Talvez Seja Mais do Que Isso escrita por HeyNick


Capítulo 4
Capítulo Quatro


Notas iniciais do capítulo

Após algumas tentativas e bugs do Nyah, segue para vocês um capítulo tenso hihi



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 Capítulo Quatro

 

Poseidon

Poseidon entreabriu a porta do quarto de Atena, encontrando-a adormecida sobre o lençol branco. Seus cabelos, dourados como o sol ao amanhecer, esparramados sobre os travesseiros.

Ele escorou o ombro no batente da porta, a observando. Esse já era um hábito antigo. Poseidon receava que só o alimentava por esse ser, atualmente, o único momento em que ela não lhe demonstrava desprezo. Contudo, gostava de fingir para si que era apenas um reflexo obsessivo do quanto gostava de “I don’t want to miss a Thing”, do Aerosmith.

Mas, de todo modo, não é como se ele se importasse com o motivo.

A vontade de Poseidon era de se aproximar, de lhe acariciar a pele macia do rosto, quem sabe deitar ao seu lado e sentir seu aroma até pegar no sono, com os cachos lhe fazendo cócegas durante a noite. Todavia, sabia que não poderia fazer isso.

Era sempre assim. Ele sentia vontade de fazer algo, mas se continha. Tinha de se conter.

— Atena Delicolli, a senhora ainda me levará ao colapso – disse ele para o nada.

Poseidon sorriu, (graças a Deus) não obtendo resposta. Descruzou os braços e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si.

Ele foi até o próprio quarto, pegou sua familiar - e nada hostil - mala dentro da parte superior do guarda roupas e começou a arruma-la.

***

O despertador tocou, assustando a Poseidon. Ele semicerrou os olhos e apertou o botão, fazendo o toque estridente parar. Com um bocejo, se perguntou o porquê colocara um tão alto e gritante, uma vez que acabava acordando assustado todas as manhãs.

O moreno repetiu seu “ritual matinal pré-viagem”. Levantou-se, desligou o ar condicionado, abriu a janela e sentindo a revigorante brisa fresca. Tomou um banho, colocou o terno, fechou a mala, pegou sua carteira e o celular e os colocou no bolso.

— Modo sistemático on – murmurou para si.

Com um suspiro, olhou para o relógio,

— Dez para às sete. Ainda está cedo demais.

Ele foi até a sala e sentou no sofá, olhando a parede, e pensando que talvez deveria adquirir alguns dos hábitos de Atena. Como, por exemplo, começar a ter um livro sempre à mão. Talvez comprasse um Kindle. Seria prático.

Ainda faltava uma hora e dez minutos para o horário combinado com o piloto e, uma vez que ele tinha de sair meia hora antes da partida do jatinho, ainda teria de passar quarenta minutos em casa.

Poseidon poderia ligar para ele, pedir para adiantarem o voo, mas achava que isso não seria justo. Afinal, o piloto não tinha culpa se Poseidon era um sistemático incurável que adora acordar às seis horas da manhã.

— Posso ajuda-lo em alguma coisa?

Poseidon desviou os olhos da parede, encontrando uma jovem, cujos cabelos ruivos parcialmente presos brilhavam com a luz que adentrava pela janela. Ela sorria, e Poseidon se perguntou o que a garota estaria fazendo no trabalho àquela hora. Atena deve ter pedido, talvez, embora ele não visse motivo para isso.

— Está tudo tranquilo, Camille. Não se preocupe.

A jovem fez um cumprimento com a cabeça e saiu, muito discreta, mas logo voltou, com uma expressão intrigada estampada no rosto.

— O senhor me desculpe, mas preciso perguntar: como sabe quem sou? Trabalho na sua casa há uma semana, e é a primeira vez que o vejo.

— Minha esposa te escolheu como companhia, e isso já é motivo suficiente para saber tudo sobre você, desde as suas notas no colégio até seus antecedentes criminais – Poseidon a viu abrir um sorriso desafiador, como se perguntasse se ele encontrou alguma mancha no histórico. Ele entendia, afinal, porque Atena a escolheu. Em menos de dois minutos, já percebeu que elas combinavam perfeitamente.

