Radioactive - The Underworld escrita por Artur


Capítulo 6
Capítulo 06: Bleeding Out


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, tudo bem com vocês? Sei que ando sumido, mas aconteceram muitas coisas na minha vida durante os últimos meses e, para resumir toda a história, tive tempo de publicar esse capítulo que já estava pronto só agora (para vocês verem o quão ocupado eu estive). De qualquer forma, vocês agora sabem que não desisti da fanfic, tenho muitos planos para ela!

Nesse capítulo veremos como Anne está se saindo no acampamento de Charles e o que será feito a respeito dos perigos que Dean, Roy e Christy estão enfrentando. Beijos!



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Radioactive

Bleeding Out

A poça de sangue atingia proporções maiores a cada segundo, alastrando-se pelo asfalto gélido do local. Sua mão estava trémula, imersa naquele líquido rubro e viscoso. Aquilo lhe deixava desnorteada, desesperada. Os resmungos de dor logo se intensificaram, estava difícil de suportar os efeitos das mordidas na região do braço direito e do abdômen.

Tentou pronunciar algo, mas sua voz saiu falha, cortada pelo fluxo pequeno de sangue que escorre em sua boca, respingando em sua roupa. Em seu leito de morte, pensou apenas em uma pessoa, preocupou-se com o destino de outrem e não com sua morte iminente. A febre surgiu de maneira súbita e potente, espalhando calafrios intensos no corpo da vítima moribunda; não havia mais escapatória, estava prestes a encontrar seu fim.

                                                    ....

— Você pode pegar seu agasalho ou cobertor com Veruska — Charles pronunciava sem dar atenção à sobrevivente — Talvez o tempo esfrie bastante nos próximos dias, todos já estão se preparando, você e o Dean devem fazer o mesmo. — O líder do acampamento enfim olhou para os olhos claros de Anne Millman.

— Tudo bem — Sibilou a mulher com um tom ameno de voz. Estava receosa após a última conversa que tivera com Charles — E obrigada — Anne assentiu com a cabeça, retirando-se da tenda de Charles, enquanto se dirigia até Veruska.

A morena caminhou por alguns segundos, observando os habitantes do acampamento se reunirem nos mais diversos pontos do local, buscando meios de se entreterem. Anne logo encontra a tenda de Veruska, a qual atendia Emma e outras sobreviventes.

— Anne! — Emma exclamou assim que notou a presença da amiga, deixando-a envergonhada com seu exagero e o jeito extrovertido de sempre — Também veio buscar lençóis, certo? — A ruiva questionou sem nem ao menos permitir a resposta de Anne — Somos duas então. Estava louca atrás de um casaco florido, ele fica muito bem em mim!

— Que pena, Emma — Lamentou com ironia Marnie, uma das habitantes do acampamento — Mas você precisa ser mais rápida na próxima vez — Brincou a mulher que possuía cabelos castanhos presos em um coque modesto — Além disso, minhas rondas serão noturnas nos próximos dias, preciso disso mais do que você!

— De qualquer forma, temos esse aconchegante agasalho para você —Veruska interrompe a conversa, entregando um agasalho azul marinho para a ruiva, que agradece com um sorriso lateral — O que você quer,  Anne? Pense bem, pois ficará com você nos próximos sete dias até nos devolver.

Anne pensou em como estúpido aquilo era. A mulher não entendia a necessidade de pedir a autorização para fazer qualquer coisa e o motivo de todos os bens ficarem na tenda de Veruska. Acreditava que era para um controle maior e mais justo das coisas que circulam entre os sobreviventes do acampamento, mas, no fim, Anne achava totalmente desnecessário.

— Duas colchas são o suficiente — Respondeu com os braços cruzados, recebendo um olhar estranho de Emma e das demais mulheres — Para mim e para Dean. Ele está em missão, talvez não sobre mais nenhum quando retornar.

— Que fofa, preocupando-se com o amado. — Marnie forçou uma voz amistosa, deixando Anne visivelmente transtornada com a situação.

— Não estamos juntos — A morena rebateu, ríspida e seca — Talvez nem sejamos amigos. — Anne completa, recolhendo o que fora pedido à Veruska, fazendo surgir um clima desagradável entre as demais sobreviventes.

