Quando Eu Me For, Não Deixe de Sorrir escrita por TimeLady


Capítulo 2
A Companhia Sente Muito Por Qualquer Inconveniente Causado




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Hiro não tinha certeza se tinha dormido ou desmaiado, mas que ele estava inconsciente, isso ele tinha certeza absoluta.

A figura em terno cinza digitando loucamente em um celular de última geração, dizendo ser A Morte, era uma boa dica. O lugar branco em que estava, sem absolutamente nada, nem chão ou céu, também ajudava um pouco nessa conclusão.

“A Morte?”

“Sim.”

“A Morte, tipo, com A maiúsculo?”

“A Morte, Hades, Shinigami, The Reaper, que seja.” Murmurou a figura (que não parecia ser nem homem e nem mulher, mesmo com uma aparência humana e isso era mais do que perturbador) num tom irritadamente distraído. “Eu estou aqui só para lhe explicar a situação.”

Hiro a olhou hesitante. “Que situação?”

A Morte(?) pausou por um momento, suspirando fundo e finalmente ergueu os olhos do iphone em suas mãos para si, mas nem por isso parou de digitar. “Olha, garoto, a coisa toda é uma confusão horrível e você pode ter certeza de que não tem quem lamente mais do que eu, mas erros acontecem até com os melhores. Eu sinto muito, mas minhas mãos estão atadas. Você vai ter ficar aqui.” E dizendo isso ela voltou a olhar para o celular.

Ficou em silencio, esperando que a figura continuasse a falar, mas quando ficou claro que ela tinha terminado Hiro só pode expressar sua confusão. “Do que você está falando?”

A criatura de terno congelou por um segundo e então o olhou de sobrancelha erguida. “O que? Você não notou o que aconteceu?” O tom era surpreso o suficiente para fazê-lo recuar defensivamente.

“Ei, eu acabei de sofrer um acidente e ser preso por isso! Eu não tive muito tempo para pensar sobre nada.”

“Exatamente.” Replicou ela, olhando-o como se esperasse que ele entendesse tudo só com isso. Quando Hiro obviamente não compreendeu, a figura ergueu uma mão para o rosto, massageando sua têmpora. “Era só o que me faltava. Que gênio incrível.” Murmurou impaciente, mas antes que ele pudesse expressar sua indignação, A Morte prosseguiu. “Você sabe que você sofreu um acidente de carro que quebrou seu pescoço como um palito de dente num instante e esmagou o seu corpo feito patê de atum contra o asfalto?”

Hiro estremeceu, sentindo-se meio nauseado. “Isso é um modo bem insensível de pôr a coisa toda.”

Ela o ignorou. “Você sabe?”

“Bom, eu não sabia que fora um acidente de carro, mas eu lembro... vagamente... do que você... sabe.” Hiro pigarrou, trocando o peso de pé meio incomodado. Aquela conversa toda estava num rumo incrivelmente desconfortável, na verdade. Ninguém acharia divertido discutir a própria morte, especialmente se te dizem que você foi esmagado feito patê de atum. Hiro sempre odiou patê de atum.

A figura prosseguiu, o seu tom apressado não dando indícios nenhum de que tinha notado o seu mal-estar. “Ok, então. Como você pode imaginar, você morreu na hora. O problema é que houve uma pequena confusão na hora do recolhimento, porque o ceifeiro designado para você acabou se confundindo e recolheu o seu pedaço de alma errado.”

“Pedaço de alma errado?” Repetiu.

“Sim. Eh, como eu posso explicar? Sabe a pequena teoria humana de mundos paralelos?”

Ergueu uma sobrancelha. “Que cada momento de decisão o universo se divide para cada escolha possível?”

“Essa mesma. Ela está completamente errada e não tem nada a ver com o que acontece de verdade, mas imagine que é assim que as coisas funcionam.” A Morte disse, balançando a mão em gestos explicativos. “A alma humana é bem mais... grande do que vocês parecem lhe dar crédito e todos esses pequenos ‘vocês’ de cada universo paralelo continuam sendo a mesma pessoa, com a mesma alma e essência, só que com vidas e escolhas diferentes. Quando um ‘você’ morre, ele é recolhido e levado adiante e cada vez que outro pequeno ‘você’ morre em outro universo ele é juntado com os outros, como... como pedaços de um quebra-cabeça, podemos dizer. Entende?”

