O menino que colecionava Horcruxes escrita por Maga Clari


Capítulo 3
O menino esquisito


Notas iniciais do capítulo

E aí, pessoal, tudo belê?
Confesso que ainda estou temerosa em escrever essa fanfic.
Principalmente diante de tantos comentários positivos... É tanta responsabilidade! kkkkkkkk
Espero que gostem!
Beijos



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Tom Riddle era um menino esquisito, com toda a certeza.

Não tiro a razão das outras crianças do orfanato.

Afinal de contas, não era normal levitar objetos, ferir pessoas com a força do pensamento ou falar com cobras.

*Uma breve explicação*

A arte de falar com cobras é um dom muito antigo. Seu primeiro registro ocorreu quando Salazar Slytherin utilizou-se disso publicamente, durante a inauguração de Hogwarts. Seus falantes são denominados Ofidioglotas.

Tom era um deles, obviamente.

Imagino os olhinhos curiosos daquelas crianças a cada feito estranho que meu menino fizera. Ter um bruxo genuíno entre elas ia além de sua capacidade de compreensão. Na escola, aprendiam que magia e criaturas fantásticas faziam parte da literatura, nunca do mundo real.

Mas que grande bobagem!

Diversas foram as vezes que tive vontade de contá-las as milhares de histórias que tenho em mãos. Histórias reais, verdadeiras. Mas elas nunca me ouviriam... É realmente triste ter um ofício como eu.

Todos me temem! Mas nem sempre que estou por perto é para levar alguém. Na maior parte do tempo, eu só quero sentar e observar o dia-a-dia dos meus humanos. Esta é uma forma que eu tenho de me distrair. É o modo como consigo suportar esse trabalho desgastante.

Mas voltemos ao menino Tom.

Lembro-me de alguns momentos em que vi a tristeza em seu olhar, um ressentimento enrustido. Como já disse anteriormente, tudo o que lhe faltara fora o amor.

— Por que as outras crianças não querem brincar comigo?

Senti um aperto no peito ao escutá-lo dizer isso. Sentei-me perto dele, na cadeira de um balanço de madeira. Tom tinha o semblante sério, completamente estranho para um menino de oito anos. Ele estava de pernas cruzadas, conversando com uma serpente que se arrastava pelo jardim.

— Não sei, talvez sejam bobas demais para entendê-lo — a cobra respondeu, em sua língua ofídica.

— Pode ser.

Meu bruxinho deu um longo suspiro e deitou-se de costas na grama, olhando para as nuvens. Como de praxe, voltara ao seu próprio mundo, refletindo sobre qualquer coisa que eu não tinha conhecimento.

E então voltou a falar para seu único amigo:

— As outras cobras também implicam com você?

— Ora, não temos isso — a serpente arrastou-se para perto dele e levantou a cabeça — Vivemos isoladamente.

— Que pena — ele refletiu, de modo sombrio — Se eu fosse uma cobra, eu ia querer morder as outras.

Aquela confissão deixou-me realmente arrepiada.

Por que tanta ferocidade? Por que tanto ódio? Décadas mais tarde, outro garoto seria tão maltratado e isento de amor quanto ele. Se tal garoto tornara-se um herói, por que o mesmo não acontecera a Tom Riddle?

*Lista de coisas em comum entre Riddle e Potter*

Sangue mestiço

Bruxos

Órfãos

Infância comprometida

Vistos como "esquisitos"

Indomáveis

Na minha humilde opinião, existe uma linha tênue que separa as existências de Tom Riddle e Harry Potter. E essa linha, eu acredito, fora a mesma que separou nazistas e judeus lá em Molching.

Se o pequeno Tom fosse um pouco menos arredio e orgulhoso, imagino que sua alma demoraria muito para caminhar comigo.

Ainda não levei a alma de Harry, e espero ter a oportunidade de vê-lo em sua cadeira de balanço, lendo para seus netos. Ora, imagino que nessa altura do campeonato você acredite que até a Morte seja romântica. Sim, eu sou. Confesso que sempre quis experimentar sentimentos. No entanto, a Vida nunca me deu tamanha oportunidade.

Enquanto observava Tom em sua infância solitária, imaginava como seria sua existência caso brincasse com outras crianças. Se ao invés de sentar e conversar com cobras, ele jogasse o maldito futebol com os órfãos. Pego-me a divagar sobre tais possibilidades constantemente.

E se ele tivesse sido uma criança de verdade?

De tanto que observei meus humanos, tirei uma conclusão: a personalidade de cada alma é inventada, ou melhor, lapidada, na infância. Não adianta tentar curar uma ferida tão profunda. Acredite, eu entendo de feridas. E a de Tom Riddle nunca fecharia.

Embora parecesse a salvação do século, aquela estranha visita que lhe apareceu aos onze anos mudou completamente a vida do meu menino.

— Posso ajudar? — uma senhora de semblante rude atendeu a porta.

— Sim, sim, hã... Vim falar com a Senhora Cole. Ela está?

— Está falando com ela.

— Oh, sim, claro — o homem respondeu, dando um longo suspiro. Virou o rosto rapidamente, observando a nevasca por qual acabara de passar, do lado de fora, e então voltou-se para a Senhora Cole — Por que não me convida para entrar? Certamente, a conversa será longa.

A mulher semi-cerrou os olhos e avaliou aquele estranho à sua frente. Cabelos fartos, uma longa capa e óculos em formato de meia-lua. Definitivamente, um sujeito estranho, mas após hesitar, a dona do orfanato abriu espaço para que ele entrasse.

— Perdoe meus modos, senhor. Aceita uma xícara de chá?

