Quando Eu Me For, Não Deixe de Sorrir escrita por TimeLady


Capítulo 3
Sempre, sempre as entrelinhas


Notas iniciais do capítulo

De novo, aviso sobre linguajar forte! Qualquer erro de ortografia não foi proposital e será corrigido futuramente.

Aproveitem o capítulo!



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Seus olhos abriram no mesmo instante em que seu corpo se ergueu violentamente. A sua respiração explodiu e ele ofegou, sem ar, sentindo por tudo como se tivesse acabado de sair debaixo da água.

Hiro olhou ao redor freneticamente, respirando ruidosamente e, com uma surpresa estranha, realizou que estava dentro de uma cela. Pestanejou.

Ao longe, ele pode ouvir a voz do homem. “Alô, residência Hamada?”

Franziu o cenho, sentindo-se um pouco dentro de um déjà vu. Devagar, voltou a sentir as coisas e uma careta de desagrado espelhou o registro do pulso torcido e o ombro dolorido do impacto com o chão. Com um gemido entredentes, se arrastou até a parede e se deixou cair sobre o seu lado bom.

Havia o fantasma de uma dor de cabeça, pois a conversa com A Morte soava dentro do seu crânio como um sino, e ele queria mais do que nunca poder esfregar a região entre seus olhos. Amaldiçoou as algemas mentalmente.

Ergueu os olhos para a janela da cela, vendo o céu noturno. Não parecia ter mudado em nada e Hiro franziu o cenho, tentando pensar através da dor. A primeiro momento o tempo pareceu ter incluindo a conversa com A Morte em seus vinte ou trinta minutos de duração, mas agora vinha pouco a pouco a sensação de que na verdade não havia se passado nem mesmo um segundo desde o instante em que ele fechou os olhos se acalmar e agora. Como se ele tivesse simplesmente piscado os olhos. Isso o fez hesitantemente considerar a hipótese de que tudo não passara de uma alucinação espontânea do seu cérebro.

Como essa ideia não era muito atraente e a memória da sua conversa com Randy e a ficha criminal estupida ainda era fresca, com a voz do policial audível ao fundo o assegurando de que ele era bem real, Hiro resolveu se manter de mente aberta para todas as possibilidades. De repente, quem sabe? Como um cientista e um inventor, ele sabia melhor do que concluir sem todas as evidencias possíveis a seu favor e nesse momento, as poucas que ele tinha apontavam uma para um lado diferente.

Ele precisava pensar sobre tudo isso, na verdade. Raciocinar dentre suas opções. O ideal seria se ele tivesse um caderno consigo para anotar suas ideias, mas isso era provavelmente meio difícil, mesmo porque com o seu pulso dominante machucado ele não iria conseguir escrever. Hiro teria que trabalhar com o que tinha. Isso incluía não ter que continuar naquele chão frio e seboso desagradável.

Se concentrou por um momento antes de se erguer, usando os músculos das suas pernas e barriga para conseguir se levantar sem usar as mãos. Um raio de dor atravessou o seu corpo quando o movimento o obrigou a mexer o ombro machucado. Fez uma leva careta de dor, mas afora isso ignorou em favor de se arrastar até o banco de concreto na lateral do lugar e cuidando para evitar seu pulso torcido, Hiro se sentou, trazendo as pernas para cima e cruzando-as em pernas-de-índio.

Deixou um suspiro escapar. Não era nenhum hotel cinco estrelas, mas melhor do que antes, era.

“Sim, madame, é o garoto da foto. Asiático, cabelo preto, mais ou menos 1,74 de altura... não, não se preocupe, afora um corte na cabeça, ele parece bem...”

Lançou um olhar ranzinza para a região onde o policial provavelmente estava, embora a sua posição não o permitisse vê-lo. Ele suponha que deveria agradecer que o homem ainda não havia dito nenhuma mentira para tia Cass, alguma coisa sobre ele ter sido pego roubando ou coisa do tipo, porque só pelo fato dele estar numa cadeia iria render-lhe uma orelha cheia de sermão e provavelmente um ou dois abraços de quebrar costelas.

