O Grande Palco da Vida - Live escrita por Celso Innocente


Capítulo 24
Uma aposta valiosa.




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Dezoito de Outubro, em Fátima do Sul, no Mato Grosso do Sul, pouco antes do show, Regis me disse que iria à frente do ginásio para brincar com outros garotos.

— Não é uma boa ideia — neguei.

— Claro que é uma boa ideia! — insistiu ele.

— Regis, apesar de que você goste de ser simples, você é uma figura pública...

— Isso — ironizou ele. — Sou uma figura pública, então tenho que viver com o público.

— Esse negócio de você fugir da gente e ir pra rua brincar é muito perigoso.

Ele sorriu, deu-me um beijo no rosto.

— Te amo Willian! — deixou-me sem palavras. — Tchau!

Ele, embora artista e muito conhecido, não queria deixar de aproveitar sua infância e a vantagem, era que, como ele se vestia com short e camiseta bem simples, quando se misturava a outras crianças, praticamente ninguém o reconhecia, pois criança é tudo igual: pula, brinca, despenteia o cabelo... e a maioria dos adultos esquecem de notá-las.

Aproximou-se de quatro meninos, que brincavam do outro lado da rua, ao lado do ginásio:

— Posso brincar com vocês? — perguntou ele.

— Se você quiser! — concordou o mais velho, loiro, de seus doze anos de idade.

— Mas você não mora por aqui! — negou outro, de uns nove anos. — Eu não conheço você!

— Moro em São Paulo — confirmou Regis.

— Veio passear? — perguntou-lhe o mais velho.

— Pode se dizer que sim! — o confirmou.

— Vai assistir ao show? — perguntou outro garoto.

— Claro! Vocês não vão?

— Não! — negou um deles. — Não temos dinheiro! Mesmo que tivéssemos meu pai não deixaria!

— Por quê? Não gostam de shows?

— Claro que a gente gosta! Mas não podemos ir!

— Como é o nome de vocês?

— Daniel! — disse o mais velho.

— Fabio! — emendou o outro, branco de uns dez anos.

— Luís Henrique! — disse o moreno de uns nove anos.

— Paulinho! — afirmou o último, branco de uns nove anos.

— E você? — perguntou Daniel.

— Regis de Assis.

Os meninos entreolharam-se, perguntando quase juntos:

— Regis Moura?!

Regis, sem orgulho, concordou com os ombros.

— E o que você está fazendo aqui fora? — perguntou Fábio.

— Queria brincar com vocês! Posso?

— E seu pai? — perguntou Daniel. — Não fica bravo?

— Meu pai está em São Paulo!

— E quem cuida de você? — perguntou Daniel.

— Eu me cuido sozinho!

— Viaja sozinho!? — perguntou Paulinho, sem acreditar.

— Willian cuida de mim! Mas ele não se importa que eu saia pra brincar.

— Você sai de short pras pessoas não conhecerem você? — quis saber Daniel.

— Mais ou menos! Mas dá certo!

— Você não gosta que as pessoas reconheçam você? — perguntou Paulinho.

— Eu gosto das pessoas! Mas se me reconhecerem não me deixam brincar.

— Se fosse eu, preferia que me reconhecessem! — insinuou Luís Henrique. — Ser artista deve ser muito legal! Ficar famoso… Tirar fotos com garotas... Vai à televisão…

— Você gosta de ser artista, Regis? — Perguntou Daniel.

— Sou feliz como artista. Geralmente é bom! Mas tem hora que é ruim!

— Como ruim? — perguntou Paulo Sergio.

— Ficar longe de casa… saudade de meus pais e de Tony, meu irmãozinho… quase não poder sair na rua… não poder brincar… longas viagens cansativas... ouvir os adultos chatos falarem besteiras… tudo é ruim!

— Os adultos falam muita besteira pra você? — perguntou Daniel.

— Adultos só falam besteira! Se eu pudesse não queria ser adulto nunca!