— Se colocar um pouco de canela, irei adorar!

E com um sorriso gentil, Albus Dumbledore secou os pés no carpete e seguiu a Senhora Cole pelos corredores sombrios do Orfanato Wool.

Aquele lugar me deixava estranhamente à vontade. Paredes escuras, sem luz elétrica. Apenas algumas lamparinas aqui e ali, para auxiliar nas escadas entre um patamar e outro.

Subi junto com eles e permiti-me pausar um pouco do meu trabalho para dar uma olhadinha no meu menino. Eu havia acabado de levar uma pobre jovem pertíssimo dali, e eu não via nada demais em desperdiçar alguns poucos minutos no Orfanato Wool.

— Então... — a proprietária do lugar falou, enquanto bebericava seu chá — Que tem de tão importante para tratar comigo?

— Bem... — Dumbledore fizera um barulho de satisfação ao terminar sua xícara, e então começara, com uma seriedade profunda: — A senhora já ouviu falar sobre Hogwarts?

O estranho forasteiro explicou-lhe tudo: sobre a escola, sobre uma vaga em seu internato e sobre... Tom. Dissera-lhe o quanto era importante para a formação dele estudar numa escola para semelhantes, dentre outros motivos.

Em contrapartida, a senhora respondera-lhe algumas questões específicas sobre a vida de Tom. Como ele viera parar ali, seu comportamento e se coisas estranhas haviam ocorrido.

— Oh, naturalmente! Cá entre nós, esse garoto é muito esquisito! É nossa criança mais velha daqui. Ninguém quis ele, acredita?

— Uma pena...

— Ele assusta as outras crianças, sabe.

— Tom é um valentão?

— Ora, não... Não mesmo. Ele é muito quieto. Nunca bateu em ninguém. Mas nada de bom acontece com ele por perto.

— Entendo.

A senhora olhou-o um pouco apreensiva, temendo ter dado informações demais. Afinal de contas, quem era aquele homem?

— Senhora Cole, será que eu posso bater um papo com Tom?

Senti uma alegria imensa ao ouvir aquilo. Eu torcia por ele. Acreditei que aquela notícia transformaria meu menino. Como fui estúpida! Não imaginei que dar poder a Tom só pioraria as coisas...

No entanto, não vamos estragar esse momento. Deixemos Tom desfrutar de seu tempo de glória.

Para ele, deve ter sido incrível saber que não era estranho. Que era perfeitamente normal levitar objetos, ferir pessoas com a força do pensamento ou falar com cobras. Na realidade, Dumbledore lhe explicara que tudo aquilo era seu sangue de bruxo se revelando para ele.

— Mas se quiser entrar na minha escola, terá que fazer uma promessa para mim, pode ser?

— Que promessa? — perguntou, solenemente.

— Não ferirá pessoas intencionalmente. Não irá tampouco roubá-las, está me ouvindo? Tom?

— Tudo bem, senhor.

— Então estamos combinados?

— Sim, senhor.

Não pude deixar de sorrir ao ver o mago deixar o quarto de Tom e ir-se embora. Sempre admirei aquele homem. Por algum motivo, ele me faz lembrar o falecido Hans Hubermann. O pobre e doce Hans. Até nisso as histórias de meus dois roubadores se entrelaçam! Liesel tivera Hans para dar-lhe carinho, Tom tivera Albus.

E assim se seguiu as semanas e meses seguintes. Tom foi apresentado, lentamente, ao mundo mágico dos bruxos ingleses. Cada passo, cada esquina tirava-lhe uma exclamação de surpresa.

Lembro-me de vê-lo grudar os dedinhos no vidro de uma das lojas do Beco Diagonal. A loja de varinha do Olivara's. Seus olhos arregalaram-se de satisfação ao ver-se dono de tamanho poder.

— Tome cuidado, Tom — Dumbledore lhe advertira, achando graça — Isso é muito perigoso.

— Oh, perigosíssimo, meu senhor — Olivaras sorriu entregando-lhe uma caixa escura — Essa fênix é das raras! Nunca ninguém comprou nada dela aqui. E esta varinha... Ela é especial. Ela é gêmea!

— Gêmea? — ele perguntou ao homem, erguendo a sobrancelha.

— Isso mesmo! Só há mais outra com um núcleo igual. Quem sabe não pertence à sua alma gêmea, hã? — Olivaras bagunçou seu cabelo com doçura ao dizer aquilo — Quem sabe uma linda garota?

Tom apenas tirou a mão do homem, com grosseria, e deu um sorriso de desdém:

— Não tenho tempo para garotas. Tome o seu dinheiro.

Com este último comentário, balancei a cabeça mais uma vez, vendo o quão tolo meu menino estava se tornando.

Depois disso, resolvi voltar ao meu cansativo ofício de colhedora de almas. Não estava muito fácil naquele tempo, sabe. Uma peste horrorosa havia tomado conta daquelas bandas, tive um trabalho difícil...

Minha consolação era saber que no fim do dia eu poderia me distrair com os humanos. Ah! Os humanos...

Enquanto não dá meu horário de descanso, penso neles ao caçar as cores pelas ruas. Lembro-me de Rudy ao ver o sol em meu rosto; de Liesel ao ver o branquinho das nuvens; e então lembro-me de Tom.

Não há nada que eu faça que mude a cor que caracteriza Tom. Ao ver as folhas verdes balançarem ao vento, tudo que me vem à mente é o menino que falava com as cobras.

Talvez seja verde de inveja; poder; energia; cura.

Ou talvez seja apenas por causa de seus olhos verdes.

Já falei como adoro cores?


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Notas finais do capítulo

Cadê os reviews??