Falando em tia Cass... Hiro franziu o cenho, lembrando-se do que a figura de terno o havia dito, sobre tia Cass não gostar muito dele nesse universo. Se a ficha criminal do outro Hiro era verdadeira, então ele não via como poderia culpa-la. Ele podia ter sido uma peste nos seus anos de adolescente (e um pouco mais para trás também), mas ele nunca fizera algo tão grave a ponto de pôr em perigo outras pessoas. Ao menos não intencionalmente ou-... ou completamente são.

(O incidente com Yokai e um Baymax vermelho ainda o fazia se encher de culpa violenta em algumas noites.)

Ele só conseguia se perguntar por qual motivo esse outro ele havia acabado assim. Se os dois universos eram parecidos e essa versão sua tivera uma vida semelhante a sua, então ele não conseguia ver nenhuma razão boa o suficiente para atrair sua atenção para esse lado da vida. Mesmo sem seus pais, tia Cass e Tadashi eram-

[Inúteis.]

Sobressaltou-se com o violento pensamento.

Não seu. Não tinha sido seu. Era como se uma voz alheia tivesse falado dentro do seu cérebro.

Piscou os olhos chocado, antes de cerra-los, tentando se concentrar. De onde havia vindo isso? Era quase como se-

“Ei!” Um tinido agudo soou, ao seu lado, fazendo-o pular de susto. Olhou para o lado com olhos arregalados e viu o policial do outro lado da grade, segurando um cassetete e com um sorriso sarcástico no rosto. Hiro imediatamente fechou a cara. Só porque ele agora reconhecia que, de um certo ponto de vista, ele tecnicamente havia feito tudo o que estava naquela ficha, não queria dizer que ele agora ia começar a gostar do homem. Ele ainda queria poder soca-lo na cara se pudesse.

“O que? Vai me transferir para Rikers?”

O homem bufou, bem humorado. “Eu adoraria, mas infelizmente seus pais ainda o querem por perto, Deus sabe porquê. Estão vindo lhe buscar.”

Ele abriu a boca, prestes a falar de novo para aquele cabeça de bagre que ele não tinha pais fazia quase 20 anos, muito obrigado pelo constante lembrete. Mas então uma memória bizarra saltou sobre si, travando sua língua e cegando-o para o presente por um momento.

Ele sentiu seu ombro ser agarrado com força, girando-o de volta e antes que pudesse reagir duas mãos mais velhas curvaram-se sobre a gola da sua jaqueta e Hiro foi lançado contra a parede atrás de si, batendo as costas com força. O único motivo de sua cabeça não ter sido lançada contra o gesso também foram os anos na rua aprendendo a lutar.

Ouve um grito agudo de alarmo. Provavelmente da vadia que se dizia sua mãe.

Arreganhou os dentes e agarrou os pulsos alheios, tentando se soltar. “Vai se fuder, velhote!”

“É assim que você vê seus pais!?” Seu pai- não. Tomeo, Tomeo falou, gritou contra seu rosto, a poucos centímetros de distância. Hiro rangeu os dentes. “É assim que você vê sua família!? Como um peso morto!? Inútil!?” Sua expressão era de fúria e de dor.

Hiro sentiu seus lábios se contorcerem em desprezo. “Só porque você fudeu aquela vaca e me teve, não quer dizer que eu sou seu filho, viado de merda.” Cuspiu para ele, dizendo cada palavra com prazer.

Ouviu a vaca em questão arquejar, um som horrorizado e ferido que fez satisfação soar dentro de si, um segundo antes de um punho acertar o seu rosto. Dor floriu pelo osso da sua bochecha, enquanto era lançado para o lado caindo no chão com tudo. Soltou um palavrão.

“Tomeo, não!” Mary surgiu gritando, jogando-se sobre o marido e agarrando-lhe o punho erguido. Tomeo resistiu por um instante, tentando avançar sobre si.

Hiro cobriu a região atingida, sentindo a pele quente e pulsante. Lançou um olhar de puro ódio para as pessoas que se achavam no direito de chama-lo de filho.

Viu o homem mais velho congelar ao ver seu rosto e então a fúria derreteu qualquer resquício de hesitação ou culpa que infestava aquele velhote desprezível, fazendo-o adotar uma expressão parecido com a sua. Quase uma réplica igual de um rosto contorcido de ódio como o seu, mas com dor também.

Patético.

