All Out War escrita por Filho de Kivi


Capítulo 45
Exposé


Notas iniciais do capítulo

Hei!

Finalmente retornei, trazendo comigo mais um capítulo de All Out War! O episódio 45 acabara de sair do forno...

Quero agradecer primeiramente a todos que me desejaram sentimentos pela minha recente perda. Muito obrigado! Me deparar com esse tipo de solidariedade me ajudou bastante a conseguir encarar esse momento difícil... Kiitos!

Quero agradecer também a todos que leram e comentaram nos capítulos 43 e 44, que marcaram a despedida de Vincent Hall! Recebi comentários muito atenciosos, e pelo visto, consegui passar tudo o que gostaria nesses episódios especiais... Fico realmente muito feliz!

Bom, a vida continua... O capítulo de hoje retratará mais um ponto marcante dos quadrinhos, a gota d’água que faltava para o início da guerra! Teremos um POV inicial da Leah, ainda abordando os acontecimentos passados, seguido por momentos no Reino, onde veremos Michonne, Goodwin, Jesus... Teremos também o primeiro POV de Negan (que particularmente eu achei bem divertido escrever), e no final... Se preparem para o final! Para quem estava sentindo falta de porradaria, posso garantir que isso não irá faltar!

Boa leitura!



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Leah olhara fixamente para o envelope que recebera em mãos. No papel amassado havia o seu nome escrito, e a letra do autor logo fora reconhecida por seus olhos. A letra de médico, quase indecifrável, mas que Fisher já havia visto outras vezes, em meios às inúmeras anotações que Vincent Hall comumente realizava quando ainda estavam no comboio.

Ela lembrara que durante algum tempo, o médico se esforçara para registrar os seus conhecimentos, precavendo-se para caso algo ocorresse com ele. Vincent já havia lhe mostrado alguns dos seus cadernos, tentara lhe ensinar sobre primeiros socorros. Parecia de certo modo saber o que o destino lhe reservava.

Quando Hall fora mordido na perna, antes mesmo dos dois terem sua primeira noite juntos, permanecera desacordado durante dias, sobrevivendo basicamente por conta de James e Mike terem seguido a risca todos os seus aconselhamentos. Seguido as malditas anotações.

Leah lembrara-se de ter ficado dias a fio a beira da cama do médico, torcendo para que ele não morresse, ao mesmo tempo em que tentava se preparar para o pior. Tivera inúmeros pesadelos com Vincent se transformando em uma daquelas horrendas criaturas, mordendo-a após erguer-se da cama. Os olhos fundos, esbranquiçados, uma fome insaciável em seus dentes... Se realmente tivesse ocorrido, era provável que ela não tivesse coragem de ir até o fim.

Mas tanta coisa havia mudado desde que o grupo aportara em Alexandria.

Hall fugira para o Garden, onde se estabelecera, onde recomeçara sua vida longe de Leah. Longe do filho que jamais conheceria. Longe da criança que ele nem mesmo pudera saber que era dele. Vincent viveu e morreu, assim como Fisher vira ocorrer diversas vezes. Um ciclo que nem mesmo o apocalipse conseguira interromper. Acelerar sim, cessar jamais.

A garota não derramara uma lágrima. O choro preso na garganta fora engolido, tragado para um lugar obscuro dentro do seu peito. Ela precisava ser forte, precisava aguentar o tranco. Por sua criança, que cada vez mais se tornava o centro de suas atenções, e pela memória de Vincent, que talvez agora tivesse finalmente encontrado a paz.

A mulher que viera até ela, que se deslocara da comunidade em meio ao bosque apenas para lhe entregar a última mensagem de Vincent Hall, encontrava-se agora cabisbaixa, fitando o chão enquanto chorava calada. Era visível que o médico também havia cativado-a. De alguma maneira que Leah não conhecia, um havia sido importante para o outro.

Apesar de estranho, ela sentira-se próximo a desconhecida Elizabeth Penn. Provavelmente isso se dava por conta da empatia, mas estava mais do que claro que mesmo morto, Hall ainda conseguia afetar Leah de maneiras que ela própria não conseguia compreender.

Ele jamais sairia de sua cabeça. Vincent conseguira marcar sua vida.

— Como aconteceu?

Fisher permanecera sorumbática, olhando fixamente para Penn, que precisara tomar fôlego antes de lhe responder.

— Já faz um tempo... – A mulher olhara para o teto, jogando um mexa de cabelo para trás da orelha – O Garden foi acometido por um vírus que quase nos matou. Eu ainda não consigo acreditar que realmente sobrevivemos aquilo... Só sei que nosso sucesso se deu em cem por cento por conta do Desmond, digo, do Vincent...

Ela olhara para Leah.

— Ele foi um herói... Salvou incontáveis vidas, e se sacrificou para que isso pudesse dar certo...

Fisher abrira um meio sorriso, erguendo-se de sua poltrona.

— Ele nunca foi um herói. – Pronunciara-se, surpreendendo a visitante – Vincent não era um cara mau, mas também não era nenhum herói. – Ela seguira falando enquanto caminhara até uma das janelas – Você não se torna um herói quando cumpre suas obrigações, quando faz algo que está ao seu alcance, algo que deve ser feito... É preciso muito mais do que isso.

— Um ato de bondade não redime uma vida de tropeços... Talvez amenize, mas não é o suficiente. – Após olhar por alguns segundos o pacato movimento nos interiores de Alexandria, voltara-se outra vez para Lizzy, que parecia não saber como reagir às palavras da adolescente – Não me entenda mal, eu não quero tripudiar da imagem dele. Provavelmente você o conheceu bem, talvez até mais profundamente do que eu...

— Mas o que aconteceu entre nós foi muito marcante, muito profundo... Essas coisas deixam marcas, Elizabeth. Dentro e fora da gente. – Ela apoiara-se no batente – Quando sua comunidade nos atacou, com a ajuda dele, e felizmente tudo se resolveu sem que ninguém se machucasse, ele me pediu perdão por todos os erros... Por todas as vezes que me causou sofrimento. Eu disse que o perdoava, mas... A verdade é que eu só disse aquilo da boca pra fora. Eu nunca o perdoei, não sinceramente.

