O menino que colecionava Horcruxes escrita por Maga Clari


Capítulo 2
A casa dos órfãos


Notas iniciais do capítulo

Demorei, né? Foi mal... Estou sem tempo. E com tendinite.
Espero que gostem.
Ah, juro que tentei escrever um capítulo maior, mas não consegui, desculpa, gente.
Beijos ^^



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A primeira vez que vi o menino Tom, quando senti algo especial por ele, foi durante uma partida de futebol. As crianças corriam felizes pelo campo, e um garotinho assistia a tudo muito atentamente. Ele escolhera sentar um pouco mais distante, evitando contato com os demais meninos. Desde aquela época, já demonstrava o quão estranho ele se sentia com relação aos outros.

*Uma pequena observação*

Não havia um campo oficial. Os meninos jogavam nos jardins, e Tom ficava sentado numa escadinha que o levaria até o andar superior.

Mas voltemos à história.

Tom tinha um olhar profundo, vidrado. Parecia estar numa espécie de transe, como se a realidade em sua mente fosse infinitamente melhor do que aquela em que vivia.

— Ei! Não vai jogar? — um menino magricela gritou no meio do jogo.

— É mesmo. Vai ficar aí? — outro disse.

Tom apenas murmurou qualquer coisa e voltou ao seu próprio mundo, como de costume.

— Liga não, Jude. Ele é maricas. Deve tá com medo!

Dei um longo suspiro e balancei a cabeça ao ouvir aquilo. Mesmo depois de tanto tempo, eu ainda me surpreendo com os humanos. Oh, pobre menino! Se ele fosse um pouquinho menos pirracento...

Com muita relutância, levantei-me dali e segui com meu ofício. Esperei por ele do outro lado do campo; eu não queria ver aquilo. Embora pareça irônico, acredito que já tenha dado várias provas de que não sou tão fria assim. A insistência daquela pobre criança não me deu senão a escolha de esperá-lo mais adiante. E eu juro que não iria olhar. Eu não queria olhar. Mas um som, um ruído estranho, me chamou a atenção. E como de praxe, fiquei curiosa, claro. Tudo me dispersa.

— Ai meu Deus, ai meu Deus!

— Senhorita Couter!

Meus olhos pousaram primeiro no pequeno Michael. No chão, agonizando de dor. Alguns arranhões estavam surgindo em sua pele, mas não havia explicação para aquilo. E então peguei-me observando Tom. Seu olhar era vazio, mas cheio de ódio, ou talvez rancor. Ele continuava sentado na escada, sem sair do lugar.

Quando a cuidadora do orfanato apareceu, correu desesperada para ampará-lo, mas não tinha mais jeito. Eu tive que levá-lo. A moça chorava, chorava... E então, finalmente, perguntou a Tom:

— Como... O que... aconteceu?

— Não faço ideia, senhorita Couter.

Ele então se levantou e foi-se embora escada acima. Isso mexeu comigo de alguma forma. Algo de estranho havia acontecido ali, com toda certeza. Bem, infelizmente, eu não tinha tempo para observar meus humanos o tempo que desejasse; eu precisava trabalhar.

Levei o pequeno Michael sentindo um aperto no coração. Se é que você ainda acredita que até a Morte tenha um.

Em todo caso, não consegui tirar aquela cena da minha cabeça por dias... semanas... meses! Volta e meia, o menino Tom aparece em meus pensamentos. E quando isso acontece, já imagino que ganharei uma boa história.

Depois de Liesel Memimger, meus olhos parecem estar mais atentos a cada humano que passa por mim. Talvez seja uma forma de manter-me perto dela, quem sabe. Um prêmio de consolação por perdê-la de vista por muitos anos...

Passei muito tempo atrás de uma boa história, e ela não tardou a surgir.

*Uma contestação importante*

Tom tinha muito ódio no coração. Pensava que aquele sentimento dizia respeito aos outros, mas, infelizmente, ele odiava a si próprio. É interessante lembrar disso durante o decorrer da história.

