiração lenta de Matt. Ela queria aproveitar o momento, ela sabia que ele não a deixaria sair da cidade. Mas era o que precisava ser feito. Ninguém a entenderia. Uns iriam dizer o quão tola estava sendo, mas era o que ela precisava. Pensar em tudo o que estava acontecendo, mesmo que isso a leve em um caminho sem volta.

"Ele sempre vai voltar para sua Rainha. Não seja boba, Katherine ." – A voz de sua possuidora surgiu em sua mente. Ela sabia que Amara queria colocar coisas em sua mente, porém ela estava certa. Ele sempre voltaria para a mulher que prometeu amor eterno, mesmo estando debaixo de tantas traições e mentiras. Amara estava passando sentimentos para ela que nem mesmo sabia que poderia sentir um dia. Eram misturas perigosas e confusas; Era amor, paixão, medo, raiva e o sentimento de esquecimento, algo como traição.

— Você quer alguém para ter posse... Para mandar, Matt. Não para amar... – Respondeu olhando-o nos olhos. Ela se sentia forte, a energia estava circulando em seu corpo. Seus dedos queimavam e ela sabia: Sua magia estava sendo cada vez mais aflorada.

Ela sabia que tinha que sair daquela cidade. Sabia que precisava ficar sozinha, e temia o que tinha dentro de si. Kate precisava esquecer a morte de sua irmã e tentar superar o que sentia por Matt e tudo o que vinha acontecendo desde que foi para o castelo ser aquilo que mais repudiava.

— Você não sabe o que diz... Nunca soube! – Ele tocou no braço esquerdo de Kate, envolveu seus dedos e aos poucos foi apertando, usando sua força interior.

Ele olhou para os lados e percebeu que estavam chamando a atenção de alguns pescadores e comerciantes. Precisavam sair dali. Ele corria perigo e talvez a garota também corresse. Era perigoso ficar exposto aos olhos dos humanos e talvez de seres de outras dimensões. Como caçadores e os bruxos que estavam em busca de vingança.

— Não vou deixa-la partir. – Matt começou a andar e Kate foi obrigada a segui-lo por segurar seu braço.

— Solte-me! – Pediu. – Deixe-me ir embora, já não basta toda a desgraça que proporcionou a mim? Não basta?

Ele não a respondeu, continuou a arrastando e a mesma tentando se soltar da mão forte de Matt.

— Está me machucando... Solte-me. – Ela estava sentindo a energia circulando em seu corpo, estava indo. Estava ficando forte.

Um vento frio começou a passar pela pequena cidade. Algumas pessoas fecharam suas janelas e chamavam suas crianças de volta para casa. O céu aos poucos foi ficando escuro. As nuvens vinham rapidamente se acumulando em volta da ilha que formava a cidade.

— Fique quieta! – Ele parou por alguns instantes e soltou o braço de Kate parando em uma rua totalmente deserta. – Não vou deixa-la ir embora. Não aceito que me deixe, isso é uma ordem. Se ousar sair dessa cidade irei... – Kate interrompeu-o.

— Vai fazer o que, Matt? Me exilar? Me matar? Não ligo, perdi tudo... Minha casa, minha irmã caçula e não tenho nada mais que me prenda aqui.

A não ser você. – Pensou sentindo a dor no coração, mas não disse.

— Sou seu Rei, seu dono, me deve obediência. – Falou a puxando e a pondo em cima de seu ombro direito, deixando-a indignada.

— Solte-me, você não tem o direito. Não lhe devo respeito, muito menos o considero um Rei... Um Rei faz tudo por seu povo. Não deixa tragédias e muito menos meninas com sonhos de uma vida melhor serem vendidas aos seus amigos ricos. Você não é meu Rei, muito menos meu dono. Você é a causa disso que está vendo, você causou sua própria desgraçada.

— Você não sabe o que diz. Já disse... Cale-se, quando chegarmos ao castelo você vai ter seu castigo.

Kate deixou suas lágrimas caírem aos poucos, ela sentia a energia dentro de seu corpo. O vento estava cada vez mais forte. O mar estava ficando agitado, ela sabia. Estava acontecendo de novo. Ela precisava se afastar dele. Ele causava aqueles sentimentos confusos em sua mente. Ela fechou seus olhos, tentando controlar o que vinha de dentro. Mas estava começando a ficar incontrolável. Olhando para o céu ela percebia que o mesmo estava totalmente escuro. A cidade estava ficando escura, as nuvens tampavam o sol e aos poucos, Matt parou de anda na entrada da floresta.

— Mas que... – Ele olhou para cima.

Ele soltou Kate que encolheu os ombros olhando para baixo enquanto ele a estudava. Ela sabia que ele sentiu que vinha dela. A magia que aos poucos deixava seu corpo e mal obedecia aos seus comandos, estavam ficando em volta da ilha, deixando-a escura e muito mais fria.

Então ela correu. Ela correu para dentro da floresta, mesmo sabendo que seria um jogo perdido. Ele era mais forte, veloz e poderia estar muito irritado.

A neve caia com mais força e muito mais rápida. O vento estava ficando forte contra o corpo de Kate que corria desviando das árvores. Ela não sabia para onde estava indo, mas ela precisava sair. Ela tinha que ficar longe dele, precisava se acalmar ou destruiria tudo que estava por perto.

Algo caiu a sua frente, fazendo-a parar bruscamente, vendo Matt que acabou de pular do alto de uma árvore. Ele estava abaixado e olhava para o chão. Então seus olhos encaravam os dela.