— Anne! — Emma a chamou novamente, impedindo a retirada da recém-chegada do acampamento — Iremos fazer um luau em instantes, temos uma ótima cantora aqui. Você quer vir? Vai ser interessante, sempre me acalma um pouco.

Anne não respondeu. Um silêncio surgiu entre as sobreviventes, a morena parecia hesitar em dizer um não, mas, no fundo, achava que era preciso se enturmar com os novos habitantes de seu acampamento caso aquele se tornasse o seu novo lar.

— Seria ótimo! — Recebera um abraço caloroso de Emma antes de ser puxada pela ruiva na direção dos demais habitantes que se reuniam no centro do acampamento. Anne é guiada por Emma até chegarem a uma fogueira, montada recente, rodeada por bancos de madeira.

— Sente-se aqui — Emma apontou para o local onde Anne deveria sentar, ficando ambas bem próximas. Não demorou muito e logo as demais mulheres e alguns homens cercaram a fogueira como fora feito por Anne e Emma.

— Quando quiser, Tess — A ruiva verbalizou com um sorriso esbelto em face, meneando a cabeça próxima ao ouvido direito de Anne — Ela é a irmã da Tina, aquela que foi em uma missão com Dean e os outros.

Tess aparentava ser mais nova que Tina, prendendo seu volumoso cabelo em um rabo de cavalo mediano, cobrindo a região da testa com um lenço azul que envolvia as próprias madeixas. A jovem mulher entrelaça seus dedos nas cordas do violão, soltando as notas antes de iniciar a melodia a ser escolhida.

— Tem alguma música em mente? Ela sempre aceita sugestões. — Emma cochichou novamente no ouvido de Anne, recebendo um sinal negativo da morena gesticulado com a cabeça.

Anne permanece em silêncio, observando a doce voz de Tess ecoar pelo acampamento de forma plena e suave. Sentiu algo que há tempos não sentia. Olhou de relance para todos os sobreviventes alinhados no círculo ali formado, voltando sua atenção para a fogueira.

Um misto de tristeza e felicidade tomou conta da mulher. Sabia que estava rodeada por boas pessoas, e por isso tinha medo de algo ruim acontecer, assim como aconteceu com todos da Fortaleza. Por um momento de sua vida pós-apocalipse, Anne acreditou que seria mais fácil sobreviver sozinha, como um cavaleiro solitário. Não seria a primeira vez que passara por isso, afinal, a Millman enfrentou desde a rejeição de sua família ao abandono iminente do pai de sua pequena filha. Assim, Anne guardou todos os rancores em seus pensamentos, tornando-se uma mulher amarga e fria, como Dean mencionara meses atrás ao conhecer a morena.

Mas tudo encaminhava para uma mudança importante na vida atual de Anne. A mulher de madeixas escuras sentiu que poderia fazer parte daquele grupo, que se tornaria uma pessoa melhor ao lado de novos companheiros, superando os tristes acontecimentos de seu passado.

— Lindo! — Ouviu a exclamação de Emma, sendo seguida pelo bater das palmas dos demais sobreviventes que rodeavam a fogueira. Tess havia terminado a primeira melodia da noite, agradecendo os elogios com um sorriso sincero e amistoso.

— Incrível — Anne deixou escapar um sussurro quase inaudível. Olhando de relance para todos que se deleitavam da canção de Tess; compartilhando sorrisos de alívio, olhares de comoção e abraços afetivos. Nunca havia visto algo parecido, não antes de conhecer o doce jeito de ser da falecida Lucy, rejeitando todas as investidas da loira de se aproximar de Anne.

— Vamos para a próxima — Tess comunicou, passando seus dedos pela corda do violão mais uma vez — Acho que vocês conhecem essa.

E Anne permanece ali, abismada por não saber o quão importante é estar rodeada por pessoas que um dia se importarão com sua existência. A morena reconhece sua indignação pelas escolhas erradas que cometeu, mas agora pretendia finalmente tomar as decisões certas, estando disposta a, de fato, fazer parte daquele grupo e conviver com os demais habitantes.

O restante do luau improvisado foi marcado pelas canções de Tess e, aos poucos, Anne viu os sobreviventes que ali estavam se dispersarem em direção as suas respectivas cabanas. O mesmo acabou acontecendo com Anne, que permaneceu até o final da apresentação de Tess ao lado de Emma e outros sobreviventes.

