Talvez Seja Mais do Que Isso escrita por HeyNick


Capítulo 3
Capítulo Três


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a princesa Bookworm, amiga incrível que o Nyah me deu ♥



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Capítulo Três

 

Poseidon

Atena brilhava, e Poseidon não conseguia parar de olhá-la desde que Chris se fora. Sabia que deveria parar com isso, mas como acabar com um hábito que o perseguira por tantos anos? Enquanto ela sorria para Michelle, entretida em sua conversa, ele não conseguiu evitar sentir dor.

Atena era como uma droga para Poseidon e, como toda droga, sabia que lhe fazia mal, mas sentia que não conseguiria viver sem. Talvez ele devesse passar seu o aniversário de casamento em uma clínica de reabilitação, afinal.

Ele se aproximou das duas, recebendo um sorriso caloroso de Michelle e um olhar fuzilante de Atena.

— Olá, gentleman – disse Michelle.

Poseidon nunca foi especialmente próximo dela, mas a mulher exalava simpatia. Além disso, Bruce era um marido tão estúpido que sentia que o mínimo que poderia fazer por ela era ser gentil. Por isso, quando Michelle sorriu para ele, não conteve a vontade que teve de dar-lhe um abraço.

 Os cabelos castanhos arruivados da amiga lhe fizeram cócegas no nariz, enquanto ela sussurrava em seu ouvido:

— A chame para dançar, bobo.

Poseidon sorriu e se afastou dela, Michelle não tardando em deixá-los e andar até Bruce.

— O que ela te disse? – perguntou Atena, com as sobrancelhas levemente contraídas.

Aos olhos de Poseidon, era nítido que ela tentava esconder que estava brava, mas Atena sempre lhe pareceu ter um índice de refração menor que 1, tamanha sua transparência. Em outros tempos, ele talvez lhe dissesse isso. Seria uma piada física da qual ela acharia graça. Se não fosse ele falando, é claro.

De toda forma, ele achava engraçado sempre saber o que ela estava sentindo, mas nunca o que estava pensando. Tornava tudo ainda mais curioso.

— Ela disse para eu te chamar pra dançar – ele decidiu confessar, em partes para ver se, conforme suspeitava, ela lhe lançaria uma expressão de choque (e acertou). E em partes porque adorava agradá-la, e era difícil ter essa oportunidade, por mais ínfima que fosse.

— O que você não vai fazer – ela disse, com um arquear de sobrancelhas e um sorriso... desafiador? Maldoso? Ele não sabia ao certo. Decidiu pensar que era a primeira opção e, portanto, aceitou o desafio.

— Por que acha que eu não vou fazer isso?

— Porque sabe que eu vou recusar – ela respondeu simplesmente, como se fosse óbvio. E, na verdade, era. Mas, naquela altura, o que ele tinha a perder?

— E você também sabe que, se você não aceitar, eu vou subir naquele palco e te chamar na frente de todo mundo, e aí você não vai ter escolha.

— Você não faria isso – retrucou Atena.

 

Atena

Poseidon estendeu-lhe a mão.

Atena conteve a vontade de morder os lábios. Pela primeira vez em um bom tempo, estava na dúvida. Tinha noção de que ele costumava fazer de tudo para agradá-la (ou, pelo menos, não a aborrecer). Assim, provavelmente, não faria o que estava ameaçando. Por outro lado, se seguisse esse mesmo princípio, ele sequer a estaria convidando.

Ela analisou seu rosto, e se aborreceu por não conseguir lê-lo. Poseidon sempre foi misterioso. Antigamente, ansiava em desvendá-lo. Hoje, agradecia por não saber o que se passa em sua cabeça. Gostava de imaginar que ele tinha a mais capciosa das mentes, pelo simples motivo de ser muito mais fácil odiá-lo assim.

Contudo, ela imaginava ainda o conhecer. Pensou no como ele era orgulhoso e – céus – amava um desafio, então provavelmente subiria mesmo no palco. Todavia, lembrou-se do como tinha uma natureza gentil, e sabia que ele odiava quando pessoas eram obrigadas a fazer o que não queriam. Dessa forma, duvidava que realmente a colocasse nessa situação.

