All Out War escrita por Filho de Kivi


Capítulo 46
Collision


Notas iniciais do capítulo

Hei!

Prometi que não me atrasaria e cumpri! Bem mais cedo que o habitual, inclusive...

E então, estão preparados para a ação? É melhor estarem, pois ação é o que não irá faltar nesse capítulo. Arrisco-me a dizer que esse provavelmente é o episódio com a maior quantidade de tiroteios e pancadarias de toda a fic... E olha que a guerra acabou de começar!

Teremos Rick, Negan, Andrea, Goodwin, Jesus, Ezekiel... Muito tiro e muita porrada! É tipo um dos filmes do Stallone, só que com maior qualidade de roteiro! Hehehehe (#MomentoFilhodeKiviBabaca)...

Bom, quero agradecer a Menta, a Maritafan e a Sami, que comumente comentam por aqui! Kiitos! Como sempre digo, o apoio de vocês é mais do que essencial para que essa fic siga em frente! Portanto, muito, muito obrigado meninas!

POVs do Rick, da Andrea, do Goodwin... Enfim, sem mais spoilers...

Boa leitura!



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BLAM!

Um tiro ecoara pelas terras alexandrinas.

Rick largara sua arma no mesmo instante, tomado pela dor lancinante que agora envolvia sua mão esquerda. O disparo vindo do desconhecido atingira de raspão o dorso de sua mão, espirrando sangue alguns centímetros à frente.

O que se sucedera logo depois fora rápido demais para que o xerife conseguisse compreender. Tiros em sequência, com um nível de precisão muitíssimo acurado, destruíra completamente a linha ofensiva do policial.

Isaiah fora atingido no ombro, Magna recebera uma bala em sua mão que segurava a arma e Leah tivera o antebraço perfurado por um disparo. Michonne e Elizabeth Penn também foram dominadas, ambas tendo uma das pernas atingidas. Os atiradores de Rick foram então obrigados a baixar a guarda.

Recuperando o sorriso que lhe tomava conta do rosto, Negan erguera-se do chão, posicionando-se em frente ao xerife que, inutilmente tentava fazer pressão com o coto em sua mão atingida.

— Surpreso? – Indagara o Salvador. Rick nada dissera, ainda tentava recuperar o fôlego – Acredito que o seu atirador não irá me atingir sabendo que vocês estão em perigo.

Ele achegara-se ainda mais.

— E você conhece a história do filho da puta chamado Rick que achava que manjava das putarias, mas na verdade ele não manjava de caralho nenhum, e acabou pedindo para morrer? – Ele aproximara o rosto – Essa é a sua história, seu fodido do caralho!

Com o indicador, Negan tocara o peito de Grimes, bufando em ódio.

— Você fica testando a minha paciência o tempo todo Rick, a porra do tempo todo! – Sua voz se ampliara. As palavras que saíam de sua boca estavam carregadas de fúria – Você sabe o que vai acontecer quando eu me emputecer de vez? Sabe o que vai acontecer com cada um de vocês?

Os Salvadores sobreviventes, que haviam conseguido se proteger do tiroteio, dominavam agora os atiradores alexandrinos, retirando suas armas e os obrigando a ficar de joelhos no chão. O reforço que ficara do lado de dentro dos portões, protegera-se assim que a resposta de Negan se iniciara. Aparentemente nenhum deles havia se ferido, mas ainda era arriscado demais tentarem alguma coisa.

Rick ainda tentava controlar o sangramento em sua mão.

— Você acha mesmo que eu...

Negan o interrompera, gritando a plenos pulmões.

— Não! Você vai ficar calado agora, porra! Você matou três dos meus homens! Você ia me matar, seu filho da puta! Então é melhor você calar a porra da boca e me ouvir! – Nega puxara o xerife pelo casaco – Você é burro para caralho, não é mesmo Rickyzito? Como você conseguiu liderar essas pessoas durante todo esse tempo? Presta atenção, seu filho da puta! Achou que nós não tínhamos armas de fogo, só porque nunca nos viu usando uma?

O policial seguira em silêncio. Depois de toda a ação fracassada, um novo ato impensado só iria piorar as coisas. Mas Negan ainda não havia acabado.

