Radioactive - The Underworld escrita por Artur


Capítulo 7
Capítulo 07: Hopeless Opus


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, tudo bem com vocês? Sei que demorei para atualizar, mas cá estou eu! Este capítulo estava pronto há um certo tempo, contudo, só tive tempo livre para publicá-lo agora, como vem acontecendo com a maioria das minhas outras fics, enfim, espero que gostem! É um capítulo muito melancólico, triste e emotivo, veremos como o acampamento reagirá após as mortes dos capítulos anteriores.



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Radioactive

Hopeless Opus

A tinta azul preenchia boa parte daquele vasto quadro em branco. Seus movimentos sutis e delicados deixavam contornos levemente ondulados na pintura. Retocando-a  pela última vez, Laurel Morris mergulhou a ponta do seu pincel em um cinza escuro, dando forma nítida a uma espécie de gaiola, cercando um pequeno pássaro assustado, amedrontado. A pintora estava séria, como sempre ficara quando adentrava em seu atelier, seu espaço sagrado.

Aquele era o único momento em que Laurel podia expressar todas suas conformações, seus medos e mais sinceros pensamentos. Quase sempre moldados pelo seu humor e sentimentos, seus quadros rotineiros costumavam apresentar paisagens alegres, revigorantes, com             tonalidades que deixam explícito a felicidade da pintora. Contudo, as obras de Laurel mudaram drasticamente quando o mundo começou a se transformar no inferno de hoje; seus quadros agora obtinham um tom sombrio, angustiante e quase sufocante. Laurel estava cada vez mais infeliz e qualquer um que olhasse suas pinturas poderia perceber isso.

A mulher de cabelos castanhos estava em seu atelier improvisado, dividindo espaço com a estufa de flores e plantas — também improvisada — de Erin Lancaster. Era ali onde Laurel passava a maior parte do seu dia, afastada dos demais sobreviventes do acampamento, pintando seus quadros adaptados que levou consigo mesmo com o apocalipse.

— Laurel — A voz de Erin ecoou pela estufa — Emma quer saber se você pode ajudá-la com o estoque do dia. — A loira diz, segurando um vaso em mãos.

Morris solta um suspiro, regulando a própria postura enquanto esticava os braços.

 — Diga à Emma que estou um pouco ocupada agora, mas assim que terminar irei ajudá-la. — Respondeu, com um sorriso em face. Laurel aguarda a saída de Erin para, enfim, poder retornar à sua pintura. Precisava estar sozinha, focada e tranquila para que sua criatividade pudesse ser posta em prática.

Cercada por outros quadros lastimosos, repletos de uma profunda melancolia, Laurel parecia se desvirtuar cada vez mais do seu antigo modo de encarar as coisas. Mas os antigos quadros, alegres e ensolarados, também estavam presentes ali, jogados em um canto do local, esquecidos em um vasto e amargurado lugar que Laurel encontrou.

O último quadro em que Laurel trabalhava estava prestes a ser finalizado. Um pequeno beija-flor, avistando a imensidão de um céu azulado, mas preso e cercado por uma gaiola acinzentada, quase sem vida, impedindo-o de voar livremente.

Laurel permanece parada, observando a pintura que acabara de concluir. Seu olhar estava fixo, sem demonstrar qualquer consternação da mulher. Não exalava medo ou preocupação, revelava apenas a mudança brusca de alguém afetado pelo apocalipse.

O que aconteceu com você, Laurel?

                                                                [...]

Destravou a pistola com urgência. Estava trêmula, nunca havia passado por isso antes, nunca precisou usar uma arma de verdade. Mas a situação pedia medidas trágicas. Acompanhada pelo seu esposo, John, a pintora contemporânea se viu obrigada a deixar para trás tudo aquilo que construiu.

— Eu sinto muito, Laurel, mas você sabe que não podemos ficar aqui para sempre — John lamentou, observando os olhos consternados da amada — Estamos sem nenhum sinal há quatro dias, seu pai entrou em contato há quase uma semana... eles já deviam ter chegado.

— Você acha que eles estão mortos? — Laurel retrucou sem muito desvaneio.

— Não falei isso, querida — O moreno tentou contornar a situação, aproximando-se da mulher de cabelos castanhos — Só não podemos ficar esperando algo que não temos a certeza, quanto mais demorarmos, mais difícil vai ser para sair da cidade.

— Ele... ele pode ter encontrado minha irmã, certo? E talvez, talvez tenha tentado o refúgio anunciado pelo Governo, ou quem sabe se abrigaram na casa do papai?