A curiosidade dela borbulhava. Estava quase negando apenas para descobrir o que ele faria, até que outro pensamento lhe invadiu a mente: se isso vai tanto contra os princípios que conheço dele, por que está me convidando mesmo assim?

Atena avançou, recusando a mão dele e seguindo em direção à pista de dança. Não tinha dado três passos quando olhou para trás e percebeu que ele a estava observando, surpreso. Ela arqueou a sobrancelha, e sabia que ele entenderia a mensagem: você não vem?

Atena quase não tivera tempo de virar-se quando sentiu uma das mãos de Poseidon na base de suas costas, a guiando, e isso foi suficiente para perguntar-se se tomou ou não a atitude correta.

Achava que sim. Afinal, sua curiosidade era soberana. Além disso, Atena sempre foi justa. Nunca havia o visto confrontá-la assim, e decidiu que era um gesto digno de recompensa, apesar de não saber o motivo de pensar assim naquela noite (bom-humor, quem sabe?). Ademais, algo estava acontecendo, e ela queria uma pista do que poderia ser.

Eles mal chegaram perto de onde alguns casais dançavam quando ela sentiu um braço enlaçar sua cintura e seu corpo ser virado. Poseidon aproximou seus corpos. Apesar de manterem uma distância modesta, ainda parecia perto demais, fazendo-a sentir vontade de se soltar e correr dali. Pensou que talvez ele não visse problema no que estava fazendo, pois em outros tempos dançaram daquela forma e sorriram um para o outro. Mas, agora, Atena simplesmente não estava preparada para tanta proximidade.

Atena fechou os olhos. Flashes de lembranças de quando aprendia a dançar vinham a sua mente, dando-lhe vontade de chorar. A loira afastou as memórias, abriu os olhos e olhou fixamente para luz, impedindo que as lágrimas molhassem seu rosto.

Ela se perguntou o porquê ele estaria fazendo aquilo com ela. Desde que se casaram, ele nunca fez nada do tipo.

— Como vai o seu livro? – ele perguntou.

Ela respirou fundo. Sua voz não poderia falhar. Ela não poderia parecer fraca. Não na frente dele.

— Qual o motivo da pergunta?

— Quero saber como você está. Queria conver...

Atena afastou seu rosto de perto do pescoço dele, olhando em seus olhos.

Não devia ter feito isso.

— Você está bem? – perguntou ele, a testa franzida – Está pálida.

— Eu... – ela sentiu a cabeça rodar. Precisava sair dali – Não. Por favor, com licença.

 

Poseidon

Às vezes Poseidon gostaria de ser diferente. Não diria egoísta, mas quem sabe se colocar em primeiro lugar. Pensava que, se fosse capaz de fazer isso, não teria a deixado se afastar. Afinal, aquela dança era uma espécie de milagre, não era?

Entretanto, tudo o que pôde fazer foi vê-la ser perseguida por seu longo vestido azul até a saída, a porta o fazendo perdê-la de vista. Por uma fração de segundo, perguntou-se se essa era uma daquelas ocasiões de filmes, em que as mulheres fugiam, mas com o desejo de serem seguidas.

Todavia, logo descartou a ideia. Não apenas por ser Atena (o que por si só já seria motivo suficiente), mas também por conta de seu tão raro “por favor”, como se sua vida dependesse disso.

 

Atena

Atena só se lembrava de sair pelas portas duplas do salão e de contar até três quando o ar fresco lhe invadiu os pulmões. Ela não se recordava, entretanto, nem mesmo do trajeto que fizeram para chegar em casa. Tudo o que tinha consciência era de que agora estava sentada na frente do computador, seus olhos acinzentados encarando a escrita “Capítulo Dez” que se encontrava na tela a sua frente.

Quase inconscientemente, seus dedos começaram a deslizar sobre as teclas.

“Ana estava deitada no banco da praça, as lágrimas rolando livremente pelo rosto. O céu noturno, escuro e brilhante por conta das estrelas, iluminava-se apenas pela suave luz da lua crescente.