Seus olhos fecharam com uma facilidade imensa. Era a primeira vez que Anne conseguira realmente dormir depois da queda da Fortaleza e da morte de seu companheiro, Logan. Todavia, a morena sentia o clima amistoso do acampamento que agora fazia parte, e também estava ciente das intenções dos habitantes. Poderia descansar tranquilamente e ter uma boa noite de sono.

— Preciso de todos na minha tenda, agora — Ouviu a voz grossa e potente de Charles ecoar no lado exterior de sua cabana — Não se esqueça de Sam, ele será importante — Os olhos de Anne abriram-se com hesitação. Aquela pequena conversa havia despertado o sono da morena.

— Certo. — Erin respondeu com sua voz apressada, retirando-se dali na sequência.

— Anne — A sombra da silhueta de Charles fica visível na entrada da cabana laranja onde Anne dormia — Preciso que você acorde, é urgente! — Exclamou em um tom alarmante. A morena coça o rosto antes de finalmente respondê-lo.

— Cha-Charles — Gaguejou ainda sonolenta — O que houve?

— Venha até minha tenda assim que estiver pronta — O líder do acampamento respondeu, afastando-se gradativamente da cabana de Anne — Mas se apresse, é algo importante.

A morena bufou, irritada por ter seu merecido descanso interrompido, mas aflita pelo fato de Charles convocar uma reunião de urgência tão cedo. Temia que Mason pudesse dar más notícias. Anne logo tratou de se arrumar e seguir na direção da tenda de Charles. O fluxo de habitantes estava intenso para o horário, algo realmente preocupava o líder.

— Emma — Anne sussurrou ao notar a presença da ruiva, caminhando em direção à tenda com Laurel ao seu lado — Emma! Você sabe o que é tudo isso? — Questionou, aproximando-se das duas mulheres.

— Anne! — A ruiva se desprende dos braços de Laurel, recebendo Anne com um abraço de preocupação — Algo horrível pode ter acontecido. Não sobrou nenhuma unha para roer! — Emma demonstra sua aflição, seguindo caminho ao lado de Laurel e Anne.

— Isso foi muito estranho — Laurel pensou em voz alta, fitando ambas sobreviventes — Charles não convoca reuniões assim do nada, a menos que algo sério e urgente tenha acontecido.

— O ouvi falando com Erin, pediu para que chamasse Sam, pois ele seria importante — Anne comunicou em um tom de voz baixo, deixando-as pensativas, principalmente Laurel, que interrompe a caminhada de súbito.

— Algum problema, Laurel? — Emma questiona, tocando nos ombros da amiga.

— Ele também pediu para que chamasse o John — A mulher de cabelos castanhos engoliu em seco, inspirando por alguns segundos — Também disse que ele seria de extrema importância nessa reunião — Laurel respondeu, fazendo Emma e Anne se entreolharem rapidamente.

— Parece que Charles precisa dos melhores, vamos ver o que ele quer conosco também — Emma respondeu, puxando Laurel pelo braço enquanto andejava na direção da tenda, adentrando no local na sequência.

A quantidade de sobreviventes que ocupavam o espaço da tenda de Charles era intensa.  O líder fez questão de incluir a maioria dos habitantes na reunião, estando todos visivelmente nervosos com tudo aquilo.

Anne Millman finalmente encontra Mason ao lado de uma mesa, com outros cinco homens ao seu lado, incluindo Sam e John entre eles. O líder do acampamento efetua três socos na mobília de madeira, pedindo silêncio no local.

— Sei que devem estar assustados com essa convocação repentina, muitos de vocês estavam descansando e foram surpreendidos pelo meu pedido — Charles inicia o discurso — Mas creio que algo de estranho está acontecendo e, se não tomarmos nenhuma medida, a segurança de todos vocês está comprometida.

A curiosidade e o temor dos sobreviventes são aguçados com a fala do líder. Anne observa muitos cochicharem algo, outros não escondiam o medo de estarem em perigo antes mesmo de saber o motivo.

— E o que exatamente nos coloca em perigo? — Meredith, uma das médicas do acampamento, foi a única a questionar o discurso do líder.