A passos curtos, a jovem Fisher achegara-se a Penn.

— Eu posso estar me transformando em uma megera, mas essa é a verdade. Fico feliz que ele tenha partido em paz... – Um enorme aperto no peito interrompera suas palavras, e pela primeira vez naquela sala, uma lágrima escorrera de seus olhos – Ele não conseguiu cumprir suas promessas... Nenhuma delas. E por conta disso, ele nunca vai poder saber que o filho que carrego aqui – Ela tocara no próprio ventre – é dele. Desculpe Elizabeth, mas não posso chamá-lo de herói.

Penn erguera-se. Decidira rebater.

— Você está errada. Desmond não fez apenas o que tinha que fazer, foi muito, muito mais do que isso. – Seu rosto estava vermelho, mas o choro já havia cessado – Des foi o nosso líder quando mais precisávamos. Nos guiou e nos uniu... Des foi o nosso Imperador. E isso não era o seu trabalho. Não era sua obrigação fazer aquilo.

Des poupou a vida de um assassino, de um homem que havia matado não só boas pessoas, como também seus amigos mais próximos... Ainda assim ele conseguiu ter discernimento o bastante para não matá-lo, pois sabia que esse ato poderia ser o gatilho para um mal muito maior... E isso não era o seu trabalho. Não era sua obrigação.

— Ele se aproximou para aconselhar-se com a bêbada da comunidade, chamada de vadia por todos. Que trocava sexo por mantimentos e algumas gotas de álcool, fazendo qualquer coisa para fugir da realidade... E ele não pediu nada em troca. Ele deu a ela apenas sua amizade, e conseguiu resgatar o pouco de humanidade que ainda morava dentro dela... Dentro de mim. – As duas encaravam-se com os olhos vazios, pareciam a beira de uma ebulição – E isso não era o seu trabalho. Não era obrigação dele...

A mulher então começara a se dirigir a porta de saída.

— No mundo em que vivemos, onde tropeçamos praticamente todos os dias... Um ato de bondade é a única coisa que nos diferencia dos mortos caminhantes. Desmond Wales, ou Vincent Hall, como queira... Procurou e encontrou a redenção para os seus tropeços em atos de bondade... Ele vai ser sempre um herói, Leah Fisher. Talvez tenha sido o último homem bom dessa terra.

Ela girara a maçaneta e partira, fechando a porta em seguida.

Leah sentara-se outra vez, levando as mãos à nuca, jogando os cabelos sobre o rosto em um único movimento. Ali, com os cotovelos apoiados nos joelhos, chorara suas derradeiras lágrimas por Vincent Hall. De forma copiosa, deixando que todo aquele sentimento transpirasse de uma vez por todas.

Era difícil aceitar que nunca mais o veria de novo. Era difícil esquecê-lo, ignorar os sentimentos dos quais nunca conseguira jogar fora.

E assim ela permanecera, deixando-se consumir pela dor, permitindo que todo o medo aflorasse de uma única vez. Rápido, rascante. Só fora interrompida por dois estopins secos, estridentes em meio ao calmo começo de dia.

Eram tiros, e vinham dos portões.

 

*****

 

James Goodwin atacara Michonne com ferocidade. Cortando o ar de cima para baixo com seu sabre, vira o golpe ser defendido com muita precisão pela espadachim de dreads. A lâmina curva estalara ao entrar em contato com a katana de sua adversária, que deslizara sua arma branca com destreza, apontado-a para o pescoço do caçador.

Goodwin sorrira, girando o seu sabre e contratacando com precisão. Os dois caminharam alguns metros enquanto as lâminas de suas armas se digladiavam, causando um som agudo a cada contato mais estridente.

O suor nos seus rostos denotava o quanto o embate era intenso. Em alguns momentos James parecia ter a vantagem, golpeando em sequência, ficando muito próximo de tocar a pele da alexandrina. Mas tão logo se descuidava, recebia uma resposta com a mesma intensidade.

Passada uma hora desde que a esgrima se iniciara, suas espadas voltaram a se encontrar, com ainda mais potência, formando-se agora um embate de força.

— Jamais me passou pela cabeça que você soubesse usar uma espada... Admito, até que você é bom! – Exclamara Michonne, dando um passo à frente, pressionando sua lâmina contra a de James.

O homem sorrira outra vez, girando nos calcanhares, livrando-se do ataque e passando a controlar a situação. O seu sabre agora se encontrava próximo a jugular de sua adversária.

— Você também não é nada mal! – Respondera.

Goodwin então baixara a guarda, recolhendo o seu sabre na bainha e cumprimentando Michonne em seguida.

As movimentações para a guerra que se aproximava passaram a se ampliar nos últimos dois meses, quando a Aliança iniciara períodos de treinamento, envolvendo todas as comunidades que faziam parte do acordo. A única exceção era o Garden, que se mantivera em silêncio praticamente por todo o tempo. Começava a se especular que a Imperatriz poderia ter desistido dos embates.

O que mais importava, no entanto, era a preparação dos futuros soldados. O Reino possuía bons espadachins, e os guardas mais próximos a seu rei, pareciam entender de artes marciais, e toda essa experiência começara a ser passada adiante. Andrea e Tom, que já haviam ensinado outros alexandrinos a atirar com precisão, passaram a ensinar os demais membros da Aliança, realizando treinamentos praticamente todos os dias.

Um sentimento de esperança, jamais experimentado por aquelas bandas, começava agora a tomar conta do peito de cada um dos envolvidos no que seria, sem sombra de dúvidas, a maior revolução dos novos tempos. Destronar Negan começava a se tornar um sonho palpável.

— Você já lutava antes? – Indagara Michonne, enxugando o rosto com uma toalha.

James retirara o sabre da bainha, admirando sua arma como se fosse um amuleto.