Não. “... Sim”

“Então, no seu pequeno caso, quando você morreu naquele acidente de carro, um outro você de outro universo perdeu a consciência no exato mesmo instante. O que aconteceu é que a papelada acabou se misturando porque o seu departamento e desse seu outro você são muito próximos e o seu ceifeiro foi mandado para recolher esse outro você, não você você, sabe?”

Hiro sentiu um nó se formando devagar dentro do seu cérebro enquanto ouvia aquela explicação maluca. Isso se ela fosse real. Por tudo o que ele sabia (e era muito pouco, infelizmente) isso podia ser tudo fruto da sua cabeça muito imaginativa, como tia Cass gostava de repetir, e ele ia acordar para realizar que tudo não passara de um sonho.

Se bem que... ele sabia que, tecnicamente, ele deveria ter morrido.

Deuses, por que minha vida tem que ser tão estranha?

“Qual é o problema, então?” Indagou, controlando o melhor que podia sua voz. Mesmo assim ela tremeu ligeiramente. “Vocês não podem destrocar?”

A Morte fez um som baixo no fundo da garganta, pausando por um momento para checar algo no seu celular, antes de voltar a falar. “Normalmente, sim, isso poderia ser efetuado sem problemas, mas o que não contávamos é que... hmn, como posso por isso? Lembra que eu disse que o departamento de você e desse outro você são bem próximos?” Ela o olhou esperando e Hiro acenou, hesitante. “Na verdade, eles são mais do que próximos. São, tipo, literalmente um do lado do outro. Assim, enquanto você morria e sua alma saia, o ceifeiro já estava no processo de acatar a ordem errada e mandando o você errado para adiante. E nesse meio termo, você de alguma forma entrou no corpo desse outro você. Esse é o problema.”

Pela primeira vez desde que essa maluquice toda tinha começado, Hiro viu a figura de terno adotar uma expressão além de tédio e impaciência. Constrangimento.

A Morte ajeitou a gravata ligeiramente, parecendo incrivelmente com um político que acabou de ser perguntado sobre uma gafe que ele não pode negar. “Quando... finalmente nós tocamos do erro, a alma desse outro você já estava no meio do caminho e... a gente não podia simplesmente deixa-la por lá enquanto o ceifeiro vinha recolher o você certo e não tinha como deixa-la temporariamente no seu corpo original também porque, você sabe, patê de atum.”

Hiro estava começando a ficar com enjoo. Ele provavelmente nunca mais conseguiria ficar perto de patê ou atum, muito menos os dois juntos.

Encarou mal-humorado a suposta criatura eterna superpoderosa, mas que mais parecia um vendedor de marketing tendo de relatar que seu produto não foi exatamente um sucesso.

Ela se mexeu desconfortável, sustentando seu olhar por apenas um momento antes de desviar o olhar com um ar profissional, mas com uma expressão de alguém que comeu limão sem saber que era limão. “Então nós... hm, nós meio que...” Pigarrou. “Nós meio que... a deixamos ir em frente... no seu lugar.”

Ao ouvir isso, todo o seu mal humor se evaporou e Hiro sentiu gelo escorrer em seu peito, num coração que parou por vários segundos antes de reiniciar em alta velocidade. “O que? No meu lugar? No meu além-vida?” Esganiçou ligeiramente histérico. “Mas- mas as pessoas que eu- todo mundo que eu conheci e que- ele vai ficar no meu lugar- com- com-!”

A Morte o interrompeu, com um tom de voz gentil. “Em primeiro momento, sim. Isso é o que vai acontecer.”

Todo o seu sangue sumiu do seu rosto. Isso significaria que ele nunca teria a chance de ver seus pais? Não poderia reencontrar com seus amigos depois que todos partissem? Tia Cass, Wasabi, Fred, Honey, Gogo, Mochi... Tadashi. Hiro sentiu sua garganta fechar nesse pensamento, o ar ao seu redor ficando mil vezes mais pesado de repente. Ele ficaria preso num além-vida de um universo do qual ele não fazia parte?

