Talvez Seja Mais do Que Isso escrita por HeyNick


Capítulo 6
Capítulo Seis




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/607437/chapter/6

Capítulo Seis

 

Poseidon

Encarando a casa branca a sua frente, Poseidon se perguntava qual o sentido de fazer terapia para se livrar de seus inúmeros problemas e acabar adquirindo ansiedade.

Pensando como investidor, talvez compense em quantidade, pensou, suspirando. E era, de certa forma, verdade. Foi ao consultório com um problema em mente mas, após se ouvir falando, percebeu que tinha muitos outros. Claro que o arquear de sobrancelhas de Gabriela também foi muito sugestivo no processo.

Poseidon estava há quase uma semana fora de casa. Se tivesse seguido o cronograma de viagens a negócios como deveria, contudo, demoraria mais uma e meia para voltar.

Segurando o puxador de sua mala, as palmas das mãos suadas apesar do frio, observava sua casa e se perguntava se estaria fazendo a coisa certa. Ainda poderia dar às costas e sair. Atena jamais descobriria que tinha voltado.

O moreno sorriu, a cena tão familiar.

Ele tinha chegado à cidade ontem e ido direto para sua sessão de terapia. Quando terminou, foi para casa, apenas para ficar a observando de longe, e decidir que não poderia entrar. Após uma noite de sono em um hotel aleatório onde tomara um ótimo café da manhã – há quanto tempo não tomava café da manhã, inclusive? Ainda mais com pãezinhos de queijo, bolo e ovos. Ficou feliz -, aqui estava novamente.

Poseidon pensou em sua infância. Em quando seus irmãos mais novos estavam o enlouquecendo e em quando sua mãe esteve doente. Ele costumava sair e ir à praia perto de sua casa, uma das menos exploradas da região. Muitas vezes era arrebatado por um frio cortante em meio a penumbra, enquanto fazia sua caminhada relativamente longa, porém conhecida. Quando enfim chegava, sempre tirava logo suas roupas e entrava, nunca se permitindo sentir a temperatura da água antes de dar um mergulho.

Sentia medo de que se o fizesse, perderia a coragem para fazer o que precisava.

Com seu coração palpitando no peito, ele suspirou. Sabia que era a mesma coisa. Sabia o que precisava fazer. Puxando a mala, percorreu a grama molhada, ignorando a calçada de piso branco, e entrou em casa.

 

Atena

Atena suspirou, encarando a tela do computador. Estava esperando há três horas pelo inevitável, mas nada. Simplesmente nada. Já era um costume, quando Poseidon chegava de viagem, ir atormentá-la. Sempre com desculpas inconvincentes, ele aparecia para... ela não sabia, honestamente. Tentar fazê-la arrancar as orelhas, provavelmente. Será se Van Gogh tinha um Poseidon? Pegou-se pensando.  

— Talvez ele já esteja satisfeito por hoje em sua missão de “fazer da mina vida um inferno” – disse para si mesma, pensando em quando ele chegara em casa. Ela estava entretida escrevendo, aliviada por enfim estar dentro do cronograma que fizera, suas tão amadas planilhas coloridas em dia.

Talvez por isso tenha ficado mais irritada do que assustada quando escutou as portas da frente sendo abertas no andar de baixo.

Ela franziu as sobrancelhas, achando estranho. Chegou a pensar que poderia ser Camille, aparecendo para ver como ela estava, quando ouviu o barulho das inconfundíveis rodinhas. Passando de irritada a possessa, levantou-se e foi até a sala.

— Poseidon?!

Ele estava trancando a porta, os dois cachorros pulando aos seus pés, como sempre. Atena trincou o maxilar, irritada.

— Querida!

Ahn?! Foi tudo que Atena conseguiu pensar, em choque. Ela o observou subir as escadas e vir em sua direção, a situação piorando quando ele a abraçou pela cintura e beijou sua bochecha. O que está acontecendo?

— Mas o que você...?

— Sim, querida, eu sei. Desculpe-me, mas o meu voo foi cancelado ontem e só tinha outro para hoje de manhã.

Atena lembrava-se de ter levantado o queixo, pronta para confrontá-lo, mas seus músculos logo se retesaram, entendendo o que acontecia. Apesar da vontade que sentia de exibir seu vasto vocabulário de palavras indignas de serem proferidas na TV aberta, de algum modo, não fazia sentido brigar com ele por algo que não era sua culpa.

Apesar de tudo, ainda era justa. Não que ele tenha a mesma consideração por mim, pensou.

— Poseidon, não tem mais ninguém em casa – disse ela, sentindo-o soltá-la de leve. Pareceu demorar uma eternidade até que o moreno enfim terminasse de se desvencilhar, seus olhos verdes cheios de um descontentamento contido.

Um leve asco sobrepujou Atena, que se pegou pensando que talvez devesse sim ter brigado com ele, pelo simples fato de que seria mais fácil.

— Por que você está sozinha aqui? – perguntou ele, um leve tom de... “preocupação”, talvez, na voz. Ela nunca sabia ao certo.

— Não quero a companhia de ninguém – disse, encarando-o. O mais direta que sua educação lhe permitia.

— Bem, isso não vai ser um problema. Vou para meu quarto – disse ele, dando-lhe as costas e puxando a mala.