— Ezekiel me deu de presente, pouco depois que eu cheguei por aqui... – Ele olhara o seu próprio reflexo na lâmina – Eu era esgrimista na época de faculdade, cheguei até a competir... – O saudosismo não lhe fazia bem. Era um sentimento estranho, que remetia a uma época tão distante que nem mais parecia ter sido real – Mas eu gostava mesmo do tiro esportivo, fiz parte de um clube de caça. Enfim... Estava totalmente enferrujado, tive a ajuda do Alex e da Lewis para voltar à boa forma. Eles são ótimos também!

— Já os conheci. – Respondera Michonne, concordando – Estamos progredindo bastante. Dá até para pensar que...

Goodwin complementara.

— Dá para pensar que podemos vencer. – Ele meneara a cabeça – Nunca pensei que diria isso, mas tenho que admitir, Rick sabe o que está fazendo. E eu quero destruir Negan tanto quanto ele. É o que todos aqui querem. Acabar com a era dos Salvadores. – Ele abrira um sorriso, coçando a barba – E quando tudo finalmente acabar, poderemos resolver nos voltar outra vez para os nossos problemas.

Michonne tombara a cabeça levemente para o lado.

— Achei que tudo já estivesse resolvido. – Ela parecia desconfiada.

O engenheiro girara sua espada, guardando-a outra vez.

— Estamos do mesmo lado, Michonne. Lutamos a mesma guerra. – Manifestara-se, enfático – Mas o senhor Grimes e eu não somos aliados. Eu temo o que ele pode vir a fazer tanto quanto ele me teme. Nosso jogo de xadrez foi interrompido... Mas as peças ainda estão no tabuleiro, esperando que voltemos a jogar.

A mulher arqueara uma sobrancelha, encarando-o seriamente.

— Rick não é uma ameaça. Mas você é. Mostrou isso enquanto esteve entre nós...

— E esse é o seu ponto de vista. – Rebatera, caminhando lentamente em direção à saída do grande salão – No meu ponto, Grimes é um homem instável que utiliza apenas os seus instintos para liderar um grupo grande de pessoas... E eu estava certo quando disse que ele estava pondo a comunidade inteira em risco. As atitudes dele nos levaram a essa guerra. E as atitudes dele me fizeram perder Susie e Jacob.

Ele parara uma última vez, antes de ultrapassar o portal.

— No meu ponto de vista, Rick Grimes é uma grande ameaça.

 

*****

 

Fora no terceiro dia que Jesus finalmente retornara de sua missão. Trazendo consigo um ônibus com pouco mais de vinte combatentes do Hill Top, o diplomata cumprira com sua parte no acordo, reforçando o exército da Aliança com novos homens e mulheres dispostos a lutar e vencer a guerra contra Negan.

O cenário se mostrava cada vez mais promissor. Com o número de alistados se ampliando, já era possível imaginar que os Salvadores encontrariam muitas dificuldades em se defender, ou até mesmo contratacar. Era preciso arrancá-los pela raiz, sem permitir que encontrassem forças para se reerguer. Um mal tão grande quanto esse só seria limado depois de exauridas todas as forças dos Sobreviventes. Mas valeria a pena. O que viria a seguir faria valer a pena.

Ezekiel solicitara uma reunião, e os generais da Aliança se deslocaram até o anfiteatro do Reino, para traçar os novos passos do grupo. Tudo estava correndo assustadoramente rápido demais, e aproximação dos iminentes combates já era uma realidade. Uma assustadora realidade.

Rick, Andrea, Tom, Jesus e o rei anfitrião iniciaram as tratativas assim que as portas foram fechadas.

— Os seus homens são bons? – Questionara Rick.

Jesus sentara-se no palco, um nível acima do restante dos comandantes.

— Nunca estive muito tempo no Hill Top, mas Kal é o nosso chefe de segurança. Eu pedi a ele que selecionasse os mais preparados. Além disso, Glenn também ajudou.

Era a primeira citação ao nome de Glenn Rhee em muito tempo. O xerife sentira um incômodo em sua nunca. As imagens da brutal execução de Maggie Greene piscaram em seus olhos, como flashes. Ele jamais conseguiria esquecer-se daquele momento. Assim como jamais se livraria da culpa.

— E ele não veio?

O xerife tentara soar despretensioso.

— Não. – Dissera Paul Monroe – Ele já fez muito por essa Aliança, me ajudou bastante com a seleção dos soldados e não deixou que nenhuma informação sobre o que estamos fazendo vazasse. Ele quer proteger sua filha, e eu acho que ele está certo.

Grimes concordara com um gesto de cabeça. Sophia precisava de seu pai mais do que nunca. Jesus então voltara a se pronunciar.

— E quanto a vocês, em que pé estamos?

Andrea respondera.

— Da minha parte tudo correndo bem. Eu e Tom selecionamos alguns atiradores, e eles são realmente promissores. Com força de vontade e treinamento, teremos bons snipers prontos para essa guerra.

Tom concordara. De braços cruzados, ele sentara-se em uma das poltronas, de frente para o restante do grupo.

— Temos bons lutadores também. A japa— O soldador referia-se a Yumiko, que também viera junto aos alexandrinos – encontrou dois arqueiros, e nossa samurai conseguiu se entender com outros malucos que lutam de espadas. Devem estar treinando agora mesmo, inclusive. Acho que conseguiremos montar um grupo forte unindo as quatro comunidades.

— Três. – Ezekiel pedira a palavra – Eloise e o Garden ainda não se manifestaram, e pelo combinado, já deveria estar aqui com seus soldados.

— Você quer que eu vá até lá? – Indagara Jesus.

O rei respondera em negativa.

— Não. Pode ser arriscado demais. As estradas têm olhos, não seria inteligente partir sozinho por aí. Precisamos contar sempre com o elemento surpresa. – O dono de Shiva suspirara – Estou preocupado com Eloise, mas independente do que tenha ocorrido por lá, confio em sua capacidade de conseguir contornar qualquer adversidade. Não acredito que ela tenha se acovardado. No momento certo, O Garden irá fazer parte dessa guerra.

