After the pain escrita por Neryn


Capítulo 35
Sorrisos disfarçados




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Eu e a Lyla estávamos realmente com fé naquele romance. Apesar de ainda não conhecer muito bem o Michael, ele transmitia uma boa impressão. Parecia ser uma boa pessoa e isso era tudo o Sarah precisava e merecia. Ela merecia alguém que cuidasse dela como uma flor rara que precisava de ser cuidada. Mas acima de tudo, precisava de sentir que alguém a amava profundamente.

Acho que no fundo eu me via na Sarah. Apesar de eu tentar a todo o custo disfarçar, ora com um sorriso ora com uma gargalhada, mas no fundo a minha alma gritava e as minhas feridas ardiam. Às vezes eu queria acreditar que um dia alguém me iria amar. Eu sei que apesar meu pai não ter sido um exemplo enquanto marido e pessoa não quer dizer que sejam todos assim. Mas por vezes é mais fácil acreditar nisso, é mais confortável. Não nos faz pensar no porquê, ajuda-nos a aceitar o facto que não nascemos para ter alguém do nosso lado.

Lyla e eu já nos tínhamos rido à conta disso, de sermos aquelas tias com 20 gatos sozinhas. Mas a verdade é que eu tinha medo de ser uma dessas pessoas. De nunca ter alguém que me amasse e que me fizesse sentir especial, que se sentasse comigo no sofá e se risse das minhas piadas ou então da minha gargalhada que era o mais provável. Que me sussurrasse ao ouvido que ia ficar comigo para sempre mas acima de tudo que fosse verdade. Tinha medo de uma vida solitária, que quando chegasse a casa apenas tinha as paredes para me ouvirem falar sobre o meu dia. Queria partilhar a minha vida com alguém que me amasse com a mesma profundidade. Seria bom ter uma pessoa para a qual sentíssemos que não precisávamos de mudar porque para ela somos perfeitas na nossa imperfeição.

– Alô! Está aí alguém? - pergunta Lyla batendo na minha cabeça.

– Uhm... está!

– Riley andas muito misteriosa!

– Eu? - Lyla foi interrompida por a confusão que se começou a instalar na sala devido ao movimento que começava a entrar. Nisto também entra o Andrew. Pareceu procurar-me por toda a sala e o seu olhar encontrou-me. Fiquei irrequieta. Não gostava que as pessoas olhassem assim para mim, fazia me questionar no que elas estavam a pensar. E vinham sempre coisas más coisas à cabeça. Mas aquele olhar era diferente. Transmitia paz, eu sabia que ele não me estava a julgar, pelo menos eu acreditava nisso, estava apenas a observar-me como se me achasse fascinante. Era bizarro o modo que o meu coração acelerava sempre que a sua presença estava no meu campo de visão mas ao mesmo tempo parecia que tudo à volta congelava. O sorriso de Andrew era muito bonito mas para além de bonito, era o mais belo que já tinha visto. Era um sorriso brincalhão misturado com alegria que era capaz de derrotar um exército inteiro. Como se tivesse o poder de me fazer perder noção de onde estava. Ficava totalmente perdida e sentia a necessidade de seguir o seu sorriso.

Aula de educação física. Seca.......

Fomos ao cacifo buscar os nossos sacos.

Quando chegamos ao campo todos os rapazes já estavam equipados e a maior parte já aquecia.

– Pessoal vamos fazer um aquecimento mais relaxante. Vou nomear duas pessoas que vão começar a apanhar e depois quem for apanhado também fica a apanhar. - diz o professor.

– Tipo cordão humano? - pergunta Andrew olhando para mim e depois pisca-me o olho.

– Mais ou menos, mas aqui não precisam de ficar de mãos dadas. - explica o professor.

– Ui! Agora é que isto complicou! - sussurra Lyla ao meu ouvido.

– Vamos lá? - desafia o professor e os meus colegas berram um "Bora lá!" - Então podem começar a apanhar Daisy e o Valentine. Comecem! - Quando estes começaram a correr começamos a fugir em todas as direcções. A certo ponto aquilo ficou tão confuso que andávamos todos aos encontrões para evitar sermos apanhados, até já me tinha separado da Lyla! Vi tudo em câmara lenta. Só senti um enorme impacto e cai de barriga desamparada no chão e bati com a cabeça no campo alcatroado, o que definitivamente não foi uma sensação para repetir. Senti um grande peso cair sobre mim o que fez ainda mais os meus ossos reclamarem. Mas quem é que tinha sido o brutamontes que... olho para trás e não podiam ser aqueles olhos verdes em que me costumo perder a fitarem-me. Desejei tanto que fossem outros olhos, mas a verdade é que nenhuns seriam assim tão bonitos. As suas mãos ladeavam a minha cabeça. E o seu rosto estava a escassos centímetros no meu. A sua respiração quente queimava-me o rosto.
– Uhm... Será que dá para saíres de cima de mim? - tentei manter a voz firme porque tê-lo tão perto estava a deixar-me completamente desconcentrada. Ele ia levantar-se mas foi impedido.