“Isso- isso não- isso não pode...” Ele começou a aspirar, puxando o ar cada vez mais rápido. Ele não conseguia respirar. Uma náusea violenta começou a empurra-lo de cima dos seus pés.

“Hey, hey, hey!”

Ouve um estalido alto, bem quando sua visão começou a embaçar e sua cabeça começou a girar e de repente Hiro estava de volta ao normal, piscando os olhos aturdidos para a figura de terno mais perto do que ele lembrava. Havia uma mão sem peso sobre seu ombro, com um contato macio como água correndo, mantendo-o firme no lugar e olhos inteiramente multicoloridos – sem íris ou pupila, registrou uma parte do seu cérebro confuso – o encarando com delicadeza.

O pânico crescente dentro de si pareceu desinflamar por um momento dando espaço para a sua curiosidade eterna. Aquilo seria uma manifestação física que ela adotava para falar com humanos, uma interpretação do seu próprio cérebro ou a pura realidade? Qualquer uma das opções pareciam foda. Talvez ele pudesse fazer uma pesquisa sobre o assunto mais tarde.

A Morte o sacudiu de leve, gentilmente (e não era essa uma frase bizarra?), tirando-o dos seus pensamentos desconexos. “Em primeiro momento. Não surte antes de eu terminar, ok?” Falou ela e ele voltou ao estado anterior.

Hiro a encarou de volta, engolindo através de uma garganta seca. Seu coração, devagar, voltou a bater no ritmo normal e, sem ousar usar sua voz, apenas acenou fracamente com a cabeça.

A figura o observou por mais uns poucos segundos, talvez se assegurando de que não ia desmaiar, antes de se afastar, tirando a mão do seu ombro. “Lembre que eu disse que, no final, todos esses vocês são a mesma alma? No primeiro momento, por um período de tempo, você vai ficar com as pessoas desse universo depois que você morrer de novo. Mas só por um tempo.” Ela enfatizou a última frase, olhando-o com cuidado. “Depois, todos os vocês vão se unir como um só e você vai seguir adiante como uma única pessoa. E isso se aplica a todas as pessoas, incluindo as que você conheceu.”

Ele deixou as palavras da figura se infiltrarem no seu cérebro ao seu tempo, fechando os olhos. Havia uma parte sua que estava tentada a gritar de raiva, vociferar com aquela criatura diante de si que estava lhe dizendo que ele estava preso num mundo que não era o seu por um erro – coisa boba, que ninguém quis que acontecesse, uma papelada que havia se misturado(?). Mas o resto de si sabia que seria uma ação infantil e Hiro havia deixado de ser infantil (pelo menos nos momentos críticos) a muito tempo atrás.

“Então.” Disse depois de um momento, voltando a abrir os olhos. “Eu vou ter que... ficar aqui?”

A criatura assentiu, mas então hesitou antes de falar com cuidado. “Claro que você pode sempre... adiantar o seu momento de partida. O erro só se estende até certo ponto, as regras de sempre continuam a ser aplicadas. Só podemos recolher sua alma se não tiver mais um corpo para ela viver.”

Hiro arregalou os olhos, sobressaltado com o que ela estava sugerindo. Imediatamente sacudiu a cabeça, negando aquela possibilidade, porque não importava o quão deprimente aquela situação toda era, suicídio jamais passara pela sua cabeça. Aquilo era para... situações sem saída, sem escolhas ou talvez só de escolhas ruins. Aqui, mesmo se não muito animador, ele tinha vários caminhos para escolher. “Não, eu vou... eu vou ficar. Vou esperar.”

A Morte o observou por um momento, avaliando-o, antes de acenar uma vez, resoluta. “Muito bem, então. É aqui que eu te deixo.” Fez uma leve curvatura, para o qual ele retribuiu quase que automaticamente, antes de virar e começar a caminhar para longe na imensidão branca.

Nesse instante Hiro se lembrou de mais umas mil perguntas e, antes que fosse tarde, se adiantou para frente. “Espera!” Exclamou.

A figura parou, parecendo estar impossivelmente longe mesmo com os poucos passos que ela deu, e se virou para ele de leve. Mesmo daquela distancia, Hiro pode discernir uma sobrancelha escura sendo erguida. Parou em seus passos.

