Murmúrio do tempo escrita por slytherina


Capítulo 4
Previamente


Notas iniciais do capítulo

"Então ajude-me meu amigo, minha cabeça começou a doer. Eu não vou fingir que tenho todo o tempo do mundo. Então, agora ela se foi, completamente sozinha em seu próprio universo. Eu vou continuar até te trazer pra dentro do meu mundo." Who put the weight of the world on my shoulders? - Oasis



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/606393/chapter/4

1.


Miles Cassidy era um rapaz consciente de seu papel social transformador no mundo. Ele sabia que cabe a cada um de nós a tarefa de fazer um mundo melhor. Poupando água e energia, reciclando, compartilhando, sendo solidário. Fazendo o bem a cada dia, por mínimo que seja, tudo é válido na nossa tentativa de manter o planeta Terra vivo. Talvez por isso tenha se tornado antropólogo e passasse seu tempo livre em contato com a natureza, como agora, nessa caminhada por terrenos acidentados da Gália.


Francamente, ele não estava preparado para este nível de dificuldade. Sempre praticara esportes radicais por prazer, mas estava longe de ser um atleta, no máximo um survivalista. Depois de escalar uma muralha de rocha, estava dependurado em uma nesga de terra com algumas árvores mortas. O risco daquilo tudo deslizar e soterrá-lo era muito grande. Então, como nas estórias da Carochinha, ele visualizou uma entrada na rocha, que deveria ser uma caverna. Balançou-se e conseguiu alcançá-la.


Munido de lanterna e GPS resolveu explorá-la. Lá no fim do tortuoso caminho, ele encontrou o seu tesouro. Literalmente um ôvo de ouro. Um objeto oval, grande o suficiente para acomodar um ser humano. O medo inicial, de que tudo fosse algum tipo de armadilha ou alguma piada de mal gosto, desvaneceu ao se dar conta de que aquilo realmente estivera enclausurado e afastado do alcance humano, por pelo menos um século. Os cogumelos e teias de aranhas antigas que envolviam aquele ôvo de ouro eram o vivo testemunho dessa afirmação.


Ele entrou em contato com o chefe do departamento de Ciências Humanas da Universidade de Miami, e relatou sua descoberta. Após acordo com a Universidade do País de Gales, conseguiram retirar o artefato metálico daquele mausoléu natural e levá-lo para terreno acadêmico. Uma equipe galesa foi mantida na caverna, fazendo pesquisa arqueológica, enquanto o ôvo era transportado para a América, para outras investigações. Acordos de cooperação e doações expressivas foram feitas, além de alguns pauzinhos políticos serem mexidos. Uma barganha, segundo Miles Cassidy.


2.


O ôvo metálico foi submetido a exames de imagem, datação de carbono e radiação, além dos exames de praxe. Todos os testes concluíram que, sim, aquele era um artefato valioso e antigo, mas ainda não haviam discernido sobre sua utilidade ou motivo da criação. Havia equipes trabalhando nele por turnos, e embora tivesse a seu dispor cientistas variados, totalmente comprometidos com o rigor acadêmico, Miles sentia falta da abordagem antropológica, sua área de especialidade.


Foi por isso que ele dispensou arqueólogos e engenheiros e preferiu dar uma das vagas de pesquisador para um americano-irlandês chamado Louis Donegan, antropólogo e adepto de montanhismo, como ele mesmo. E não se arrependeu disso, aliás, considerou essa uma feliz coincidência, ou talvez destino. O fato é que no primeiro dia de seu turno como pesquisador, ao entrar em contato com a relíquia oval, o estranho objeto se abriu ao seu toque, liberando ar vicioso, mas não venenoso. Descobriram graças a Donegan, que o ôvo era ôco, uma cápsula com capacidade para um homem normal em seu interior.


Lá dentro havia símbolos ou talvez apenas desenhos decorativos, e mais nada. Concluíram que a quantidade de gás no interior da cápsula era o suficiente para alguns minutos de vida, somente, sendo que sua verdadeira utilidade ainda era uma incógnita. Descobriram que não servia para transporte ou abrigo de humanos, por sua ausência de oxigenação. Apegaram-se à teoria de que a cápsula tinha fins religiosos, sendo uma espécie de cofre para armazenamento de oferendas, mas não havia nada lá, quando foi aberta.


O relatório da equipe galesa também não foi animador. Nada mais havia na caverna, além do que já sabiam. Nenhum dos desenhos da cápsula era conhecido ou sequer se parecia com quaisquer desenhos ancestrais de sua cultura. Aos poucos, mas progressivamente, começaram a aventar a idéia de que a cápsula poderia ter origem extraordinária, ou quem sabe, extraterrestre.


