After the pain escrita por Neryn


Capítulo 36
Caminhos tortos da vida


Notas iniciais do capítulo

Boas pessoal! Espero que gostem. O capítulo longo e com uma nova personagem!



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Pov narrador

Depois da Riley ter ido embora, Lyla ficou sozinha. Não diria sozinha pois o café estava cheio mas... O Josh estava à sua frente e ela estava nervosa porque ele prometera leva lá a casa. Michael andava também numa roda viva. O ar exausto notava-se no seu rosto mas nem por isso ele baixava os braços face ao trabalho. Quando acabou Lyla estava morta de cansaço. Josh caminhou lado a lado com Lyla até chegarem ao seu carro. Lyla tal como Riley não se sentia bem estando perto de uma pessoa como Josh. Ele também vinha de uma família rica, tinha o seu próprio carro que era um bom carro, e isso deixava Lyla desconfortável. Não que o facto de não ser rica a envergonhasse, simplesmente tinha medo que ele não a visse com os mesmos olhos.

– Lyla sabes que isto não vai resultar não sabes?

–O quê? - perguntou desprevenida.

– Isso de trabalhares à noite como uma doida em dia de aulas? Tu não és de ferro nem a super mulher. - "Se bem que és mais bonita que ela" pensa Josh para ele.

–Eu sei, mas enquanto durar vou aproveitar.

–Tu estás a morrer de sono e cansada!

–Eu sei. Mas a vida não está fácil, os meus pais estão com problemas a nível financeiros e eu tenho de ajudar com tudo o que posso - era difícil para Lyla falar sobre isso, mas com Josh ela não sentia que lhe devia mentir. -Como estão as coisas com a Tracy?-Josh pareceu ficar pensativo.

– Normais... - Respondeu encarando a estrada.

– Hum...gostas mesmo dela não gostas?- Josh engoliu em seco e respondeu.

– Sim...-Lyla acreditou, e ficou mais triste ainda.

– Porquê essa pergunta?

–Apenas curiosidade. - Lyla indicou-lhe onde ficava a sua casa.

–Uhm... Lyla será que eu podia ficar com o teu número? - pergunta Josh completamente embaraçado e envergonhado.

–Não sei, talvez a Tracy não ache assim tanta piada. - Lyla responde dando um sorriso triste saindo do carro.

Pov Michael

Ontem foi uma noite para esquecer. Como não falta assim tanto para o natal, as ruas andavam mais movimentadas, ou seja, ainda mais confusão do que o habitual o que é óptimo para o negócio e às vezes consigo ganhar mais gorjetas e é sempre bom. Mas por outro lado fico todo partido.

Quando cheguei a casa já passava da meia noite. Abri a porta sem fazer barulho porque não queria acordar ninguém principalmente Bella, a minha irmã mais nova. A senhora Johnson já devia ter ido para sua casa pois independentemente das horas a que chegava, ela esperava acordada. Detestava deixar a minha irmã sozinha mas a verdade é que com a escola e o trabalho, não podia ficar com ela e era um alívio a minha vizinha poder tomar conta dela. A senhora Johnson já é uma senhora reformada juntamente com o marido cujos filhos e netos se encontram no estrangeiro. Ela conhece-me desde pequeno e por isso sabe que não disponho da possibilidade de lhe pagar, por isso toma conta da minha pequena de graça. Fui a cozinha e tinha um prato de comida em cima da mesa. A senhora Johnson tinha feito o jantar. Era como uma segunda mãe para mim.
Comi e depois passei pelo quarto da Bella. Abri a porta cuidadosamente e logo avistei uma pequena elevação debaixo dos cobertores. O seu corpo pequenino repousava na pequena cama de madeira. Aproximei.me e percebi que ela estava embalada num sono profundo. A sua respiração era pesada. A sua boca estava entreaberta e apenas a respiração se fazia presente no quarto. O seu cabelo loiro fino estava espalhado pela almofada. Depositei um beijo na sua testa e dirigi-me para o quarto. Tomei um banho e finalmente deitei-me.