— Vocês estão atirando até hoje nesses zumbis de merda? É com isso que gastam sua munição? Você foi o quê, parido por uma jumenta? Seu jumento do caralho! Não, nós não fazemos uma burrice dessas... As armas de fogo nós guardamos exclusivamente para os vivos. Os vivos são muito mais perigosos e estão em um número bem menor!

O líder Salvador largara Rick, tomando Lucille outra vez em mãos.

— Nunca reparou que minhas visitinhas nunca se dão na mesma data? Achou que eu estava fazendo o quê, sauna e esfoliação? Achou que eu simplesmente me atrasava, ou esquecia o horário do nosso encontro? Juntar dez caras para vir até aqui é fácil para caralho, mas o restante do pessoal... O nosso suporte... Isso sim leva mais tempo para planejar e organizar.

Nesse momento, cerca de quinze homens armados até os dentes começaram a surgir de casas abandonadas, construções em ruínas, e até mesmo do bosque adjacente à comunidade. Atiradores de elite dos Salvadores, os homens de suporte para as missões de coleta de Negan. Algo com o qual Rick Grimes não contara. Novas vidas foram postas em risco por conta de mais um ato impulsivo do policial.

Metralhadoras, pistolas automáticas, granadas de mão e até mesmo fuzis faziam parte do pesado armamento dos revelados Salvadores. Não havia como enfrentá-los naquele momento. Seria um massacre e a maioria das baixas se daria pelo lado de Alexandria. Era sem dúvidas uma sinuca de bico, e Rick não conseguia encontrar uma saída, uma maneira de contornar a complicada situação.

Olhara para trás, fitando os rostos assustados dos agora reféns dos Salvadores. Leah Fisher, a adolescente grávida, que se arriscara para que o maldito e estúpido plano de Grimes desse certo, pressionava o antebraço direito contra o peito, tomado por um sangramento que aparentemente não conseguira controlar.

Lembrara-se de Lori, correndo com Judith nos braços, tombando após receber um tiro certeiro de uma .12, que atravessara suas costas e perfurara o frágil corpinho de sua bebê recém-nascida.

Você sabe que é sua culpa, Rick!

A voz de sua ex-esposa ainda o perseguia, surgindo sempre nos piores momentos.

— Olhe para mim enquanto eu estiver falando, caralho! – Negan erguera a cabeça de Rick, puxando-o pelos cabelos – Caso não tenha notado, você está fodasticamente fodido para caralho, seu fodido de merda!

 

*****

 

[ANTES]

...

Assim que Rick e seu grupo deixara o Reino, Ezekiel solicitara uma reunião particular com Jesus e Goodwin. Com um mapa em mãos, ele sinalizara a localização de um dos postos avançados dos Salvadores, passado por Dwight em sua última visita a seu território.

À beira da Rhode Island Avenue, próximo ao St. Mary’s Cemetery, um antigo estabelecimento comercial, abastecido por uma torre de água localizada no terreno ao lado, era agora utilizada como base para um dos grupos milicianos que serviam ao Santuário. Segundo o arqueiro, as ruas eram bloqueadas por carcaças de carros, e comumente missões de limpezas realizavam varreduras, exterminando os errantes que se aproximavam.

O posto era guardado por cerca de quinze homens aproximadamente, e talvez fosse o mais afastado da base principal, alguns quilômetros no interior de DC. A comunicação era precária, qualquer pedido de reforço demoraria muito até chegar ao Santuário, o que daria a vantagem para uma investida precisa e cirúrgica.

Munidos de dois rifles de caça, James Goodwin e Paul Monroe partiram em uma missão de reconhecimento, com o objetivo de estudar o local para que futuramente um ataque pudesse ser impetrado. Os dois eram silenciosos e sabiam se esconder nas sombras. A tarefa tinha tudo para ser realizada com pleno sucesso.

Os dois partiram uma hora após o xerife deixar o reinado, seguindo o caminho oposto, aproveitando-se da velocidade de duas das melhores éguas da baia do rei Ezekiel. A dupla então seguira pelo matagal ao lado da Lincoln Road, assegurando-se que não haviam sido detectados por nenhum inimigo.

Amarraram os animais a uma árvore, assim que atestaram que estavam próximos o bastante para seguir a viagem a pé. Alcançaram a Rhode Island e seguiram caminho por mais alguns minutos, ainda em meio ao mato, tentando despistar qualquer possibilidade de serem surpreendidos por algum hostil.