A garota se perguntava se o céu via a terra da mesma forma que ela via o céu.

Afinal, por que não poderia ser o céu um planeta escuro e as estrelas, luminárias, que aprisionavam as almas de todos aqueles que se foram? E a lua, por que não poderia ser um farol, que guiava todas as almas mortas até aquele outro planeta distante?

Ana se preocupava. Com o farou funcionando tão precariamente naquela noite, será que sua mãe não se perderia? A menina torcia para que não.

— Você está bem? – perguntou uma voz desconhecida aos ouvidos da garota.

Ela se sentou. Ao virar o rosto na direção da voz, encontrou um rapaz, alguns anos mais velho do que ela, provavelmente com 15 ou 16 anos.

Ela não podia vê-lo muito bem por conta da luz precária, mas conseguia distinguir que os cabelos – provavelmente negros – estavam compridos, caindo-lhe sobre os olhos. A estranha sensação de que ele era familiar a atingiu.

— Sim.

— Você não me parece bem.

Ana o estudou com os olhos, logo depois voltando o olhar para a lua. 

— Há momentos em que percebemos que, não importa o quão mal estejamos, sempre vai haver alguém pior. Sempre vai haver sofrimento maior. Sempre vai haver dor maior. Sempre vai haver tristeza mais dolorosa.

— Sim. Mas, do mesmo jeito que sempre existirá dor, tristeza ou sofrimento pior, sempre haverá, também, felicidade, alegria e alguém melhor. Não podemos nos comparar aos outros.

Ana deixou escapar um pequeno sorriso, o mesmo que a lua abrira para ela. A garota não sabia se achava isso bom ou ruim. De certo modo, era bom receber o sorriso cálido da lua, mas isso também lhe trazia tristeza, pois lhe impressionava que a lua poderia estar tão feliz enquanto ela sofria tanto.

Até a lua, naquele momento, parecia cruel aos seus olhos.

— Você é um garoto inteligente.

— E você está sofrendo.”

O celular de Atena tocou, tirando-lhe a atenção. Ela odiava quando isso acontecia. Odiava se desconcentrar.

— Alô?

— Atena, você está bem? Onde você está? — ela ouviu a voz de Poseidon contra seus ouvidos, dando-lhe vontade de jogar o telefone contra a parede.

— Não é da sua conta.

Atena o ouviu soltar o ar pelos lábios do outro lado da linha, e ela se perguntou o porquê. Afinal, depois de tanto tempo, já não era para ele ter se acostumado?

— Vamos para casa? Estou no portão te esperando.

— Já estou em casa.

— Tudo bem. Estou indo então.

Atena desligou o celular, encarando brevemente o nome “Poseidon Von’Stucker” e a foto do homem de cabelos incrivelmente escuros e olhos que mais pareciam esmeraldas no fundo do mar. A foto era um pouco antiga, e a observando percebeu que ele estava mais magro agora, o que tornava suas feições mais duras. Pegou-se pensando se essa mudança era por conta de seu maçante trabalho, ou se ela estava fazendo tão bem assim o papel de esposa-megera, para deixa-lo dessa forma.

Seja qual fosse o motivo, ele continuava inegavelmente bonito. Era nesses momentos que ela se lembrava do que todas viam nele. Do porquê todos confiavam nele na hora de fechar um contrato.

— Mas ele ficava mais bonitinho bochechudo – sussurrou para si mesma, suspirando. Remoer esse tipo de coisa não fazia mais sentido.

Ela até tentou voltar a escrever, mas não conseguiu, uma vez que sabia que ele poderia entrar pela porta a qualquer momento.

Ela salvou o documento e desligou o computador.

Atena só se lembrava de ter trocado de roupa e lavado o rosto, aliviada por não ouvir o barulho do portão avisando a chegada de Poseidon, antes de adormecer.


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Notas finais do capítulo

Poseidon iria realmente fazer o que ameaçou? O que se passa na cabeça de Atena? Eu já estava ansiosa pelo ponto de vista dela por aqui hihi. O que acharam da Michelle?
O que vocês acham, minha gente? Críticas, sugestões, teorias da conspiração? Quero saber tudinho.



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