— Vocês devem saber que realizamos uma missão de coleta semanalmente, reversando sempre os grupos a quem a missão será destinada, certo? — Charles ignora a pergunta de Meredith, estando prestes a respondê-la em seu discurso — Pois bem, o grupo dessa semana foi composto por Roy, Tina, Kevin e o nosso mais novo habitante, Dean.

— Eu sabia, são notícias ruins. — Emma lamentou, cruzando os punhos.

— Bom, normalmente essas missões não chegam a durar um dia inteiro, e quando há algum atraso, sempre chegam durante a madrugada. Contudo, dessa vez houve um atraso de um dia e meio, e... para os padrões de Roy Harper, isso significa que algo de ruim aconteceu.

— Como podemos ter certeza disso? Imprevistos sempre acontecem — Jake, um dos habitantes responsáveis pela horta do acampamento, retrucou com os braços cruzados — Talvez o Roy e os outros estejam a caminho do nosso acampamento agora mesmo.

 — Isso não é uma discussão, Jake — Charles rebateu, mantendo sua voz firme e séria — Em minhas missões no Afeganistão, meu batalhão sempre mantinha um protocolo crítico em relação ao horário da execução do plano e, se o limite fosse ultrapassado, os reforços poderiam interferir — Mason continua, dando pequenos passos mais à frente — Roy aprendeu a seguir esse protocolo nas missões que ele realizou. Acredite em mim, algo de ruim ocorreu.

Um silêncio incômodo surge no interior da tenda. Os demais habitantes miravam o austero líder do acampamento manter sua convicção quanto à situação. Jake não pretendia rebater Charles novamente, apenas confiando no instinto do ex-soldado americano.

— Por isso, nós seremos os reforços dos nossos companheiros — Mason concluiu, fitando os sobreviventes que estavam mais próximos — Partiremos agora mesmo para apoiá-lo, seja lá qual for o problema. Eu irei como o líder do pelotão, preciso de mais alguns sobreviventes ao meu lado — Mirou os demais habitantes que estavam na tenda — John e Sam, você irão também. Riley, sua pontaria é uma das melhores dentre as mulheres, você virá também. Os demais que permanecerem, protejam nosso acampamento.

Os habitantes se dispersam aos poucos, nervosos e aflitos com a situação informada por Charles. Emma e Laurel se entreolham por poucos segundos, compartilhavam o mesmo sentimento de preocupação, enquanto Anne caminhava na direção de Mason.

— Eu irei — A voz da morena saiu séria e potente, fazendo Charles encará-la com um semblante imponente — Você sabe que não pode me impedir. Se Dean está em perigo, é meu dever ajudá-lo, caso contrário, estarei sozinha no meio de estranhos.

— Tem certeza que você quer ir só por isso, Anne? — O líder lançou um questionamento duvidoso em relação ao desejo da morena.

— Não sei aonde você quer chegar, mas sei que não temos muito tempo, certo? — Anne rebate, de forma convicta — Ou você prefere que o seu pessoal sofra com o atraso do líder?

— Você está certa — Mason responde — Encontre-se com a Riley e os outros, peguem o que for preciso. Partiremos em instantes.  — O líder afastou-se em passos apressados, caminhando na direção de outro gruo aglomerado de sobreviventes.

— Anne — A voz preocupada de Emma ecoou ao lado da morena — Você também fará parte da equipe de reforços? — A ruiva questiona, enquanto Anne assente com a cabeça.

— Por que você não vem também? — Anne indaga, fitando-a.

— Não sei, é complicado... — Emma desvia o olhar por alguns segundos — Não é tão simples assim. Charles não costuma me enviar em missões por conta do meu jeito. Ele acha que meu temperamento agitado pode se tornar um problema em situações extremas — A ruiva tornou a olhar Anne — Enfim, eu só quero desejar boa sorte. Laurel e eu ficaremos aqui, torcendo para que dê tudo certo.

— Obrigado, Em. — A voz de Anne ecoa de maneira suave e gentil. A jovem mulher acaricia o ombro esquerdo da companheira de grupo como um gesto afetivo — Você tem sido uma ótima amiga aqui no acampamento, de verdade.

Emma esboça um sorriso sincero e amistoso. As palavras ditas por Anne deixaram-na satisfeita com seu papel no acampamento. Para Emma Anderson, todos os membros do acampamento eram seus companheiros, amigos de grupo. Mas nunca era vista como uma mulher forte e capaz de sobreviver a situações difíceis. Seu jeito extrovertido, agitado e alegre muitas vezes era julgado pelos habitantes do acampamento, deixando-a limitada e taxada como fraca.

