Talvez Seja Mais do Que Isso escrita por HeyNick


Capítulo 7
Capítulo Sete


Notas iniciais do capítulo

E voltamos a nossa programação habitual...
Como vão vocês, meus amores?



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Capítulo Sete

 

Poseidon

Talvez Poseidon não devesse ter atendido aquele maldito telefone; talvez irritar Atena fosse a coisa certa a se fazer; talvez ele devesse ter comprado um casaco mais quente; talvez tirar a cadela de cima da mesa fosse uma boa ideia, mas todos esses mistérios permanecerão ocultos pelo resto da eternidade.

— Bruce, eu já disse... – Poseidon tentou repetir.

— Você já disse e eu já escutei. Agora me escute – Bruce o interrompeu. Poseidon um dia pararia para pensar e, tão simples quanto sentir o gosto de sal quando se mergulha no mar, descobriria que odiar Bruce fora uma das missões mais fáceis de sua vida. Encarar o rosto dele na tela do celular, entretanto, estava sendo um grande sacrifício. – Eu tenho certeza que esse empreendimento vale a pena. A área já é minha, mas eu preciso dos seus equipamentos e da sua influência na região. Eu só estou te pedindo que você tire um ou dois dias para vir até aqui e fecharmos um contrato.

Poseidon suspirou. Ele já estava perdendo a paciência.

— Não me interessa se você tem ou não certeza sobre essa maldita área. Entenda: é o meu aniversário de casamento. Eu não vou sair de casa, de perto da minha esposa, por nada.

— Este contrato pode te render milhões de dólares!

— Foda-se!

— Poseidon!

— Pinga, fale para o Bruce o quão me lixando eu estou para a proposta dele.

Poseidon virou o celular para sua cadelinha, Pinga, que estava sobre a mesa. Sua pequena começou a lamber a tela, e logo depois Poseidon ouviu o grito de nojo e raiva que Bruce deu. Gargalhando, desligou o celular e o colocou de lado.

— Muito bem, garota!

Whisky começou a latir no chão ao seu lado, enciumado. Poseidon ponderou sobre colocar seu destruidor de jardins sobre a mesa também, mas imaginava que sua sogra teria uma premonição do ato e viria esganá-lo no mesmo instante. Com um longo suspiro e um bagunçar de cabelo, acabou decidindo que o melhor a se fazer era colocar Pinga no chão também.

— O que vocês acham? O que eu fiz com Bruce foi maldoso? – ele olhou triste e cansado para os dois cachorros, que o encaravam com seus grandes olhos e suas cabecinhas levemente inclinadas para o lado. Whisky abanou o rabo, provavelmente pensando que se tratava de alguma brincadeira do dono. – Mas o que eu posso fazer, cara? O mundo é um lugar cruel.

 

Atena

Atena ponderou sobre a ideia tentadora de dar meia volta silenciosamente e retornar para o conforto de seu quarto, agora que sua curiosidade estava saciada. Pegou-se, contudo, fazendo uso da filosofia de Camille. Afinal, se não havia portas, não era bisbilhotar...

Então, ela apenas observou a cena, até que o maior desastre que poderia lhe acometer aconteceu: ela sorriu.

Ela Sorriu.

Atena não poderia ter sorrido. Quem no lugar dela o faria?

A loira se recostou na parede, escutando a conversa de Poseidon com a pequena Pinga.

 – Mas o que eu posso fazer, não é mesmo? O mundo é um lugar cruel.

Atena sorriu diante do que ele dissera, mas dessa vez não se culpou por isso. Poseidon estava certo, afinal. Assim, o sorriso dela foi feito da mesma substância que as palavras dele: uma profunda tristeza.

 

Poseidon

Poseidon encarou seus dois companheiros por um tempo, pensativo. Ele se lembrava de quando chegou com Whisky em casa pela primeira vez. Há um ano, havia o achado na rua e ele não passava de um filhote com cerca de quatro meses. Poseidon se encantou assim que viu o emaranhado de pelos caramelos sobre o cachorrinho serelepe, que começava a desenvolver a desconfiança advinda dos mal tratos do ambiente em que vivia. Não teve escolha a não ser leva-lo para casa consigo, pensando que seria uma ótima ideia dar a Atena uma companhia.

Quando chegou em casa naquela noite fria, deparou-se com seus sogros na sala, fazendo companhia a Atena. Não estava surpreso, na verdade. Já se acostumara com a presença deles às sextas-feiras. Não estava habituado, no entanto, com o raro sorriso estonteante que tomava o rosto de sua esposa na ocasião.

Somente aquilo já seria suficiente para mexer com o moreno, mas ver Atena ser iluminada pelo fogo foi arrebatador demais. A pele de seu colo estava exposta pela blusa, a luz quente e amarelada tornando tudo extremamente convidativo. Os cachos loiros pareciam chamas caindo sobre seus ombros. Em meio a tanto amarelo bruxuleante, o cinza de seus olhos foi dominado pelo azul.