— Eu quero! — exclamou Luís Henrique.

— Pra que? — admirou-se Regis.

— Ir ao cinema de mulher pelada! Dirigir carros! Namorar garotas… beijar na boca...

— Pura besteira! — alegou Regis.

— Que besteiras que os adultos falam pra você? — insistiu Luís. — Sobre sexo?

— Principalmente — deu de ombros Regis. — O que importa?

— Se você se trocar... Ficar pronto pro show... Seu amigo que cuida de você não deixa que você saia aqui fora? — quis saber Paulinho.

— Claro que deixa! Só é ruim pra mim!

— Duvido que deixe! — insistiu Paulinho.

— Faço uma aposta com vocês! Vou lá dentro, me troco e volto aqui! Se eu fizer isso vocês terão que assistir ao show!

— Nossos pais não deixam! — negou Luís Henrique.

— É uma aposta!

— Fechado! — concordou Fábio. — E se você não vestir roupa de show terá que tirar essa roupa aí!

— Toda a roupa? — fez careta de desconforto, Regis.

— Aposta é aposta! — riu Fábio.

— Tudo bem! Esperem aqui que eu volto! Só que virei pelos fundos do ginásio.

E entrou indo direto ao camarim. Despiu-se daquela roupa de brincar e começou a se vestir para o show. O músico Marcos César entrou e protestou:

— Calma aí, menino! Ainda está muito cedo pra vestir essa roupa!

— Não se preocupe comigo!

— Isso tá me cheirando a arte.

Acabara de se aprontar e rapidamente se retirara, saindo do ginásio pela porta dos fundos. Encontrara diversas pessoas, que o cumprimentava e ele gentilmente, mas apressadamente respondia. Precisou até parar para dar autógrafos. Um grupo de quatro garotas, o fez parar e queria dele um beijo, o que, um pouco apressado satisfez o desejo das fãs, as quais ele insistia em chamar de amigas e seguiu para o encontro dos garotos, que, mesmo sabendo ter perdido a aposta o esperou.

— Quatro pessoas a mais em meu show! — riu ele ao chegar perto dos meninos.

— O problema é que a gente não tem dinheiro, Regis! — negou Paulo Sergio.

— Aposta é aposta! Vocês entram comigo pelos fundos e não precisam pagar.

Sem pagar, todos concordaram. Menos Luís Henrique, que disse:

— Eu não posso ir! Meu pai não deixa.

— Como não? Você perdeu a aposta, agora precisa entrar!

— Meu pai me bate.

— Se eu perdesse a aposta vocês iriam querer tirar minha roupa. Certo?

— Você não deixaria! — negou Luís Henrique. — Você nem voltaria aqui!

— Eu sabia que ganharia esta aposta! Não tinha como perder!

— Eu não apostei nada!

— Seja homem Luís! — insistiu Fábio. — Tá parecendo mulherzinha!

— Não quero é apanhar de meu pai.

— Então eu peço pro seu pai deixar! Mas você vai pagar a aposta! — cobrou Regis.

— Logo quem! — duvidou Paulo Sergio. — O pai do Luís? Ele é ruim que só a peste! Bate nele por uma gota de água! Vai bater até em você!

— Eu até pago a entrada — concordou Luís, tirando algum dinheiro do bolso da calça. Ele era o único que estava de calça comprida. — Mas não posso entrar.

— Você mora longe?

— Dois quarteirões.

— Então vamos à sua casa. Ninguém vai bater em ninguém!

Primeiramente, Regis levou os outros três garotos para dentro do ginásio, tornou a trocar de roupas, vestindo calça e camisa de moletom e retornou a seguir até a rua, indo com Luís Henrique até sua casa.

Entraram na sala de visita e encontraram a mãe do menino assistindo televisão. Educadamente a cumprimentou, depois o filho lhe perguntou:

— Onde está o pai?

— Tomando banho.

— Por que ele toma banho tão tarde? — perguntou Regis.