Por isso Emma insiste em manter alguma relação com Anne. Fora a morena quem a ruiva recrutou em sua primeira missão com John, marido de Laurel. Para a ruiva, ter alguém em que possa confiar e não ser subestimada era seu maior desejo no momento e, aos poucos, Anne mostrava ser a pessoa ideal para isso.

                                                                   ...

Ouvira um balançar repentino nos arbustos do seu lado esquerdo, pensou se tratar de algum animal fugindo com medo da presença dos sobreviventes. Seus passos iam apressados, mas seus olhos estavam atentos em tudo ao redor. A paisagem era domada por árvores imensas; plantas e galhos secos estavam espalhados por toda parte.

— Permaneçam em formação, estamos perto da entrada — Charles sussurrou, virando-se para os sobreviventes que estavam logo atrás de si — Continue protegendo nossa retaguarda, John.

O moreno assente com a cabeça, mantendo seu foco nas áreas longe do campo de visão se deus companheiros. O esposo de Laurel estava mais atrás, com uma arma de grande porte em mãos. Pouco mais à frente, estavam Anne e Sam, enquanto a ex-agente da guarda municipal, Riley, caminhava mais próxima de Charles.

— Ainda acho que eles têm um caso — Cochichou Sam, apontando para Riley e o líder da missão com o queixo — Eles vivem juntos, Charles nunca vai a uma missão sem ela.

— E existe algum problema nisso? — Anne retrucou.

— Não, digo... depois que eu conheci a Erin nesse acampamento, tudo mudou — O loiro responde, permanecendo calado por alguns segundos antes de continuar — A sensação de saber que tem alguém te esperando angustiada,  depois de uma missão perigosa, é ótima — Sam engole em seco, expressando uma visível preocupação — Mas ao mesmo tempo, me deixa nervoso por saber que algum problema pode deixá-la arrasada.

— Então chame a Erin para ir às missões com você. Aposto que ela ficará mais tranquila — Anne tentou tranquilizá-lo, ainda com sua atenção voltada para a floresta. Sam permanece calado e pensativo.

— Erin não é como a Riley ou como você... sabe? — Deu um suspiro profundo — Eu queria que ela fosse, mas ela não é. Ás vezes fico aflito com a possiblidade de ela ser a primeira a morrer quando algo de ruim acontecer.

Anne permanece em silêncio, refletindo nas palavras do loiro. Todos daquele acampamento se importavam com alguém, desde uma maneira afetiva e carinhosa, como também algo mais profundo e real. A morena logo mentaliza Dean, afinal, era por ele que Anne estava participando dessa missão de reforço, mesmo sabendo que ele provavelmente não faria o mesmo — como ocorrido na queda da Fortaleza, sendo considerada morta por Dean Walt logo após seu desaparecimento.

— Espero que a conversa tenha sido produtiva — A voz grossa e autoritária de Charles interrompe os pensamentos de Anne, deixando-a desnorteada por alguns segundos. O líder eleva o dedo indicador até a região dos lábios, era preciso silêncio antes de ultrapassar a estrada logo à frente — Chegamos à estrada que dá acesso à cidade. Então fiquem atentos, atirem em qualquer coisa, viva ou morta.

— Podem desfazer a formação, mas não fiquem dispersos — Riley concluiu, em um tom de voz quase inaudível. A mulher, que beirava os quarenta e cinco anos, possuía traços asiáticos e um porte físico resistente para a sua idade. — Vamos sair, ergam suas armas.

Riley e Charles se entreolham por alguns segundos. Ambos assentem com a cabeça antes de emergirem da floresta e se depararem com o asfalto acinzentado da estrada. Mason gostava da presença de Riley nas missões em que ele mesmo fazia questão de ir. Os dois, de fato, nutriam um relacionamento reservado diante dos habitantes do acampamento.

Riley Inoue conseguia deixar Charles em equilíbrio com as demais vertentes de sua personalidade explosiva e agitada. Ao lado da descendente de asiáticos, o líder do acampamento conseguia pensar melhor e agir com rapidez em momentos difíceis.

— Onde vamos procurá-los exatamente? — Jonh indagou, controlando o tom da própria voz.