Um silêncio angustiante tomou conta do atelier da pintora. John não gostaria de ver a esposa abalada, mas sabia que era preciso um choque de realidade para que Laurel soubesse o que era preciso ser feito para sobreviver.

— Não podemos criar expectativas, Laurel — John acaricia o ombro direito da amada — Liz e seu pai podem estar em qualquer lugar. É uma cidade grande, estaremos expostos se ficarmos olhando em cada esquina.

Laurel não responde o esposo. Seus olhos esverdeados se enchem de lágrimas, escorrendo pela sua face assustada, temerosa. Laurel Morris sabia da situação em que ela e seu marido se encontravam, mas era difícil largar tudo sem saber se seus familiares estão vivos por ai, sobrevivendo como ela.

— Escute... — A voz de John saiu calma, tranquilizante — Eu sei o quanto é difícil, também não sei se meus parentes estão vivos como eu, mas não podemos continuar no seu atelier para sempre, é muito perigoso! Principalmente por estarmos quase no centro da cidade, você sabe que aquelas coisas estão se aglomerando.

O casal compartilha um abraço sincero e amistoso. Não podiam ficar naquele lugar por mais tempo, estava na hora de seguir em frente. E, antes de ir embora com John, Laurel fez questão de carregar consigo algumas telas de diferentes tamanhos e pequenos potes de tinta, deixando tudo na garupa da picape vermelha que possuíam.

Com o mundo prestes a desabar, estava na hora de Laurel e John buscarem um novo rumo nas suas vidas. Era preciso lutar pela própria sobrevivência agora em diante, mas Laurel não conseguia desapegar de sua via de escape; seus quadros emblemáticos.

                                                                  [...]

O quadro recém-concluído foi deixado em cima de uma mesa de madeira, misturando-se com outras pinturas feitas no acampamento. Laurel estava prestes a sair da estufa quando fora surpreendida por Erin, que surge apressada.

— Laurel! — A loira parecia entusiasmada — Eles voltaram! Jake acabou de me avisar, eles conseguiram salvar os outros! — Erin esboçava um esbelto sorriso em face. Laurel também fica feliz, correndo ambas na direção da parte central do acampamento comandado por Charles Mason.

As duas sobreviventes observam a presença aglomerada de muitos habitantes do acampamento. Algo, no mínimo, estranho. E, ao aproximar-se vagarosamente, percebem que algo de ruim havia acontecido.

Erin logo avista Sam, desolado, com sua face suja e seu corpo completamente imerso em sangue. A loira o abraça assim que o vê, beijando-o na sequência. Estava feliz por saber que seu namorado estava vivo, a salvo. Sam fecha os olhos, ainda abraçado com a loira,                                                                                                            agradecendo por ter tido a chance de voltar com vida para o acampamento.

Os olhos esverdeados de Laurel fitam cada rosto presente naquele momento. Avistou seu líder Charles, acompanhando de Riley e Roy Harper. O peito de Laurel arfou de maneira rápida e brusca, o semblante tristonho dos sobreviventes comprovava que algo de estranho aconteceu.

— Anne? — Emma Anderson surgiu entre os habitantes do acampamento, a ruiva notara a presença de companheira mais atrás, recebendo apoio de Dean e Christy. Anne estava ferida, imersa em um sangue já seco. — O que aconteceu? Você está bem? Foi mordida?

O bombardeio de perguntas feitas por Emma deixou a atenção de todos voltada para a morena. Laurel se surpreende por vê-la em um estado tão série e aparentemente grave, realmente assustada com a situação de Anne.

— Espere — Laurel pensou em voz alta, percebendo a ausência do seu amado — Onde está ele?  Cadê o John? — A voz da loira indagou com um tom de voz alarmante. Charles e os demais sobreviventes desviam o olhar, visivelmente abatidos.

— Laurel... — Charles Mason tentou dar a fatídica notícia.

— Não! — Morris interrompeu, seus olhos arregalados já imergiam em lágrimas contínuas. Laurel ergue suas mãos trêmulas em direção à cabeça, estando boquiaberta com o acontecido — Isso não é verdade... John... ele não pode ter morrido! — A voz de Laurel saiu cortada pelos soluços em meio às lágrimas.

Os demais habitantes do acampamento compartilham um lamento em conjunto diante da perda de Laurel. Emma não resiste e logo se vê abraçada à Laurel, chorando com a companheira de grupo.

— John morreu como um herói, Laurel — Charles sussurrou, próximo à pintora — Ele morreu tentando salvar todos nós. Chegamos aqui graças a ele.