— Jesus... – Goodwin segurava o seu rifle em mãos, os olhos de caçador atento a todo o perímetro, o corpo levemente curvado em meio à alta vegetação selvagem – Como... Como ela está?

James hesitara, mas não havia oportunidade melhor para sanar suas inquietações.

— Bem... Ela está bem. – Dissera Paul, que caminhava dois metros a frente de seu parceiro – Eu fiz o que me pediu. Não contei a ela sobre você estar vivo... Apesar de não conseguir captar o sentido disso.

O engenheiro meneara a cabeça.

— É melhor que seja assim... Ela precisa ser forte para reconstruir sua vida. Nesse mundo só os mais fortes sobrevivem. É por isso que precisamos matar o Negan, para provar que nós somos os mais fortes. – Goodwin fizera uma breve pausa – Há certos sacrifícios que precisamos fazer para proteger aqueles que amamos... O momento em que Susie se mostrou mais forte foi justamente quando achou que eu estava morto. E agora... Eu sei que ela vai conseguir passar essa força para o nosso Jacob, fazer dele uma criança preparada para o mundo em que irá crescer. Mas para isso... Precisarei ficar longe dos dois.

O diplomata do Hill Top olhara para trás.

— Você não vai conseguir manter essa mentira por muito tempo. Nossas comunidades fazem parte da mesma rede, da mesma aliança... Será praticamente impossível ela não descobrir a verdade.

James sorrira sem alegria.

— Você não está morto apenas quando morre. Há mais de uma forma de morrer para alguém. E nesse caso... Acho que já preenchi todos os requisitos.

Os dois seguiram por mais alguns metros, evitando tomar a estrada principal. Esgueiraram-se entre as árvores por mais dez minutos, até finalmente avistarem o posto avançado dos Salvadores.

O prédio era exatamente como lhes fora descrito. A torre com a caixa d’água estava lá, no seu devido lugar. As carcaças dos carros fechavam todos os pontos de acesso, e no horizonte próximo não se avistava nenhum errante. Porém, não havia ninguém lá. O local estava totalmente abandonado. E pelo visto, abandonado há pelo menos três ou quatro dias.

— Mas que merda... – Esbravejara Jesus.

Goodwin tomara os binóculos em mãos, atestando com os olhos a surpresa que vira no rosto de Paul.

— Sem carros ou guardas... Ele lugar está totalmente abandonado!

— Dwight disse a Ezekiel que esse posto ainda era utilizado, mas... – O diplomata recolhera o rifle nas costas. Suas expressões pareciam demonstrar que ele havia compreendido tudo o que acabara de ocorrer – Precisamos voltar para o Reino agora mesmo! Nossas posições estão comprometidas... – Ele pausara brevemente – James, precisamos correr. Alexandria está correndo sério perigo!

 

*****

 

— O que você vai fazer agora?

Rick fora posto de joelhos, ao lado dos demais combatentes rendidos. Os homens de suporte de Negan, que haviam acabado de se revelar, cercaram completamente o perímetro da comunidade, tomando total controle da situação.

— Você quer mesmo saber? Tem certeza que quer mesmo saber? – O psicopata fazia questão de provocá-lo a cada frase, a cada expressão que saía por entre seus lábios – Vamos ver agora o quão fodidos vocês estão... A desvantagem de um atirador, Rickyzito, é que quanto mais ele vai atirando, mais vai comprometendo sua posição. Você foi policial, caralho, sabe que um sniper deve atirar e se mandar logo em seguida.

— Bom... Mas em uma situação delicada, onde o atirador se vê obrigado a ficar no mesmo lugar para atirar rapidamente se as coisas ficarem ruins... Bom, seria algo perigoso para caralho para um atirador! – Ele agachara-se, olhando para o xerife com um sorriso estampado no rosto – O seu atirador já era, Rickyzito!

Grimes pensara imediatamente em Andrea, e uma fúria implacável lhe consumira internamente. Jamais se perdoaria se algo de ruim ocorresse com ela. Não podia, em hipótese alguma, perder sua companheira, o seu pilar de sustentação. A mulher que aprendera a amar profundamente.

Não era justo.

O xerife lançara a mão esquerda em um soco, tentando acertar o rosto de Negan, mas o canalha conseguira desviar, acertando-o no estômago, em um golpe de encontro que o fizera perder o ar. Dispneico, Grimes caíra de joelhos, recebendo um chute no rosto, que lhe trincara um dente.