— Em um depósito da polícia local, mandei eles irem diretamente lá — Charles faz uma pausa para eliminar um transformado que surge na entrada da cidade — Riley possuía alguns contatos nesse depósito. Sabemos a localização

Mason acaba atraindo a atenção de um transformado em um estado de decomposição avançado, com sua feição irreconhecível e pútrida, a caixa torácica visível entre a pele acinzentada. A marca de uma mordida estampava o ombro esquerdo do errante, assim como metade de seu braço arrancado.

— Eu fico com esse — Sam comunica aos demais, andejando na direção do ser pútrido e sedento em carne. Contudo, outros três andantes surgem por detrás de um muro desabado. Sam crava sua faca no crânio do decomposto, afastando-se logo em seguida.

— Eles estão surgindo do nada. — Sussurrou aos demais companheiros, elevando a faca mais uma vez. Anne e John dão cabo nos outros dois, enquanto o último é atingido por um disparo silencioso de Riley.

— Saia da minha frente, Sam — Mason bradou, empurrando o loiro para o lado e, enfim, adentrando na cidade.

— Algum problema, Charles? — Riley questiona, buscando o motivo da preocupação estampada na face do líder.

— Da última vez que viemos aqui não havia um fluxo tão intenso de errantes... — Charles mantinha seu olhar na direção dos andarilhos que perambulavam pelas ruas da cidade — Fiquem atentos, talvez seja esse o motivo do atraso do nosso pessoal.

Os sobreviventes prosseguem com a trajetória, eliminando alguns transformados no processo. Charles e Riley tomavam à frente do grupo, ambos com um afinco e bravura inquestionável. Sam ia mais atrás juntamente à Anne e John. O esposo de Laurel estava esperançoso quanto ao encontro de Roy e os demais, no entanto, o moreno se depara com uma quantidade incontável e monstruosa de andarilhos em uma rua isolada.

— Filhos de uma mãe.... — Riley deixou um xingamento sair, consternada com a quantidade de transformados que praticamente domavam a rua — Eles estão na frente do depósito.

— Então foi isso, eles foram cercados! — Anne exclamou. A mulher de cabelos escuros parecia estar aliviada com a situação. Na verdade, Anne estava menos aflita por saber que Dean apenas passou por algumas dificuldades com os mortos, e apenas isso. Não saberia como reagir caso Dean sofresse outro ataque de humanos, assim como o que desmoronou a Fortaleza — Só precisamos limpar a área para que eles possam sair lá de dentro.

Charles lança um olhar neutro para Anne. 

— Não acho que seja tão simples assim — John comunicou, aflito — Olhem para o depósito em si, eles estão entrando lá dentro, conseguiram entrar. Talvez seja tarde...

Um silêncio angustiante surge entre os sobreviventes. Anne segura firme o cabo de sua arma, consternada com a possibilidade cogitada por John. A morena lança um olhar para Charles, voltando-se novamente para a horda que dominava o local.

— Esperem — A voz de Sam ecoa em sussurros quase inaudíveis — Olhem para a cobertura do depósito, tem alguém lá. Parece ser... — O loiro fez uma pausa, cerrando os olhos antes de prosseguir — Roy!

— Então eles conseguiram escapar, precisamos achar uma maneira de nos aproximarmos. — Riley proferiu, mantendo-se atenta à horda de transformados.

— Segure isto — Charles entrega arma de alto calibre que portava a Joh, apunhalando seu binóculo na sequência. O líder tem seu campo de visão tomado pelos andarilhos, mas logo avista um posto de gasolina ao lado do depósito. — Tem um posto, com um carro parado bem na frente. Se conseguirmos alcançá-lo, o resgate seria mais rápido.

— Por que não nos dividimos? — Anne sugere, fazendo Charles fitá-la — Três de nós vão de encontro ao depósito, aposto que conseguimos limpar uma parte do caminho com as armas que temos, os dois restantes vão de encontro ao carro, limpando tudo até chegar na porta do depósito e resgatando os demais.

Charles permanece calado, surpreso com o senso tático e estratégico de Anne. O militar olha de relance para sua companheira de profissão, Riley, que assente com a cabeça, alegando que o plano de Anne pode dar certo.