Em meio a sua confusão, Whisky escapou de seus braços, correndo pela sala. Ele foi direto pular no colo de Diego, o pai de Atena, que achou tudo adorável. O cachorrinho (na época ele era pequeno, afinal) abanava o rabo, feliz, e acabou derrubando o copo de whisky que seu sogro tomava.

— Ei, isso é cristal! E esse jogo foi um presente de casamento meu – disse a madrasta de Atena, irritada. A raiva pelo animal começando a se instaurar.

Poseidon olhou para Atena, que não disse nada, mas ocultava um sorriso da situação.

Por fim, Diego ficou tão tocado e feliz com o gesto, que logo depois lhes deu também Pinga (porque, obviamente, os nomes precisavam combinar), sob o preceito de que Whisky precisava de algum com quem brincar. Claro que Poseidon desconfiava de que o sogro tinha feito aquilo apenas para suprimir a vontade de ter um cachorro e não poder, mas aquilo era outra história.

Poseidon sorriu com a lembrança, apesar de seus planos não terem funcionado como o esperado. Atena gostara dos cachorros, mas nunca demonstrou verdadeira afeição por nenhum deles. Basicamente, a presença deles não fazia muita diferença para ela.  

Foi ainda pensando sobre isso que Poseidon viu Pinga correr até uma Atena escondida perto da parede.

— Oi – disse ela, abaixando-se para cariciar atrás da orelha da cadelinha.

— Olá – disse Poseidon, surpreso. Ele já tinha ponderado sobre explicar a ela o motivo de estar ali, e acabara decidindo que não valia a pena. Agora, ao vê-la ter a iniciativa de procura-lo, perguntava-se se tinha feito a coisa certa ou não.

Algo sério provavelmente tinha acontecido, dado o milagre.

— Não quer sentar? – Poseidon perguntou por fim, indicando a cadeira ao seu lado com a cabeça, meio incerto sobre o que fazer.

Eu nunca cheguei nessa parte antes, pensou ele.

— Estou bem aqui.

— Sabe, o que vou dizer pode ser meio clichê, mas... Bem, foda-se. “Eu não vou te morder”.

Poseidon a viu andar lentamente até a cadeira ao seu lado, desconfiada. Atena acabou se sentando, e observava tudo que estava ao seu redor, fazendo um ótimo trabalho ao desviar os olhos de Poseidon. O desconforto dela era nítido, assim como a possibilidade de acabar decidindo que toda aquela área precisava de uma reforma.

O que estava acontecendo, afinal?

— Há quanto tempo você esteve ali? – perguntou Poseidon.

— O suficiente.

Poseidon sorriu, debochado:

— Obrigado pela frase feita.

Ele voltou a olhar para baixo, pelo simples fato de que não saberia o que faria se a vice revirar os olhos. A atitude começara a ser interpretada dubiamente por seu cérebro há tempos: antigamente, um gesto travesso de cumplicidade; hoje em dia, um de raiva e desprezo.

— Eu... Bem, é melhor minha mãe não saber que Pinga esteve em cima da mesa.

Poseidon sorriu.

— Você tem razão. É melhor que ela não saiba.

Poseidon levantou o olhar para Atena novamente, descobrindo que, agora, ela quem mirava a mesa. Ele observou seus cachos louros presos, e pensou no quanto ela provavelmente gostaria de estar escondendo seu rosto sob eles.

— Já parou para pensar no porquê você falou com Atena sobre ter filhos, mesmo sabendo que ela não iria aceitar? – Gabriela perguntou.

Eu só... Não sei — disse Poseidon. – Acho que só queria adiar o fim iminente do nosso casamento, na verdade.

— Eu acredito nisso, em partes – Gabriela disse, um arquear de sobrancelhas sugestivo e um sorriso no rosto. – Mas acho que possa ter mais por trás dessa atitude. Você tem um senso de dever muito grande com ela, e uma vontade absurda de protege-la e, portanto, vê-la feliz. Sendo assim, concorda comigo que não faz sentido querer prendê-la em algo que a machuca? Então, procure refletir: por que você fez isso?

Tenho medo de deixa-la sozinha, Poseidon percebeu.

— Atena – chamou ele. – Desculpe por nossa última conversa. Você está certa. Não faz sentido termos filhos só pelo o que o outros poderiam pensar.

Atena o olhou, pasma. A testa franzida em confusão como poucas vezes o moreno tivera o privilégio de ver.

— Além do mais, – disse ele – os casais estão esperando cada vez mais para ter filhos, e você é mesmo muito nova. Duvido mesmo que os outros criem tipo com isso.

Atena assentiu levemente, os olhos mais acinzentados que de costume. Poseidon gostaria de tê-la surpreendido mais vezes, afinal.

— Obrigada – disse ela, levantando-se antes de ir embora.

Enquanto observava Atena se retirar, com uma expressão confusa estampada no rosto, outra frase de Gabriela não lhe saia da cabeça: não consigo entender. Se ela te odeia tanto, por que nunca pediu o divórcio?


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Notas finais do capítulo

Meu pai disse que pinga e whisky não combinam, porque juntos resultam em uma ressaca do caramba... mas eu adorei a combinação dos nomes ¯_(ツ)_/¯



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