[#3]Sou eu –The Soul

KIDS

A jovem caminhava pela multidão de crianças e adultos que faziam muito barulho. As brincadeiras estavam mais animadas do que nunca, e parecia que quanto mais a menina andava mais gente encontrava. O barulho da multidão era ensurdecedor. Olhou para trás mas não conseguiu achar seus amigos. Estava no meio de tanta gente, mas ao mesmo tempo sentia-se tão sozinha... Raios, Alex, porque tínhamos que procurar Brian e Amy separados?, pensou ela, engolindo seco.

Depois de andar por uns dez minutos a jovem finalmente encontrou alguns lugares vazios. As pessoas estavam todas perto dos animatrônicos, e a sala de peças e serviços do outro lado da pizzaria não era um lugar muito atraente. As paredes coloridas chamavam a atenção da menina, e o barulho abafado dos gritos de crianças vindos da festa de Charlotte eram tão atraentes! Apesar de adorar a falta de confusão perto dela, Lancy não pôde deixar de constatar que ficar totalmente sozinha naquela pizzaria enorme era meio assustador. Tudo que ela queria no momento era alguém, para orientá-la, ajudá-la a encontrar seus amigos ou para simplesmente conduzi-la para a multidão novamente.

Encarando os papeis e desenhos das paredes, a jovem encontrou desenhos de todos os animatrônicos que ela adorava: Toy Freddy, o urso, Toy Bonnie, o coelho guitarrista azul e Toy Chica com seu cupcake cor-de-rosa. Tinha a Toy Foxy também, a qual acabara por ser chamada de Mangle por conta de suas péssimas condições. Encarando os desenhos, a jovem pôde ver um dos papéis desenhados com uma turma de animatrônicos diferentes daqueles que ela conhecia: Tinha um Freddy mais escuro com um microfone nas mãos, um Bonnie roxo e diferente, e uma Chica sem as bochechas coradas. Franzindo a testa, a menina viu também uma raposa vermelha pirata em um dos desenhos.

Claro, ela sabia que aquela não era a primeira pizzaria e que haviam outros animatrônicos, mas Lancy não conhecia nenhum deles; tudo que sabia era que aquelas versões de animatrônicos que ela via no palco eram as versões 2.0 dos outros animatrônicos, os quais ela não conhecia mas já ouvira falar.

Entre esses desenhos, ela encontrou algo ainda mais interessante: outro desenho, só que esse era o de um coelho e um urso amarelos, juntos, cantando perante algumas crianças vestindo roupas verdes. Aqueles dois ela definitivamente não conhecia. Já ouvira falar de um tal de Golden Freddy, mas... será que existiria um Golden Bonnie?

E foi perdendo-se nos pensamentos curiosos que a pequena Lancy não percebeu quando algo aproximou-se dela por trás, encarando-a.

–Olá, garotinha. Aonde você vai indo?

A menina virou, o encarando. E, por mais que a mãe alertasse-a para não conversar com estranhos, Lancy não pôde evitar. Perante si, a loira contemplava um enorme urso, dourado como o que acabara de ver no desenho de uma das crianças.

–Hey, que carinha é essa? Como você se chama, pequena? –uma vez que não obteve resposta, o urso amarelo continuou –calma, não precisa ter medo de mim. Sou o Golden Freddy, e hoje é dia de aniversário!

–G-Golden Freddy! -a menina arregalou os olhos de oliva, a boca abrindo-se com a surpresa. Então aquele era Golden Freddy! -C-como você sabe que hoje é o meu aniversário? –indagou, desconfiada, apesar da alegria repentina que a tomava. O urso pareceu pensar por um instante, como se não esperasse por aquilo.

–Oras, sou o Golden Freddy, sei de todos os aniversários de todas as crianças boazinhas como você, e vim só para te ver! Não quer um bolo de aniversário?–Golden Freddy pareceu sorrir, e Lancy pôde imaginar um delicioso cupcake em suas mãos–Vamos, venha comigo! Golden Freddy tem uma surpresa para você!

A menina pareceu não acreditar –Sério?

–Claro, minha pequena... E te garanto... será uma surpresa que você nunca mais vai esquecer...

A menina de a mão para o urso, e os dois caminharam de mãos dadas, passando pelos corredores vazios, e a jovem acabou por não ligar quando percebeu um curioso tecido roxo escapar pelas mãos do urso dourado. Quando chegaram perto dos banheiros e entraram numa sala fechada por uma porta pesada no final do corredor, Lancy soltou a mão de Golden, piscando e encarando o lugar.

A sala era escura e fétida, e a única coisa que oferecia um pouco de luz àquela escuridão era a pequena lâmpada pendendo no teto alto, iluminando de soslaio o rosto da curiosa menina. Alguma coisa respirava pesadamente num canto escuro, mas a menina estava tão extasiada em finalmente receber um presente que nem prestou atenção nos barulhos e odores. E nem no objeto brilhante e afiado nas mãos do falso urso.

–Então, qual é a surpresa, Golden? –ela virou-se, sorrindo, mas ao invés de Golden Freddy, Lancy encontrou um homem vestindo roxo. A cabeça vazia de um urso dourado estava segura debaixo do braço do rapaz, e ele possuía uma afiada faca nas mãos.

A menina tremeu ao entender as intensões do homem, tropeçando para trás e caindo no chão, espantada; os olhos de esmeralda arregalados de medo e pânico. Aquele não era Golden Freddy, afinal.

O rapaz já caminhava em sua direção, pronto para alcançá-la. Lancy tentou fugir, arrastando-se pelo chão com os cotovelos o mais rápido que podia, ofegando de pavor, mas ele era mais rápido que ela. Agarrou seu pé ignorando totalmente os gritos que a menina dava e driblando totalmente seus chutes violentos, o homem sentou-se em cima de suas pernas, imobilizando-as embaixo dele. Gemendo de medo, Lancy encarou-o nos olhos, vendo as pupilas do segurança ficarem pequenas e seu sorriso maníaco aumentar cada vez mais. A menina tentou em vão afastá-lo com um tabefe, mas o homem conseguiu segurar suas mãos pelos pulsos fininhos e juntá-las, aprisionando-as dentro de seu punho forte. Com os ombros da garota totalmente imobilizados por uma das mãos e a faca no outro punho, o rapaz fitou-a dentro de seus olhos verdes, finalmente respondendo à sua pergunta:

–A surpresa... SOU EU.

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Enfiada dentro de uma caixa, o ser conseguia visualizar tudo aquilo. Ela podia ver o que acontecia com aquelas crianças, o mesmo que havia acontecido com ela mesma. Como ele as seduziu, perseguiu e matou sem piedade. Sem motivo algum. Talvez a vida tivesse acabado para eles, mas seu sofrimento seria eterno. Ela permanecia sozinha ali, fadada a dar presentes à todos, mas sem receber nenhum presente em troca.

Ela sempre quisera vingança pelo seu assassinato... Mas nunca tinha coragem de encarar aquele que a matou. Afinal, o que poderia ela fazer sozinha contra ele? Só que de repente um motivo para realmente encará-lo apareceu. Aquelas crianças precisavam dela. Será que ela poderia salvá-los?

Estava morta, dura e enfiada dentro de uma caixa. Nunca mais sentiu seu coração bater, então o que ela poderia fazer para ajudá-los? Tudo que poderia fazer era dar presentes... então seria isso que ela faria. Acenderia novamente a chama nos olhos daquelas almas quebradas; daria à elas uma nova chance de encarar aquele que matara à todos. Não precisaria fazer nada daquilo sozinha. Afinal, que injustiçado não iria querer uma revanche?