— Opa, opa! Até que para um maneta, você ainda está em forma! – Troçara. Erguendo o seu taco logo em seguida – Você é mesmo burro para caralho, não é Rickyzito? Ainda não aprendeu que Lucille aqui está sempre pronta para foder com tudo? Vou te acertar tão forte nas bolas que você vai ficar falando fino para o resto da vida!

Negan cortara o ar com sua arma, mas antes que conseguisse atingir em cheio o meio das pernas de Grimes, um disparo vindo dos muros interrompera o golpe que seria dado. Carl, que escondera-se junto aos outros atiradores sentinelas, conseguira impedir que seu pai fosse mutilado, quando, agindo por impulso, atirara contra o líder dos Salvadores, atingindo o taco ornado apelidado de Lucille.

A bala de raspão deformara Lucille, destruindo um pedaço da ponta do taco de baseball.

Como resposta, os homens de Negan passaram a disparar seguidas vezes contra os muros, tentando acertar o filho de Rick, que conseguira se esconder a tempo.

PAREM DE ATIRAR!— Exclamara Negan, cuspindo as palavras. Sua ordem fora prontamente atendida

Ele olhara para Lucille, tomara fôlego, e voltara-se outra vez em direção aos muros, totalmente ensandecido.

— Carl, seu caolho de merda! – Vociferara – Seu filho de uma vadia manca! Filho da puta fodido do caralho!

Rick aproveitara para novamente tentar atacá-lo, acertando-o pelas costas com uma joelhada. Mas Negan era mais forte, e mesmo com o elemento surpresa a seu favor, Grimes fora novamente dominado pelo corpulento assassino, que aproveitara o momento para chutar o rosto do xerife mais algumas vezes, quebrando o seu nariz e causado dois cortes em seu supercílio.

— Será que dá para alguém segurar esse maneta? – Dois homens tomaram Grimes pelos braços, arrastando-o para junto dos demais reféns – Eu... Eu preciso de um minuto para pensar... – Negan olhara outra vez para o seu taco, fechando os olhos. Parecia estar totalmente consternado – Tragam esse garoto para cá agora! Ele é meu! – O mandatário agarrara-se a sua Lucille, como se estivesse protegendo-a – Eu quero ele agora! Ele precisa pagar pela merda que acabou de fazer! Ou ele vem para cá, ou todo mundo aqui morre!

— Você não... – Rick arregalara os olhos, mas fora impedido de se manifestar por um golpe em seu rosto. Ele quase apagara dessa vez.

Negan seguira esbravejando enquanto olhava para os muros, na expectativa de obter uma resposta.

— Ainda não estou vendo nenhum moleque! Tragam esse pivete para cá!

A única resposta que o Salvador recebera fora um gracioso “Tomar no cu!”, gritado a plenos pulmões por Tom Price.

Negan levara a mão ao cenho, suspirando impaciente.

— Eu nem sei quem foi o filho da puta que disse isso... – Ele então erguera o seu taco, voltando a esbravejar – Vocês ainda não entenderam, não é? Me tragam a porra do garoto ou então todas as cabeças aqui serão estouradas! Todos eles!

O silêncio permanecera. O mandatário do Santuário dirigira-se novamente até Rick, agachando-se e o encarando mais uma vez.

— Você não faz ideia do quanto eu gostava desse garoto. Sabe, Rick, eu nunca tive um filho... Então, quando o vi e tive a oportunidade de conhecê-lo, pensei... Caralho, se um dia eu for pai, espero que o meu moleque seja tão foda quanto esse guri! O moleque tinha colhões para caralho! Para caralho! – Enfatizara – E ao que parece... Ele ainda tem. Mas talvez não por muito tempo.

Negan erguera-se.

— Levantem esse merda! – Ele apontara com Lucille para Rick – Já estou cansado de ficar agachado, os meus joelhos estão me matando!

— Se você encostar nele, nosso acordo estará acabado! – Rick nem mais conseguia pensar nas palavras que soltava por sua boca. Seu coração estava apertado demais com a iminente morte de Andrea e seu filho Carl.

O algoz dera de ombros.