Bem, diversas foram as vezes que passei pelo pobre orfanato onde vivia Tom Riddle. Sempre que precisava levar alguém das redondezas, tirava um minuto que fosse para observar meu novo menino favorito. Entretanto, senti-me extremamente angustiada ao perceber que quase sempre que precisei levar alguém comigo, Tom estava perto.

Numa dessas vezes, por exemplo, tive plena certeza de que ele estava por trás da morte daquela moça inocente.

— E então? Não vai dizer alguma coisa? — a senhora Couter sorriu para ele, docemente, estimulando-o a cumprimentar o casal à sua frente.

— Oi.

O casal se entreolhou, evidentemente surpresos por tamanha frieza vinda de uma criança. Suspirei e resolvi sentar-me à janela para observar.

Tom balançava as pontas dos dedos, uma na outra, com uma superioridade estranha. Pelo que pude perceber, ele sentia-se como dono daquele lugar. Todos o temiam. Terminavam obedecendo e fazendo tudo o que ele desejasse.

— Qual o seu nome, pimpolho? — o homem estendeu a mão, procurando ser gentil.

— Riddle. Tom Riddle — meu menino pareceu avaliar suas possibilidades antes de aceitar o aperto de mão. Ele sempre foi muito desconfiado — Mas creio que não faça muita diferença. Não preciso de um nome quando sou inexistente no cartório. E você, quem é?

O homem olhou novamente para a esposa e para a criança em seguida.

— Albert Lewis. Creio eu que fará diferença sim, garoto. Você também vai ser um Lewis agora, o que acha?

— Querido...

A moça agarrou seu braço, fortemente. Na realidade, acredito que o menino a assustou. Os olhos dela esbanjavam terror. Depois de tudo que vi ao redor do mundo, reconheceria aquela expressão em qualquer lugar. As mulheres sempre me impressionaram; todas elas parecem ter uma intuição muito forte. A pobre moça já sentia que algo ruim estava prestes a acontecer.

— Algum problema? — senhorita Couter perguntou, meio aérea — Precisa de alguma coisa?

— Não... — a senhora Lewis pigarreou e tentou falar o mais educadamente possível — Perdão, senhorita Couter e... Tom. Mas... acredito que não seja ainda dessa vez. Acabo de me lembrar que temos de resolver umas pendências antes e...

Respirei profundamente já esperando pelo pior. Tom apenas levantou-se de sua cadeira e saiu, batendo a porta ruidosamente atrás de si. Segundos após, a pobre moça despencou a cabeça e nunca mais acordou. Pelo que pude perceber, ao levar sua alma comigo, seus pulmões haviam travado, sem nenhuma explicação.

Oh, Tom... Se ao menos tivessem-lhe ensinado a lidar com os sentimentos...

Mas o que uma velha como eu poderia fazer, senão observar? Definitivamente, estou cansada de meu ofício. É extremamente sufocante observar certas coisas e não poder interferir. Sinto-me cúmplice. E embora isso pareça verdade, tenha a certeza de que eu não queria ter levado nem metade dos meus humanos. Queria poder ver meus meninos crescerem, tornarem-se homens e mulheres de sucesso e idosos felizes.

Queria poder vê-los contar a seus netos as suas mais variadas histórias e peripécias que viveram na juventude. Queria que ouvissem de seus lábios, não dos meus.

Infelizmente, não me foi dada tamanha função.

Ai de mim se pudesse fazer tudo isso, mas não posso!

Tudo que me resta é desfrutar dos momentos bons que tenho ao assisti-los em seu curto tempo de vida. E, obviamente, espalhar suas histórias para que seus sacrifício de vida tenham valido alguma coisa. Que sua existência não passe por mim em vão, em branco.

Já disse como adoro cores? Branco me enjoa. Preto também.

Gosto de cores.

Por este motivo, prefiro transformar vidas desbotadas em algo ao menos tolerável. Assim, talvez, alguém veja algo de interessante em sua existência.

Bem, pelo menos eu vejo.

Mas quem liga para a opinião da Morte, não é mesmo?


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