Talvez Seja Mais do Que Isso escrita por HeyNick


Capítulo 2
Capítulo Dois


Notas iniciais do capítulo

E agora sim, meus amigos, temos mudanças. Quero ver quem vai ter memória boa pra ver alguma das diferenças rsrs



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Capítulo Dois

 

Poseidon

— E como vai o casamento? – perguntou Chris, seu melhor amigo. Apesar do tempo que passou, Poseidon ainda se sentia levemente desconfortável perto dele. Era simplesmente estranho não poder se abrir com a pessoa que mais confiava.

A festa estava, como sempre, luxuosa. E, portanto, Poseidon não via a graça daquilo tudo. Em sua opinião, quanto melhor as coisas eram, mais difícil seria superá-las. Justamente por isso, aquelas festas pareciam todas iguais. Ou seja: igualmente monótonas, com os mesmos tabus, e repletas do que ele chamava de “pessoas playmobil” - que se vestiam e se comportavam conforme um molde imposto pela sociedade.

Ele trincou o maxilar, irritado. Ao observar a si mesmo no espelho do grande salão e aos amigos e colegas com quem conversava, percebeu que se enquadrava perfeitamente no grupo. Quando foi que tornei mais um dos bonequinhos?

— Acho que se melhorar, o impossível acontece.

Todos riram, mas não era como se Poseidon estivesse mentindo.

— Mas também, com uma esposa como a sua, que casamento poderia dar errado? – disse Bruce Haris. Poseidon estaria o colocando em um patamar muito acima do que merecia se lhe desse o título de “colega”.

O moreno fechou a cara e voltou o olhar à esposa. Há algum tempo não pensava nela daquela forma e, ao admira-la naquela noite, entendeu o porquê.

Durante todo o trajeto que fizeram lado a lado, não reparou em seus largos cachos dourados caindo soltos por suas costas. As madeixas haviam crescido, ele notou. Agora, os fios caiam até pouco além de sua cintura. Lembrou-se de quando eram mais jovens, e o cabelo dela pouco ultrapassava os ombros. Atena vivia dizendo que não tinha paciência para deixá-los crescer, pois lhe daria muito trabalho para cuidar. Perguntou-se quando isso mudou.

Desceu o olhar pelo corpo dela, sentindo-se levemente constrangido por isso. Por algum motivo, a lembrança de puxá-la para cima de si, e de ter aquelas pernas contornando sua cintura lhe vieram à mente. O vestido longo, concluiu. Ela usara um vestido longo naquela ocasião, e agora novamente.

Aquilo lhe trouxe outras memórias de um tempo em que poderia passar as mãos livremente pelas curvas suaves que o belo vestido azul-marinho escondia. Lembrou-se da sensação da pele macia sob suas mãos, e da voz dela em seu ouvido ao, como sempre, dizer “não faz isso! Eu tenho vergonha” sempre que ele apertava uma parte de suas costas que Atena insistia em chamar de gorda, mas pela qual Poseidon sempre fora apaixonado.

Seus olhos foram subindo lentamente, tentando se despertar do transe. Entretanto, quando pararam em seu pescoço, tudo em que conseguiu pensar foi em acariciar levemente seu nariz por ali. O cheiro dela o inebriava de tal forma que sempre o convidava, apesar do medo de deixar alguma marca que pudesse a constranger no futuro. A voz mandona dela, contudo, sempre parecia não se importar: “eu quero mais” ela pedia, e os suspiros que soltava nunca lhe deixavam parar em simples beijos.

O transe de memórias só acabou quando Atena se virou levemente para trás, e Poseidon pôde ver o sorriso dela estampado naquele rosto delicado e imponente, com seus belos traços.

Aquele sorriso era tudo. Eles iluminavam os olhos acinzentados, e nessa hora um bom observador notaria um leve tom de azul em sua retina. E essa combinação era justamente o que camuflava a força incrível e a sabedoria inestimável daquela mulher. O como ela conseguia comprimir sob toda sua doçura, delicadeza e etiqueta, um poder incrível.

Ela era um verdadeiro enigma, digno da Esfinge. E aquilo o atraia e encantava de tal maneira que entendeu porque não pensava nela daquela forma há tanto tempo.

Doía muito.

— Ela é muito mais do que você está pensando, Bruce – disse Poseidon.

— É, eu imagino... Mas sortudo é você, que vê isso constantemente.

Poseidon cerrou os punhos.

— Sim, vejo isso constantemente. É incrível o como Atena consegue demonstrar a inteligência que tem. Mas também, ter vinte e um anos e dois diplomas, além de falar quatro idiomas fluentemente e ter tido o seu primeiro livro publicado aos catorze... Não é de se surpreender que ela prefira ficar em casa com os livros dela do que aqui, em um ambiente de pessoas tão ignóbeis quanto você. Agora, se me dão licença...

Poseidon se retirou do local onde estivera conversando com os amigos, mas ele tinha a vaga noção de que Chris o seguia.

— Hey! Espera aí, cara!

Poseidon parou. Embora estivesse morrendo de raiva, sabia que deveria se controlar. Há muito tomara a decisão de não fazer nada sério se estivesse estressado, triste, sob muita pressão ou chovendo. Não sabia o motivo, mas sabia que funcionava.

— Wow! Você não está nada bem! – disse Chris, parando a sua frente.

— Estou ótimo.

— Sei...

— É sério.

Chris abriu um sorriso de lado e estendeu um copo de Whisky a Poseidon.

— Esfrie a cabeça, cara.

