O menino que colecionava Horcruxes escrita por Maga Clari


Capítulo 8
O imperador


Notas iniciais do capítulo

Hello! Eu estou viva! kkkkkkkkkkkkkkkkk
É que estou com pouquíssimo tempo para escrever. Mas, acabada a semana de provas, consegui escrever este capítulo.
Espero que gostem.
Ah, feliz dia do escritor ♥
No próximo, quero trazer os comensais da Morte, de volta, e a lindíssima Bella ♥
Beijinhos



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No ano seguinte, meu querido menino foi nomeado monitor-chefe. Ele até mesmo recebeu uma medalha por todo o serviço prestado à escola.

Tom não poderia sentir-se mais feliz e orgulhoso de si mesmo. E eu, por mais que tentasse evitar, sentia o mesmo. Meu pobre coração o adotara como filho; e toda mãe se enche de orgulho sempre que o seu filho recebe honrarias ao mérito. É algo que foge do nosso controle.

Talvez, eu esteja começando a ter emoções, afinal.

Durante aquela cerimônia, em seu dia de formatura, cheguei muito próximo ao que os humanos chamam de "chorar". O coração apertou; as mãos — sempre frias — começaram a suar.

Eu observava a tudo, muito atentamente. Coloquei-me próxima aos alunos de sua casa, e tomei um lugar vazio.

Meu menino havia crescido. Agora, sentava imponentemente no banco da Sonserina, tão controlado quanto seus demais colegas de casa. Como uma cobra, observava o salão discretamente, sem chamar atenção, sem deixar o emocional lhe atrapalhar.

*Uma pequena nota sobre os sonserinos*

Os alunos da Sonserina são frios. Contidos. Austeros. Tão emotivos quanto uma porta. Ninguém quase nunca sabe se estão tristes ou felizes; raivosos ou com medo.

Talvez, eu goste tanto desses meninos porque se assemelham a mim. Se eu fosse humana, o Chapéu-Seletor me colocaria na Sonserina, com certeza. Com um ofício desses, como não ir-me para lá?

No entanto, eu também me deliciava com os alunos alegres de vermelho-dourado. Permiti-me sorrir ao vê-los bater os pés no chão, esmurrarem a mesa, conversarem com vozes muito altas.

Às vezes, pergunto-me se sou uma criatura bipolar. Gosto de cores, afinal. E sentimentos também. Nenhuma alma passa despercebida por mim.

Mas voltemos à Tom antes que eu faça uma catarse. E aposto que você não está nem um pouco afim de saber sobre uma velha horrorosa, como eu.

— E por último, mas não menos importante, chamaremos o senhor Riddle, monitor-chefe da Sonserina!

Ao som dos aplausos, Tom levantou-se de seu assento e subiu no púlpito. Colocou-se bem ao lado do diretor, com as mãos cruzadas, atrás das costas.

Armando Dippet ajeitou os óculos em seu nariz, dando um breve aceno de cabeça para o aluno-modelo. Este, fizera o mesmo. Eu, no entanto, achei graça por ter visto um vislumbre de sorriso nos lábios de meu menino. Estava ali, escondido no cantinho da boca. Mas posso jurar tê-lo visto sorrir!

No momento, eu não percebi. Mas aquilo não era um sorriso de orgulho por ter sido um bom aluno. Aquele era um sorriso de satisfação pela fama, glória. Tom adorava ser o centro das atenções. Entrava em êxtase em ser elogiado, bem falado. Bajulado. Sentia-se superior aos demais alunos medianos.

— O senhor tem um grande futuro pela frente, Tom — profetizou Dumbledore, entregando-lhe pessoalmente uma medalha de mérito — Por favor, honre suas notas do N.I.E.M's. Escolha uma boa profissão.

— Esteja certo disso, senhor — respondeu, pomposamente.

No entanto, não demorou muito para nosso menino do orfanato voltar a aparecer. Ou melhor, Voldemort.

Apenas algumas semanas após a cerimônia, o ex-sonserino aparatou nos arredores de Hogsmeade, tomando o velho caminho para sua adorada escola de magia.

Eu havia acabado de recolher uma pobre senhora que morava por ali quando bati-me com Tom. Ele caminhava astutamente, o som de suas botas ecoava na estradinha. Sons também me dispersam, como você já deve ter percebido. Claro que eu o segui.