Rick coçara a barba, não parecia tão convencido assim.

Ok. Mas e quanto a Dwight, alguma resposta?

Price abrira os braços complementando a indagação do xerife Grimes.

— Ele não podia simplesmente matar o Negan durante o sono? Isso sim seria um grande diferencial para nós!

O Rei Ezekiel, tomado por sua habitual sensatez, retrucara.

— Fui informado que Negan nunca dorme sozinho. Seria suicídio o nosso amigo da cicatriz tentar algo desse tipo. Dwight será útil, mas teremos que aguardar o momento certo. – Ele voltara-se então para o diplomata do Alto do Morro – Ele já nos deu a localização de alguns postos avançados dos Salvadores, minha sugestão é focarmos na eliminação desses postos primeiro.

Andrea sorrira, interpondo-se.

— É uma ótima ideia. O nosso exército sem sombra de dúvidas é mais numeroso do que qualquer um desses postos. E cada posto tombado, significa menos Salvadores para lidarmos futuramente.

Grimes também concordara.

— Precisamos ficar de olhos nesses postos, saber exatamente quantos homens eles possuem e qual nível de armamento utilizam. Precisamos fazer um ataque cirúrgico, sem dar chances para que eles respondam. Ao mesmo tempo, preciso retornar com minha equipe para Alexandria, e preciso levar alguns mantimentos. – O policial gesticulara com o coto – Eles acreditam que estamos juntando provisões para a coleta do Negan. Não quero que percebam o que estamos fazendo. Não agora.

— Não podemos retornar de mãos vazias. Se seguirem os padrões, os Salvadores só irão recolher os tributos daqui alguns dias.

 

*****

 

— Tem alguém aí? – Negan batia nos portões de forma intermitente com Lucille, chamando a atenção de qualquer um que estivesse por perto. – Abram essa porra, caralho! Abram a porra da porta!

Um de seus homens já havia atirado duas vezes para o alto, tentando fazer com que alguém abrisse a droga dos portões, mas Alexandria inteira parecia estar de ressaca. Vira os sentinelas acima dos muros, e também os vira fugindo como viadinhos ao atestarem que se tratava de mais uma visitinha surpresa dos Salvadores.

Negan precisava marcar território. Precisava fazer como aqueles cachorros que saem mijando pelos postes, criando um perímetro com urina, para avisar aos demais cachorros que aquela é sua área. Infelizmente ele não podia sair por aí mijando nos muros das comunidades, o que até poderia ser legal para caralho, mas não teria muita serventia prática. A melhor forma de criar o seu perímetro, era firmando sua posição de liderança, e para isso, às vezes era necessário fazer-se presente.

— Meu Deus... – Uma mulher gorda, que o déspota Salvador já havia visto anteriormente, mas não lembrava-se do nome, correra até os portões, abrindo-os nervosamente – Me disseram que vocês não viriam nos próximos dias... – Ela atrapalhara-se, mas conseguira liberar a entrada – Rick ainda está na estrada, juntando mantimentos.

Negan apoiara sua Lucille no ombro direito.

— Que merda... – Lamentara. Não estava nos seus planos, mas talvez fosse proveitoso – Eu não estou com saco de ficar esperando! – Exclamara, adentrando a comunidade e sinalizando para que seus homens o acompanhassem – Aonde eu posso ir para pegar logo as merdas que vocês têm?

A mulher baixara a cabeça levemente.

— Na verdade nossos mantimentos estão baixíssimos... Por isso mesmo Rick precisou sair para coletar mais. Estamos quase passando fome aqui.

O Salvador chefe a olhara dos pés a cabeça. Ela só podia estar de sacanagem com a sua cara.

— Passando fome? Você? – Ele arqueara uma das sobrancelhas – Você é gorda para caralho! Pare de reclamar de barriga cheia!

Negan seguira caminhando, encabeçando o grupo que praticamente já se encontrava em sua totalidade no interior de Alexandria. Após dez passos dados, o careca Moore, motorista do caminhão principal de coleta dos Salvadores, aproximara-se de seu mandatário, comentando próximo ao seu ouvido.

— A pobrezinha está chorando... – Negan olhara para trás. A gordinha cobria o rosto com a palma das mãos, parecia realmente ter se ofendido com o seu linguajar – Acho que você pegou pesado, chefe.

Puta que pariu... – Respondera – Acho que você tem razão.

O chefe então dera meia volta, achegando-se outra vez a mulher que o recepcionara.

— Desculpe-me, senhorita...

— Olivia. – Respondera, ainda sem olhar para Negan.

— Ah, sim, Olivia. Peço desculpas por ter sido rude para caralho com você. Acho que terei que ficar por aqui até o retorno do seu líder, o que pode demorar até mesmo um dia inteiro. Então, se você quiser, apenas para compensar o meu deslize, acho que poderíamos trepar a noite toda. O que você acha?

A mulher desferira um potente tapa contra o seu rosto. Imediatamente dois de seus homens a seguraram pelos braços, arrastando-a para longe de Negan.

— Soltem ela! – Ordenara. O lado direito de seu rosto estava avermelhado, marcado pela palma da mão de Olivia – Fiquei bem mais interessado em você agora! – Negan abrira um expansivo sorriso, aproximando-se da gordinha, que já havia sido liberada por seus imediatos – Rick deu a entender que vocês teriam algumas casas vazias. Quero que você reserve as melhores para mim e os demais Salvadores.

A mulher o olhava com terror nos olhos. Era disso que ele mais gostava. Intimidação era com toda a certeza o seu carro chefe.

— Vamos homens! – Exclamara – Vamos nos hospedar enquanto aguardamos a chegada dos nossos mantimentos!

E assim eles se dividiram, caminhando livremente pelas ruas de mais uma comunidade dominada. A mulher gorda, de nome Olivia, passara a obedecer piamente a todas as ordens dos Salvadores. Fora posta no seu devido lugar.

