Crônicas dos Elementais escrita por btfriend


Capítulo 33
Preparos




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Naquela noite, o movimento dentro das muralhas do castelo de Balchmont estava maior do que de costume. Vários soldados circulavam pelo pátio terminando de organizar seus equipamentos em carroças. Tinham optado por saírem desarmados, pois o rei Hansel queria evitar que os habitantes soubessem da ida dos guerreiros para Yor'Em e dessa forma conseguiriam evitar o barulho de metal se chocando.

Gustav havia juntado uma quantidade razoável de guerreiros. O suficiente para seu objetivo, já que estava contando com mais pessoas ajudando, vindas de Valmees. Não podia exigir por mais homens, porque também não era sábio deixar o reino desprotegido. Assim, o melhor era confiar nas habilidades de combate pelas quais Balchmont era notavelmente reconhecida.

Tyler e Clair estavam perdidos com toda aquela movimentação. Não estavam acostumados com tudo aquilo e não sabiam ao certo como deveriam proceder diante daquele cenário. Até mesmo Dahlia se mostrava confusa com o que presenciava. A organização para a saída do reino tinha poucas semelhanças com a preparação que ela estava acostumada a ver em Valmees quando tinha alguma caçada importante para ser realizada. Um brilho de vislumbre tomava conta do olhar dos três.

— Ei, vocês! Vão ficar só olhando ou vão ajudar? - repreendeu um dos guardas, o mesmo que havia zombado deles na entrada no castelo. 

— Será que você está tão despreparado que precisa que crianças façam o trabalho pesado por você? - retrucou Gustav que passava ali por perto na hora.

O guarda fez uma cara de desgosto e seguiu seu caminho enquanto Gustav andava pelo pátio vistoriando se tudo estava de acordo. Não queria dar abertura para falhas.

— Não sei o que é pior. - resmungou Dahlia aborrecida. - Ter esse guarda por perto pra tirar nossa paciência ou ser chamada de criança assim.

— Sério que você está reclamando disso? Acho que o guarda não vai ficar nos perturbando enquanto o pai de Tyler estiver por perto. - respondeu Clair.

— Então acho que é menos uma preocupação. - virou-se para Tyler. - Então você poderia avisar a seu pai para não se referir a gente assim. Tenho certeza que consigo dar mais ajuda que o uma simples criança. Onde já se viu ser comparada desse jeito.

— Foi só maneira de falar, garota. Tenho certeza que intenção dele não foi ofender. Mas se realmente não gostou, talvez devesse ir falar com ele pessoalmente. - disse o garoto.

— É, talvez eu vá mesmo. Mas não agora. Ele está muito ocupado.

— Quanto tempo será que vamos continuar aqui? - perguntou Tyler ansioso para saírem dali.

— Não faço ideia, nunca passei por isso antes. Mas parecem já estar finalizando. - Clair avaliou todo o seu campo de visão do pátio. - Não tem muito mais coisas para serem guardadas.

— Depois que sairmos das redondezas de Balchmont, não devemos demorar muito para chegar a Yor'Em. - respondeu Gustav que apareceu de repente.

— Você poderia começar a avisar antes de aparecer e responder as coisas. - disse Dahlia depois de ter levado um susto com o guerreiro surgindo repentinamente.

— Desculpa, não foi minha intenção assustá-los. - deu um pequeno sorriso. - Mas acho que vocês deveriam se dirigir para uma das carroças. Já, já estaremos de partida.

— Qual a previsão para chegarmos? - Tyler apressou-se em perguntar.

— No máximo no final da tarde, podendo até ser antes. O rei Hansel quer esse assunto resolvido rapidamente e tenho certeza que esses guardas farão o máximo para não deixá-lo de mau humor.

— E eu espero que eles gastem mais tempo andando rápido do que implicando com a gente. - Dahlia rebateu.

— Não se preocupe, baixinha. - Gustav deu uns tapinhas no ombro da caçadora. - Vou me assegurar que eles tenham bastante coisa para fazer e não terão tempo nem de falar com vocês.

Tyler e Clair viram quando uma expressão de descontentamento tomou conta da face de Dahlia ao ser chamada de baixinha. Tiveram que se conter para não rir diante daquela situação.