Como se ainda fizesse parte de lá, meu menino subiu pelas escadas giratórias e pôs os nós dos dedos na porta de madeira guardada por gárgulas.

— Qual é a senha? — rugiu uma das gárgulas.

— Torta de abóbora — respondeu, sem demora.

Eu mal havia começado a deduzir como ele sabia a senha quando a porta se abriu, com estrondo.

Cruzamos o portal e subimos mais outro lance de escada. Chegando ao topo, Tom pigarreou, aproximando de uma porta aberta.

— Pode entrar! — uma voz rouca surgiu, de repente.

Ficamos em pé, esperando qualquer comando do diretor Dippet. Este, por sua vez, indicou a cadeira à sua frente.

— O senhor sabia que eu..?

— Sim, senhor Riddle — interrompeu-o, displicentemente, assinando alguns pergaminhos, olhando para o ex-aluno, de esguelha — Assim como o senhor tem recursos para descobrir a senha, tenho eu para fiscalizar quem entra no meu castelo.

Um silêncio incômodo surgiu de repente.

— O que o traz aqui? — Armando Dippet prosseguiu, sem muita paciência.

— Eu estive pensando... — pigarreou e se ajeitou na cadeira — É só uma ideia, sabe. O senhor não gostaria de me contratar como professor? Soube que o cargo de Defesa Contra as Artes das Trevas está vago. O antigo professor se aposentou, estou certo?

Armando Dippet não disse uma única palavra por alguns desconfortáveis segundos. Continuou molhando sua pena na tinta, e escrevendo em seu pergaminho velho.

— Ora, vamos... Eu faço questão de retribuir tudo que essa escola me proporcionou, senhor. Sou o melhor candidato. Tenho boas notas. Senhor? Ei! Está prestando atenção?

— Posso ser cego, mas surdo eu não sou — respondeu, de modo quase grosseiro. E então, finalmente, largou seus afazeres — Escuta, senhor Riddle: eu fico lisonjeado com tamanha proposta. Mas, infelizmente, você é muito jovem, sabe. Precisa aprender muito ainda...

Os maxilares de meu menino se contraíram. Suas sobrancelhas se juntaram. Voldemort o encarava sem pena.

— Tirei Excede às Expectativas em todas as disciplinas, tirando Adivinhação, que ganhei um Ótimo. Duvido que encontre um outro qualquer com metade desse desempenho. O senhor me perdoe, mas devo alertá-lo da péssima escolha que o senhor está prestes a fazer.

— Tom... — o diretor amaciou o coração, com um leve suspiro — Suas notas não são algo que eu vejo com frequência, tenho consciência disso. Mas, infelizmente, ainda não é hora...

Armando Dippet levantou-se de sua mesinha e ficou de pé, encarando meu menino nos olhos. No entanto, Voldemort não se conteve. Pulou de sua cadeira, cheio de fúria e ressentimento, e voou para a porta.

— É preciso viver antes de entregar-se ao emprego dos sonhos, garoto...

Mas eu temo que meu menino não tenha escutado a última frase. Ele simplesmente bateu a porta atrás de si, tomado pela mágoa e inferioridade.

E de fato todos os piores sentimentos estiveram com ele naquele momento de sua vida.

Ao invés de ter uma juventude normal, Tom preferira crescer prematuramente e tomar atitudes de um adulto. Contudo, um verdadeiro adulto não adotaria tamanha imaturidade com a qual meu menino transbordava em suas peripécias pelo mundo.

Infelizmente, meu detestável ofício arrastou-me para as bandas da Albânia, onde, com muito pesar, levei a alma de alguns camponeses. Meu coração apertou quando soube de imediato que Tom fora responsável por aquilo. Seu humor sádico divertia-o quando torturava trouxas inocentes.

*Pequena observação*

Nunca intendi essa fixação em destruir trouxas. Tom era metade trouxa. Seria, então, um ódio a si mesmo?

Bem, naquele mesmo verão, meu menino encontrou o tão procurado diadema de Helena Ravenclaw. A fantasma da Corvinal lhe havia dito onde ele o acharia, e usando de sua perspicácia e cinismo, conseguiu recuperá-lo e transformá-lo em sua segunda horcrux. Nesse meio tempo, sua primeira horcrux transformada havia sido o anel dos Gaunt.