Poseidon o avaliou com os olhos. Os cabelos loiros encaracolados estavam maiores que o normal. O sorriso digno de tomar o posto do sol era tão estonteante que provavelmente fazia o leve arroxeado sob seus olhos passar despercebido pela maioria das pessoas. Seu bronzeado característico não estava mais tão acentuado.

Poseidon sorriu e aceitou o copo, a bebida descendo cortante por sua garganta, antes de decidir perguntar:

— Para um médico, você não deveria estar se cuidando melhor?

Chris revirou os olhos, mas respondeu:

— Para um administrador, você não está muito metido a Sherlock Holmes?

— Chris, você está pegando muito pesado no trabalho. Precisa diminuir.

— Cara, o máximo de afeto que minha saúde está tendo é uma possível falta de vitamina D, que pretendo recuperar este final de semana.

— Vai dormir embaixo do sol para recuperar o sono também?

— Olha, na verdade não é uma ideia ruim. Sempre bom otimizar o tempo. Mas preciso mesmo me acostumar a essa rotina dos plantões e de dormir pouco.

Poseidon sorriu para o amigo, entendendo tudo, e disse:

— Você queria estar dormindo e seu pai te obrigou a vir, não foi?

— Não precisava ser Sherlock pra saber disso, né?

Poseidon riu. Seu tio finalmente conseguiu colocar juízo na cabeça do amigo, afinal.

— Está melhor? – Chris perguntou a Poseidon.

— Eu não estava mal.

O loiro sorriu e revirou os olhos.

— Você quem sabe. Só não se irrite por causa do Bruce. Sabe que ele é um idiota.

— Realmente. Ele não merece a esposa que tem. Michelle é ótima, simpática, linda, e ainda assim ele não dá a menor atenção a ela, além de insistir em traí-la.

— Eu sei. Fico surpreso por ela ainda não ter pedido o divórcio.

Poseidon não respondeu. Além de não gostar de fuxico, achava que não estava em posição de julgar o casamento de ninguém.

Provavelmente por conta do silêncio, Chris olhou ao redor, os olhos pousando sobre Atena. Ele franziu o cenho.

— Vocês não estão prestes a completar dois anos de casados?

Poseidon parou para pensar. O tempo sempre pareceu uma coisa engraçada aos seus olhos. Quando ele se lembrava de seu casamento, a primeira coisa que lhe vinha à cabeça era o como o tempo havia passado rápido. Mas, enquanto presenciava os momentos de sua vida de casado, sempre pensava que o tempo tardava a passar.

“O tempo é relativo.” Sim, ele é, mas não como Einstein dissera. Ao menos não aos olhos de Poseidon.

— Sim. Daqui a uma semana – ele respondeu, tentando ocultar a melancolia da voz.

Poseidon tentava imaginar para onde iria desta vez. Era sempre assim. Em qualquer data “especial” para os dois, tinha de sair de casa. Viajar. Ele já quase nunca ficava na cidade por conta dos negócios, mas nessas datas Atena fazia questão de que ele saísse. Dizia que não queria que pensasse ter alguma chance.

Como se ela precisasse fazer isso. Como se ele achasse ter alguma chance um dia. 

Mas Poseidon já estava acostumado a viajar. Afinal, era necessário. Sempre tinha que assinar algum contrato, ou fiscalizar alguma obra, participar de reuniões em filiais, ou qualquer coisa que Diego arrumasse. Eram tantos lugares, tantos investimentos diferentes, e para que? Ele já havia ganhado tanto dinheiro que, ainda que esbanjasse tudo pelo resto da vida, ainda sobraria o suficiente para gerações.

Claro que Poseidon sabia a resposta para a própria pergunta. Sabia que viajava apenas para não ficar em casa recebendo os olhares gélidos dela; para não precisar resistir à tentação de beija-la, toca-la a cada vez que a via andando pelos corredores; para não se torturar todas as noites, suprimindo a vontade de entreabrir a porta do quarto dela e vê-la dormir serenamente, deitada em sua cama. Apenas para não se entristecer, a vendo sorrir com algo escrito em algum livro, e saber que jamais poderia fazê-la sorrir daquela forma novamente

Ele simplesmente não queria se torturar. Ao menos não mais do que o “necessário”.

O moreno tinha noção, também, de que trabalhava tanto e sem necessidade alguma apenas para desviar os pensamentos dela. O sorriso, os olhos, o biquinho que fazia quando estava pensando.

Céus, ele parecia um maluco obsessivo. Precisava voltar para terapia.

— Já pensaram em ter filhos? – perguntou Chris, tirando Poseidon de seu devaneio.

— Filhos?

— Sim. Quando vocês se casaram, todos acharam que era porque Atena estava grávida. Afinal, que outro motivo ela teria para se casar aos dezenove anos? Ainda mais ela, que sempre teve um futuro brilhante pela frente. Bem, passaram dois anos e nada, o que prova que não estava grávida ou coisa do tipo. Mas por que não ter um filho agora?

Poseidon sabia que ele estava certo, mas também tinha plena consciência de que isso não iria acontecer. Os dois estavam casados há quase dois anos e eles só se tocavam em eventos e lugares públicos, e isso apenas para manter as aparências.

E ele sabia que Atena não o deixaria tocá-la. Desta forma, seria impossível que ela engravidasse. Pelo menos da maneira tradicional.

— Você está certo, Chris. Está mais do que na hora.

Chris sorriu e se retirou, deixando apenas uma piscadela e um curioso cheiro de verão para trás.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado das mudanças. Estava com muita saudade disso tudo aqui. Esses personagens são especiais para mim.
Muito obrigada pelos comentários no capítulo passado. Me deixaram muito feliz.
Qualquer sugestão, crítica, ou elogio é bem-vindo.
Aguardo vocês, e até loguinho.



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