“Eu... você disse que o... departamento desse universo, seja lá o que isso significa, é perto do meu próprio. Isso significa que os dois universos são parecidos?” Indagou, meio ansioso. “Tipo, eu não vou ter que reaprender alguma história maluca do tipo, Hitler foi um herói, todo mundo anda de zepelim em vez de avião ou... ou a américa nunca foi descoberta, ou coisa assim?”

A sobrancelha erguida foi acompanhada de sua irmã, juntas no meio da testa d´A Morte. Hiro corou, mas não vacilou, porque sua pergunta era considerável. Talvez só não proposta da melhor ou da mais inteligente forma.

A figura colocou ambas as mãos nos bolsos do terno e ele pode jurar que viu um sorriso pequeno surgir nos lábios dela por um momento. “Não, você não vai precisar reaprender História, rapaz. Claro que a milhares de pequenas decisões diferentes nesse mundo, mas nada de escala tão grande. Nazistas ainda são considerados os caras ruins e aviões são o ícone de poder Americano.”

Hiro suspirou em silencio em alivio, mas antes que pudesse relaxar demais a figura continuou num tom casual. “Embora, em escala mais pessoal para você...”

“O que?” Perguntou nervosamente quando ela não continuou.

A Morte não respondeu de primeira, distraída tirando o celular do bolso e começando a digitar na tela com apenas uma das mãos. Ele estava prestes a falar de novo quando ela se pronunciou. “Nesse universo, houve algumas pequenas decisões pessoais que mudaram a sua vida, mais ou menos. Além de você mesmo ter acabado diferente, como você deve ter notado.”

Lembrou-se da conversa com o policial e o aviso de desaparecido na tela do computador. “Você quer dizer a ficha criminal?” Indagou e viu ela acenar afirmativamente, ainda olhando para a tela do iphone. Hiro sentiu a preocupação arranhar seu interior. “O que isso quer dizer? Eu sou um delinquente? Tia Cass me odeia? Eu não sou um gênio?”

“Não se preocupe. Sua capacidade intelectual é a mesma aqui.” Assegurou ela num tom distraído. Viu-a franzir o cenho de leve, batendo o polegar insistentemente num canto do seu celular, antes de continuar com a mesma voz desatenta. “Sua tia não te odeia, embora eu não possa dizer que ela gosta muito de você e sim, você é um delinquente. Um bem ruim, na verdade.”

Ele sentiu como se tivesse levado um soco no estomago. “Mas- mas por que...”

Hm, essa é a grande questão, não é?” Replicou A Morte, voltando a erguer os olhos para si, dessa vez com um sorriso pequeno visível nos lábios. Hiro a encarou, abismado além das palavras. “Por que vocês fazem todas essas escolhas e acabam tão diferentes de um mundo para outro? Claro que eu sei, mas, me desculpe em ter que ser tão clichê, essa resposta você vai ter que tentar entender por si só.”

Hiro ficou em silêncio, seus olhos presos na figura.

Então, devagar, sem ousar deixar suas esperanças subirem demais, sem ousar se deixar considerar a ideia demais, ele formulou a pergunta que havia surgido dentro de si no instante em que ele entendeu que estava preso num mundo paralelo. Quando sua mente se encheu de todas as teorias e filmes e histórias e gibis que retratavam aventuras assim e a pequena mudança, a sempre vital alternância, que fazia o protagonista hesitar em querer voltar para seu mundo original.

Sem querer ousar esperar, mas já sentindo seu coração bater forte com o simples pensamento, Hiro perguntou em uma voz baixa. “Meu irmão... ele está vivo aqui?”

T-tum

Segurou a respiração.

A Morte não o respondeu, o sorriso sumindo do seu rosto. Houve uma mudança na sua postura quase imperceptível, como se ela tivesse ficado mais ereta mesmo sem se mover e os olhos multicoloridos o encararam cheios de uma nova intensidade.

O silêncio se estendeu por um minuto inteiro até que finalmente. “... Sim. Tadashi Hamada não morreu nesse universo.”

Hiro arregalou os olhos, sentindo uma alegria violenta se romper dentro do seu peito e ele puxou uma longa respiração. Parecia não fazer efeito nenhum.