Enquanto pensava nas duas almas que meu menino carregava no corpo — não literalmente, mas representadas pelos adereços embaixo de suas vestes —, tentava contar mentalmente quantas eu mesma havia levado. Inúmeras! Incalculáveis! Mas que criatura repugnante sou eu!

No entanto, tenho a consciência tranquila de que nenhuma das almas que levei eu o fiz de propósito. Pelo contrário, levei-as cheia de dor e pena. E eu realmente gostaria que meu menino do orfanato pudesse ver o quanto este ofício é desgastante e terrível. Eu queria poder tocá-lo; abraçá-lo; dizê-lo que não é bem assim. Que existe uma dimensão de alegria e flores e que ele deveria ir até lá.

Infelizmente, nada pude fazer, a não ser assisti-lo muito passivamente. Sem interferir nem um pouquinho que seja.

Voldemort retornou à Grã-Bretanha com um ar estranho. Parecia anos mais velho. Eu quase não o reconhecia mais.

Onde fora parar a criança que chamara minha atenção? Onde fora parar o adolescente charmoso e inteligente?

O modo como Voldemort caminhava não era mais um desfile de astúcia infantil. Agora, parecia-me mais um andar imponente, arrogante, como se ele fosse dono do mundo. E ai de quem chegasse a dizê-lo um "bom dia".

Voldemort não mais fingia ser um bom moço. Cansara de usar a máscara que carregara a vida inteira. Agora era um novo homem. Não havia por quê se esconder.

As pessoas da vizinhança passaram a cumprimentá-lo com apenas um aceno de cabeça. Conheciam-no apenas de vista. E com o novo emprego que conseguira — na Borgin and Burkes, lojinha de artigos raros —, Voldemort mantivera sua primeira casa própria.

Trabalhar numa simples loja fora uma surpresa até mesmo para mim. Eu nunca imaginaria que o novo Riddle se rebaixaria a um emprego tão simples como aquele. Surpreendi-me ainda mais ao descobrir — entre uma conversa e outra — que ele recusara as diversas propostas de cargos no Ministério da Magia.

Naquela época, ninguém sabia — nem mesmo eu! —, mas tudo fazia parte de um longo e meticuloso plano de poder. Não havia nada que o interessasse no Ministério. Não naquela etapa do plano. No entanto, havia inúmeras razões para que Voldemort permanecesse na Borgin and Burkes.

*Anexo das razões*

— Poderia ouvir as fofocas do mundo bruxo em primeira mão

— Adquiriria em boas pechinchas diversos artigos com potenciais para serem horcruxes

— E, acima de tudo, este era um emprego discreto. Não levantaria suspeitas

E após sua grandiosa aquisição de uma taça e um medalhão, Voldemort abdicou de seu emprego na lojinha, saindo muito discretamente. Transformou-as em mais duas horcruxes depois de apanhar os artigos com um velha bruxa — Hepzibah Smith — a qual tive que levar, pesarosamente.

Voldemort alterou a memória de um pobre elfo doméstico para que ele assumisse a culpa, livrando-se, assim, de total responsabilidade.

Dez anos se passaram e meu menino voltou de um quase interminável retiro de Artes das Trevas.

Estudou feito louco. Fez inúmeros testes.

Tola, do jeito que sempre fui, imaginei que meu pobre órfão estivesse tentando ser uma pessoa melhor. Um sorriso pequeno se formava em meus lábios sempre que eu o via devorando mais outro livro. Isso me lembrava de seu tempo de Hogwarts; trazia-me um estranho sentimento de nostalgia.

De repente, meu menino já estava próximo dos seus trinta anos. A barba bem feita, vestes impecáveis. Um olhar feroz.

Caminhava com as mãos no sobrecasaco, seus passos ecoando na neve gélida do fim de inverno. Eram férias de Natal, e meu menino não possuía família.

Prosseguiu seu caminho, de certo modo, solitário, e então eu me vi seguindo-o até Hogwarts novamente. Imaginei, de imediato, que ele tentaria o honrado cargo de professor outra vez. Armando Dippet lhe havia dito para aparecer quando estivesse mais velho. E então ele obedecera.

No entanto, Dippet já não ministrava aquela escola. E foi com muita surpresa e alegria que, ao adentrar a sala da direção, Tom encontrara seu velho amigo sentado de pernas cruzadas, atrás de seus peculiares oclinhos de meia-lua.

— Já estava demorando, Tom.


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