— E você, garoto, trate de continuar bem. Não quero que sua mãe ache que não tomei conta de você quando te encontrei.

Tyler não respondeu, porém balançou a cabeça de forma afirmativa.

— Sir Gustav! - gritou um guarda. - Estamos pronto e aguardando suas ordens para sairmos daqui.

— Reúna os guardas perto do portão principal e abaixe a ponta. Já estamos de saída! - virou para falar com os três jovens. - Vamos! Chegou a hora.

Gustav tomou a dianteira em passadas largas enquanto os três o seguiam, mas sem acompanhar seu ritmo apressado.

— Que bonitinho a preocupação do seu pai. - zombou Dahlia.

— Onde já se viu? Querer dizer que está tomando conta de mim. - respondeu Tyler a contragosto. - Conseguiu cuidar de mim mesmo até agora. Um dia a mais não fará diferença!

— Mais um reclamando?  Estou vendo que essa viagem vai ser mais longa do que o previsto. - anunciou Clair.

— Andem rápido ou ficarão para trás! - chamou Gustav.

A ponte já estava plana e os cavalos já começavam a dar início ao galope. A saída dali estava sendo feita de forma meticulosamente silenciosa. Contudo, para isso, estavam andando de forma mais vagarosa e que gastando mais tempo do que tinham.

Não tinham como saber se alguém os estava observando ou se algum morador iria acordar no meio da noite. Só tinham a certeza de estar fazendo o máximo que podiam para cumprir as exigências do rei.

— E lá vamos nós mais uma vez saindo de uma cidade. - disse Tyler.

— Parece que é tudo que estamos fazendo recentemente, não é mesmo? - respondeu Clair.

— E vocês vão sentir falta disso tudo quando acabar. Não é a mesma coisa que viver naquela cidade protegida.

— Não é a mesma coisa, com certeza. - concordou Clair. - Mas teremos tempo para pensar se sentiremos falta ou não depois.       

— Isso, depois... - suspirou Tyler. - Porque agora, eu só quero que tudo isso se resolva. E, se possível, da melhor forma.

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— Rápido! Ou não vamos conseguir sair daqui antes do anoitecer. - Auster dava ordens em um tom bastante alto e de forma ríspida.

— Mas passaram-se apenas poucos minutos desde a hora do almoço. - indagou Sylvie.

— Você conhece ele. Gosta de manter um exagero. - responder Carsen.

— Não é exagero. Eles precisam manter um determinado ritmo ou vão ficar desleixados. - explicou o irmão. - E não é isso que queremos que aconteça, não é mesmo?

— Bom, se fizerem tudo muito rápido podem acabar ficando descuidados com alguns detalhes. Não é bom fazer tarefas com tanta pressa. - contestou a caçadora. - Mas é apenas uma opinião. Quem está no comando é você!

Carsen observava a discussão que estava para começar. O estilo de liderança de seus irmãos eram totalmente diferentes. Embora ambos prezassem a conclusão do objetivo final, divergiam no caminho que levava a isso. Contudo, Carsen já estava acostumado ao jeito de Auster e, apesar de não concordar em alguns aspectos, preferia se abster do que criar tensões desnecessárias.

Realmente era difícil para Sylvie ter que assistir seu irmão estar numa posição que antes pertencia a ela. Mais difícil do que ela conseguia admitir para si mesma. Confortava-se no pensamento de que, não importando quem estivesse a frente, no final, ela estava com seu filho.  Não podia desviar seu pensamento disso e deixar-se consumir por uma  batalha fraternal de egos.

— Pode deixar que tudo estará impecável. Irei verificar tudo após eles concluírem. - sentenciou Auster. - Esse é o trabalho de um líder. - e deixou os irmãos conversando.

— Apenas respire e se acalme. - aconselhou Carsen quando viu o humor da irmã se alterando rapidamente. - Não há porquê ficar respondendo à provocações. Só vai gerar mais brigas entre vocês.

— Eu sei, mas ele poderia dar uma trégua também. - rebateu a irmã. - Porém não podemos deixar isso transparecer para o restante do grupo. Precisamos estar em concordância...

— Ou pelo menos parecer estar. - completou o irmão mais novo.