— Por Deus, pare de tentar atormentar a menina.

Poseidon ouviu a voz irritada de Atena na entrada da sala. Ele a olhou brevemente antes de se voltar à jovem novamente.

— Não estava tentando atormentá-la. Apenas respondi à pergunta que ela me fez - responde ele, na defensiva. – Agora, Camille, se você puder me fazer o favor de pedir ao motorista que coloque minha mala no carro, eu ficarei agradecido.

Logo que ele a perdeu de vista, voltou seu olhar para Atena. Ela estava apenas com seu robe de seda preto, o tecido encobrindo-lhe totalmente o corpo. O cabelo dourado estava solto e bagunçado, se destacando em meio a roupa escura.

— Precisamos conversar.

— Não precisamos. Você quer.

— Não. Nós realmente precisamos conversar.

Poseidon viu seu peito inflar e relaxar por baixo do robe. As sobrancelhas levemente arqueadas em surpresa. Sua mão subiu e começou a brincar nervosamente com o pingente em seu colar, provavelmente ponderando o que de tão importante aconteceu para ele falar com ela dessa forma.

— Sobre...? – ela decidiu perguntar, afinal.

Atena se sentou no braço do sofá. Estava mais calma e paciente com ele hoje do lhe era hábito.

— Filhos.

Ela o olhou, abismada. Seus olhos estavam arregalados, as sobrancelhas arqueadas, as mãos que mexiam freneticamente o pingente pararam de súbito. Toda Atena estava congelada em uma expressão de choque.

Ela simplesmente se levantou e virou as costas, indo em direção à saída. Poseidon se levantou e correu, tentando mascarar a dor que sentia quando se colocou no meio do caminho, a olhando. O que caralhos eu fiz para essa ideia ser tão repulsiva assim?

Ela levantou o olhar, em completa descrença.

— Não – ela disse, simplesmente.

— Atena, fique calma – pediu, com a voz mansa. De todas as reações para as quais se preparou (principalmente gritos de ódio ensandecidos), não esperava por isso. Desejou poder tocar os ombros dela e dizer que estava tudo bem, mas achava que o gesto não seria bem-vindo.

— Como eu poderia ficar calma? – ela murmurou.

— Olha, Atena, eu sei que parece loucura. Provavelmente é mesmo. Mas as pessoas estão começando a suspeitar. Aos olhos delas, nós temos uma vida perfeita e nenhum empecilho para termos filhos. O que você acha que elas estão pensando, ainda mais agora que estamos prestes a completar dois anos de casados?

O olhar de Atena estava compenetrado no chão, e ele deve ter esperado mais de dois minutos por uma resposta. Ele já tinha se convencido de que ela entrara em estado catatônico, e estava considerando ligar para Chris, quando ela respondeu:

 - Sou muito nova.

 - Atena, você se casou muito nova. As pessoas não vão considerar isso.

Ela finalmente levantou os olhos: dois redemoinhos de raiva.

— Poseidon, eu não vou ter filhos – ela respondeu calma, porém convicta. Definitivamente, nada de gritos histéricos.

— Atena, não estou dizendo que temos de fazer isso no método convencional. Sei que você jamais aceitaria. Nós podíamos tentar a inseminação artificial, se você se sentir confortável.

— Poseidon, você não está me entendendo – respondeu ela, séria. – Eu não vou ter filhos. Nunca.

Ele engoliu em seco e procurou em sua mente as palavras certas. Não as encontrou.

— Bem eu...

Atena olhou em seus olhos, e ele viu que de repente os dela começaram a marejar.

— Tchau, Poseidon.

Ela desviou dele, cabisbaixa, e começou a se retirar da sala. Atena andava praticamente se arrastando e seus dedos seguravam o pingente da corrente como se fosse a única coisa que ela poderia tocar na vida.

— Ei – Poseidon chamou, tentando aliviar o clima, e ela se virou – Tente não ficar chamando os funcionários tão cedo. Eles vão acabar ficando chateados com você.

Poseidon notou a expressão de confusão que ela fez antes de se virar e ir embora. Ele suspirou. Odiava não saber o que estava acontecendo, como naquele momento.