– Monte! - berra Lyla atirando-se para cima de Andrew.

– Au! Lyla és tão pesada que me vais esmagar! - digo eu dramaticamente e Lyla levanta-se e afastasse de nós sem antes me piscar o olho e dar um sorriso à Lyla. Ficamos nesta posição pouco tempo.

– Ahm... Desculpa... - disse levantando-se e estende-me a sua mão tentando ajudar-me a levantar, mas eu recusei.

–Riley, estás bem?- perguntou o professor.

– Sim... foi só que bati com a cabeça. - Disse pondo a mão na cabeça que me doía. Assim que olhei para a minha mão quase que dava o fanico. Um líquido vermelho manchava a minha pequena mão.

– Parece que precisas de ir à enfermaria. - diz o professor sem deixar margem para discussões - Andrew vai com ela!

–Não é preciso. Eu sei o caminho... - Andrew já me puxava para o seguir.

– Bem parece que desta vez a cabeça dura não te valeu de nada.

– Ahahah que piada! Já pensas-te em seguir a carreira de comediante?

– Mas parece que não foi forte o suficiente para te tirar o sarcasmo. Fogo que mau humor!

– Podes voltar para a aula. Eu consigo andar e da última vez que me lembro a enfermaria está no mesmo sítio por isso... - digo arrastando um poucos as palavras.

– Claro, claro! - riu-se.

– De que é que te estás a rir?

– Da última vez que fugiste de mim caís-te e eu tive de te carregar até ao hospital.

– Primeiro: eu não estava a fugir de ti... estava a tentar não perder o autocarro e segundo: só me carregas-te porque querias exibir-te para mostrares que tinhas força.

– O quê? Até parece... eu só fui cavalheiro!

–Sim, sim... Fia-te nisso!

– Custa assim tanto admitir? - diz ele sério.

– Admitir o quê? - já tinha perdido o fio à meada da conversa.

– Que eu sou irresistível! - conclui com um sorriso presunçoso nos lábios.

– Andrew não me faças rir que dói-me a cabeça! - Nisto entramos na enfermaria. Depois de o enfermeiro me tratar da cabeça( dentro do possível pois ainda haviam coisas que não podiam ser reparadas) Andrew continuou comigo.

– Custa assim tanto admitir que isso te está a doer? - pergunta Andrew reparando que já era a milésima vez que levava a mão ao sítio que me doía.

– Não está a doer.

– Teimosa! -disse parando e eu parei também.

–Parvo! - e assim começamos uma luta de insultos.

– Cabeça dura!

– Convencido! - ele aproximou-se e eu recuei.

– Mimado! - os olhos transmitiam uma emoção desconhecida. Uma mistura de raiva com algo que não sei...

– Inteligente! - diz ele e depois retira-se rapidamente.

"O quê? O que é que ele me chamou?" pensei para mim. Aquilo não era um insulto mas sim um elogio... de onde é que tinha saído isso?

Pov Andrew

Burro! Burro! Burro! Sou mesmo burro! Inteligente sério?! Não podia ser linda, maravilhosa, diferente?! De todos as qualidades que me passavam pela cabeça tinha de ser um misero inteligente que saiu?! Tinha a cabeça tão confusa...

–Andrew espera! - ouço alguém chamar. Era Josh. Depois do meu desleixo de chamar "inteligente" a Riley, tinha fugido o mais depressa que pude sem parecer demasiado suspeito -Então meu? Onde é que te metes-te?

– Em lado nenhum. - respondo seco.

– Estou a ficar maluco com isto tudo! - desabafa ele.

E isso inclui a Lyla? - digo eu.

– Pois inclui. - confirma surpreendendo-me.

– Ah ah! Eu sabia! - digo dando-lhe um leve murro no braço.

– Já agora que estamos numa de admitir... também podias admitir.

– Eu não sei Josh! Ela deixa-me baralhado. Os ponteiros da minha bússola ficam todos a atrofiados e eu perco o norte.

– Uou! Isso realmente soou piroso! - diz Josh torcendo o nariz o que fez com que recebesse um murro no ombro meu.- E que tal ir dar uma volta e depois passávamos no café?!!