“Vá embora daqui, então!” Vociferou ele, soltando-se da mulher e acenando com violência para a porta. “Vá embora e nunca mais volte aqui, seu bastardo ingrato!”

“Não!” Mary agoniou, mas ele a ignorou.

Ergue-se do chão, encarando o homem que um dia ele teve a idiotice de chamar de pai e prendeu a mochila que ele havia arrumado no instante em que ele completou 18 anos firmemente no seu ombro. Olhou para a mulher ao lado dele, que havia impedido o segundo soco, mas que agora estava preso nos braços do seu marido, tentando alcançar Hiro desesperadamente.

Puxou o ar para responder, mas foi interrompido pela única coisa que poderia tornar aquela merda toda de “despedida familiar” mais estupidamente dramática.

O último degrau da escada gemeu com um novo peso e Hiro desviou os olhos do casal diante de si para a região mais para fundo atrás deles, onde ficava a escada e viu o pirralho irritante surgir de pijama, olhos arregalados e expressão assustada como o filhote de vira-lata chutado que ele era.

Tadashi o encarou, sem entender. “H-Hiro?”

Ele sentiu sua boca virar para baixo, apertada em escárnio. “Com prazer.” Disse sucintamente e então virou e saiu, batendo a porta atrás de si. Ignorando o som ferido de Mary. Ignorando o olhar de facas de Tomeo. Ignorando a expressão assustada de Tadashi.

Saiu para longe daquele peso-morto que costumava chamar de família.

Piscou os olhos, voltando ao presente de repente, com o choque pulsando pelo seu corpo.

Randy não estava mais na frente da cela, mas Hiro ignorou isso porque merda.

Merda, merda, merda, merda!

Era isso que A Morte queria dizer com “outros pequenos detalhes”? Jesus Cristo, era mil vezes pior do que o cenário mais mirabolante que ele havia imaginado. O que havia sido aquilo tudo? Uma lembrança do outro Hiro? Sobre- a razão dele estar na rua no meio da noite e ter desaparecido por dois meses era porque ele havia brigado com seus pais e havia fugido de casa? Brigado, é claro, sendo um belo de eufemismo. Hiro nunca havia falado assim nem mesmo com as piores figuras que ele e o Big Hero 6 haviam pego, quanto mais com um familiar. Quanto mais com seus pais.

Oh deuses. Jesus. Meus pais estão vivos. O pensamento o encheu de um novo tipo de pânico que fez a ponta dos seus dedos ficarem entorpecidos. Eles- Mary e Tomeo Hamada não havia morrido naquele acidente no laboratório anos atrás então? Como isso havia acontecido? Que decisão havia alterado esse particular acontecimento? Sua cabeça estava rodando de perguntas. Ele quis gritar pela figura de terno até que ela viesse e ele pudesse sacudi-la, exigindo respostas porque aquilo tudo definitivamente não eram pequenos detalhes. O casal Hamada estava vivo e seguindo suas respectivas vidas com seus dois filhos aparentemente não órfãos, que eram um Hiro de 18 anos, delinquente maluco e boca-suja e-... e Tadashi era o mais novo aqui?

Hiro sacudiu a cabeça, tentando clarear os seus pensamentos. Quando isso não ajudou ele se levantou do banco e começou a caminhar pelo espaço pequeno freneticamente, sua respiração descompassada e seu coração disparado no seu peito. O que ele deveria sentir em relação aquilo tudo, afinal? Seus pais estavam vivos aqui, bem, e Tadashi- Tadashi era o irmão mais novo em vez dele.

A imagem meio nebulosa do seu irmão (zinho, ele suponha. Oh, deuses, sua cabeça ia explodir) flutuou diante de si por um momento. O cabelo estava curto como sempre e ele estava fino, sem os músculos que a puberdade e as aulas de judô e kendô lhe trouxeram. Ele estava tão... pequeno. Não parecia em nada com o jovem adulto que Hiro havia visto pela última vez, o homem que o havia arrastado para uma Convenção de Ciência e o gigante que nunca hesitou em tirar vantagem da sua altura para lança-lo de um lado para o outro.