— Tudo bem — Mason ajusta o boné — Sam, você virá comigo e com Riley para o depósito. Anne e John correrão para o carro, tentem se apressar.

O grupo assente com a cabeça, preparando-se para o início do plano de Anne. John e a morena são os primeiros a contornarem a rua para irem de encontro ao carro, enquanto Charles aguardava o momento certo para continuar com o plano.

— Okay — O líder do acampamento sacou a própria arma, destravando-a — É a nossa hora, vamos!

Com passos ligeiros e cautelosos, o trio de sobreviventes segue na direção da horda. Riley inicia os momentos contra os andarilhos, eliminando os mais próximos. Charles dá apoio mais atrás, enquanto Sam corria pelas laterais. O loiro dispara nos dois primeiros transformados que sentem sua presença, contudo, outros infectados andejam na direção de Sam, obrigando-o a recuar.

Charles e Riley faziam uma boa dupla em campo. Ambos militares conseguiam derrubar os infectados amontoados sem muito esforço e com um silencio e cautela impressionantes. Contudo, Sam era quem tinha mais dificuldades.

— Seus vermes — Resmungou em voz alta, disparando nos zumbis que iam se aproximando. Sam viu seu último pente de munição acabar assim que se aproximou da porta do depósito, apunhalando sua faca nobre enquanto largava a arma na calçada do local.

— Sam! — Riley bradou, notando a dificuldade do loiro de escapar dos errantes — Aquele rapaz entregou nossa posição, Charles, não adianta passarmos despercebidos agora.

— Merda — Lamentou o líder, correndo na direção de Sam enquanto disparava contra a horda — Sam! Entre no depósito! Entre no depósito, agora! — Mason tentou guiar o sobrevivente para uma melhor saída, mesmo que o depósito tenha sido tomado, a quantidade de transformados era inferior em relação ao lado exterior.

Sam corre na direção da porta do depósito, tropeçando no corpo de um andarilho que já havia sido eliminado. O loiro resmunga intensamente, avistando algo que lhe roubou a atenção. A Azagaia de Tina estava largada no chão do depósito, imersa em um sangue escuro e fresco.

— Tina... — Sibilou, pegando a faca branca da companheira de acampamento assim que se reergueu. O loiro então inicia uma sequência de movimentos com as duas armas brancas que agora possuía, desferindo cortes precisos nos transformados que tomavam o interior do depósito.

— Hey! — Uma voz soa no final do depósito — Sam, aqui! Eu te ajudo a subir, anda logo! — Roy Harper berrava para o loiro, tentando tirá-lo daquela situação difícil. Charles e Riley logo surgem no depósito, ambos com dificuldade de manter o fluxo de errantes controlado.

— Como é bom ver você, soldado! — Brincou Charles, correndo na direção do alçapão aberto por Charles, subindo na cobertura do depósito com Riley e Sam.

Mais afastados dali, mas não tão longe, estavam John e Anne.  A dupla de sobrevivente contorna a estrada que dá acesso à rua do depósito, visando o carro do posto de gasolina. Anne parecia nervosa e aflita com a situação, a vida dos outros dependia do sucesso de sua parte do plano.

— Vamos por aqui, parece que os perambulantes foram atraídos por Charles e os outros — John comunicou, apontando para a direção segura a se seguir. O moreno e esposo de Laurel portava uma arma silenciosa, disparando nos andarilhos próximos ao posto antes de aproximarem — Agora, corre!

Anne e John atravessam a rua em um ritmo pulsante. A morena desfia dos braços erguidos de alguns transformados, separando-se de John momentaneamente.

— Vá, eu te alcanço depois! — Exclamou a morena, encostando o cano de sua pistola na testa de um caminhante, estourando-a na sequência. Anne faz uma curva para tentar alcançar o carro e John, sua respiração já estava arfante, logo chegaria ao seu limite.

— Anne! — John grita pelo nome da mulher, derrubando os zumbis que estavam ao redor do veículo. O sobrevivente tenta abrir a porta do carro, mas sem sucesso. Disparando, então, contra o vidro do automóvel, destruindo-o no processo.

Um alarme ecoa no mesmo instante, deixando John extremamente nervoso e angustiado. Os andarilhos das proximidades acabam sendo atraídos para o posto de gasolina devido ao alarme. Anne fica estagnada, observando John adentrar no carro às pressas.