Ele imaginou que ela não aceitaria bem a notícia, mas nuca pensou que fosse ficar tão mal.

***

Poseidon estava dentro do jatinho. A poltrona reclinada, à espera da decolagem. Em sua cabeça, repassavam-se todas as palavras que ele trocara com Atena minutos atrás.

Eu não vou ter filhos. Nunca”, ela dissera.

O que raios aconteceu com essa mulher?

Poseidon abriu os olhos e suspirou. Ele olhou pela janela, se surpreendendo ao constatar que o avião já voava, mas não se importando. Pegou o celular no bolço, discando um número já há muito gravado em sua mente.

Ele não poderia viajar no aniversário de casamento. Não naquele ano. E definitivamente precisava parar de procrastinar e fazer uma parada antes.

***

Atena

Atena estava ajoelhada, as mãos seguravam com força o assento da privada, enquanto Camille, sua “dama de companhia” (aquilo tudo tão antiquado), estava ajoelhada ao seu lado, segurando seus cabelos.

Ela parou de vomitar por alguns segundos, enfim conseguindo respirar um pouco.

— Deite – disse Camille.

Atena a olhou, sentindo a Bile no fundo da garganta.

— Rápido! Deite!

Atena foi praticamente jogada para trás, o piso frio atravessando sua roupa e esfriando suas costas, em um efeito peculiarmente calmante. Camille segurava sua cabeça contra o piso frio, e Atena deixou de sentir o gosto da Bile, enfim entendendo o que a criada fazia.

Ela entreabriu os lábios, facilitando a passagem do ar para seus pulmões.

— Está melhor? – Camille perguntou.

— Sim. Não sabia que deitar ajudava.

— Na verdade colocar a cabeça para trás ajuda, mas se você deitar é mais fácil resistir ao impulso de se curvar novamente.

— Como sabia disso?

— Sou a mais velha de muitas irmãs.

Atena assentiu. A resposta da jovem era simples, mas ela entendia o que queria dizer.

Jovem”. Como se a própria Atena não fosse apenas dois anos mais velha.

— Vou pegar alguma coisa para senhora comer. Escove os dentes, vai se sentir melhor.

Atena sorriu enquanto a via se retirar.

Alguns patrões poderiam não gostar da personalidade de Camille, uma vez que ela de certo modo desafiava e implicitamente dizia o que os outros deveriam fazer. Mas era isso que Atena gostava nela. Gostava da personalidade forte e, ao mesmo tempo, gentil da garota. Às vezes, Atena se via nela.

Enquanto se levantava do chão do banheiro e começava a arrumar a bagunça, pensou sobre o que Poseidon disse, e em qual seria o motivo de Camille chegar sempre tão cedo no trabalho.

Enquanto escovava os dentes pela segunda vez naquela manhã, estava refletindo se seria ético ou não de sua parte perguntar.

Ela se deitou na cama, fechou os olhos e respirou fundo.

Ouviu o barulho da porta sendo aberta e desviou o olhar para lá. Camille entrava no quarto, trazendo uma bandeja junto de si.

Atena pegou uma torrada da bandeja, deu uma mordida e olhou para Camille. A dama de companhia a encarava, avaliando-a. Atena sorriu enquanto mastigava, vendo a expressão da moça se tornar confusa. Ela engoliu a comida antes de começar a falar.

— Você ouviu a conversa toda, não foi? – Atena tinha a voz divertida e curiosa, assombrando a ruiva.

— Eu... Bem...

Atena sorriu diante da confusão da menina.

— Não se preocupe. Quem nunca ouviu atrás da porta, não é mesmo?

— A sala não tem porta, senhora. – Camille tinha a voz risonha e, embora estivesse com a cabeça voltada para o chão e com a cortina de cabelos ruivos cobrindo-lhe o rosto, Atena via que ela estava corada e com um leve sorriso estampado no rosto.

— É verdade, não é mesmo? Agora ande, sente-se do meu lado que eu vou te contar algumas coisas. Mas saiba que se me chamar de senhora, vou te chamar assim também.


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