— Já está tudo acabado, Rick. Você tentou me matar, seu filho da puta! E você não tem a menor ideia com quem está se metendo... Sabe, eu cheguei a pensar que você fosse mais inteligente, xerife... Me decepcionou. Me decepcionou fodasticamente!

Gesticulando com o seu bastão ornado com arame farpado, Negan voltara a discursar amplamente.

— Uma cadeia de eventos se iniciou hoje! Uma cadeia de eventos que poderia ter levado todo o seu grupo para a lama! Você tentou me matar, Rickyzito, me atacou fodidamente... Mas isso já ficou para trás, nosso problema agora se resume a outra questão... Uma questão que envolve o ato imperdoável cometido pelo seu filhinho!

Ele olhara outra vez para Lucille, acariciando-a.

— Eu sei que ela pode parecer apenas um objeto inanimado, cuidadosamente coberto com arame farpado... Apenas um pedaço de madeira sem vida. Algo que em hipótese alguma poderia ser amado... – Ele erguera os olhos, fitando Rick Grimes – Mas você está errado. Errado para caralho!

— Ele é uma dama! Eu sei que às vezes ela não se comporta como tal... Na verdade, Lucille é uma puta! Mas ela é minha puta! E essa putinha aqui já salvou a minha vida uma caralhada de vezes! – O discurso doentio só aumentava o pavor daqueles que se encontravam ajoelhados, apenas aguardando o que o destino lhes reservaria.

— Ela é a única puta que eu já amei de verdade! – O psicopata seguia admirando o seu bastão – Se eu pudesse, eu treparia com ela! Admito que em meus momentos mais íntimos eu já a esfreguei no meu pau, apenas para sentir o barato... Eu não sinto vergonha alguma em admitir isso!

Ele voltara o olhar para as muradas. Nenhuma movimentação fora detectada.

Caralho... Eles não vão mesmo me trazer o moleque? Bom... É uma pena. Eu estava louco para brincar de atirei o pau no gato com ele. Carl seria o gato e Lucille o pau, é claro. Mas dessa vez o gato morreria. – Negan coçara a cabeça, caminhando a frente de seus reféns – Sabe o que eu sempre achei esquisito? Por que caralhos a porra da Dona Chica se admirou com o berro do gato? O bicho estava apanhando, cacete, ela queria o quê, que o gato cantasse? E tem mais... Ela não deveria impedir que o cara da música batesse no gato? Sei lá, essa merda não parece fazer sentido algum!

— Mas sabe o que é mais foda do que uma música infantil que incentiva maus tratos a animais? – Negan estacionara em frente ao pai de Carl Grimes – Eu não quero te matar, Rick. Eu tenho que acabar com o seu moral, para foder com todo mundo aqui. Se eu te matar agora, vou acabar de transformando em um mártir. Isso acabaria servindo de cajado para eles... Mas acho que já conversamos sobre isso.

Ele apontara Lucille para o rosto do policial.

— Então o que eu vou fazer é arrastar o seu rabo no chão o máximo que puder, destruí-lo sem precisar te matar. E eu vou fazer isso matando o seu filho! – Rick ainda sentia gosto de sangue, fruto dos inúmeros cortes internos em sua boca. Seus olhos se arregalaram, ele não tinha mais ação, não enxergava nenhuma forma de virar o jogo.

— Só assim você vai perceber o quão fodido está, e então passará a me seguir como um cachorrinho. Já até te imagino abanando o rabo! Bom... Só há um problema, parece que o seu pessoal ainda não compreendeu a gravidade dessa situação. Mas eu vou fazê-los entender em um instante... – Ele achegara o rosto ao de Rick, sussurrando próximo ao seu ouvido – Eu vou começar matando a menina grávida, afinal, para quê nascer mais um bastardinho fodido, não é mesmo? Depois eu mato a gostosinha de cabelos castanhos que acha que manda em alguma coisa... No fim, Rick... No fim eu vou matar todos eles, e aí só vai sobrar você. E quando eu finalmente for estourar a sua cabeça, o seu pessoal não irá permitir, e irão me entregar o garoto no mesmo instante! Viu? É assim que as coisas funcionam!

Rick fechara os olhos, fitando o chão.

— Não, por favor... Nós podemos...

Negan não permitira que ele prosseguisse.

— Tarde demais, Rickyzito. Lucille será vingada!

