After the pain escrita por Neryn


Capítulo 11
Médico de Família ao serviço




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"- Vamos ou queres deixar mais alguém passar à frente?"

– Ok. - ele aproxima-se de mim e pega-me novamente ao colo. Encostei a minha cabeça ao seu peito e fechei os olhos embalada pelos batimentos cardíacos do seu coração tentando ignorar a dor que estava cada vez mais presente. Quando dei por mim já estávamos a entrar no consultório do tal doutor Logan. O consultório era grande com uma secretária e cadeira no canto esquerdo e uma cama no canto direito de frente para a porta. As paredes eram brancas e possuía várias janelas sendo bem iluminado por luz natural. Ao lado da porta encontrava-se um armário que deveria conter medicamentos e produtos para tratar feridas.

–Olá, dever ser a Riley se não me engana - pergunta o doutor estendendo-me a mão como forma de cumprimento e com um sorriso nos lábios.

–Sim. Olá - digo eu, retribuindo o cumprimento de mão timidamente acompanhado de um sorriso. Desvio o olhar para Andrew mas este observava-me curioso e sussurra com um sorriso triste:

– És capaz de dar um sorriso a um estranho, mas a mim nem uma boa palavra me dás!

– Tenta disfarçar melhor os ciúmes. Olha que és comprometido - respondo eu sussurrando ao seu ouvido e com um sorriso divertido nos lábios.

– Sou o doutor Logan, mas podes apenas chamar-me por Logan. Hum... vejo que estranhamente tens o peluche que eu dei meu paciente anterior. Hum... não me vais dizer que o roubaste de uma pobre criança!? - interrompe o médico a onda de sussurros entre Andrew e eu. O sorriso ainda não tinha abandonado o seu rosto. O doutor fazia-me lembrar alguém: as suas feições eram-me familiares tal como o seu sorriso, mas não consigo assemelhar a quem.

–Não! - respondo eu nervosa - é uma longa história - Andrew solta uma gargalhada bem sonora enquanto me pousa cuidadosamente numa cadeira.

– Bem, é uma pena que não tenhamos tempo para ouvi-la. - diz Logan num tom desiludido - Ouvi dizer que caíste e que pode ser uma possível entorse.

– Sim - eu estava tão nervosa que limitava-me a responder em monossílabos.

– Espero que o Andrew te esteja a tratar bem... - agora Logan desvia o seu olhar para Andrew que olhava ele com um sorriso travesso.

–Hum...acho que sim - eu estava atónica. Ele conhecia Andrew, por isso é que fomos atendidos tão rápido! Andrew ria-se, estava divertido com a minha confusão e expressões faciais e ,Logan junta-se a ele na risota deixando-me de parte sem perceber o que se estava a passar e com cara de tacho.

– Riley - diz Andrew. Logan aproxima-se dele a passos largos e passa a mão por trás dele pousando no ombro de Andrew. Eles eram quase da mesma altura só que Andrew era ligeiramente mais alto - este é o meu irmão. - fiquei de queixo caído com esta revelação.

– Ah - estava explicada a cunha e as parecenças. Ele era ainda jovem, devia ter saído da faculdade de medicina à pouco tempo, tinha cabelo loiro mas mais escuro que o de Andrew, os olhos eram castanhos claros e tinha um tom de pele moreno.

–Vamos lá ver o dano - Logan saí da beira de Andrew e aproxima-se de mim, ajoelhando-se diante o meu pé e começa a examiná-lo. Ele começou a apertá-lo para avaliar os estragos e magoou-se e apetecia-me chorar mantive-me forte e proibi-me de largar uma lágrima que fosse.

– Andrew, peço desculpas antecipadas e espero não te estar a dar cabo da vida ou coisa parecida - Logan diz num tom preocupado e inspira fundo - mas tu não disseste que a tua namorada era ruiva!? Estás a ficar daltónico?

–Oh - apresso-me a responder antes que Andrew falasse qualquer coisa - eu não sou namorada dele.

– Ok, mas se fosses o meu irmão era um rapaz cheio de sorte - o jovem médico sussurra ao meu ouvido o que deixou Andrew desorientado e eu corada e sem saber o que havia de dizer. Hoje não param de me sussurrar ao ouvido! Se calhar é melhor meter proteções nas orelhas! Tinha medo que eles percebessem o quão desorientada eu estava e que eles interpretassem tudo mal. Enquanto ele continuava a analisar o meu tornozelo, para me distrair começo a observar a sala com uma visão mais atenta e na secretária encontro uma foto emoldurada com uma rapariga com cabelos longos e ondulados castanhos, sardas no nariz e por baixo dos olhos que eram de cor avelã e ela encontrava-se a sorrir num jardim com um cão parecido com o peluche que Ben me tinha dado.

– Quem é? - perguntei apontando para a moldura e arrependendo-me logo de seguida e repreendendo-me mentalmente pelo meu atrevimento e curiosidade. - Desculpa, não tenho nada a ver com isso e peço desculpa pelo meu atrevimento - digo eu evitando contacto visual com o médico.

– Engraçado... - Logan solta uma leve gargalhada - o Ben perguntou o mesmo. Vocês são muito parecidos.

– Não tem que responder, se não quiser. - digo eu completamente envergonhada.

–Não, não há qualquer problema. É a minha namorada Kelly e aquele é o Sven. E antes que perguntes, sim. É como a rena de Frozen. Foi ela que escolheu o nome por causa do filme.