— Esse jogo está começando a me irritar, Kate ... Se quiser ir, vá... Mas saiba que se for não poderá voltar mais. – Ele estava visivelmente irritado com as atitudes dela. Mas no fundo ele só falava como uma ameaça que nunca aconteceria. Ele não queria deixa-la ir, não queria deixar a mulher que o fazia se sentir vivo novamente.

Matt a segurou firme nos ombros encarando os olhos cheios de lágrimas da garota. Ele a encostou no tronco de uma árvore e sentiu o cheiro doce do sangue de sua prometida. Ele a desejava. Queria possuir o corpo dela e queria tomar seus lábios rosados e trêmulos. Kate não sabia se estava tremendo de frio ou de medo.

Ela viu os lábios de Matt aos poucos se aproximar dos dela. Ele começou a beijar sua boca lentamente. Os dedos de suas mãos estavam esfriando. A magia estava diminuindo, mas o vendo não passou. Parecia piorar cada vez mais. Ele segurava na cintura dela com uma de suas mãos e com a outra a sua nuca prendendo seus lábios nos dela. Ele estava repleto de desejo pela moça. Matt parou os beijos aos poucos beijando a mandíbula de Kate descendo aos poucos até ao pescoço da mesma. Seus dentes pontiagudos aos poucos se apareciam. O monstro dentro dele estava se mostrando. Os lábios dele roçaram lentamente no pescoço dela. Kate colocou suas mãos para trás tocando o tronco da árvore e fechou seus olhos esperando o momento que sabia que não teria como fugir. Ele a mordeu.

Ela soltou um suspiro de dor, uma dor longa e prazerosa. Ele apertou mais seu corpo contra o dela e parou de mordê-la sentindo-se saciado. Ele beijou o lugar da mordida que ainda saia um pouco de sangue e encostou a cabeça no tronco da árvore por cima do ombro dela, sentindo o cheiro de seu sangue. Em alguns segundos ele se afastou dela, retirando o lenço de seu bolso, limpando o machucado de sua prometida.

— Sinto muito.

— Deixe-me ir... – Ela sabia que não era algo para se dizer, mas sua determinação era mais forte. Ela não queria estar ali, sentindo tudo aquilo. Ela não aguentava viver naquela solidão, sendo a pessoa perfeita em um mundo machista que se dizia totalmente atualizado. Ela estava movida pela emoção.

"Ele sempre volta para sua Rainha." – A voz de Amara estava certa. Ele sempre voltaria para a rainha e um dia ela sofreria mais do que estava sofrendo agora.

Ela sempre aprendeu que tinha que obedecer e fazer tudo o que um dos Reis queria. Ela sempre aprendeu que estava ali para ser uma serva, uma simples escrava e meretriz de sangue e corpo para um deles. Umas se achavam sortudas por terem suas famílias estabilizadas com presentes e por estarem vivendo uma vida boa.

Mas eles sempre voltariam para suas esposas. Eles sempre estariam lá de noite, mas sempre que eles não estivessem com as prometidas eles estariam nos seus verdadeiros lares. Era aquela a realidade de Kate.

"Posso ser tola, mas não quero sofrer sabendo que sou aquela que sempre acredita em palavras vazias. Ele pode realmente me amar, mas não quero continuar sendo o que sou."

— Não posso deixa-la ir, minha Katherine... Nunca deixaria alguém com quem realmente me importo longe de mim. Eu amo você, não duvide de minhas palavras.

Kate tinha que partir, estava na hora. O tempo estava ficando cada vez mais fechado, talvez ela nem conseguisse mais um lugar naquele barco. Ela tocou o rosto dele e o mesmo segurou a mão dela. Kate se viu na sala de Sarah, quando ele sumiu deixando-a sozinha e solitária. Ela se viu ali, naquele estado novamente. No estado de dor e solidão.

"Será que eu mesma estou procurando minha infelicidade?" – Se perguntou encarando a face de Matt deixando mais de suas lágrimas saírem e olhou para os olhos expressivos e cheios de expectativas de Matt. "Espero que um dia me perdoe."

— Quero que vá embora. Eu nunca estive presente em sua vida... Fui escolhida por Seth Hemecker antes do baile. Eu era só mais uma das prometidas que você sentia uma atração e desejo pelo sangue. Você nunca falou comigo, nem me conheceu. Sou somente um rosto em sua lembrança, alguém que você nunca se importou em conhecer. Você veio atrás de mim para me atacar, me mordeu no pescoço e usei meus poderes em você dando-me tempo para fugir. – As pupilas dos olhos de Matt se dilataram, contraindo sua testa, ele a encarava que permanecia com as mãos na face do mesmo. Sentindo arrependimento pelo o que acabou de fazer.

Kate soltou sua mão da face de Matt e deu um sorriso em meio às lágrimas.

— Adeus... Estou indo, mas ainda tenho a esperança de te encontrar.

Kate começou a andar a passos largos em busca de uma saída daquele lugar. Ela olhou para trás e viu Matt a olhando sem mexer nenhum músculo. Ele tinha seus olhos vazios, olhava para ela como se nem a conhecesse mais. Era como se ele nem a estivesse vendo, olhando para o nada naquela densa floresta.

Ele nunca mais se lembraria dela. Só a veria somente como mais uma das prometidas... Ela não seria parte de mais nada na vida dele. Era o que a mesma acreditava e sentia em seu coração.

Kate não sabia, mas estava sendo observada e seguida por um indivíduo desconhecido. Estava prestes a rever alguém que fez parte de seu passado.