Acordei como todas as manhãs com o barulho irritante do despertador e fui acordar a Bella para se preparar também.

– Dorminhoca... toca a acordar! - digo mansamente ao seu ouvido.

–Não quero...- resmungou com voz de sono.

–Aí não? Então vou ter que comer aqueles cereais que tu adoras sozinho. - Ela levantou-se de um salto quase me fazendo cair da cama.

– Não, eu também quero!

–Então prepara-te!

Fui para a cozinha preparar o nosso pequeno almoço. Bella apareceu com um vestido azul e um casaco comprido. Tinha as suas botas pretas preferidas que eu lhe tinha oferecido. O seu cabelo loiro estava preso num grande rabo de cavalo. Estava orgulhoso de ela se ter tomado uma mulherzinha, era praticamente independente no que toca a arranjar-se. Por mais que eu tentasse que não lhe faltasse nada eu sabia que lhe faltava o mais essencial, a presença de uma figura materna na sua vida. Mas tentava pensar que um dia tudo se ia resolver mas a verdade é que essa esperança se começava cada vez mais a desvanecer. Eu praticamente lutava para que a cada dia a minha mãe não fosse despojada do hospital, mas a verdade é que o dinheiro não se multiplicava e por vezes os meus recursos dignos não chegavam. Mas no que dependesse de mim a covardia não faria parte do meu ADN e todos os meses iria conseguir pagar as contas da casa e as do hospital.

– Em que estás a pensar mano?- a voz de Bella acordou-me do meu transe.

– A pensar no quanto a minha pequenina tem crescido.- digo indo até ela e apertando a sua bochecha. Bella fez um biquinho e baixou a cabeça.

–Oh... pensei que tivesses a pensar na tu namorada. - baixei-me ao seu nível e pus uma mecha solta do seu rabo de cavalo atrás da orelha.

– Por enquanto és a única mulher da minha vida.

–Mas eu gostava que tivesses uma namorada. Assim ela podia brincar comigo!

–Eu também posso brincar contigo...

–Mas os rapazes não gostam lá muito de brincar às bonecas! - Depois de lhe dar um beijo na testa sentei na sua cadeira e ambos tomamos o pequeno almoço em silêncio. Posteriormente, como todas as manhãs fui levá-la à escola. No recreio crianças brincavam animadas numa algazarra ensurdecedora, mas estavam felizes, o que era de fazer inveja.

Fui para a escola e tudo estava como o habitual. As pessoas agrupavam-se por tipos, quase como todas as escolas. Não sei se as diferenças eram tão acentuadas mas ali eram: havia o grupo dos populares (que incluía as raparigas da claque, os atletas) e depois o grupo dos nerds, grupo do pessoal de artes, equipa dos computadores, do clube de livros, etc. Eu não sei onde é que eu encaixava mas nos populares não era de certeza. Dantes fazia parte da equipa de andebol da escola, mas depois aconteceu o que aconteceu e eu tive de fazer algumas escolhas. Tive de abdicar da equipa pois com os trabalhos à noite praticamente não tinha tempo. Cansado como ficava nem estava concentrado nos jogos nem no trabalho nem nas aulas. O treinador estava sempre a dizer que eu era uma mais valia na equipa e nunca percebeu o porquê de eu ter desistido assim tão repentinamente. Mas a equipa está bem entregue, um tal de Andrew entrou na equipa no ano seguinte e atualmente é o capitão. Joga muito bem e parece ser porreiro. Nunca o vi a tirar proveito da popularidade, o que é estranho. Todas as raparigas o adoravam, principalmente nos jogos em que só berravam o nome dele mas ele não parecia interessado.