A morena estava prestes a correr em direção ao amigo quando fora derrubada por dois infectados. Os transformados haviam agarrado o tronco e o braço esquerdo de Anne Millman, levando-a ao chão concomitantemente. Anne solta um grito de dor assim que seu rosto chocou-se com o asfalto ressecado do local.

Millman sente seu sangue quente escorrer da sua testa e se ramificar pelas duas fossas nasais. Anne tenta se soltar, chutando um dos transformados para o lado, afastando-o momentaneamente. Todavia, o outro errante insistia em abocanhar a mulher, estando agarrado ao tronco da mesma.

— Desgraçado! — Anne exclamou, afastando e retrocedendo o ombro, a fim de atrasá-lo. O outro errante logo se arrasta na direção da morena, mas o mesmo acaba sendo derrubado por um disparo de uma arma de fogo.

— Anne! — John bradou, arrastando a morena pelos braços. Anne tem parte de sua camiseta rasgada pelas mãos pútridas do andarilho restante, mas acaba sendo salva por John, que surge no momento certo para ajudá-la.

Enquanto arrastava a companheira, John acaba sendo surpreendido por outros dois zumbis que surgem por trás, abocanhando o braço e o abdômen do sobrevivente. O esposo de Laurel não consegue esconder a dor, bradando loucamente ao ver e sentir pedaços de seu corpo sendo rasgados como um papel. Mas John não se entrega por completo, livrando-se dos transformados enquanto puxava Anne pelo braço e corria na direção do carro.

— John... você... — Anne ficara abismada com a situação de John, a morena mantinha seus olhos escuros arregalados, exalando nervosismo e preocupação.

— Não se preocupe, nós temos que alcançar o carro, precisamos ajudar os outros! — John respondeu, correndo com dificuldades enquanto seu sangue se espalhava pelo asfalto do posto. Anne decide servir de apoio ao companheiro de grupo, ajudando-o a se movimentar, imergindo-se no sangue de John durante o processo.

Os dois logo alcançam o carro, adentrando no mesmo sem dificuldades. No entanto, o alarme soado ainda atraia os transformados que logo cercavam aos poucos Anne e John.

— O que vamos fazer? Você foi mordido, precisa ser tratado!

— Não! — John gritou, interrompendo a mulher — Apenas dirija, vá até o depósito e resgate os outros. Eu não sou a prioridade agora.

— Claro que é! Não posso deixá-lo assim, desse jeito você vai... — Anne preferiu não sibilar tais palavras. Notando pelo olhar de John que o mesmo já estava ciente do seu destino. Não tinha como evitar o seu fim. O homem assente com a cabeça, esboçando um sorriso lateral.

— Diga à Laurel que eu  a amo muito e que fiz tudo isso por ela — Os olhos de John começam a lacrimejar, o sobrevivente pretendia tentar uma última coisa antes de encontrar seu fim, algo que pudesse garantir a sobrevivência de todos aquele que admirava — E diga um adeus aos outros.

John abre a porta do carro de subido, retirando-se do veículo enquanto Anne o observava, de dentro do carro, espantada com o feito do rapaz.

— John! — Millman gritou, sem entender o que o mesmo estava prestes a fazer.

— Vá — O sobrevivente sibilou com sua voz calma e serena, caminhando com dificuldades para um espaço mais afastado do veículo em que Anne estava, gritando loucamente para que os andarilhos fossem em sua direção.

John ergue a cabeça, observando a imensidão do céu azul. O homem fecha os olhos, sorrindo por alguns segundos; parecia ter encontrado a paz que tanto almejara antes de ser derrubado e tomado pelos demais infectados que avançaram ferozmente em sua direção.

Anne ficara boquiaberta com a atitude de John. A morena, com suas mãos e pernas trêmulas, acelera o veículo enquanto ultrapassava os errantes que estavam dispersos pelo local, atropelando-os até chegar de frente ao depósito, acionando a buzina para alertar aos demais que havia conseguido. Anne olha pelo vidro traseiro, notando o corpo estraçalhado de John no chão do asfalto, sendo devorado e consumido insanamente.

A mulher pensou em Logan, seu falecido companheiro, pensou na sua filha pequena e em todos que perdeu durante o apocalipse, desde Quinn à Lucy, imergindo nas próprias lágrimas durante o processo.


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