— Tina e Kevin? — Indagou Emma, com um tom de voz aflito. A ruiva percebe que a tragédia havia sido maior quando Charles simplesmente maneia a cabeça, confirmando a morte dos outros dois membros do acampamento.

— Nós vamos fazer um velório para os três, antes do entardecer — Informou o líder do acampamento, voltando-se para os demais habitantes — Noah e Elizabeth, você podem fazer as covas? Prestaremos nossas homenagens.

Um silencio torturante tomou conta do local. O único som ecoado era o balouçar dos galhos das árvores que cercavam o acampamento, assim como o choro de dor e tristeza que tomava conta de Laurel e de outros sobreviventes abalados pelo trágico acontecimento.

Laurel não consegue digerir tais palavras ditas por Charles, correndo na direção contrária com suas mãos secando as lágrimas que já escorriam pelo seu rosto claro. Morris corre sem um rumo certo, queria apenas que tudo aquilo fosse um pesadelo e que acordasse o mais rápido possível. Mas Laurel não podia alterar os fatos, seu marido se fora, levando consigo a única esperança que remanescia na pintora.

Os sobreviventes permaneceram no mesmo lugar em que a noticia fora informada. Todos abalados, tristes pela perda de três grandes sobreviventes, exemplos de determinação e confiança. Erin estava abraçada a Sam, derramando suas lágrimas no tecido pútrido da camisa do amado.

— Eu tive tanto medo, Erin... — A voz falha de Sam soou de maneira tímida e profundamente abatida — Medo de não voltar com vida, de perder você. Pensei que fosse morrer ali mesmo.

— Mas você não morreu — Erin ergue a cabeça, fitando os olhos do namorado. O rosto claro da jovem mulher já estava avermelhando diante de tamanha aflição — E eu estou aqui, com você. — A loira de tranças abraça Sam mais uma vez — Vamos passar por isso juntos, ok?

Mais afastados dali, Dean e Christy davam suporte à Anne, sendo recebidos por Meredith na tenda médica da cardiologista. Meredith Samuels ainda tentava processar tudo que acabara de acontecer, mas, dada as circunstâncias de Anne, não havia tempo para lamentações, não naquele exato momento.

— Preciso ver seus ferimentos, certificar que não há nenhuma mordida — A única médica do acampamento esticou os braços de Anne, verificando cada parte de seus membros superiores.

— Esse sangue — Anne sibilou, fazendo uma pausa de alguns segundos — Esse sangue não é meu — A mulher concluiu, fechando os próprios olhos por alguns segundos, lembrando-se da imagem de John sendo devorado vivo bem na sua frente.

— Eu sinto muito — Lamentou Meredith, deslizando um pano úmido pelo rosto ensanguentado de Anne — Charles contou que você viu tudo, deve ter sido horrível.

Observando as duas mulheres, um pouco mais afastados da tenda médica, estavam Dean e Christy, esperando pelo tratamento de Anne. Ambos permaneceram calados, refletindo sobre tudo que acontecera. Dean, ao contrário de Christy, parecia bem menos abalado, convicto de que nada poderia ter sido feito para impedir as mortes de Tina, Kevin e John.

— Você está estranho, Dean — Murmurou Chrsity, ajeitando o casaco que trajava. A mulher de cabelos escuros não obteve resposta. O olhar de Dean estava fixo na imagem de Anne completamente abalada, destruída emocionalmente.

Desde o dia em que conheceu Anne, Dean nunca havia visto a mulher em um estado tão deprimente, nem mesmo depois das mortes de seus companheiros próximos ou da queda de sua antiga comunidade, a Fortaleza. Anne sempre foi fria, assim como Dean, quando se tratava dos próprios sentimentos. No entanto, algo havia mudado na personalidade da garota, e Dean reparou nisso.

— Meredith — O rapaz aproximou-se da tenda médica — Você pode nos dar um minuto? — Indagou. A média ergue uma de suas sobrancelhas, olhando de relance para a paciente que estava ao seu lado.

— Tudo bem , já estou terminando o curativo mesmo — Respondeu, voltando-se para Anne — Você teve sorte de só ter sido um machucado na testa e nada mais alarmante.

— Obrigada, Meredith — Anne agradeceu, abaixando a cabeça. A médica do acampamento guardou algumas coisas em uma maleta e logo tratou de deixar os dois sobreviventes sozinhos.

Dean permaneceu parado e calado, olhando uma Anne visivelmente abatida, devastada. O rapaz se perguntou o quão terrível foi para a companheira de estrada ver a morte de John tão de perto, algo que a morena já estava acostumada.