Entrei na escola e encontrei algumas raparigas que segredavam. Examinei as minhas roupas a ver se tinha alguma coisa, mas não tinha nada e decidi ignorar. Atravessei o corredor e fui em direção ao meu cacifo para pegar alguns livros. Avistei uma rapariga ao fundo do corredor que também remexia no seu cacifo à procura de algo. Tinha o cabelo apanhado numa trança que lhe caia simetricamente no meio das costas, algumas mechas de cabelo mais rebeldes caiam-lhe pelo rosto. Usava óculos e tinha pele clara, estava vestida de um maneira diferente. Não usava saia nem vestido como a maioria, estava a usar umas calças de ganga de tom azul escuro. Estava a usar um casaco verde escuro e calçava umas botas pretas. Parecia do género tímida. Apesar de não o querer, chamou-me à atenção não só por ser uma rapariga muito bonita mas também por não me ser estranha foi então que ela olhou para mim. Congelei ao reconhecer aquele olhar, aqueles lábios, aquela expressão...

– Sarah? - falo em voz alta. Ela virou costas e foi embora deixando-me ali a pensar se era mesmo ela ou se era uma partida do meu subconsciente. Sou tão estúpido! Claro, assustei-a de certeza. Fechei o cacifo com violência irritado comigo mesmo. Fui para a minha aula que ficava no mesmo sentido para que a rapariga loira tinha fugido. Quase que adormecia na aula de história. A verdade é que eu até gostava de historia. O passado intrigava-me. O modo como a nossa sociedade se construiu e como evoluiu ao longo do tempo até ao que é agora. As conquistas, as guerras, os acordos de paz, tudo contribuiu para o mundo em que vivemos e o que me intriga mais são as coisas que as pessoas foram capazes de fazer para o seu benefício. Pessoas que passavam de humanas a desumanas num abrir e fechar de olhos, que não se importavam com o outro, que só porque alguém roubava um pedaço de pão, dizimava uma aldeia toda, que começavam uma guerra só porque não gostavam do vizinho. Mas agora estava tão cansado que tive de bater no meu rosto para não me deixar adormecer.

Estava a caminhar para o jardim quando ouço:

–Michael?! - virei-me instantaneamente e vi Lyla de queixo caído.

– Olá!

– Não sabia que andavas nesta escola! Se soubesse já andava a chatear-te à muito tempo! - diz Lyla começando a rir-se.

– Digo o mesmo! - Burro! É claro que se a Sarah andava naquela escola a Lyla e a Riley também! Conversamos mais um pouco até que apareceu a Riley com um largo sorriso. Saudou-nos e ficamos a conversar por breves instantes e a rir. Depois segui para a aula de matemática. Não voltei a ver Sarah nem as outras duas (mas principalmente Sarah) o resto da manhã. Queria falar com ela mas eu sei que não ia ser fácil.

No final das aulas fiquei um pouco mais na sala a pedir ao professor de biologia se podia estender o prazo do trabalho que era para entregar daqui a dois dias e eu mal tinha começado. Tive que lhe explicar que estava a trabalhar à noite e que ficava complicado. Para minha sorte o professor aceitou mas disse que ia alterar a data para todos para ser mais justo. Agradeci-lhe e saí da sala. Ia a passar pelo corredor já quase deserto pois toda a gente devia ter ido embora até que ouvi um choro vindo da casa de banho das raparigas. Decidi ver o que se passava pois alguém podia estar a passar mal e não ia simplesmente abandoná-la lá! A porta estava trancada.

– Alguma coisa não está certa! - bati à porta e chamei - Quem esta aí? - a resposta obtida foi silêncio seguido de uns sussurros. Parece que o choro estava a ser abafado. Tinha um mau pressentimento -Abram a porta ou eu vou arrombar! Não estou a brincar. Vou contar até três: 1...2... - Já ia quase a completar a contagem quando a porta abre-se revelando três raparigas lá dentro, mas nenhuma estava com ar de choro ou algo parecido e por isso franzi a sobrancelha desconfiado -Está tudo bem meninas?

–Claro que está! Quem é que tu pensas que és para entrar assim na casa de banho feminina? - pronuncia-se a rapariga ruiva. De cada lado encontravam-se as outras duas raparigas: à sua esquerda uma loira baixinha e à direita uma da sua altura morena.

–Pareceu-me ouvir...- sou interrompido por um soluço de choro vindo de uma casa de banho fechada. É claro! Como é que não me lembrei disto antes?! Quem quer que estivesse a chorar estava fechado na casa de banho. Hoje não estou nas minhas melhores condições de raciocínio! Deve ser do cansaço... -Quem é que está ali dentro? - invado a casa de banho feminina empurrando as três raparigas que faziam uma barreira.