— Porque eu chego tarde do serviço! — alegou em voz, forte o homem que acabava de entrar na sala.

— Acho que somos iguais! — afirmou Regis, rindo.

— Por acaso você trabalha? — perguntou o pai de Luís.

— Sempre chego tarde do serviço! Sempre chego em casa após cinco e até dez dias de trabalho.

— Você trabalha em quê? — ironizou o homem.

— Regis Moura é cantor, pai! Ele vai fazer um show ali no ginásio daqui a pouco.

— Regis Moura, o cantor!? — admirou-se a mãe do menino, levantando-se. — Gosto tanto de ouvir suas músicas!

— Obrigado! Preciso que gostem de meu trabalho!

— O que você faz aqui, menino? — insistiu a mulher, a quem Regis apenas balançou os ombros como a dizer “sei lá”!

— Pesado seu trabalho, não? — ironizou o homem.

— Pesado não! Difícil! — retrucou também, Regis.

— Até concordo — disse o homem, não parecendo ser nada bravo. — Vou jantar. Você já jantou?

— Sim senhor! Obrigado! — agradeceu Regis. — Mas antes do senhor ir, eu queria pedir pra deixar o Luís ir assistir ao meu show!

— De jeito nenhum! — negou o homem com jeito de palavra definitiva.

— Por que não? Ele não precisa pagar a entrada!

— Nunca! Aquilo acaba tarde.

— Onze horas não é tão tarde! — negou Regis.

— Pra você que amanhã levanta ao meio dia! — reclamou o homem.

— Não ofenda o menino assim, João! — pediu a esposa. — Ele só está sendo gentil.

— O Luís precisa ir ao show — cobrou Regis. — Ele fez uma aposta comigo e perdeu.

— Depois vou ensinar esse moleque a fazer apostas por aí!

Ouvindo isto, Regis se emocionou, deixando rolar algumas lágrimas, dizendo:

— O senhor não pode ser tão ruim como os meninos dizem!

Aquelas palavras inocentes e aquelas lágrimas sentidas comoveram o coração duro daquele homem, que se aproximou e abraçando o pequeno artista, pediu:

— Pare de chorar, filho. Não creio que a presença de meu moleque seja tão especial assim pra você!

— Mas ele é meu amigo! — alegou Regis ainda com lágrimas. — O senhor não pode ser tão ruim assim! Deixe ele ir comigo?

— Ele andou te pedindo isto, é?

— Sou eu quem está pedindo. Por favor!

— O que os outros meninos falam de mim?

— Que o senhor é muito ruim! E que bate no Luís!

— Você inventou isto a alguém, Luís?

— Não senhor! — negou Luís, assustado. — Eu não disse nada!

— Se o senhor bater nele, não precisa que ele conte — Negou Regis, se aproximando do outro garoto e mostrando com os dedos, marcas de cinta em seu braço direito, na altura dos músculos. — Estas marcas de reio conta. Aposto que ele está de calça comprida por esse motivo também.

O homem olhou para Regis. A princípio furioso. Pois julgava que aquele garoto não tinha o direito de se meter em sua vida assim.

— E quando uma criança apanha de seus pais, tem vergonha disso! Não sai por aí contando pra todo mundo!

Tal homem mudou de fisionomia e disse:

— Por acaso você é arteiro, garoto?

— Acredito que muito menos do que certos adultos. Até menos do que o senhor!

— Atrevido você, não? — riu nervoso o pai de Luís. — Você não gosta de adultos?

— Gosto muito! Mas ainda prefiro ser criança!

— Por quê?

— Meu empresário me ensinou as vantagens em ser criança e as desvantagens em ser adulto.

— Só que se você continuar pensando assim, vai se revoltar ao se tornar adulto.

— Não senhor! Eu só não tenho pressa, mas sei que um dia serei adulto também! E farei tudo pra ser um adulto feliz... E justo.

— Pelo que os outros garotos disseram de mim, você me detesta?