Aos poucos os gritos de ordens de Auster iam diminuindo e os preparos para saírem de Valmees estavam quase prontos. Pilhas de equipamentos estavam organizadas na caçamba de carroças e a carga extra, que não havia tido lugar para guardar, foi colocada nas laterais dos cavalos, já acostumados a esse tipo de serviço. Estavam fazendo o possível para agilizar toda a caminhada até o outro lado das montanhas, para chegarem o mais rápido que conseguissem em Yor'Em.

— Acho que daqui a pouco estaremos prontos para partir. - disse Cassius que vinha caminhando na direção de Sylvie.

— O que?! Você vai com a gente? - perguntou Sylvie surpresa com a decisão repentina.

No dia anterior Sylvie havia procurado Cassius para falar a respeito do amuleto que tinha recebido do Oráculo em Awalles. Ela já tinha visto algumas pessoas utilizarem tais objetos, mas não fazia ideia de como proceder com o presente. Cassius explicou tudo o que sabia a respeito do objetom pois também tinha dado um de presente para sua filha, Dahlia, e esboçou curiosidade em ver como Sylvie se sairia ao utilizar um deles, especialmente depois de ouvir sobre a conexão passada que ela dividia com o espírito da criatura guardiã.

— Você realmente achou que eu ia perder a chance de ver um amuleto em ação? Será bom para futuros registros. - disse Cassius.

— Mas e sua perna? - questionou Carsen.

— Não é todo dia que os caçadores e os guerreiros de Balchmont voltam a trabalhar juntos. Minha perna vai ter que aguentar mais um pouco. - respondeu empolgado. - Ainda não sou um inválido.

— Nós podemos dar cobertura na hora da luta, mas não sei se isso será suficiente. - alertou Sylvie.

— Não se precisam se preocupar! Ainda existem alguns truques que eu consigo fazer.

— Se você diz, não sou eu quem vai tentar te convencer do contrário. Além disso, sua filha também estará lá. Acho que você sabe o que é melhor ou não fazer. - concluiu Carsen.

— Obrigado pela consideração e pode deixar que farei o máximo para não atrapalhar a missão de vocês.

— Lembre-se de que deve colocar sua segurança em primeiro lugar. Não deixe que sua curiosidade faça você se colocar em situações perigosas sem motivos. - alertou Sylvie.

— Agradeço pela preocupação mas, como já disse antes, acho que consigo me virar.

Sylvie e Carsen estavam aflitos por Cassius. Ele aparentava confiante, mas já fazia algum tempo desde que tinha saído em sua última missão, na qual não tinha obtido um resultado tão satisfatório. Era incerto se suas habilidades em combate haviam sido afetadas de uma maneira significativa.

— Bom, apenas vamos torcer para tudo dar certo. - disse Carsen. - Vou ajudar Auster a ver os últimos detalhes.

— Vai mesmo! Antes que ele comece com os gritos mais uma vez. - brincou Sylvie recebendo um olhar de desaprovação do irmão mais novo.

No fundo, Carsen sabia que o comentário da irmã era pertinente mas não podia ficar encorajando tal comportamento entre seus irmãos. Ele se encontrava no meio dessa rixa e preferia se manter neutro em relação a isso. Assim conseguir uma relação boas com os dois lados.

— Você está pronta para mais esse novo desafio? - perguntou Cassius. - Não sou o único que está sem práticas.

— Não sei, mas prefiro acreditar que estou. - confessou. - Estou um pouco apreensiva.

— Pensando pelo lado positivo, ao menos você tem um novo suporte.

— Um suporte que ainda não sei ao certo com utilizar.

— Isso são palavras de insegurança vindas da antiga líder dos caçadores? - questionou.

— Em algum momento eu disse que não iria conseguir? - Sylvie adotou uma postura mais segura. - Nunca duvide de uma mãe quando seu filho está em perigo!

Cassius deu uma risada e concordou, de imediato, com a caçadora. Aliás, também estava na mesma situação que ela. Sabia que tinha criado a filha para se virar em  momentos de dificuldade mas, ainda assim, seu instinto paterno falava mais alto e era ele que, agora, precisava transpassar os obstáculos impostos para ajudar sua filha.