Um tiro a distância fora ouvido. Rick girara a cabeça, voltando o olhar para o local de origem do disparo isolado. Vira que se tratava da torre do campanário, e à distância conseguira enxergar um corpo caindo, despencando cerca de dez metros de altura. Sentira seu coração se comprimir, como se estivesse sendo apertado em um punho fechado. Faltara-lhe o ar. Suas forças se esvaíram.

— Andrea! – Gritara, não conseguindo acreditar no que havia acabado de enxergar. – Andrea... Não...

Lágrimas começaram a escorrer, como uma cachoeira brotando de seu âmago. Sentira como se uma luz em seu interior tivesse sido apagada. Estava na mais completa escuridão, imerso em um profundo vazio.

— Não fique surpreso. – Retomara Negan – Você pediu por isso, Rick. Vai precisar viver com essa culpa. – O Salvador levara uma das mãos à cintura – Acho que agora podemos retornar a nossa pequena questão aqui... Afinal, você está com uns probleminhas do caralho, hein Rick?

A cabeça do policial tombara para baixo. Grimes só conseguia fitar o solo, os olhos vermelhos, tomados por lágrimas que não cessavam. Uma culpa que o corroia internamente.

— Anime-se, xerife! Ela morreu rápido, não deve nem ter sentido! – Troçara o Salvador – Se bem que... Tem todo aquele lance de que na hora da morte a pessoa vê toda a sua vida passando diante dos seus olhos, como se fosse um filme. E dizem também que durante um estresse extremo, sentimos o tempo passando mais devagar, tipo em câmera lenta... Então, mesmo que ela tenha tido uma morte rápida, talvez tenha sentido alguma coisa. Talvez sua agonia final tenha durado algumas horas... Mas vai saber, não é?

— Se for assim, sua reação tá valendo... De qualquer forma, foda-se! Não estou nem aí! E isso foi só o começo, Rick. Guarde suas lágrimas para os outros manés que eu ainda vou matar! E quem sabe de brinde eu até mate você... Nunca se sabe.

O sádico homem piscara.

Negan então começara a caminhar diante da fila formada pelos alexandrinos capturados, passeando com sua Lucille em frente aos rostos aterrorizados de seus reféns. Parara em frente à Leah Fisher, que pressionava com a mão esquerda o ferimento em seu antebraço direito. Chorando copiosamente, a menina implorara por sua vida.

— Por favor... Por favor, não me mate...

O canalha homicida girara o bastão no ar, fitando-a, intimidando ainda mais a adolescente grávida.

— Não... Eu não vou te matar, neném. – Ele a olhara com lascívia – Eu vou matar esse doidão aqui do seu lado. – O déspota voltara-se para Isaiah, que o olhava fixamente, sem expressar nenhuma reação.

Fisher tentara se mover, mas fora puxada pelos cabelos por um dos homens de Negan.

— Não... Não! – Exclamara a menina em um impulso.

Negan abrira os braços.

— Decida-se, mulher! Você não quer que eu te mate, mas também não quer que eu mate esse doidão aqui? Desculpe, mas minha benevolência não chega a tanto. Vamos, escolha de uma vez! Quem morre? Você ou ele?

A menina não dissera nada, apenas meneara a cabeça em negativa, enquanto chorava desesperadamente. Ela então olhara para Matti, que sorrira para a garota, como se estivesse tentando confortá-la, libertando-a do peso da culpa. Isaiah então fechara os olhos, mantendo-se de queixo erguido.

Ok... – O déspota olhara para os dois – Já saquei a resposta. – Voltara-se para Matti – Você é feio para caralho, hein?

Negan erguera Lucille, cortando o ar e acertando em cheio o topo da cabeça de Isaiah. Seu crânio afundara e seus olhos saltaram para fora das órbitas. O segundo golpe se dera em um dos parietais, fazendo com que o corpo do finlandês tombasse de lado. Matti entrara em choque, o corpo tremendo por inteiro após o brutal ataque.

O assassino então prosseguira com o massacre, golpeando de cima para baixo até que só restasse uma massa gosmenta de sangue e miolos, que espirrara para todos os lados. O cadáver do biólogo estava irreconhecível, o seu rosto não mais existia. Outro alexandrino que acabara servindo de alimento para a insaciável fome de Lucille.

