O menino que colecionava Horcruxes escrita por Maga Clari


Capítulo 7
Horcruxes


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora.
E eu ia demorar bem mais.
Mas as recomendações me alegraram e cá estou eu! Viva! ~solta foguete~ ao invés de terminar de estudar, estou com capítulo fresquinho!
Beijos



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Voldemort adolescente — como já devo chamá-lo agora, afinal, se ele pediu que todos esquecessem seu verdadeiro nome, quem sou eu para contrariá-lo? — deixou o dormitório com uma pose tão austera que, por alguns instantes, esqueci-me de Rudy e Liesel, e resolvi segui-lo até a sala do professor Slughorn.

Como você já deve ter notado, sou extremamente curiosa. E mais ainda dispersa. Qualquer coisa me distrai.

Observei-o desfilar pelos corredores, e equilibrar-se nas escadas giratórias. Meu menino estava realmente bonito, como jamais o havia visto: estava todo de preto, com a gravata verde-musgo brilhando por baixo do suéter. Alguns fios teimosos insistiam em balançar em sua franja enquanto caminhava.

Oh, pobre Bellatrix Black! Eu a entendia. E continuo entendendo. Qualquer garota de dezesseis anos estaria apaixonada. Tom sempre fora bonito, desde criança. Eu não a culpo. E afinal, quem sou eu para culpá-la?

— Ah, olá, Tom! — o homem gorducho levantou-se para apertar a mão do seu primeiro convidado — Chegou cedo, hã?

— Eu estava ansioso para vir logo, senhor — ele respondeu, com seu charme natural — Nunca antes me chamaram para eventos assim.

— Interessante, interessante... — Slughorn foi até a mesa e pegou uma garrafa de vidro — Aceita um gole de hidromel?

— Desculpe, senhor, mas acho que FireWhisky viria à calhar.

Slughorn soltou uma risadinha, achando graça. Deu tapinhas nos ombros de meu menino, piscando para ele.

— Ah, o velho Tom! Está certo, está certo... — pegou uma outra garrafinha e despejou numa taça para ele — Eu também já bebia muito na sua idade, sabia?

— Posso imaginar — sorriu, com um ruído de satisfação ao deixar o líquido cair em seu estômago. E então, quando o professor já estava sentado, perguntou, como quem não quer nada: — Professor?

— Diga, Tom.

— Posso aproveitar para fazer uma pergunta? Eu já estava querendo procurá-lo, e já que ninguém chegou ainda...

— Vai em frente, garoto — ele olhou o relógio de pulso, rapidamente — Ainda temos uns dez minutos até o pessoal começar a aparecer.

Meu menino hesitou por alguns instantes, e trocou o peso de um pé para outro, mas sem perder a pose aristocrática.

— Eu andei estudando na biblioteca... — e então, uma ruga surgiu em sua testa — E vi um termo estranho. Não achei a definição daquilo em lugar nenhum... O enunciado citava um tal de horcrux. O senhor sabe o que é?

O professor Slughorn cuspiu sua bebida, e ficou momentaneamente engasgado. Voldemort apenas continuou em pé, esperando por sua resposta, procurando parecer tranquilo com tudo aquilo.

*Uma pequena observação*

Anos depois, essa conversa teve um valor imensurável. Dumbledore e Harry Potter lutaram para consegui-la. Após embebedá-lo, Harry conseguira a lembrança do professor para usar na penseira.

A verdade é que Voldemort já sabia um pouco sobre o assunto. Ele apenas precisava de um norte. Uma explicação mais detalhada, que, de fato, não encontraria nos livros daquele tempo.

— Ah, olha! Veja se não são a senhorita Black e o senhor Rookwood, hã? Entrem, entrem!

Meu menino fuzilou-os com o olhar, irritadiço por ter sido interrompido de sua conversa.

Não demorou muito para os demais alunos adentrarem a sala, também. E pelo que pareceu, Tom fora o único desacompanhado.

Oh, pobre Tom! Por quê? Eu apenas me pergunto o porquê dele ter sido tão insensível e egoísta. Ele bem que poderia ter chamado sua companheira de traquinagens.

Não pensem que sou vingativa, porque não sou. Mas achei que ele mereceu vê-la com o Rookwood naquele momento. Ambos apenas se encaravam, sem nada dizer. Mas afinal... O que era aquilo? Rancor? Raiva? Ego ferido? Amor? Bem... este último eu realmente duvidava que tivesse sido. Tom estava me decepcionando. Voldemort não amava.

E bem... Eu gostei de vê-los juntos. Rookwood, embora sonserino, parecia ser a pessoa certa para ela.

*Sobre Augusto Rookwood*

— magricela

— verdadeiramente romântico

— senso de humor

— bastante inteligente

Acho que sei porque gosto tanto dele. Augusto me lembra o Rudy. Deve ser isso. Só pode ter sido.

Mas voltando ao clube, a noite se desenrolou perfeitamente bem. Alguns dos alunos contaram piada, outros discutiram política e economia. Tom estava quieto demais. Apenas observando cada um dos membros que teria de conviver até o final do ano seguinte.

De repente, Alicia Green, convidada de Avery, puxou conversa com o meu menino. Após engolir sua última garfada, apontou para ele.

— Bonito, o anel! Deixa eu ver?

Voldemort, instintivamente, recolheu a mão para si. Mas então, com um pigarreio, voltou a estendê-lo para a colega. Sem, no entanto, deixá-la perto demais.

— Lindo mesmo! Que pedra é essa?

— Eu não sei. Ganhei de presente.