Exibindo seus porretes, machados, bastões e facões, e amedrontado ainda mais as ovelinhas de Rick, os homens de Negan foram levados até algumas das casas vazias. O líder escolhera uma delas, talvez a mais suntuosa dentre as opções. Tratava-se de uma puta mansão, praticamente um oásis em meio ao deserto de merda do qual já haviam se habituado.

Água encanada, luz elétrica, e uma varanda onde se podia sentar e esticar as costas. Negan estava cansado, todas as viagens que comumente precisava realizar lhe causavam algumas dores na lombar. Retirara então o casaco, tomara um copo com água, e recostara-se a frente da varanda, apoiando os pés sobre a base de madeira.

Era um lugarzinho fodasticamente foda. Não seria nada mal esperar o Rickyzito por ali.

Mas antes mesmo que pudesse relaxar o bastante para tirar um ronco, notara a aproximação de um homem, cabisbaixo, caminhando em sua direção e exalando nervosismo. Seth, um motoqueiro de moicano, que ficara junto a mais dois Salvadores na residência escolhida por Negan, se deslocara na direção do sujeito assustado.

O Salvador chefe ouvira que a ovelha desgarrada desejava falar com ele. Seth refutara, intimidando-o com o seu olhar de doidão. Não era muito difícil se assustar com ele que, além de feio para caralho, carregava muitas sequelas de uma vida inteira sendo um viciado em heroína.

Negan não tinha nada para fazer no momento. Talvez fosse divertido.

— Mas que porra Seth, onde estão os seus modos? – O Salvador o olhara – Deixe o rapaz vir.

O líder tomara sua Lucille em mãos outra vez, apoiando-a no colo. Negan a conhecia, sabia que ela estava tão interessada quanto ele naquela conversa.

— Perdoe o Seth, acho que ele enfiou a educação no rabo. E deve ter sido bem fundo, já que nunca mais a encontrou. – O mandatário recostara-se ainda mais confortavelmente – Eu realmente não consigo acreditar que vocês tem água encanada por aqui! Tipo, como essa porra é possível?

A ovelha dera mais dois passos, aproximando-se um pouco mais da varanda. Suas mãos dançavam nervosamente enquanto que os olhos pareciam fugir a todo o momento do contato direto com Negan.

— Esse lugar foi construído para políticos... Para que fosse possível governar mesmo após uma catástrofe... Esses sistemas não irão durar para sempre, mas podemos aproveitar bastante enquanto isso.

A ovelha era na verdade um homem de meia idade, cinquenta, cinquenta e cinco anos talvez. Caucasiano, vestia um casaco dois números maiores que o seu corpo esguio, e pela atitude, não parecia ser um dos membros da linha de frente de Rick Grimes.

— Então está decidido! – Negan olhara para os lados, satisfeito – Eu tenho trabalhado feito um burro de carga, acho que mereço umas férias! – Ele meneara a cabeça algumas vezes, admirando a promissora comunidade – Ei! Tem uma mesa de sinuca por aqui? – A ovelha arregalara os olhos – Vocês têm bolas, tacos e todo o resto? Eu adorava para caralho jogar sinuca!

O sujeito coçara a cabeça.

— Sim... Eu tenho uma mesa na minha casa...

O rosto de Negan se expandira por inteiro em um sorriso. Ele erguera-se da cadeira.

— Então adivinha quem acaba de se tornar o meu melhor amigo. Me responde, porra. Qual o nome do meu melhor amigo?

— Edmond... – Respondera a ovelha, mais assustado do que nunca – Sinta-se a vontade para aparecer quando quiser.

O líder descera da varanda, prostrando-se frente a frente com aquele que o solicitara.

— Pode deixar. – O chefe o fitara, queria intimidá-lo ao máximo, arrancar os seus últimos suspiros de força – Mas vejam só que coisa... Eu disse que Seth havia enfiado a educação no rabo, mas acabo de fazer o mesmo. O que você queria falar comigo, Edmond?

— Na verdade... – Edmond fitara o chão – Eu queria falar sobre Rick Grimes.

Tomara mais dois goles de água, sinalizando para que ele prosseguisse.

— Eu entendo o que vocês estão tentando fazer. Querem reconstruir as coisas, recomeçar... Eu não concordo com os seus métodos, mas talvez seja um mal necessário. – Ele olhara para Negan, que seguia ouvindo-o – Vocês estão montando uma rede, fazendo com que as pessoas trabalhem juntas, contribuindo para um bem maior... Faz todo o sentido.

— Só quero alertá-lo que Rick Grimes não consegue trabalhar em conjunto. Ele nem era o líder daqui... – Edmond abrira os braços – E sim um homem chamado Douglas, que realizava um trabalho muito melhor! E então o Rick chegou junto com o grupo dele e as coisas simplesmente viraram de cabeça para baixo! Ele é maluco! Acho que esse é o melhor termo para defini-lo!

— Ele pode até estar trabalhando com você, mas me escute bem, esse cara não consegue deixar de ser o chefe! Ele precisa estar na liderança, ou então o ego enorme dele acabará deixando-o ainda mais maluco.

Negan colocara o copo delicadamente sobre a base de madeira.

Ok... E o que você quer que eu faça?

A ovelha respirara profundamente.

— Eu era muito amigo do Douglas... Infelizmente sua esposa e seu filho também morreram, e tudo por conta do Rick. – Ele fitara o chão outra vez – Há outras pessoas aqui que pensam como eu, mas não tínhamos força o bastante para tentar algo, não até agora... Peço que me ajude a assumir a liderança de Alexandria. Eu sou o líder que essa comunidade precisa. E eu serei um líder que seguirá a risca o acordo com os Salvadores...

Negan fizera silêncio por alguns segundos.

— Então, se bem entendi, o lance é o seguinte... Eu mato o Rick e depois te coloco no comando. É isso mesmo?

Edmond olhara mais uma vez para o chão. Praticamente sussurrara em resposta.

— Ficaremos muito melhor assim...