Não. Em vez disso, Tadashi estava igual as fotos que ele costumava rever com tia Cass, de quando eles eram pequenos. As fotos das quais ele ria loucamente, porque era tão bizarro ver seu gigante de irmão tão pequeno e franzino. O franzino e pequeno da família era Hiro, que mesmo depois de passar dos 20 continuou abaixo da média e, embora ele não fosse mais aquela espinha de peixe ambulante, seus músculos eram mais esguios do que qualquer outra coisa. Ele era esguio. Tadashi era o forte. Sempre fora.

Só que agora as coisas estavam completamente ao contrário. Hiro era o gigante de 18 anos e Tadashi o franzino de 10, 11 anos. Ele era o irmão mais velho que ia encher o saco do mais novo.

Ou, pelo menos, ele pensou sentindo um nó se torcer dentro do seu estomago, eu deveria ser. O sentimento de- de desprezo que dominou-o durante a memória enquanto olhava para Tadashi o fez se sentir quase enjoado. A memória inteira em si o fazia se sentir como arrancando sua própria pele. A ideia de agir desse modo com seus pais criava uma sensação de desconforto, mas não era nada comparado com o horror que o esmagou na cogitação de ser tão frio com seu irmão. Porque, admitidamente, ele não conhecia de verdade seus pais. Mas Tadashi...

Hiro parou na frente de uma das paredes e encostou a testa no material gelado, batendo a cabeça algumas vezes, ignorando a dor no seu ombro e no seu pulso quase que entorpecido.

O que diabos se passava na cabeça do Hiro desse mundo? Ele deveria supostamente seguir no lugar dele, mas isso tornava as coisas muito mais difíceis. Não tinha modo algum dele conseguir continuar agindo desse modo.

Não que ele estivesse planejando seguir com a coisa toda de “delinquente”. Ele tinha um rascunho de plano no fundo da sua mente de ir mudando sua atitude pouco a pouco até que ele pudesse agir livremente (os como e de que jeito ainda sem muitos detalhes), mas mesmo tendo ouvido sobre a ficha criminal desse Hiro, ver em primeira mão o jeito pessoal dele agir era uma coisa completamente diferente.

Mal-educado era um eufemismo, violento, frio, cruel até. Ele deveria incorporar aquilo tudo?

Nunca. Não. Hã-hã. De jeito nenhum. Ele ia ter que achar uma alternativa.

Suspirou fundo e olhou para o teto, vendo através da pequena janela a noite começar a clarear. Como ele estava ferrado.

Hiro admitia que ele havia imaginado encontrar seus pais algumas vezes, em especial quando ele era pequeno e ainda se incomodava por ser diferente a ponto de querer algo mais normal na sua vida. E isso incluía ter pais, como todo mundo parecia ter. Pelo menos aos olhos de uma criança de 5 anos. Quem sabe se ele tivesse pais as pessoas da sua escola parassem de incomoda-lo.

Mas nas poucas vezes que ele entreteve essa ideia (mais pelo fato de que ele não gostava de ser tão diferente e não porque ele sentia verdadeiramente falta de duas pessoas que ele nem conseguia se lembrar) ele sempre imaginou algo à la Disney, com lagrimas e abraços e frases clichês e melosas do tipo “eu sinto muito por ter te deixado” ou “agora estamos juntos e é o que importa”.

Na realidade, enquanto sua primeira memória do seu pai envolveu um gancho de direita, seu primeiro encontro com sua mãe envolveu uma tapa.

Ele estava sentando na cela, quietamente pirando, quando Randy surgiu do outro lado da grade. Hiro só sabia disso porque ele ouviu o som do molho de chave que estava preso na cintura do policial e ele ficou tentando a continuar de olhos fechados e ignorar o homem.

Até o momento em que ele falou.

“Seus pais estão aqui.”

Seus olhos se abriram na hora e ele pode ouvir seu coração acelerado nos seus tímpanos quando lentamente – hesitantemente – virou a cabeça em direção ao corredor.

Mary e Tomeo Hamada o encaravam de braços dados, alguns passos atrás do policial, iguais as fotos penduradas na sua antiga casa. Seu pai com os cabelos grisalhos, óculos de aro arredondado e o bigode pequeno do qual Hiro havia zoado sobre mais de uma vez, em um rosto que era impossivelmente igual ao de Tadashi. Sua mãe quase não chegava aos ombros de Tomeo e tinha cabelos negros que como na maioria das fotos estava preso num coque oriental, lhe passou despercebido como longo, chegando-lhe facilmente até a cintura. Ambos tinham olhos castanhos, mais claros do que ele havia imaginado ao observar fotos antigas e amareladas, de péssima definição.