— Claro que não! O senhor nem parece ser tão ruim assim!

— Mas eu sou! Os meninos têm razão. Pode contar a ele, Luís!

Regis olhou para o outro garoto, que de cabeça baixa nada falava. Então perguntou:

— Seu pai bate muito em você?

— Diga que sim, Luís! — ordenou o homem. — É a verdade.

— Você faz muitas travessuras Luís? — insistiu Regis.

— Qual o garoto que não faz travessuras, Regis? — cobrou o homem. — Até você faz! Tenho certeza!

— E qual o adulto que não faz travessuras? — retrucou Regis incisivo. — Até meu empresário faz!

— Vou fazer o seguinte — Insinuou João. — Essa conversa tirou minha fome. Então vocês esperam um pouco, que vou me trocar e levar minha mulher e meu moleque pra assistirmos seu show.

— Verdade papai? — Alegrou-se Luís.

— Verdade! Vi falar que Regis é um ótimo cantor! Então quero ver ao vivo!

— Puxa... senhor João! — sorriu o pequeno artista. — Como fico feliz com uma visita assim!

E ficava mesmo. Regis era um garoto muito especial. Tinha sentimentos e queria transformar as pessoas.

— Você é uma benção, Regis! — disse o homem.

— Sei que sou! — confirmou Regis. — O senhor também é! Todos somos bênçãos de Deus!

Quem me contou toda esta passagem, foi o próprio senhor João e Luís Henrique, no camarim de Regis, assim que o show daquela noite se encerrou.

©©©

Em dez de Novembro, quarta feira, antes de sairmos para um final de semana prolongado de viagens, a mãe de Regis lhe entregou a seguinte carta, que ela recebeu entre as centenas de outras, que ela mesma lia e juntos, na medida do possível, procurávamos responder a todas, com ciência do dono da carta (Regis).

Fátima do Sul, 3 de Novembro de 1982.

Querido amiguinho Regis.

Espero que você ainda se lembre de mim e minha família. Antes de você aparecer em minha casa eu realmente era um homem muito ruim; sempre revoltado contra todos.

Sabe, eu sempre trabalho até muito tarde e às vezes estressado acabo por descontar tudo em meu filho, por causa de pequenas artes bobas. Mas naquele dia em que você esteve aqui, através de sua simplicidade e ousadia, me mostrou o quanto você é belo e importante. Com o coraçãozinho de ouro em bondade que você tem, percebi o quanto meu filho, embora não seja artista, é importante também.

Em seu show, percebi o quanto estava sendo crápula e vi em meu filho, a figura de criança bonita, junto com a beleza de minha esposa também.

Sabe, por pura arrogância eu não vi meu filho crescer e só naquele dia, enquanto prestava atenção nele feliz, sorrindo e aplaudindo sua gratificante apresentação, é que pude perceber o quanto ele é belo. Meu filho é o menino mais belo do mundo e só naquele dia foi que pude perceber isso.

Eu nunca o havia levado a um circo, cinema, parque... Nada. Naquele dia, percebi o quanto ele e minha esposa ficaram gratos a mim e a você também. Enfim, um dia que marcou a vida deles... e principalmente a minha também, pois percebi que ele estava crescendo, sem que eu desfrutasse de sua infância passageira.

Regis, devido seus muitos compromissos, talvez com o passar do tempo, você acabe se esquecendo da gente, mas uma coisa lhe prometo: jamais me esquecerei de você, pois você foi como um médico especial em minha vida, curando-me de uma doença mortal: a ignorância e o ódio. Com você aprendi que é melhor ser bom do que ranzinza. Que minha família não tem culpa do stress de meu trabalho. Que se eu compartilhar meu dia-a-dia com eles poderão me ajudar. É divertido. É felicidade. Você curou minha alma. Percebi que meu filho e minha esposa, não são os culpados de meu dia tumultuado pelo trabalho cansativo.