–Oh... é apenas a nossa amiga que está a sofrer de um desgosto amoroso. Coitada! - aquilo suou muito a mentira. - Nisto ouço alguém a bater à porta da casa de banho trancada desesperada. Tentei ajudá-la a destrancar a porta mas uma mão agarrou a minha. Tive de me conter para quase não bater na ruiva que me agarrava. Virei-me para trás e lancei-lhe um ar ameaçador e ela dava-me um sorriso cínico.

– Se me voltas a tocar, vais ficar sem dentes e depois já não podes rir assim. - voltei-me novamente para porta e quando dei por mim já se tinham ido embora. A porta demorou a abrir pois a fechadura não estava no melhor estado. Assim que abri a porta vi uma rapariga deitada no chão da casa de banho a chorar encolhida completamente desfeita em lágrimas. A sua roupa estava cortada, os seus livros espalhados pela casa de banho, o seu telemóvel partido ,as mechas soltas da sua tranca estavam coladas ao seu rosto devido as lágrimas. O seu estado era deplorável, mas eu não conseguia ver isso. Apenas uma rapariga frágil e desamparada. Nem por um momento ela me encarou. Ajudei-a levantar-se agarrando-a pela cintura. As suas pernas estavam bambas de tanto tremer. Segurei-a e guiei-a até ao lavatório. Não sabia o que fazer ou dizer pelo que decidi ajudá-la sem pronunciar uma palavra que fosse. Eu já estava habituado a cuidar de uma rapariga pois desde cedo comecei a cuidar da minha irmã. Peguei em lenços e comecei a limpar-lhe o rosto e as feridas. Apanhei as suas coisas e o que sobrou do eu telemóvel e guardei tudo na sua mochila. Cedi-lhe o meu casaco uma vez que o seu estava todo cortado por uma tesoura e ela substituiu o seu casaco cortado pelo meu azul. Claro que lhe ficava enorme... por momentos desejei segurá-la nos meus braços mas tive medo de a assustar. Queria olhá-la nos olhos e dizer-lhe que estava tudo bem. Era estranho eu pensar assim em relação a uma rapariga quase desconhecida, mas a verdade é que eu detestava injustiças e atos de covardia. Quando achei que era melhor falar perguntei-lhe:

–Está bem? - perguntei eu segurando o seu rosto entre as minhas mãos, foi mais forte do que eu, e quando me apercebi já o seu olhar desprevenido encarava o meu. Os seus olhos vermelhos marejados continuavam a parecer o mar. O azul por de trás daquela água dava-lhes um brilho intenso. De repente ela solta-se das minhas mãos agarrando a sua mochila que eu tinha colocado em cima do lavatório e saiu da casa de banho, deixando-me sozinho. - Espera! - ainda tentei alcançá-la mas já era tarde demais. Ela já se encontrava fora da porta da escola. Fiquei a encarar o meu reflexo no espelho, frustrado apenas com aqueles olhos presos na minha memória.

Saí da casa de banho lembrando-me que hoje a senhora Johnson tinha uma consulta e por isso não podia tomar conta da minha irmãzinha. Já tinha perguntado ao meu patrão e ele disse que não havia mal nenhum em levar a Bella até lá.

Assim que cheguei à sua escola, ela já estava à minha espera.

– Demoras-te mano!

– Eu sei! Desculpa princesa, mas o mano teve de fazer umas coisas.

–Que coisas? -perguntou curiosa. Achei melhor contar-lhe já que ela era a minha pequena confidente.

–Tive de ajudar uma pessoa.

– Uma rapariga? - pergunta com um brilho adorável nos olhos.

– Hum...sim. - não havia razões para mentir à minha menina, certo?

– Como um príncipe?

– Mais ou menos...

– É bonita?

– Muito! - apesar de nunca o ter admitido achava Sarah linda. Tudo nela desde os seus cabelos loiros rebeldes, os olhos azuis, o sorriso e até os óculos era lindo. Bella sorriu ao captar a minha reação.