Ainda faltavam alguns detalhes para serem feitos antes que pudessem deixar o vilarejo, mas o sol ainda brilhava fortemente no céu. Muitas horas restavam antes que a escuridão tomasse do ambiente e, quando isso acontecesse, eles já estariam bem distante dali e mais próximo de um reencontro familiar.

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— Espero que tenham boas notícias! Não estou com paciência para aturar mais erros vindo de vocês. - Razen sentenciou com uma voz áspera.

Artie e Rikard estavam ali para reportar os últimos acontecimentos para Razen. Sabiam que não estavam com créditos e qualquer deslize comentido por eles poderia resultar em um caminho sem volta. Estavam evitando que isso acontecesse.

— Ninguém chegou a Yor'Em ainda. - contou Rikard. - Entrei em contato com a filha mais nova essa noite e ela não sabe quando irão chegar.

— Não é uma informação precisa, porém melhor do que nenhuma. - Razen afirmou. - E a prisioneira?

— Ainda enfraquecida. Estamos só a alimentando ocasionalmente para mantê-la viva. - Rikard disse sadicamente. - Assim sua resistência continua baixa e conseguirei controlá-la da melhor forma.

— Que continue assim. Ela é a única vantagem que temos agora. - disse Nagisa que encontrava-se encostada num canto distante dos três homens.            

Nagisa tentava não se intrometer nos assuntos enquanto Razen estavam com os subordinados. Não queria tirar a autoridade do filho. Deixava para fazer suas considerações quando estivesse a sós com ele e orientá-lo como achasse melhor. Porém, em algumas situações não conseguia se controlar e fazia certos comentários pontuais.

— E quanto aos nossos ajudantes? Já estão foram informados? - perguntou Razen esperando uma resposta positiva.

— Já foram mandados pombos para avisá-los. - foi a vez de Artie responder.

— Só isso? - Razen estava impaciente.

— Não, senhor. - Artie respondeu rapidamente de forma apreensiva. - Já obtivemos respostas de alguns dizendo que estão a caminho e outros já chegarem aqui na prisão. Com sorte estaremos com todos aqui presentes conforme o senhor pediu.

— Sorte? Não podemos contar com a sorte. - sentenciou. - Vocês principalmente. Não acho que vocês queiram deixar que o destino de vocês seja decidido por algo tão incerto quanto a sorte.

— Não vamos precisar de sorte, senhor Razen. - prontificou-se Rikard. - Mesmo que não venham todos, vamos conseguir colocar um plano de combate em prática de forma que pequenas faltas não serão notadas.

— Acho bom que isso aconteça mesmo. Agora, que plano é esse?

Rikard engoliu seco sem uma resposta pronta e olhou para Artie, que também não sabia como responder. Perceberam o olhar de insatisfação vindo de Razen. Um olhar que, infelizmente, estavam recebendo de forma constante ultimamente.

— Então façam o favor de saírem daqui e resolverem isso logo! - ordenou. - Antes que as únicas pequenas faltas que não serão notadas são as de vocês dois!

Nem mesmo responderam. Apenas viraram-se e saíram dali o mais rápido que conseguiram. Enfrentar Razen insatisfeito não era uma boa opção. Contudo estava difícil fazer algo para que mudasse o humor dele. Só restava, mais uma vez, tentar fazer o serviço direito. E isso também estava sendo difícil de realizar.

— E a senhora? - Razen perguntou para a mãe quando Artie e Rikard já tinham saído.

— O que? - Nagisa não entendeu o questionamento do filho.

— Quando tudo estiver acontecendo, o que planeja fazer? Convenhamos que a senhor não está em suas melhores condições para enfrentar nada.

— Não se preocupe comigo. Tenho me virado até agora e pretendo continuar fazendo isso. - respondeu prontamente.

— Até agora não tivemos lutas e nem nos envolvemos diretamente. São situações diferentes. - explicou o filho.

— E, até agora, você tem cuidado de tudo e eu apenas venho agindo nas sombras. - constatou Nagisa. - Creio que consigo continuar fazendo isso em qualquer momento.

— Não sei ao certo o que você está querendo dizer com isso...

— O que estou querendo dizer é que, no final das contas, eu vou ficar bem.


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