– Qual aquele em que a Lyla trabalha? - pergunto arqueando a sobrancelha.

– Sim... - responde ele meio envergonhado.

– Por mim tudo bem! - dou de ombros e seguimos o nosso caminho com o meu melhor amigo sorridente ao lado. Passamos no café e estava cheio de gente. Avistamos Lyla e esta corria de um lado para o outro muito atarefada. Sentamos-nos e passado pouco tempo Lyla veio à nossa mesa para anotar os pedidos.

– Olá! -disse e perguntou o que queríamos baixando a cabeça envergonhada.

– Olá! - dissemos os dois, o meu companheiro mais envergonhado que eu e tal como Lyla baixou a cabeça.

– Para mim vai ser um sumo de laranja! - digo.

– E para mim pode ser um decafinado. - pede Josh finalmente levantando a cabeça e ele e Lyla encararam-se por muito tempo... mais do que é normal.

– Ok, trago já! - diz ela retirando-se rapidamente.

– Então... o uniforme fica bem à Lyla?- provoquei eu.

– Uhm... fica... - responde receoso.

Lyla rapidamente voltou com os nossos pedidos. Reparei que evitava a todo o custo olhar-nos principalmente para Josh. Quando ela ia entregar o decafinado ao Josh, eu resolvi dar um empurrãozinho e fiz com que sem querer ela entornasse o líquido quente na camisa de Josh. Ele até saltou o que contribuiu para a atrapalhação da pobre rapariga ficar ainda mais atrapalhada. Lyla fartou-se de pedir desculpa mas eu tinha a certeza que o Josh não tinha ficado chateado. Lyla volta para o balcão.

– Não te rias! Não tem piada! - assim que Lyla foi-se embora eu já não me conseguia conter e libertei as gargalhadas que insistiam em sair.

– Isso é o que tu dizes!

POV Lyla

Meu Deus! Que fui eu fazer?! Mas que desastrada que eu sou! Porque é que tinha que entornar o raio do pedido em cima de Josh?! Ok... acalma-te, os nervos não te levam a lado nenhum! Só de pensar no que fiz apetece-me bater com a cabeça no balcão. Ainda por cima ele tinha que estar a usar uma camisola que já revelava muito do seu cabedal e o descafeinado por cima foi ainda acentuar isso! Sinceramente... eu não mereço!

POV Andrew

Nisto a porta abre-se e vê-se o um nevoeiro de frio a entrar. Os meus olhos rapidamente reconhecem aquela pequena figura à porta. Estava com os seus cabelos longos soltos e estes caíam por toda a parte, um casaco castanho que eu achei insuficiente face ao frio que estava, umas calças escuras e umas botas castanhas e a sua pele estava pálida ainda mais pálida que o habitual devido ao frio e notava-se que o seu olhar estava cansado.

Apercebi-me que ela devia ter acabado o trabalho que também não me agradou pois Nova York não é propriamente uma cidade pacata, sobretudo à noite.

Riley dirigiu-se ao balcão para falar com a sua amiga e eu observava-a de longe. Mal ela entrara já eu tinha o meu olhar pregado nela.

Pov Riley.

–Riley, já não está na tua hora?- pergunta Charles.

–Sim já vou, estou só a acabar isto! - disse enquanto arrumava os últimos livros de um caixote numa prateleira. Sentia-me a desfalecer. Estava totalmente cansada e com fome. Assim que saí da livraria fui ver se Lyla já estava despachada. Estava realmente frio e ainda por cima o meu casaco estava em desvantagem face ao vento gélido que se fazia sentir. Abracei-me numa tentativa de preservar calor e resistir ao frio mas este era mesmo... frio! Assim que entrei no café o meu corpo confortou-se logo ao calor proveniente do espaço. Dirigi-me ao balcão mas Lyla mais parecia uma barata tonta.

–Então? - pergunto ao chegar à beira dela.

–Cheira-me que hoje não vou sair daqui tão cedo! -olhei em volta e fogo o café estava cheio. A verdade é que não faltava assim tanto para o Natal e o movimento já se notara. Sim, porque nestas alturas Nova York devia ter ainda mais movimento que o costume.

–Eu espero por ti e se for preciso ainda dou uma mãozinha! -Eu sabia que não adiantava pedir a Lyla para vir para casa porque eu sei que ela não ia deixar o Michael sozinho com todo aquele trabalho.

–Riley vai para casa. Estás a tremer de frio, já para não falar nessas olheiras de cansaço. - diz Lyla num tom sério que me surpreendeu.