– Posso conhecê-la? - pergunta esperançosa.

– Ela não falou muito com o mano por isso...

– É hoje que vou contigo para o teu trabalho?- tentou mudar de assunto.

– É.- Bella já me tinha pedido imensas vezes para que eu a levasse para o café, mas eu achava que aquilo não era o melhor ambiente para ela. Não que fosse muito mau... mas às vezes as pessoas bebiam demais, especialmente à noite e eu não queria que ela tivesse que assistir aquilo. Por isso tentei sempre evitar que ela lá fosse, mas hoje era praticamente impossível. Ainda para mais ia sair tarde.

Bella e eu caminhava-mos de mão dada. Quer dizer... eu andava e ela saltitava tomando balanço dos meus braços, ela parecia estar em pulgas. Cheguei um bocadinho atrasado e Lyla já la estava a atender clientes. Assim que entrei ela sorriu-nos. Bella sorriu para ela também e depois olhou-me como que tentando perceber quem era ela. Fui vestir-me e sentei Bella numa cadeirinha num cantinho mas perto de mim.

– Quem és tu?- perguntou Lyla sorrindo-lhe.

– Bella!

– Olá! Eu sou a Lyla e tu deves ser a irmã do Michael.

– Sim! E tu és a namorada do meu irmão? - pergunta a minha irmã inocentemente.

– Não! - responde Lyla - O teu irmão já está reservado para outra! - Lyla pisca o olho para Bella arrancando gargalhadas dela - Bem, apresentações feitas. Minha menina, agora não penses que te escapas dos trabalhos de casa. Toca a fazê-los enquanto eu te preparo algo.

– Posso comer um gelado?

– Desculpa Bella mas não. Sabes que pode fazer mal... - respondo. Detestava contrariá-la mas a minha veia de irmão super protetor falava mais alto.

– Oh! - diz Bella entusiasmada. Lyla piscou-lhe o olho novamente e eu não percebi.

Comecei a trabalhar. Não sabia se haveria de contar a Lyla o que se tinha passado com a Sarah... por um lado queria contar-lhe mas por o outro tinha medo que Sarah ficasse chateada.

Pov Lyla

Quando o Michael disse à irmã que ela não podia comer gelado, pisquei-lhe o olho e assim que Michael começou a atender clientes, eu meia que escondida dei-lhe um chupa. Bella pareceu radiante. Eu fiz-lhe sinal com o dedo como que a dizer segredo e ela deu-me um beijo molhado na bochecha. Depois continuei a trabalhar.

Pov Michael

– Mano, já acabei os trabalhos!

– Que queres fazer agora?

– Não sei...

– Hum... Michael, porque não a deixas ir ter com a Riley. Aposto que ela vai arranjar uma maneira de a entreter, além disso ela adora crianças. - sugere Lyla.

– Ahahah, deve ser por ela ainda ser uma! - digo e ambos nos rimos.

– Sim... sim! - saltou Bella para o meu colo.

– Não sei se te deixo ir... - respondo-lhe fingindo-me de manhoso e ela lança-me o seu famoso olhar irresistível.

– Vá lá... eu faço tudo o que tu quiseres!

– Então... já sei! Quero um beijo! - Bella deu-me um beijo. Um beijo pegajoso. Espera lá... pegajoso?! Bella já estava no chão e do outro lado da rua - Bella, chega cá! - ela voltou e do seu bolso espreitava um pauzinho de um chupa - Onde conseguis-te esse chupa? - Bella olhou para Lyla e estas trocaram um olhar cúmplice. Conheciam-se à menos de um dia e já eram cúmplices no crime... - Diz-me que não o roubas-te! - Bella baixa a cabeça envergonhada e com medo que eu a pusesse de castigo.

– Não Michael, ela não roubou. Fui eu que lho dei. Não te preocupes. - diz Lyla.

– Ainda bem! - digo sorrindo e Bella levanta a cabeça com um sorriso maroto. Bella correu a dar outro beijo a lyla e depois seguiu para a livraria eu fiquei a vigiá-la da porta do café.