— É mesmo? — Slughorn sorriu, animadamente — Foi de alguma garota, hã? Aliás, o senhor veio mesmo desacompanhado? Não posso acreditar!

— Era do meu tio — pigarreou novamente, inventando a primeira história que veio em sua cabeça, adquirindo um tom falsamente triste. Como eu odiava suas mentiras! — Não quero falar sobre isso. E não, eu não tenho namorada, senhor.

Tom olhou propositalmente para Bella, deixando-a furiosa, porém contida. Ninguém reparou. Ninguém além de mim, obviamente.

*Um breve flashback*

No verão daquele mesmo ano, Voldemort foi atrás de sua família. Queria aprender mais sobre seu passado. Lá, tendo a confirmação de seu sangue trouxa, do lado paterno, enfureceu-se. Matou alguns de seus familiares. Alterou a memória do tio que lhe contara tudo aquilo. Agora, o tio estava em Askaban, crente que ele é que fora o assassino. De lembrança, meu menino tirara-lhe o anel. A sua primeira horcrux.

Dias se passaram, e meu menino continuava atrás de suas respostas. Slughorn nunca estava disponível. Parecia ter medo. Pressentimento. Chego a me questionar se ele não me via pelos corredores, sabe como é. Eu não me sinto ofendida. Sei que minha presença não é um bom presságio.

Infelizmente, não se altera o destino. Tom queria e teria a sua preciosa e perigosa conversa. E eu, claro, não perderia aquilo por nada. Afinal de contas, fiquei curiosa também sobre o assunto.

Naquela época, eu era realmente inocente. Não sabia muito sobre o mundo. Mas o período passado na rua Himmel e em Hogwarts me fez entender o quanto terrível é o ser humano.

E por algum motivo, Voldemort parecia bastante com o Fürer assustador, lá da Alemanha. Mas eu estou me adiantando novamente, tenho que parar de ser dispersa.

— Senhor, senhor! — meu menino chegou à sala do professor favorito, correndo para alcançá-lo — Será que o senhor poderia tirar minhas dúvidas agora?

Slughorn abriu a porta da sala e entrou. Deu um longo suspiro. Ele parecia saber que nunca iria se esquivar daquele aluno. Procurou acreditar que era apenas um garoto estudioso, que ansiava pelo conhecimento. E eu queria muito que aquilo fosse verdade. Mas apesar de curiosa, eu também pressentia algo ruim.

— Sente-se, Tom.

— Não precisa — mas, ao ver a expressão cansada e sem vontade para discutir, atendera ao pedido do professor — Tudo bem.

— O que exatamente você quer saber?

— O que o senhor souber.

— Questões acadêmicas, não é?

— Mas é claro que sim.

Tom sorriu aquele sorriso apavorante, e eu precisei fechar os olhos para que não fosse lá brigar com ele.

— Então... — pigarreou, brincando com um de seus abacaxis cristalizados — Já que é assim... Acho que não há mal algum em ajudar um aluno que gosta de estudar, não é mesmo? Ora, Tom... Horcruxes são objetos que possuem parte da alma de alguém.

— Desculpe? Eu ainda não entendi direito isso, professor. O que o senhor quis dizer com parte da alma?

A voz de Voldemort estava perigosamente calma. A de Slughorn, no entanto, parecia um pouco vacilante e temerosa.

— Bem... — continuou, evitando o contato visual — O bruxo divide parte da sua alma, entende? E coloca em algum objeto. Assim, ele nunca morrerá totalmente. Haverá parte de sua alma presa à Terra. Mas existir desse modo... Ah! Terrível... Terrível!

— Mas... — uma ruga surgiu novamente em sua testa — Como alguém faria isso? É mesmo possível?

Apenas ouvi-lo conversar tão cinicamente me fez ter vontade de dá-lo um carão. Como uma mãe aborrecida por seu mal comportamento.

— Bem... Você precisa entender que dividir a alma é contra as leis da natureza. Então, naturalmente, o bruxo só o consegue através de uma ação maligna...

— Tipo o quê?

— Morte, Tom! — sua voz estava exasperada, agora. Senti, por alguns poucos segundos, que ele me encarava, com os olhos arregalados — Naturalmente, a Morte! É preciso matar para romper parte da alma. E esta parte rompida seria usada num objeto qualquer. Dessa forma, encerraria-se esta parte da alma.

Slughorn parecia um pouco perturbado. Arrumava gavetas que já estavam arrumadas, procurando alguma ocupação que não permitisse que ele nos encarasse. No caso, eu e Tom.

— Mas, senhor... — ele tentou mais uma vez, ansioso em aprender — Como se faz isso?

— E eu lá tenho cara de homicida, Tom? Eu não sei, eu não sei! Deve haver um feitiço!

Um silêncio constrangedor surgiu entre eles. E Voldemort, levantando-se de seu assento, fez sua última pergunta antes de ir-se embora.

— Eu entendo, senhor. Mas... Só por curiosidade, por que uma? Por que não sete? Se, hipoteticamente, eu escolhesse sete... Funcionaria?

— Você mataria sete pessoas, Tom?!

— Questões acadêmicas, claro — assegurou-lhe, com um sorriso preso nos lábios — É só uma pergunta.

— Acho que chega por hoje, garoto.

Com um longo suspiro, também tomei meu caminho para fora daquela sala claustrofóbica.

Eu não queria estar certa. Eu não queria ter ouvido aquilo. Dói assistir a tudo sem interferir em nada.

E afinal de contas, o que uma velha como eu poderia fazer para impedi-lo?


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