–Eu estou bem! - insisto.

– E eu não preciso da tua ajuda! - rebate deitando-me a língua de fora enquanto pega na bandeja e vai levar o pedido até uma mesa.

–Bom saber...- disse eu fingindo-me de ofendida.

–Sabes perfidamente que não é isso!-Lyla responde e ri-se da minha cara de falsa amuada. Nisto sinto uma presença ao meu lado.

–Olá! - diz a voz já tão conhecida pelos meus ouvidos.

–Olá. - disse eu ao Andrew.

–Já acabaste o trabalho?- perguntou ele.

–Já! - limito-me a responder com monossílabos.

–Então eu posso levar-te a casa?! - foi meio que uma pergunta e uma ordem.

–Não é preciso!

–Obrigada Andrew! Assim fico mais descansada. - intervém Lyla

–De nada!

–Eu ainda não aceitei.

–Também não é preciso porque mesmo que não aceitasses eu arrastava-te para o carro.

–E tu? - perguntei eu a Lyla- Não me agradava nada o facto dela ter de ir sozinha para casa!

–Eu tomo conta dela!- pronunciou-se pela primeira vez Josh ganhando a atenção de todos e um rosto corado de Lyla -Quer dizer... eu posso dar te boleia Lyla- sugeriu Josh coçando a parte de trás da cabeça.

–Fico mas tranquila! - respondo e pisco o olho para Lyla.

–Vamos Riley? - pergunta Andrew que entretanto tinha ido pagar o seu lanche e tinha ido buscar o casaco.

–Ok vamos. -Despedimo-nos e assim que saí do café o meu corpo teve a reação contraria a que teve quando entamos no mesmo ambiente. Parecia que a minha pele gritava por desespero à procura de uma fonte de calor, por isso assim que Andrew ligou o carro eu quase que corri. Andrew apercebera-se que eu estava gelada e apressou-se a ligar o aquecimento. Em poucos minutos todo o interior do carro estava a uma temperatura bastante agradável. A viagem foi calada, não tínhamos muitos temas para conversar, até que eu decidi dar uma espreitadela à expressão facial do Andrew. Era inacreditável como ele conseguia ficar tão sereno a conduzir. Encarava fixamente a estrada, ambas as mãos estavam de uma maneira descontraída a segurar o volante. Estava vestido de uma maneira simples mas de certa forma rebuscada. Tinha uma camisola preta meia justa que lhe assentava perfeitamente bem, o cabelo estava perfeitamente alinhado. Às vezes sentia inveja de como era tão fácil para ele estar bonito sem praticamente fazer nada. Não é que eu perdesse muito tempo a tentar ficar bonita, é só que o meu cabelo estava sempre uma bagunça e às vezes sentia que a minha roupa nunca me haveria de ficar bem. Resumidamente a minha figura comparada com a dele devia ser no mínimo um caus.

–Perdes te alguma coisa? - quebra ele o silêncio.

–Ah? O quê?

–Estou a perguntar-te se perdes-te alguma coisa. Estás a fixar-me há muito tempo!- Virei a cabeça e senti me corar, bolas.

–Não sejas tão convencido! - tento disfarçar.

–Oh vá la essa palavra outra vez? Não tens nada mais original?! - diz encarando-me e dando-me um sorriso lindo de morrer. Não respondi pelo que ele me olhou novamente à espera de uma resposta mas como esta não saiu, ele prosseguiu.

–Vá lá! Diz o porquê de estares a olhar para mim... - insiste como um menino mimado que quer um brinquedo.

–Eu não estava a olhar para ti...

–Ai agora negas! Eu apanhei-te em flagrante...não vais responder? -acenei com a cabeça negativamente e ele apenas deu um sorriso de lado.

Quando cheguei a casa até parecia milagre. Deitei-me logo na minha caminha confortável. Ok... talvez não tenha sido logo pois primeiro! Comi alguma coisa, tomei banho, fiz alguns TPC e só depois tive o meu merecido descanso. Não consegui evitar que o Andrew me viesse ao pensamento. Porque é que os meus soldados baixavam a guarda tão facilmente na sua presença?! Eu detestava isso! Eu detestava ficar vulnerável, mas às vezes sabia tão bem tê-lo meu lado, não sei explicar, sentia-me apenas bem, protegida. De cada vez que eu tentava tapar os buracos da minha muralha, lá aparecia aquele sorriso e puf muralha abaixo. Ele fazia com que eu tivesse de estar constantemente a reforçar a parede mas sempre a deitá-la abaixo.


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