— Anne, você está bem? — O rapaz não obteve resposta, aproximando-se um pouco mais da morena. — A morte de John te afetou tanto assim?

— Você não entende — Ergueu a cabeça, fitando-o com seus olhos assustados — Não importa quantas vezes eu passe por isso, nunca irei me acostumar. Foi assim com a Quinn, Lucy... — Anne fez uma pausa, lembrando-se da morte de uma pessoa em específico — Logan.

Os nomes mencionados por Anne fizeram Dean permanecer em silêncio. Era impossível evitar que a lembrança da morte de Lucy viesse à tona, e isso o irritava profundamente. Dean nunca gostou de assumir que gostava de alguém, que se preocupava com alguma pessoa, mas Lucy o mudou de um jeito surpreendente, e a morte da jovem o fez ter raiva de si mesmo.

— Ele morreu por minha culpa, Dean — A voz de Anne quebrou com aquele silêncio. Seus olhos escuros já estavam marejados quando contara a notícia para Dean — Tentou me salvar, e me salvou. Não só a mim... ele salvou você, Roy e todos os outros. Laurel deve estar arrasada com tudo isso.

— Você não precisa passar por isso sozinha — Emma surge na tenda, surpreendo o casal de sobreviventes — Não mais. Estamos aqui para te apoiar. Todos sentimos muito as mortes de John e dos demais. Mas você não pode se sentir culpada, Anne.

— Emma está certa — Dean interrompe à ruiva, descruzando os braços — John se sacrificou pelo bem de todos nós. A morte dele evitou outras sete, contando com você.

Anne ergue a cabeça, fitando os dois sobreviventes. Sentiu-se acolhida pelos companheiros, incluindo o frio e inescrupuloso Dean. Mas a morena sabia que nunca iria esquecer a cena dos gritos de dor e agonia de John, levara consigo para sempre o sangue derramado do sobrevivente em suas próprias mãos.

Um pequeno e simplório velório foi feito em homenagem a John, Tina e Kevin; três fatalidades em um único dia. Laurel permaneceu distante, sofrendo em silêncio pela perda do marido. A pintora não compareceu ao cerimonial, preferiu se imergir em lágrimas dentro de seu atelier improvisado.

Não conseguia aceitar o fato de perdê-lo de uma maneira tão repentina, sem nem ao menos se despedir. Pensou que poderia ter aproveitado mais os momentos que passou ao lado do amado, afinal, ele era o único motivo que a fazia acordar todos os dias.

Laurel esperou os habitantes do acampamento se dispersarem. Já havia anoitecido quando a pintora andejou até a tenda de Veruska, pegando alguns fósforos e um pote de álcool. Laurel pretendia se livrar de toda raiva que sentia naquele momento. A mulher de cabelos castanhos voltou até o próprio atelier, arrastando os quadros que havia pintando até a área do lado exterior do atelier-estufa. Em pé, Morris começou a derramar o álcool por cima de suas obras, encharcando-as no processo. 

Laurel parou por alguns segundos, seus olhos já estavam secos de tanto chorar. E, após um longo suspiro, ascendeu o fósforo, lançando-o sob os quadros. Um fogo intenso logo se espalhou pelo chão úmido do local, as chamas envolviam gradativamente as pinturas, carbonizando-as lentamente. E Laurel observou tudo, desabando-se no chão próximo das chamas.

Seus olhos estavam fixos no imenso fogaréu que acabara de provocar. Aqueles quadros trariam diariamente a lembrança da vida que tivera ao lado de John e de sua irmã, Liz. A mulher estava farta de tudo que estava vivendo; aceitar que um apocalipse misterioso destruiu sua vida inteira era difícil e complicado.

— Laurel — Uma voz suave surgiu entre o barulho das chamas se espalhando — Afaste-se um pouco, você pode se machucar — Roy Harper viera dar o apoio necessário à companheira de grupo. No entanto, Laurel permanece sentada ao chão, observando tudo.

— Escute — Harper sentou-se ao lado da mulher, tocando no seu ombro direito — Sei que está sendo difícil pra você e entendo que não queira coparecer no velório. Mas você não pode se isolar desse jeito, mais do que você já se isolou nesses dias. — Roy olhava de relance para a pintora e para o fogaréu.

— O que você quer de mim? — Foi tudo que Laurel dissera.

— Que você tente superar essa tragédia. Nós podemos te ajudar, mas só se você se permitir ser ajudada — Roy concluiu, retirando seu boné cinza — Também estou triste com a morte de John. Tina e Kevin morreram bem na minha frente e eu não pude fazer nada.