Pov Riley

Estava a arrumar uns livros que tinham chegado novos e devo dizer que apetecia-me roubá-los quase a todos. A porta abre-se e entra uma menina pequenina, que mais parecia um anjinho travesso.

– Olá! - disse ela.

– Olá. - esperei que ela continuasse.

– Sou irmã do Michael e ele e a Lyla disseram que eu podia vir ter contigo!

– Ah! Disseram?

– Sim... disseram que tu gostavas muito de crianças porque também ainda eras uma.

– Ai sim... - aqueles ... a falar mal de mim! Ainda por cima a uma criança! Eles vão ver como elas mordem.

– Como te chamas? - disse eu contornado o balcão.

– Bella! - responde sorridente.

– Presumo que já saibas o meu nome.

– Sim! És a Riley! És tu que és a namorada do meu irmão? - pergunta com tamanha inocência própria de uma criança e eu quase que me engasgo.

– Não. O teu irmão já está reservado para outra rapariga. E ela é muito especial.

–Eu sei... o meu irmão é o rapaz mais especial do mundo! - responde orgulhosa do seu irmão.

Nisto recebo uma mensagem do Michael:

"Desculpa ter enviado essa peste para aí, por favor toma conta dela. Eu prometo que depois pago-te o lanche."

E eu respondi:

"Hum... estou a contar com isso. E quero extra compensação de vocês os dois por andarem a passar informação enganadora sobre mim! :P"

– Que queres fazer? - viro-me para a pequena rapariga que já se sentara num dos caixotes cheios de livros por guardar.

– Não sei. Eu posso-te ajudar... não me importo.

– Hum... eu ia começar a trabalhar nas decorações de natal. Queres ajudar? - pergunto baixando-me ao seu nível.

– Sim, sim! - responde entusiasmada aos saltinhos.

– Ufa! Já arranjei uma ajudante! - digo e agarro as suas bochechas bolachudas - Então, vai ser assim: eu vou buscar as caixas à arrecadação e já venho. Não saias daqui ok? E se entrar alguém diz-lhe que eu já venho e chama-me ok? - Bella assentiu com a cabeça. Fui à arrecadação. Adorava decorações de Natal e assim que o senhor Charles me atribuiu essa tarefa quase que pulei de alegria. Assim que cheguei Bella ainda se encontrava no mesmo lugar. Pousei as caixas e observada por uma Bella sorridente.

– Vamos fazer assim: eu vou para cima da escada e tu chegas-me as coisas pela ordem que achas melhor. - digo e Bella começa aos saltinhos de alegria.

– Está bem!

Nisto entra o Caleb. Até perdi o sorriso.

– Onde está o meu avô?

– Boa tarde.- disse eu carrancuda.

– Como queiras! Agora responde-me.

– O teu avô saiu e não disse a que horas voltava. - Não tinha reparado, mas Bella estava escondida atrás de mim. Caleb bufou.

– Quem é essa? - Bella olhou para mim como que a dizer para eu não lhe contar.

– É a minha prima. - Caleb não pareceu interessado e virou costas indo-se embora. Bella saiu de trás de mim.

– Ele é assustador! - eu ri-me. Isso não os descrevia bem.

– E tu ainda no viste o mais assustador! - digo. Armei a escada e comecei a pendurar o que Bella me passava. - Bella podes-me ir buscar a tesoura que está algures no balcão? - Ela foi. Estava a tenta pôr uma fita mais longe e estava apoiada num só pé. Estava tão entretida que nem ouvi a porta a abrir. De repente a escada fugiu-me e eu perdi o suporte. Ia cair quando alguém me apanha.

O meu corpo aterrou nos seus braços e os seus olhos fixaram-me como que se estivesse a repreender-me.

– Tu não tens mesmo amor a tua vida, pois não? - pousou-me.

– Oo-brigada. - digo gaguejando. Bella caminhou até nós dando-me a tesoura.

– Olá! Eu sou a Bella! - diz estendendo a sua mão pequenina para cumprimentá-lo.