Sua respiração prendeu no seu peito e ele teve de morder a língua com força para não esboçar nenhuma reação. O gosto metálico tingiu seu paladar.

Eram exatamente como as fotos mostravam, só que dessa vez era em carne e osso e Hiro sentiu seus olhos arderem furiosamente, mesmo com seus esforços para se manter neutro e ele se obrigou desviar o olhar.

Randy deu um passo para frente e deslizou a chave na fechadura, abrindo a grade com todo o barulho necessário. Hiro sentiu a pressão no seu estomago crescer espetacularmente e o seu coração parecia pronto para saltar do seu peito e tentar escapar daquele furacão de sentimentos.

Encarou de olhos ligeiramente arregalados, vendo Randy se afastar e deixando-o na linha direta com seus pais. Ninguém se mexeu.

Jesus, acho que vou vomitar um pouco.

Levando em conta sua vida como super-herói, um esperaria que ele tivesse mais tolerância a pressão.

Hesitando, Hiro descruzou suas pernas e pôs os pés no chão devagar, como se estivesse num campo minado. E no instante em que se ergueu, sentindo seu pulso torcer de leve nas algemas, Mary disparou da sua posição ao lado do marido em sua direção e em três passos velozes, ela estava parada na sua frente, quase meia cabeça mais baixa (e não era isso extremamente raro na sua vida? Em geral só crianças mais novas eram menores que ele). Antes que alguém pudesse reagir, antes que Hiro pudesse fazer algo diante o fato da sua mãe estar diante de si pela primeira vez em quase 20 anos, a mulher ergueu a mão.

E o acertou no lado do rosto. Com força.

Hiro cambaleou um passo para trás com o golpe, sentindo a pele da sua bochecha esquentar e pulsar. O choque o impediu de reagir de primeira e só depois de dois segundos encarando a parede ao seu lado que ele finalmente conseguiu desgrudar os olhos e se virar para a mulher parada diante de si. Pestanejou, sem reação.

Sua pequena mãe o encarou furiosa através de festas semicerradas, o brilho de lagrimas visível mesmo assim, um tremor leve no seu lábio inferior. Seu corpo miúdo inteiro sacudia com sua respiração acelerada. Trêmula. Uma decepção e amargura como unhas arranhando uma lousa de escola o atacavam dos olhos claros e Hiro se sentiu como o pior cafajeste do universo, mesmo não fazendo sentindo.

Ele chegou a abrir a boca para falar, mas não achou palavras. O que diabos ele poderia dizer? Oh, desculpe, na verdade eu não sou o seu filho, eu sou um outro Hiro que veio de uma dimensão alternativa, então na verdade eu não fiz nada daquilo tudo, mas eu sinto muito pelo outro eu ter te chamado de vadia e ter fugido de casa por dois meses.

Ele tinha um palpite forte de que isso o renderia outro tapa.

Ergueu as mãos presas juntas em direção ao seu rosto e encostou na região dolorida, massageando. Ele podia viver sem outro tapa desses.

Anotar: sua mãe podia ser baixinha, mas era forte.

Observação: Não provocar futuramente.

No final ele fechou a boca sem dizer nada.

Houve uma pausa antes de Tomeo entrar na cela também. Hiro tencionou, esperando algum tipo de retaliação como o da memória, mas seu pai parecia mais exausto do que irritado e apenas abraçou sua mulher, puxando-a em direção a saída. Afastando-a dele, sem se dignar a olha-lo.

Isso o atingiu pior do que teria sido um golpe físico.

Tentou engolir através do nó na sua garganta enquanto observava seus supostos pais (se de uma realidade alternativa, pelo menos) conversarem em tons baixos com Randy. O policial respondeu de um jeito cético, sua mão nunca tendo abandonado sua posição sobre o cassetete na cintura, ao lado do revolver. Um tempo depois Mary e Tomeo se afastaram, evitando olhar na sua direção e Randy deu um passo para dentro da cela.

Meia hora depois, um Hiro livre de algemas estava fora da prisão, dentro de um carro com seus pais mortos indo em direção a uma casa que ele nunca havia conhecido.


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