— Espera, você vai ficar? – perguntou a loira, encarando as costas dele sob a camisa preta.

— Claro que sim.

Atena começou a segui-lo pelo corredor, intrigada.

— Até quando?

Poseidon virou-se para ela quando chegou à porta de seu quarto, escorando no batente. Ele franziu o cenho, pensando.

— Não sei ao certo ainda. Provavelmente segunda-feira.

— Mas amanhã é nosso aniversário de casamento – disse ela, como se isso explicasse tudo que queria dizer, mas que não conseguiria sem fraquejar em sua postura altiva.

— Eu sei. Inclusive, te pego às sete. Não se atrase.

— Ahn? Me pegar onde? Pra que?

— Espertinha, você já foi mais sagaz – Poseidon disse, brincalhão, e Atena não sabia se ela estava franzindo o cenho pela menção do apelido há muito esquecido ou pela situação toda. - Eu te pego na porta do seu quarto, para nosso encontro.

Poseidon simplesmente se virou e entrou em seu quarto, fechando a porta atrás de si, como se alguma coisa do que disse fizesse algum sentido.

— Bem, pelo menos agora eu sei como aquele insolente se sente sempre que bato a porta na cara dele – Atena disse para si mesma, ao despertar de seu devaneio.

A loira suspirou, decidindo que tudo o que precisava era de um copo d’água, então salvou o documento e desligou o computador. Gostaria de dizer que não entendia como pudera ter se enganado tanto com uma pessoa, mas a verdade é que não estava surpresa. Não esperava, contudo, que Poseidon fosse sentir tanto prazer em fazê-la sofrer.

 

Poseidon

Poseidon não era burro. Sempre soube – afinal, era óbvio - que Atena ficaria furiosa em vê-lo em casa. O que o surpreendeu, entretanto, foi chegar e saber que não tinha mais ninguém por ali.

Enquanto organizava suas coisas, ficou pensando se seria saudável ou não para sua “preocupação exacerbada” (como Gabriela chamou) ligar para alguém e buscar saber o porquê Atena estava sozinha. Acabou decidindo que não era uma boa ideia.

Você precisa começar a cortar os comportamentos que alimentem esse estado. Não vai ser fácil, e nem sempre vai conseguir fazer isso também. Sugiro que vá começando aos poucos, com comportamentos pequenos e simples. – disse Gabriela.

Não sei se quero deixar de me preocupar com ela – Poseidon respondeu, sem graça, a almofada voltando a parecer muito interessante.

— Não vai – ela tinha respondido simplesmente, com um sorriso gentil no rosto. – Ela é uma pessoa importante para você. Sempre vai ser. É impossível não se preocupar. Esse comportamento só precisa voltar a ter proporções normais e saudáveis, para você não se sentir mal, e ela não se sentir sufocada.

Foi com isso ainda em mente que ele parou em frente à porta do quarto de Atena, hesitante. Pensou que poderia bater e conferir como ela estava, apenas pelo costume, mas sabia que precisava parar com isso. Será se conseguiria dar um passo tão grande ainda hoje?

Poseidon se assustou. Seu celular vibrava em seu bolso, o sobressaltando. Ele pegou o telefone, decidindo que aquilo era alguma ajuda do destino para que ele fizesse o que precisava.

 

Atena

Atena abriu a porta do quarto e passou pela sala de TV no andar de cima, vendo que Poseidon não estava ali e que a porta do quarto dele se encontrava aberta. Franzindo o cenho, ela desceu as escadas.

Logo que pisou no último degrau, se deparando com o hall principal da casa, não resistiu em olhar para todas as direções, apenas para encontrar tudo vazio. Acabou indo até cozinha, se servindo de um copo de água com gelo.

Aonde esse crápula foi...? – Pensou alto.

Por que ele ainda não tinha ido estressá-la? Não que ela reclamasse por isso, ao contrário, mas o que o levaria a fazer algo que ia tão contra os princípios que ela tinha certeza de que ele cultivava (afinal, que explicação mais lógica para o comportamento dele poderia haver)?

O pensamento de que ele poderia ter mudado quase a fez rir. Se isso tivesse acontecido, ele se quer estaria naquela casa.

Começou a fazer o caminho para voltar ao seu quarto, os dedos mexendo impacientemente em seu pingente, como já era hábito. A corrente que usava subitamente arrebentou em suas mãos, a despertando de um transe. Atena olhou para frente, através da porta de vidro dos fundos do hall, com vista para a área da piscina. Na parte coberta, viu uma luz acesa.

Acabou saindo pela porta da frente e contornando a casa, achando que seria mais discreta. Afinal, não tinha intenção de ser vista. Apenas queria saber o que estava acontecendo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Probleminhas a parte, eu amo o Poseidon dessa história ~ suspira ~
Gente, estou chateada com o Nyah!. Sempre escrevo meus capítulos no Word e depois colo nas postagens aqui, mas o site começou a mexer com toda a diagramação, como colocar o texto inteiro em negrito ~ choro ~. Alguém sabe se tem como mudar isso?
Enfim, esse capítulo é cheio de minúcias sobe o relacionamento dos dois hihi. Adorooo. O que estão achando???



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Talvez Seja Mais do Que Isso" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.