– E eu sou o Andrew! - apresenta-se apresentando a mãozinha pequenina dela. Era uma cena adorável! Andrew com a sua mão grande e musculada a "comer" a mãozinha de Bella.

– A Riley é tua namorada? - pergunta.

–Hum...não. - responde constrangido olhando para mim.

– Mas tu és o príncipe dela! Salvaste-a! - conclui como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

– Bella... o Andrew já tem a sua princesa, e não sou eu. - estava mais para bruxa mas Bella não precisava de ter pesadelos. Bella pareceu ficar desiludida.

– Vieste dar-me um sermão sobre a minha segurança, mais uma vez, ou vieste fazer alguma coisa de útil? - pergunto ríspida.

– Pensava que já tínhamos ultrapassado a fase da rispidez! - diz piscando o seu olho para mim - Por acaso vinha comprar um livro para a Kelly. Ela faz anos amanhã e eu estava a pensar em oferecer-lhe um livro. Ela gosta muito de ler.

– E sabes o que lhe vais oferecer ou ainda não tens ideia?

– Tinha esperança que me pudesses ajudar! - diz fazendo um olhar de cachorro irresistível.

– Homens! Tiveste sorte! Acho que tenho ali o livro ideal. - disse eu lembrando-me de um livro que tinha acabado de chegar que era a história de um cão abandonado. Parecia ser interessante e o género de Kelly.

– Acho que ela vai gostar - disse Andrew examinando o livro.

– Espero que sim.

Andrew não disse nada mais relevante e depois saiu. Enquanto isso, Bella observava-nos curiosamente e com um brilho intenso no olhar.

Pov Michael

Estava preocupado com o facto de estar a ficar tarde. Detestava ter de sujeitar Bella a instabilidade que era a minha vida. Eram 10 e meia da noite e ela já devia estar a dormir.

De repente entra Riley, no café, com Bella no seu colo a dormir com a cabeça apoiada no seu ombro. Riley tinha-lhe posto um cobertor que a cobria contra o frio. Caminhei até ela e Riley passou aquele pequeno corpo para os meus braços.

– Obrigada por teres tomado conta dela! - agradeço segundando o seu pequeno corpo com todo o carinho que nutria por ela.

– De nada. Ela não deu trabalho nenhum. Antes pelo contrário! Ajudou-me e ainda me fez companhia.

– Daqui a nada saio.

Nisto sai Lyla pronta para ir embora.

– Já estou pronta! Vamos! Até amanhã Michael! - diz Lyla. Ambas saíram, não antes de darem um beijo no anjo que dormia profundamente. Passado algum tempo o meu patrão apareceu e viu a minha irmã adormecida no sofá.

– Michael, vai-te embora e leva a menina para dormir. Eu fecho isto! - ao ouvir as suas palavras só me apetecia abraçá-lo a ele e à sua barriga rechonchuda.

– Obrigada senhor... - tirei a farda às pressas e dirigi-me a Bella para lhe pegar ao colo. Assim que ia a sair o meu patrão falou:

– Ah! Só mais uma coisa Michael! O carácter de um homem não se vê pelas mulheres que conquista, mas sim por aquelas que ele cuida. - assenti e saio do café. Deitei Bella no banco de trás da minha carrinha e comecei a viagem para casa.

tinha comprado uma carrinha pick-up assim que consegui juntar algum dinheiro com aquilo que poupava do salário, das gorjetas e de alguns biscates que fazia. Não era uma carrinha luxuosa mas era minha amiga porque não consumia muita gasolina e como os meus horários era meios esquisitos era mais prático e ainda dava para transportar alguma carga que às vezes o meu patrão me pedia para ir buscar para o café.

Assim que cheguei a casa fui deitar Bella e depois finalmente descanso.

Felizmente a minha irmã já tinha jantado. Riley tinha-a levado jantar a um restaurante com comida decente. Pelo menos era nisso que eu tentava acreditar e fez questão de lho pagar. O nosso café não servia jantares nem almoços.


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Notas finais do capítulo

Então?? Gostaram??
Até o próximo!
bjs :D



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