Você tem milhões de fãs espalhados pelo mundo, mas eu prefiro tê-lo como amigo e agradeço tudo o que você, com amor, fez por mim e minha família.

Como você soube, eu batia mesmo em meu filho; achava que suas traquinagens eram graves. Acho que me esquecia de que eu mesmo sempre fui mais traquina do que ele em minha infância. Acho que esqueci minha infância e que infância e traquinagens estão correlacionadas. Mas a partir daquele dia, jamais baterei em minha cópia, pois é covardia ferir aquele que sempre nos trás muita felicidade.

Comprei seus dois discos e comprarei a todos os que você gravar. Não gostava de música. Acho que não gostava de nada. Hoje adoro ouvir sua vozinha bonita e tenho orgulho em contar a meus amigos, que você esteve em minha casa e faz parte de nossa vida. Parabéns.

Ficarei imensamente feliz, se você, quando puder, me responder a esta carta e, por favor, diga que perdoa a minha ignorância, quando você com muito carinho me deu a honra de sua visita. Quantas pessoas adorariam esse privilégio. Diga também se aceita ser meu amigo, pois eu o amo, como se fosse um outro filhinho meu.

O Luís lhe manda um grande abraço e manda lhe agradecer. Minha esposa também e juntos desejamos que tudo de bom e felicidade, sempre aconteça em sua vida bonita. Que seu coração continue sempre o mesmo de ouro que um dia tive o privilégio de conhecer.

Um abraço e um beijo de muita gratidão,

Seu mais sincero amigo,

João Carlos Nascimento.

Regis, devido a pouca escolaridade, não conseguia redigir bem uma carta, então rascunhou e me pediu para corrigir e mandar para o amigo de Fátima do Sul, no estado de Mato Grosso do Sul.

São Paulo, 10 de Novembro de 1982.

Amigo João Carlos e família,

Acabei de ler sua carta, a qual recebi juntamente com centenas de outras. Todas são muito importantes para mim, mas a sua foi a que mais me tocou, que mais me deixou feliz.

Fico muito feliz em saber que pude contribuir para algo de bom em sua vida. Graças a Deus que o senhor seja um homem bom e obrigado de verdade por me querer como a um filhinho. Pode acreditar, jamais me esquecerei do senhor, do Luís e de sua esposa.

Julga-me importante e diz que seu filho também é muito importante, embora não sendo artista. É claro que ele é importante e eu por ser artista, não sou mais importante do que ninguém. Ser artista é apenas um trabalho.

Diz nunca ter levado seu filho e esposa a qualquer tipo de diversão e agora o faz, o que é muito bom. Sabe: papai e mamãe também nunca me levam a qualquer tipo de diversão; nem a mim, nem a Tony, meu irmão menor. Isso faz muita falta. Os filhos querem o carinho de seus pais; não precisam de chicote. Devido meu trabalho viajando, não sinto tanta falta de passeios; mas percebo que Tony sente e às vezes o levo para viajar conosco, quando mamãe pode ir.

Às vezes o pai bate no filho quando este faz arte. Mas como que ninguém bate no pai quando este faz arte? Eu conheço pais que bebem pinga; que traem a esposa e filhos e até pais bandidos.

Quero ser seu amigo de verdade e espero que me mande uma foto sua, junto com sua esposa e seu filho, para que eu nunca me esqueça de suas imagens físicas, pois de alma, não esquecerei.

Agradeço por ter adquirido meus discos e gostaria que viessem me visitar quando puder. Eu no dia em que passar por aí irei visitá-los com certeza.

Que Deus sempre proteja o senhor e sua esposa e filho.

Esta carta escrevi, meu amigo Willian corrigiu os erros e eu reescrevi, pois, embora eu procure responder pessoalmente todas as cartas dos amigos, estou atrasado na escola e não sei escrever muito bem.

Um abraço e beijo respeitoso ao senhor, sua esposa e seu filho Luís Henrique.

Seu amigo,

Regis de Assis Moura.