3.


Donegan continuou com suas observações e anotações. Levou para a cápsula sua bolsa de montanhismo e procurou no seu interior, um saco plástico com algumas amostras de artefatos indígenas, mas não encontrou, por isso esvaziou a bolsa dentro da cápsula, e saiu para ver se o saco de amostras não havia caído do lado de fora. Não achou nada. Havia esquecido as amostras em casa, e havia somente um saco coletor vazio em sua bolsa. Resolveu voltar para a cápsula e pegar sua coisas. Tropeçou e bateu a cabeça na parede do interior.


Automaticamente a cápsula se fechou. Ela brilhou fulgurantemente e desapareceu. Tudo foi filmado por câmeras de segurança. O Staff de cientistas não acreditou no que havia acontecido, não depois de tanto empenho despendido naquela pesquisa. Tudo pareceu irremediavelmente perdido por 10 dias. Então, vindo sabe-se lá de onde, em meio a trovões e descargas elétricas, o ôvo reapareceu.


Quando a cápsula oval reabriu, um homem estranho saiu de lá. Ele era barbudo e cabeludo, usava roupas rústicas e calçados de couro cru. Olhava tudo transtornado e surpreso. O mais incrível de tudo é que ele e Louis Donegan compartilhavam as mesmas digitais. Aquele homem estranho, meio selvagem e intenso, dizia chamar-se Cardotyn, proveniente do Castelo de Llewelyn. Ele pedia insistentemente por antibióticos para peste bubônica, pois deixara alguém doente em seu local de origem.


Isso tudo era tão irreal e estranho que ninguém levou a sério o que ele falava. Ficaram o tempo todo examinando suas roupas e seus objetos, interrogando-o para ver se se lembrava de sua vida entre eles, antes de ser tragado pela cápsula metálica. Foi submetido a exames e avaliação mental, e chegaram à conclusão de que ele sofria de amnésia parcial, e que ele realmente acreditava ter viajado no tempo, para uma Europa medieval, infectada com a peste negra.


Então, como se um feitiço estranho tivesse atingido aquele grupo de cientistas, um a um foi adoecendo com febre alta e fraqueza extrema. Foram submetidos a exames e foi constatada a infecção pela bactéria da Peste. Foi só então que resolveram manter aquela área em quarentena, para evitar que a infecção se alastrasse, sete dias depois do reaparecimento do ôvo metálico.


4.


Após 1 mês do reaparecimento do ôvo metálico, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano emitiu alerta de pandemia nível 3. O que significava alto grau de contágio de doença da peste bulbônica a nível mundial. Aeroportos foram fechados, fronteiras foram fechadas e protegidas pelo exército. Pessoas provenientes de Miami eram detidas e postas em quarentena, ao menos as ainda saudáveis, porque a grande maioria estava em hospitais ou em câmaras mortuárias.


Os grandes cientistas não entendiam porque os antibióticos não faziam efeito, mesmo os mais potentes e de última geração. Ao isolarem o germe causador descobriram uma coisa ao mesmo tempo fantástica e terrível. Aquela variante de germe estava extinta há séculos e fora associada à Peste negra que dizimou metade da população mundial na idade média. Isso significava que nenhum tipo de tratamento era realmente eficaz contra essa infecção, sendo que os portadores sadios não desenvolviam a doença porque eram geneticamente imunes.


Quando toda a estória veio a público, procuraram um culpado, qualquer um, e se decidiram por uma figura estapafúrdia, que se auto-denominava Cardotyn, que declarava ter viajado no tempo à procura de uma cura para sua esposa doente. Ele era um portador sadio, e havia trazido a doença até eles. Nada mais justo que ele fosse responsabilizado por tudo. Foi preso e encarcerado em quarentena, como material biológico perigoso, enquanto o mundo do lado de lá das grades era desmantelado pela praga.


E nesse tempo todo, Cardotyn pensava apenas uma coisa: que não deveria ter abandonado sua Dílesh, indo atrás de uma cura impossível. Deveria ter passado com ela seus últimos momentos. Ele a perderia de qualquer maneira, mas ainda havia os filhos e sua comunidade para cuidar. Nunca deveria ter voltado ao seu tempo de origem, pois agora seu mundo estava sendo destruído pelo mal que ele portava consigo. A TV falava em catástrofe, holocausto e grande praga dos tempos modernos. E fora ele o responsável por isso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Murmúrio do tempo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.