O chefe repousara Lucille sobre sua cadeira. Mesmo estando molhada para o que viria a seguir, Negan preferira deixá-la. A conversa que teriam não era para damas.

— Você tem um ponto... Na verdade, você tem alguns pontos. Vamos dar uma volta, Edmond.

Após vestir o seu casaco de couro, o Salvador passara a caminhar pelas ruas adjacentes a casa em que se hospedara, levando Edmond consigo. A ovelha agora não parecia tão intimidada e assustada quanto outrora. Seu peito se inflara, e seus passos pareciam estar carregados por uma certeza quase divina.

Negan sabia o que estava fazendo. O seus pontos eram sempre dados com nós bem apertados.

— Eu tenho pensado, Edmond... – Ele tocara o ombro do sujeito com a mão esquerda. Os dois seguiam caminhando – Sabe, o Rick partiu para cima de mim, tentou me matar e o caralho... Definitivamente esse cara me odeia! Mas mesmo assim ele está lá fora, bancando a abelhinha atarefada enquanto coleta o máximo de coisas para me dar. Tudo isso para que eu não maltrate toda essa gente boa que mora por aqui.

— Ele está engolindo essa raiva para fazer o que tem que ser feito. Cara, é preciso ter estômago para fazer isso! E então eu olho para você... – Negan interrompera os passos, apontando para a patética ovelhinha desgarrada – Edmond, o cara que esperou o Rick sair para poder vir falar comigo às escondidas, para me convencer a fazer o seu trabalho sujo. Para poder assumir o lugar do xerife.

O homem arregalara os olhos, os seus lábios tremiam levemente.

— Se você quer o comando dessa comunidade – Negan seguira –, porque então não matou o Rick e assumiu a porra toda? – Breves segundos de silêncio – Você sabe por que, Edmond?

A ovelha ainda tentara balbuciar algo, mas o terror que lhe tomara conta simplesmente o paralisara. De ovelha, passara apenas a um inseto, prestes a ser esmagado.

— Porque você não tem estômago para isso! – Vociferara.

Negan puxara sua faca, cravando-a no abdome de Edmond. O homem urrara, dobrando o corpo em dor. O Salvador então o segurara pela nuca, golpeando-o com violência mais duas, três, quatro vezes. Antes que caísse de joelhos, a ovelha ainda tivera sua barriga aberta quando Negan, tomado pela fúria, transpassara sua lâmina horizontalmente.

Edmond tombara, com as costas tocando violentamente o solo. O sangue que espirrara pintara de rubro as roupas do chefe Salvador, que trincava os dentes enquanto observava os últimos suspiros do covarde conspirador. Os intestinos haviam saltado para fora, e o odor que de lá brotava, causaria náuseas em qualquer um que se aproximasse. Uma poça de sangue se formava ao redor da ovelha negra de Alexandria.

— Puxa, que constrangedor! – Exclamara Negan. Algumas gotas de sangue manchavam o seu rosto – Aí está ele! E estava dentro de você o tempo todo! Você realmente tem estômago e tripas! Que caralho... Eu nunca estive tão equivocado em toda a minha vida!

Com as mãos nos bolsos, Seth se aproximara. Provavelmente havia sido atraído pelos gritos de Edmond. Negan dera as costas, limpando o sangue de sua faca e retornando tranquilamente a varanda da residência que adotara.

— Limpe essa merda antes que alguma criança veja! – O líder apontara para o cadáver – E depois descubra onde esse mané morava. Quero jogar um pouco de sinuca!

Negan sorrira outra vez. Estava satisfeito.

Lucille provavelmente morreria de ciúmes.

 

*****

 

Magna correra até os portões assim que avistara a aproximação da van que trazia Rick Grimes de volta a Alexandria. Acompanhada por Leah, Isaiah e a visitante do Garden, a líder provisória suava nervosamente. Encarara uma situação da qual não tivera como controlar.

Ela não podia simplesmente impedir a entrada dos Salvadores, mas com toda a certeza, a inesperada visita a pegara de calças curtas. Eles estavam lá, já haviam se apossado de duas casas e o terror que imprimiam sobre os moradores se tornava cada vez mais palpável. Negan se comportava como um verdadeiro déspota. E não havia nada que ela pudesse fazer a respeito.

O xerife fora o primeiro a aportar, descendo do carro enquanto Magna ainda destrancava os portões. Cabisbaixa, a mulher de cabelos castanhos demonstrava em seus gestos que algo não corria bem.

— Onde está Olivia? – Questionara Grimes estranhando as atitudes da mulher diante dele – O que aconteceu, Magna?

Ela suspirara, finalmente conseguindo liberar a entrada.

— Eles estão aqui, Rick...

Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Yumiko correra em sua direção. Já a conhecia o suficiente para saber que algo havia dado errado.

As duas se beijaram. A asiática tocara o rosto de sua companheira, complacente.

— Está tudo bem?

— Não, Yumi... – Magna olhara brevemente para o solo – Negan matou Edmond... Ele o estripou, no meio da rua.

Michonne, que havia acabado de fechar os portões, retirara sua katana da bainha. Seus olhos semicerraram-se, enchendo-se de ódio.

— Rick, me deixe ir...

— Não. – Refutara o xerife – Eu cuido disso. Magna, onde ele está?

 

[...]

 

Grimes estava furioso. Caminhara firmemente em direção a uma das casas vazias, onde Magna havia lhe dito que Negan e seus homens se encontravam. Rick já estava estafado com todos os desmandos daquele assassino, que parecia sentir prazer em mexer com a cabeça do policial.

Ele se adiantara, conseguira surpreendê-lo mais uma vez. A coleta não deveria acontecer naquele dia, e Grimes agora começava a imaginar se não havia sido traído por Dwight. Ainda não conseguia confiar no homem que jurara lealdade a Aliança. O mesmo homem que estivera do lado oposto quando Maggie fora executada.

— Mas que porra é essa, Negan? – Esbravejara, assim que se aproximara dos Salvadores, acomodados tranquilamente na varanda da casa que outrora fora de Edmond e sua família – O que aconteceu com o nosso acordo?