Rick em nenhum momento olhara para a horrenda cena. Ainda chorando, as lágrimas se mesclando a areia que cobria parcialmente o asfalto, o xerife apenas escutara os sons ritmados do bastão de Negan. Nem sequer se importara em verificar quem havia sido executado. Naquele momento não importava mais. O líder do Santuário havia alcançado o que tanto queria. Quebrara Rick Grimes totalmente por dentro.

— Essa ele recebeu como um campeão! – Negan admirava os restos mortais de sua vítima como alguém admira uma obra de arte – Mas como ninguém me trouxe o moleque... Acho que teremos que continuar com nossa festinha. – Ele olhara para Rick, que permanecera impassível – Vamos lá, oficial Grimes, você já conhece o processo! Por que não conta comigo?

Ele então voltara a passear com o seu bastão.

Uni... – Lucille parara em frente à Michonne – Duni... Vamos lá, Rick, que porra é essa? Não vai contar comigo? – Ele se agora se encontrava diante de Lizzy – ... Salamê... – O bastão passara próximo ao rosto de Leah – Minguê... – Negan estacionara o seu taco de baseball em frente ao rosto de Rick, que permanecera de cabeça baixa – Um sorvete colorê... O escolhido foi... Você!

O déspota homicida olhara para Magna. A mulher não chorava, de olhos fechados, mantinha o cenho voltado para chão.

— Você é gostosa demais para morrer... Mas infelizmente não sou eu quem escolhe! Uma ordem dada por Lucille, é uma ordem cumprida por mim! – Negan erguera o seu bastão – Foi mal, neném... Mas essas são as regras... E a porra das regras devem ser seguidas a risca!

 

*****

 

A fileira dos capturados encontrava-se em frente a uma das trincheiras projetadas por Eugene, logo após a grande invasão de errantes que quase destruíra toda a comunidade. Negan estava de costas para a trincheira, a frente dos alexandrinos, e o restante de seus homens protegia sua retaguarda. Mais a frente, há alguns metros, havia os muros da zona segura.

Apenas um fantasma conseguiria ultrapassar toda aquela barreira de segurança. Apenas um fantasma acostumado a caminhar nas sombras. A sorte de Rick, ou melhor dizendo, a sorte de Magna, era que Alexandria possuía um fantasma dentre os seus aliados. Um fantasma de carne, osso e barba longa.

Jesus puxara um dos Salvadores pelos calcanhares. O homem que portava uma metralhadora em mãos, acabara atirando a esmo, para o alto e para frente, quase acertando seus próprios companheiros. Paul então puxara uma faca, cortando a garganta do sujeito.

Os demais soldados passaram a atirar na direção do buraco na areia, mas o diplomata do Hill Top conseguira se proteger, utilizando o cadáver do miliciano que havia acabado de exterminar.

PAREM DE ATIRAR, CARALHO! – Esbravejara Negan.

Jesus aproveitara-se do cessar fogo para pular em direção ao chefe do Santuário, que não fora rápido o bastante para se defender. Com a metralhadora que roubara em mãos, fuzilara mais dois dos hostis. Tomando em seguida o próprio Negan como refém.

Largando a arma de fogo e retirando novamente sua faca da cintura, Monroe posicionara a lâmina contra o queixo do psicopata.

— Ninguém se mexe! – Vociferara Jesus – Abaixem as armas ou então o líder de vocês vai conhecer o inferno mais cedo! – Ele pressionara ainda mais a ponta da faca contra a pele de Negan.

Os Salvadores se entreolharam, esperando alguma ordem.

— Abaixem a porra das armas, caralho! – Gritara Negan, os olhos arregalados e as mãos espalmadas em sinal de rendição. Seus homens o obedeceram, baixando a guarda e resguardando suas armas – Olha só, cara... A verdade é que vocês não vão sair vivos daqui. Mesmo se você me matar... Esses caras ainda tem poder de fogo para fazer um puta estrago por aqui, e acredito que você não quer que mais ninguém do seu pessoal morra, não é mesmo? Além disso, outros virão depois de mim... E então, como resolvemos esse impasse?

Jesus apertara ainda mais a pegada no pescoço do Salvador líder.

— Você vai deixar que o meu pessoal retorne para a comunidade... Depois que passarmos pelos portões, eu solto você!