Sua mão agarrou a porção de camiseta sobre o seu coração, enquanto ele sentia seus olhos queimarem. Oh, deuses. Oh, deuses. Tadashi estava vivo? Ele estava vivo! Algo cristalino surgiu, cobrindo-o, morno, porque talvez, então, esse negócio de mundo paralelo não fosse tão ruim assim.

E tudo quebrou como vidro quando ela continuou, com uma única palavra. “Ainda.”

Hiro a encarou, sentindo-se como um filhote de animal que havia levado um chute sem mais nem menos. Sua voz tremeu quando ele conseguiu falar. “O- o que isso... quer dizer?”

A Morte suspirou, abaixando o seu celular. “Você entendeu que, nesse mundo, o ano é 2018? Isso significa que ele está atrasado em três anos em relação ao seu. Muito ainda pode acontecer nesse tempo.”

“Mas- Tadashi morreu quando eu tinha 14! Se ele ainda- se ele ainda está vivo, quer dizer-”

“Sim, é verdade. O incêndio no auditório aqui nunca aconteceu porque Abigail ainda está viva e Robert Callaghan continua são.” Replicou a figura, interrompendo sua frase trêmula. Ela pausou por um instante e quando voltou, sua voz tinha uma tonalidade cuidadosa, como se estivesse falando com os pais de uma criança doente e fosse anunciar que teriam de transferi-la para a área de câncer. “Ambos os universos são muito próximos, diferenciando-se apenas em decisões de níveis pessoais. E em minha experiência, universos perto demais um do outro tendem a se sincronizar, uma vez que eles seguem o mesmo caminho. Em geral, o que acontece num universo, acaba acontecendo no outro também. Nem sempre do mesmo jeito, nem sempre ao mesmo tempo, mas de um modo ou de outro, o evento se repete-”

Seu cérebro em pânico, cheio de uma adrenalina perigosa, revisou a conversa inteira dos dois, palavra por palavra, até achar algo no que no agarrar com força e ele se pronunciou rapidamente, interrompendo e não se importando. “Você... você disse em geral. Isso quer dizer que- as vezes não acontece, certo?”

A Morte se calou, uma expressão estranha no rosto. “... Claro, sempre há exceções. Decisões que podem mudar o curso do universo. Mas-“

Hiro a cortou de novo, dessa vez completamente firme, sentindo uma chama de esperança voltar a se acender dentro de si que ele alimentou, sem medos ou receios dessa vez. “Eu posso fazer essa decisão?”

Eu tenho chances de salvar o meu irmão?

Ela hesitou, mastigando o lábio inferior devagar. “Não vou negar que não exista essa possibilidade.” Disse por fim, e imediatamente tentou emendar mais uma vez, falar algo que fosse fazê-lo desistir. Mas Hiro já havia decidido e não iria ouvir nada disso. Porque se havia uma chance, nem que fosse de 1%, dele conseguir salvar Tadashi então realmente não havia discussão. Mesmo que não fosse o seu Tadashi, em níveis técnicos, porque se o que ela havia dito era verdade, então no final os dois eram a mesma pessoa. Seu irmão.

E talvez sua determinação estivesse visível no seu rosto, porque a figura parou de falar por conta própria. Ela o encarou com a boca apertada em uma linha firme, até suspirar com resignação. “Bom, eu diria que é seu funeral se isso não acabasse soando como uma piada ruim.” Disse numa voz eu-fiz-o-que-pude e voltou a mexer no celular esquecido em sua mão, digitando rapidamente.

Hiro relaxou minimamente, seus ombros saindo da posição tensa que ele não lembra de ter feito. Ela continuou, retornando a seu tom de profissional. “Há alguns outros pequenos detalhes que você provavelmente vai querer saber de antemão. Não se preocupe, eu estou lhe enviando o arquivo com as informações.”

Então ela ergueu o celular e antes que ele pudesse dizer (incrivelmente confuso, aliás) que ele tinha perdido o seu próprio celular, ela clicou em algo na tela.

Algo atingiu o seu cérebro, explodindo em mil sensações e cores e Hiro cambaleou para trás, tonto e aturdido. O mundo começou a sumir ao seu redor e ele pode ouvir, segundos antes de tudo escurecer, uma voz divertida murmurando de longe.

Aproveite sua segunda chance, Hiro Hamada.”


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