O líder deles bebia enquanto recostava os pés na base de madeira da varanda. Outros quatros Salvadores faziam sua segurança, estacionados ao seu lado e com suas machadinhas, porretes e facões a mostra.

— Olha só quem reapareceu da viagem de férias! – Exclamara Negan de forma jocosa – É bom vê-lo por aqui outra vez. Eu poderia até cumprimentá-lo, mas fiquei umas três horas jogando sinuca! Minhas costas estão me matando! Tenho que admitir, estou enferrujado... – Ele erguera o copo que segurava em mãos – Vai aí um pouco de água gelada?

Rick respirara profundamente. Se não estivesse cercado, daria um tiro no meio da testa de Negan, apenas para apagar aquele sorriso canalha.

— Você matou um morador. Quebrou nosso acordo! Mas que porra aconteceu por aqui?

Negan erguera-se, pedindo em um gesto com a mão espalmada, que Rick aguardasse um momento. Tomara o seu taco em mãos, caminhando tranquilamente em direção ao xerife, encarando-o face a face.

— Eu vou parar de falar palavrões por alguns instantes, apenas para que você veja o quão sério estou falando. – Rick cerrara o punho esquerdo, olhando nos olhos do algoz que agora se pronunciava – Não falarei mais nenhuma palavra até que você diga “obrigado, Negan”.

Novamente o policial precisara tomar fôlego. Talvez não conseguisse engolir mais uma dose de humilhação gratuita.

— Que porra aconteceu por aqui? – Grimes indagara outra vez, agora mais pausadamente – Por que você quebrou o nosso acordo? Responda ou então nenhum de vocês saíra com vida daqui!

Rick não sabia como sua ameaça seria encarada pelo portador do taco de baseball ornado, mas de uma coisa ele tinha certeza, não poderia se curvar ante mais um desmando.

Após breves instantes de silêncio, Negan fechara os olhos, aproximando sua arma de seu rosto.

— Lucille, dai-me forças... – Sussurrara.

O corpulento homem então descera o seu taco, tocando o ombro de Grimes. O xerife não recuara, não podia mostrar-se intimidado.

— Olha só, xerife... Eu sei que nossa parceria não começou com o pé direito, principalmente depois que eu fui obrigado a estourar os miolos daquela sua amiguinha grávida. Não estou alheio à intensidade desse fato. E eu sei também que não ficaremos amigos, e nem faremos um churrasco de domingo para reunir a família e trocarmos confissões...

— Estando isso agora bem claro, tenho uma certeza do caralho que já demonstrei o quanto estou me esforçando para ser flexível.

Grimes meneara a cabeça, cerrando os dentes.

— Você está de sacanagem comigo?

Negan agora direcionara Lucille para o rosto de Rick, que precisara mover o pescoço para que o arame não tocasse sua pele.

— Parece que sua memória não é muito boa, Rickyzito... Me diga uma coisa, depois que o seu filho se escondeu no meu caminhão e metralhou uma caralhada dos meus homens, o que foi que eu fiz? Eu arranquei as tripas do seu garotinho? Deixei que os meus homens mais doentes se divertissem com ele? – Ele erguera o indicador – E que fique bem claro, eu adoro violência, mas repudio totalmente a violência sexual... Eu acho tão baixo.

Grimes não conseguia mais saber quais partes do discurso daquele psicopata realmente representavam a realidade dos fatos.

— Mas não, Rickyzito... – Retomara – Eu não fiz nada disso. Eu trouxe o seu moleque de volta, são e fodasticamente salvo! É como se eu fosse um Papai Noel pós-apocalíptico, ou um coelhinho da Páscoa, mas tirando a parte da viadagem, é claro!

— Agora deixe-me resumir as coisas para você, para que tudo fique claro... As ervas daninhas precisam ser exterminadas antes que destruam toda a plantação. Da próxima vez que algum porra louca fodido vier me pedir ajuda para tirar você do comando... Talvez eu leve em consideração! – Ele baixara sua arma, mas sem desistir do embate de olhares – Agora me mostre o que você trouxe.

...

— É... Até que dá para o gasto!

Rick mostrara as caixas de mantimentos que conseguira coletar durante a viagem de volta do Reino. Nesse ponto pelo menos, Grimes parecia ter conseguido contornar o líder dos Salvadores, que não parecia fazer ideia – pelo menos aparentemente, acreditava Grimes – da Aliança que havia se formado para destruí-lo.

O álibi havia funcionado, e por sorte, a cidade de Washington conseguira lhes fornecer o bastante para pagar os tributos, e ainda deixar-lhes supridos por algum período de tempo, mesmo que fosse curto.

— Podem carregar, pessoal! – Ordenara o líder dos Salvadores.

— Vocês só levarão metade! – Enfatizara Rick.

O homem abrira os braços, como se estivesse indignado.

— Mas e o meu pagamento por ter cuidado daquele traidor? Pensei que não fosse se importar se eu levasse um bônus!

O xerife sentia como se fosse explodir internamente. Não estava mais conseguindo suportar. Aquele assassino conseguira levá-lo ao limite.

Negan então começara a gargalhar.

— Eu só estou brincando com você, Rickyzito! Trato é trato! Mas você precisava ver a sua cara... – Ele voltara-se para seus imediatos outra vez – Ouviram o oficial Grimes, carreguem apenas a metade!

As caixas começaram a ser transportadas até o caminhão que os levaria de volta ao Santuário. Aproveitando toda a movimentação, Rick Grimes começara a se afastar, saindo da vista dos homens de Negan, e correndo em direção a sua morada. Precisava ser rápido. Só iria funcionar se fosse rápido e preciso.

Não podia perder a oportunidade. Eles nunca haviam estado tão expostos quanto naquele momento.

As ruas estavam vazias. A maioria dos moradores escolhera esconder-se em suas próprias casas, temendo Negan e seus homens. O restante apenas observava atordoados toda à liberdade que os assassinos dispunham na comunidade dominada.