No princípio de Janeiro de mil novecentos e oitenta e três, pensando em nosso conforto. Em comum acordo entre eu e o senhor Pedro, compramos em São Paulo um bonito micro-ônibus leito, com capacidade para dezoito passageiros e poltronas que são verdadeiras camas confortáveis; sendo seis duplas (casal) e seis simples (solteiro); toalete, cozinha, frigobar, vidros escuros, cortinas grossas, ar condicionado, suspensão a ar, cabine do motorista separada, som ambiente, aparelho PX, televisor com vídeo cassete.

Nas laterais do ônibus, mandamos escrever:

“REGIS MOURA SHOW”

E colocamos uma foto de Regis com óculos escuro.

No visor dianteiro, em display eletrônico, poderíamos escrever diversas frases, mas as mais comuns eram:

“REGIS MOURA”

“TURISMO”

“CANARINHO DA CIDADE”

“SÃO PAULO”

“NOSSO OBJETIVO É CARREGAR FELICIDADE”

Pensando ainda mais em nosso conforto, contratamos Juliano, que era motorista profissional. Com isto, eu e os músicos não precisávamos mais dirigir. Salvo em viagens muito longas, onde o motorista precisasse descansar.

A limpeza do ônibus era de responsabilidade do motorista, quando as viagens fossem menores do que cinco horas; com exceção de lençóis e cobertores, que era de responsabilidade de quem os usasse. Quando as viagens fossem maiores do que cinco horas, cada um de nós, inclusive Regis, ajudávamos nesta limpeza

Para descontração, carregava sempre a bordo, revistas diversas, como Contigo, Manchete e Seleções do Reader Digest, que eu era fã desde que comecei a gostar de leituras aos nove anos de idade e Regis se mostrava apaixonado também; além de revistas em quadrinhos da Disney, Hanna Bárbera e Mauricio de Souza e muitos livros de minha coleção particular;

(Apenas para referência. Não é preciso ler este parágrafo)

Entre os livros: Vinte Mil Léguas Submarinas, Um capitão de quinze anos e A ilha misteriosa (Julio Verne); O Meu pé de Laranja Lima (José Mauro de Vasconcellos); O Menino no Espelho (Fernando Sabino); O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint Exupery); O Buraco da agulha (Ken Follet); Menino de Asas e Cabra das rocas (Homero Homem); A ilha do tesouro (Robert L.Stevenson); Deus Negro (Neimar de Barros); Aperte o gatilho Johnny (John Ball); Sem família (Hector Malet); As aventuras de Xisto e Xisto no espaço ( Lucia Machado de Almeida); Três garotos num barco (Jerome K Jerome); Antologia da Criança, Mensagem do pequeno morto e Crianças no além (Francisco Candido Xavier); O passageiro clandestino (Allan Poe); Coleção com cinco livros de A turma os sete e dois livros de A turma dos cinco (Enid Blyton); Coração: diário de um aluno (de Amicis); O menino do dedo verde (Maurice Druon); A infância dos mortos ( José Louzeiro, que virou o filme Pixote); Moby Dick ( Herman Melville); O pequeno lorde (Edmundo Lys); Meus verdes anos (José Lins do Rego); A ilha perdida (Maria José Dupré); Cem noites Tapúias (Orfélia e Narbal Fontes); Sem destino e O menino que veio para ficar (Ganymedes José); Amor o pacto quebrado (Barbara Cartland) e dezenas de outros, incluindo Regis um menino no espaço, Um menino chamado Innocente e Sanguinário imortal, de autoria de meu amigo Celso Innocente.

Regis se tornara então um artista quase completo. Para completar sua felicidade, faltava realizar o sonho de apresentar dois shows. Um deles já estava marcado: seria realizado em vinte e seis de março daquele ano, na cidade de Penápolis estado de São Paulo, minha cidade natal e onde ainda residia toda minha família. O outro, ainda não estava marcado e deveria ser realizado em São João da Boa Vista, cidade natal de nosso pequeno artista.


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