— Não — Interrompeu Laurel, ríspida e seca — Você só está aqui fingindo um apoio qualquer porque você se sente obrigado a fazer isso. John morreu porque foi convocado à missão de resgate... ao seu resgate, e agora você tem remorso disso — Laurel inclinou a cabeça, fitando Roy com o olhar — Mas o seu remorso não pode trazê-lo de volta, Roy.

Harper desviou o olhar, voltando-se para as chamas que estavam bem na sua frente. Laurel permaneceu fitando-o, calada e pensativa. As palavras da pintora deixaram Roy profundamente abatido, mas aquela não era a real intenção do ex-combatente.

— Você está enganada — Respondeu, sem olhá-la nos olhos — Estou aqui porque sei como é perder alguém nos dias de hoje, sei como é sentir que o apocalipse te tirou tudo de importante. — Roy Harper inspirou profundamente antes de prosseguir — Perdi minha noiva e minha mãe no inicio do surto, meu pai cometeu suicídio depois de vê-la morta, e eu... eu, Laurel, tive que ver a transformação dos meus dois pilares.

Um silêncio melancólico surge entre o casal.

— E eu tive que matá-las.

Os olhos inchados de Laurel se arregalam com o desabafo do companheiro de acampamento. Roy Harper logo se ergue, deixando o atelier antes que chorasse na frente da pintora, deixando-a sozinha com suas telas queimadas. Laurel sentiu-se impotente, abalada com a revelação de Roy, algo que o rapaz nunca havia contando para alguém.

O dia amanheceu, e Laurel tivera a pior noite de sono desde que todo caos começou. A pintora permaneceu a noite toda deitada no chão úmido do seu atelier, com o único quadro que não fora queimado do seu lado. Laurel logo avista alguém se aproximando lentamente, tratava-se de Anne, com um curativo na testa e nos braços.

— Laurel — Sibilou, assim que notou a mulher deitada no chão — Preciso conversar com você.

— Eu já sei que você sente muito e que... — Laurel, impaciente, começou a proferir sendo interrompida rapidamente por Anne.

— Não! Só me escuta, ok? — A morena continuou, sentando ao lado da pintora — Você já deve saber que John se sacrificou por todos nós. Mas ele... ele morreu por minha culpa. Eu precisei de ajuda, e ele acabou ficando exposto, se John foi mordido a culpa é minha. Ficamos cercadas dentro do carro, mas precisávamos chegar no depósito para ajudar os outros. John então deixou ser devorado para poder abrir o meu caminho, eu juro que tentei impedi-lo, mas o semblante dele... — Anne fez uma pausa, lembrando-se da expressão do falecido — Ele parecia livre.

— John... — Sibilou Laurel, abaixando a cabeça.

— Ele me pediu para te dizer uma coisa. John disse que fez tudo por você e que te ama muito. Pediu para você se cuidar — Informou, secando as próprias lágrimas. Laurel esboça um sorriso lateral, erguendo a tela pequena que estava ao seu lado, observando-a em silêncio.

— Esse lugar... — Começou a pronunciar, olhando para seu atelier improvisado — Fiz tudo isso para preencher um espaço vazio dentro de mim. John era a favor que eu continuasse pintando, ele sabia que era a única maneira de me sentir realizada depois que fui separada da minha família. Mas John era o único resquício de esperança que eu tinha... — Laurel interrompe a própria fala, olhando para a tela que tinha em mãos.

— Esse foi o único que quadro que não queimei ontem à noite — Laurel inclina a tela, mostrando a pintura do beija-flor engaiolado à Anne — Essa foi a última das minhas obras sem esperança. E hoje eu acordei acreditando que não posso levar isso adiante, não posso ser esse tipo de pessoa, eu preciso sobreviver.

Anne observa o discurso fúnebre de Laurel com seus olhos já marejados. A morena sentia a culpa da morte de John, mas ao ver Laurel naquele estado, em um profundo estado de amargura e sofrimento, seu coração apertou ainda mais.

— Não importa o que você pensou em fazer após a morte de John — Anne começou a verbalizar — Você agora entende que deve seguir em frente, Laurel, pelo John e por todos que acreditaram em você.

Laurel assente a cabeça, aproximando-se de Anne enquanto ambas compartilham um abraço sincero, amistoso e repleto de sentimentos. A pintora finalmente reconhece o que é necessário para sobreviver, mesmo que seja difícil no começo, é preciso ter esperança própria, seja lá de onde vier, tudo depende de esperança.


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