–Como é que o encontraram? - pergunto involuntariamente.

– Encontrámos-lo abandonado no parque e tinha a pata esquerda frontal partida e não conseguimos resistir ao seu olhar que nos derreteu completamente. Decidimos ficar com ele e levámo-lo a um veterinário. Se vocês vissem como a minha namorada ficou de mau humor a noite toda a matutar em como alguém era cruel ao ponto de fazer aquilo a um pobre animal.

– Agora que falas na Kelly, fizeste-me lembrar alguém - Andrew pisca o olho para o irmão e ambos se voltam para mim. Eu nem tinha dado conta, estava a processar aquela história na minha mente.

– Ainda hás de me contar essa história - diz Logan para Andrew.

– Eu sei, eu prometo - confirma Andrew.

– O quê? - pergunto eu desnorteada. Já tinha perdido o fio à meada da conversa.

– Nada! - respondem os dois em uníssono e riram-se.

– Pronto, já está. Torces-te o tornozelo. Já pus uma liga em volta e deve estar com dentro de duas semanas. Até aconselho-te a andar de muletas para não pores demasiado peso em cima do teu pé. - explica Logan tentando ser o mais claro possível. - Preciso que tomes estes comprimidos. São para as dores. E quero voltar a ver-te para a semana, só para ver se está tudo bem e se o osso está a sarar corretamente e não precisas de fazer um raio x.

– Ok.

– Agora, vê se tomas bem conta dela mano!

Andrew vem ter comigo e diz:

– Não te preocupes mano. Ela está em boas mãos - e balança-me no seu colo.

– Doutor, não se preocupe. Eu não preciso que tomem conta de mim - respondo eu a Logan recebendo uma língua de fora por parte de Andrew.

Ele volta a pegar em mim pela milésima vez, só hoje, e eu não conseguia evitar ficar envergonhada e sentir-me mal, muito mal.

Voltamos para o carro e o processo de me meter dentro do carro repetiu-se.

– Onde moras??

– A 11 kilometros daqui. Segue sempre pela estrada principal que eu aviso-te quando for para virar.

– É mais fácil se introduzires a tua morada no GPS. - ele aponta para um pequeno objeto à beira do volante. Eu nem tinha reparado que ele existia mas já era de esperar que ele tivesse um. E conforme ele disse, assim o fiz. Assim nem era preciso que eu lhe desse indicações. Acabei por adormecer com o pé magoado esticado e o outro dobrado em cima do banco e com a cabeça encostada na janela. Senti-me a ser levemente abanada e estes abanões tornavam-se mais fortes conforme a minha resistência a acordar.

–Ei, já chegamos - ouço Andrew chamar num tom de voz baixo e calmo. Abri os olhos e deparei-me com a sua cara muito próxima da minha e todos os meus movimentos não passavam despercebidos pelos seus olhos verde-esmeralda. Ele estava dobrado sobre o carro estando uma mão apoiada no capo do carro e a outra no lado do banco do condutor .

–Oh... - devia ter adormecido por causa dos efeitos dos analgésicos. Malditos efeitos secundários.

–Tens alguém em casa? - pergunta Andrew ainda com a voz baixa e suave.

– Sim, tenho. Obrigada pela boleia - disse virando-me para a porta do carro e pondo as pernas de fora apoiando-as no passeio.

– Só um pequeno pormenor... como é que pensas ir sozinha se nem consegues por-te de pé? - pergunta Andrew arqueando a sobrancelha esquerda.

– Vou ligar à minha mãe e pedir-lhe que venha cá baixo.

–Não, deixa estar que eu levo-te. A tua mãe provavelmente está cansada do trabalho e não vais acordá-la enquanto ela descansar - eu nem quero pensar na reação da minha mãe ao ver o meu pé neste estado. Se calhar vou ter que voltar ao hospital mais cedo do que pensava com o ataque dela...

E assim, sem permissão da minha parte Andrew pega em mim como se fosse um saco de batatas, fazendo-me soltar um pequeno grito e ele uma risada devido à minha reação. Ele agarrava-me pelas pernas, estava dobrada sobre o seu ombro e o meu peito batia nas suas costas e os meus braços balançavam livremente. Enquanto ele caminhava eu dizia "Põe-me no chão" e batia nas suas costas com as mãos fechadas mas claro sem aplicar muita força (não que eu tenha muita, mas era para não deixar marca e depois a Jenny pensar outras coisas), mas ele ignorava as minhas ordens e ria-se.

Como não valia a pena lutar mais porque já sabia que não ia resultar, entrego-lhe as chaves do prédio e ele abre a porta de entrada.

– Em que andar moras? - pergunta ele e a sua voz faz eco no corredor.

– Moro no último. - respondo eu apoiando os meus cotovelos em seus ombros e a minha cabeça nas minhas mãos. Ele entra no elevador e clica no botão destinado ao 7º andar. Neste prédio o último andar era um dúplex e sorte a minha quando moro nele. A viagem de elevador foi calma e nenhum de nós disse uma palavra. Quando chegamos ao 7ºandar, Andrew abre a porta:

– Vira à esquerda e segue pelo corredor. - dou-lhe as indicações e ele assim o fez.

Quando nos aproximamos da porta do apartamento, esta abre-se sozinha e ouve-se alguém resmungar:

– Mas que pouca vergonha vem a ser esta?


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