— Andrea! – Exclamara Rick, abrindo a porta de sua residência de forma abrupta.

Sua mulher estava sentada em uma das poltronas. Parecia assustada, seu rosto encontrava-se entristecido e suas mãos se juntavam nervosamente sobre o colo. Sentado no braço do sofá, Tom Price passava a mão sobre os ralos cabelos, também aparentando estar abalado por conta de algo. Ao lado dele, Leah Fisher enxugava os olhos vermelhos de lágrimas, fitando o chão fixamente. Carl também estava lá, segurava o chapéu que recebera de seu pai contra o peito.

— Rick... – Andrea o olhara – Tem uma coisa que preciso te contar, é sobre o Garden...

Fora apenas nesse instante que Grimes notara a presença de uma estranha de cabelos negros entre eles. A moça encontrava-se com as mãos nos bolsos, recostada a uma das paredes. Seu olhar também estava perdido, e sua cabeça pendia para baixo.

— Não temos tempo, Andrea. – Rick imaginava que algo importante havia ocorrido, mas precisava focar no plano que havia acabado de bolar em sua mente. Todo e qualquer segundo era valioso – Preciso que pegue o seu rifle e saia pelos fundos! Você precisa chegar à torre do campanário o mais rápido possível!

A mulher erguera-se, sem entender ao certo.

Er... Ok, mas o que aconteceu? – Indagara.

— Negan veio apenas com oito homens. – O cabelo comprido do xerife lhe cobria as orelhas – Essa é a nossa melhor chance de acabar com ele! Dessa vez ele não vai se safar!

A sniper concordara, tomando o seu rifle em mãos e saindo rapidamente da residência dos Grimes.

— Tom, Carl... – Grimes agora direcionara os olhares para os dois – Juntem todos os nossos atiradores ao redor da murada, peça aos sentinelas que estejam preparados para o combate ao meu sinal! – Ele voltara-se para a jovem grávida – Leah, pode nos ajudar? – A garota concordara em um gesto – Chame Magna, Yumiko, Michonne e Isaiah, precisarei deles ao meu lado... Assim que solicitar, fechem os portões e sigam a risca os meus comandos!

— Eu também posso ajudar... – Manifestara-se a solitária desconhecida. Ela retirara uma glock da cintura – Sei atirar, posso ajudar Fisher nos portões.

Grimes a analisara por poucos segundos. Acabara não considerando-a perigosa. De qualquer forma, seus problemas eram muito maiores no momento.

— Tudo bem, vá com Leah. Vocês precisam ser rápidos, mas não se precipitem. Negan não pode perceber que estamos nos movimentado até que deixe a comunidade! Vamos atacá-lo com força e precisão! Aquele filho da puta não vai nem saber de onde estarão partindo os tiros!

E assim fora feito. Simultaneamente a saída do caminhão dos Salvadores após o recolhimento dos tributos, os soldados alexandrinos começaram a se mover, tomando as posições ordenadas por seu líder.

Nas bases construídas acima dos muros, Carl, Tom, Eric, Aaron e Yumiko se resguardavam como verdadeiros atiradores de elite, apenas aguardando que os primeiros sinais lhe fossem dados.

Enfileirados em frente aos portões, Rick, Michonne, Isaiah, Magna, Leah e Lizzy Penn do Garden, observavam a partida do caminhão, ainda manobrando após ultrapassar o portal de saída da comunidade. Como um verdadeiro líder, a frente de sua linha principal, Grimes retirara sua velha pistola da cintura.

As suas costas, ainda nos limites internos da comunidade, Holly, Rosita Espinoza, Ted Benny e Eugene Porter, armavam-se, tomando conta da retaguarda.

O xerife então contara mentalmente até cinco, erguendo sua arma e vociferando a plenos pulmões.

AGORA!

O primeiro tiro fora disparado por Andrea, que executara com magnífica precisão o motorista do caminhão. O veículo perdera o controle, subindo no acostamento e batendo em um velho poste, alguns metros à frente. Em seguida, os atiradores localizados nos muros começaram a disparar seguidas vezes contra o caminhão, fuzilando a lataria e impedindo que os Salvadores pudessem deixá-lo.

Dois saíram por uma porta lateral, mas foram mortos de imediato pela pistola de Grimes, que os acertara no torso e na cabeça. Os tiros unilaterais prosseguiram, dessa vez sendo executados pela linha de frente de Grimes, todos ao seu lado, assegurando-se que ninguém sairia dali vivo.

A porta do motorista se abrira. O ângulo não era dos melhores, portanto, aquele que saíra do caminhão, conseguira escapar na nova saraivada impetrada. Grimes correra até o local, e sentira-se totalmente satisfeito ao atestar que aquele que se arrastava sobre o solo, tentando fugir da morte certa, era nada mais nada menos do que o filho da puta do Negan.

Agarrado ao taco que insistia em chamar de Lucille, o líder dos Salvadores arregalara os olhos ao encontrar Grimes, que erguera sua pistola, direcionando-a para o rosto do assassino, que prostrara-se de joelhos.

Rick engatilhara sua arma.

— Você conhece a história do cara que se meteu em um tiroteio tendo apenas um taco de baseball? Você conhece essa história, seu filho da puta?

BLAM!

Um tiro ecoara pelas terras alexandrinas.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?

RIP Edmond... Eu sei que ele não fará falta! Hehehe... Mas esse com certeza é um dos momentos mais fodasticamente fodas das hq’s... Como o pobre do Spencer Monroe já havia morrido por aqui, precisei adaptar...

Rick conseguiu montar um plano de ataque surpresa... O que vocês acham que irá ocorrer? Será o fim de Negan?

Fiz questão de mostrar como anda a mente de James Goodwin. Como ele vê as coisas de um ponto de vista pouco abordado. Será que Rick pode ser considerado um vilão?

Bom, aguardo todas as suas colocações nos comentários... Nos vemos por lá!

Moi moi.



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