Aprendi que manter a calma em momentos desesperadores era essencial. Quando me vi naquela cela fedorenta, notei como minha calma poderia me ajudar. Então, chamei Lory, que estava na cela ao lado. 
        -Ei, idiota. Você viu o ultimo jogo da Lufa-lufa contra a Corvinal?

O tonto do meu amigo levou umas duas horas para me achar na escuridão.

 - Hã... Vi. Foi legal. Vencemos bonito!

Finalmente ele entendeu a ideia, e logo, éramos dois loucos discutindo quadribol no escuro. Foi bem ridículo, mas logo estávamos tão distraídos que já riamos bobamente por qualquer comentário que um de nós dois fazíamos. Quase que eu não ouvi o grito do Thommy.

 - Gente! Gente! GENTE! Fiquem quietos, temos que sair daqui.

 -É, eu percebi.. - Murmurei irritado. Porém, ouvi uma voz feminina que não era nem de Maya, nem de Vivian. Depois um barulho de explosão e a luz forte invadiu meus olhos. Depois, notei que minha cela estava aberta, e todos saiam de celas iguais as minhas, igualmente perdidos assim como eu. 

 - Vamos fugir.

Eu encaro Seth.

 - Isso tá na cara. Se esforce mais. - Digo.

Então algo acontece. Tommy grita para que "alguém" se abaixe. Eu não entendi quem ele se referia. Então vi a menina que nós tínhamos encontrado antes, junto com aquele tal de Obscurem. Era ela que o Thommy tinha mandado se abaixar.

Um relâmpago acerta a parede aonde eles estavam. Então, a garota: Maile. Tenho que ficar relembrando o nome dela, que chatice. Bem, ela passou correndo por mim, então Thommy a seguiu. Logo todos corríamos atrás dela. Mesmo no escuro ela sabia aonde estava seguindo, era impressionante. Eu esbarrei no pé de alguém. Achei que fosse Seth, mas infelizmente era a Vivian. Espero que ela não tenha visto eu corar.

Chegamos em uma parte sem nenhum teto do castelo. Lá tinham umas formas estranhas. Pareciam cavalos negros, mas feitos de... Sombras. 

Morri de medo, claro.

 - O que são essas... coisas?! 

 - Tá com medo, amiguinho? - Debocha Seth.

 - Você não? - Diz Maya, uma das raras vezes que estava de boca aberta. Dei uma risadinha interna.

  - Vamos - Diz Thomas, sua voz estava tentando ficar firme mas, como todas as vezes que ele está com medo, parecia que meu amigo estava prestes a desmoronar em vários pedaços.

 - Sério? O que é isso? - Vivian estava de olhos arregalados. Ela fica bonita até desse jeito. Tenho que parar de pensar nisso.

Maile aproximou-se sem medo algum. Ela acaricia um dos cavalos, e faz um gesto. 

 - Vocês vão vir ou vão aguardar nosso anfitrião chegar?

Eu me viro para Thommy.

 - Podemos confiar nela? 

 - Temos escolha?

 - Vocês vão vir? - Era Lory. Embora fosse meio lerdo, ele era o garoto mais corajoso que eu já conhecera, as vezes, eu o invejo. Ele já estava montado em um dos cavalos.

 - Acho que sim - Diz Maya sorrindo nervosamente. Por mais que o irmão dela fosse um completo imbecil, ela era legal. Caminhou até Lory e subiu no cavalo ao lado dele. Vivian foi também, eu e Seth disputando quem chegava primeiro. No fim, subimos quase ao mesmo tempo nos cavalos. A sensação era a mesma de estar em cavalos normais. Eu me agarrei em uma sombra que achei que fosse a crina do cavalo. Maile era a única que não estava em cavalo nenhum. Ela ficou olhando atentamente para a porta que eles haviam vindo. Vários homens vestidos de preto chegaram segurando suas varinhas. Só naquele momento eu percebi duas coisas:

—Eu e todos estávamos com suas varinhas. Podíamos simplesmente ter usado magia.

— Os homens que nos alcançavam eram comensais da morte. Deveria ser impossível, mas ainda assim, eram eles com toda certeza. O avô de Thommy acabou com isso quando matou aquele-que-não-deve-ser-nomeado. Agora aqueles caras estavam de volta... eu e meus amigos não temos chance com eles.

Maile subiu em um cavalo e fez um gesto com as mãos. Todos os cavalos subiram aos céus ao mesmo tempo. Bem na hora. Os homens de negro lançavam feitiços em nós. Eu saquei a varinha mas... Algo aconteceu. Não consegui mandar feitiço algum. Mais que grande porcaria.

Então chegou aquele tal de Obscurem (Sério, que droga de nome é esse?), ele era extremamente assustador. Ele lançou uma jarrada de luz verde com a varinha. Todos estavam com o mesmo problema do que eu. Exceto Maile. A garota entrou de frente com o feitiço e o evitou. Ela gritou algum feitiço, mas com o vento abafando suas palavras, eu não ouvi nada. Só o que vi foi um jato negro saindo da varinha dela. Aquele jato acerta bem em cheio no rosto do nosso inimigo.

Então nós fugimos de lá, voando naqueles cavalos negros estranhos.