— Tá achando que eu sou idiota, caralho? Se vocês me tomarem como refém, se me levarem para dentro de Alexandria, Rick me mata na hora! Ele acabou de tentar isso, porra! Fora o fato de que talvez ele tenha se emputecido um pouco por conta de eu ter matado a putinha atiradora dele, e o amigo doidão com o rosto deformado...

Negan interrompera sua fala repentinamente. Os olhos focaram-se em algo com o qual ele provavelmente não esperava se deparar naquele dia.

Puta que pariu! Caralho!

Shiva saltara sobre um dos milicianos, atacando-o na jugular. A tigresa de Ezekiel matara o soldado instantaneamente, separando a cabeça do corpo, após mais algumas mordidas. No mesmo instante surgira do bosque uma pequena tropa, iniciando um novo tiroteio, mas dessa vez apenas um dos lados atacava.

O lado da Aliança.

Ezekiel, Alex, Lewis, Kal e Goodwin conseguiram executar instantaneamente metade dos Salvadores que faziam suporte para Negan. Quando a resposta se iniciara, já era tarde demais para os hostis.

Aproveitando-se de toda a confusão, Negan conseguira se livrar de seu raptor após desferir uma cabeçada contra o rosto de Paul. Juntando Lucille do solo e correndo para o caminhão, o mandatário do Santuário gritara por seus homens, para os poucos que haviam conseguido sobreviver.

Os Salvadores esgueiraram-se, protegendo-se dos tiros na própria lataria do caminhão, que acelerara logo em seguida, saindo de ré antes de tomar a estrada a toda velocidade. Alguns acabaram ficando para trás, sendo mortos pelos disparos impetrados pela Aliança.

— Continuem atirando! – Bradara Ezekiel.

Os tiros em rajadas tentaram evitar a partida dos milicianos, mas não conseguiram obter sucesso. O caminhão cortara a estrada velozmente, saindo do campo de visão dos Sobreviventes.

Não fora possível impedir a fuga de Negan, mas pelo menos a Aliança havia conseguido diminuir a tragédia que parecia reservada para os alexandrinos.

Jesus, que caíra sentado após o golpe recebido, enxugara o sangue do canto da boca, recebendo ajuda do Rei para se erguer.

— Eu não acredito que aquele maldito conseguiu escapar... Eu... Eu vou atrás dele!

O diplomata do Hill Top já estava pronto para iniciar a perseguição, mas fora impedido quando Ezekiel o segurara pelo braço.

— Não. Não faz sentido persegui-lo agora. E mesmo se você o alcançasse, o que poderia fazer? – O líder do Reino olhara para todo o cenário a sua volta. Os feridos, os cadáveres dos inimigos, dos amigos – Sofremos muitas baixas hoje... Precisamos nos recuperar antes de tentarmos qualquer investida.

Rick, que assim como os demais desarmados havia se protegido na trincheira logo que Jesus surgira, ajudava agora os sobreviventes a deixar o buraco, estendendo primordialmente a mão a Leah Fisher, que mantinha um olhar totalmente perdido.

— Precisamos ir atrás dele! – Exclamara – Os cabelos loiro areia lhe caíam parcialmente sobre o rosto, completamente desgrenhados – Ele está vulnerável agora, não podemos permitir que eles se reagrupem!

O Rei recolocara a corrente em sua tigresa, acarinhando a cabeça do felino, que já havia terminado de se deliciar com a carne do Salvador.

— Não. É melhor deixá-los ir enquanto ainda não perceberam que são mais fortes do que nós! Não estávamos preparados para isso! O que acabou de ocorrer aqui foi uma sucessão de fatos que se uniram ao nosso favor. Eu enviei Jesus para um dos postos avançados assim que vocês saíram de minhas terras. Após ver que o local estava abandonado, ele compreendera que Negan havia retirado seus homens de lá... Juntando as peças, ficara claro que eles viriam a Alexandria!

Rick ficara em silêncio. O Rei prosseguira.

— Foi só aí que pude entender finalmente contra o quê estamos tentando guerrear. Negan possui um exército, possui armas, e também possui táticas de guerrilha muito bem estabelecidas... Somos amadores frente à força dos Salvadores! Só vencemos hoje... – Seus olhos se direcionaram para o cadáver de Matti – Se é que vencemos... Por pura sorte. Quando Jesus e James retornaram ao Reino, juntamos um pequeno grupo e corremos para cá. Mas só chegamos a tempo pelo fato de vocês terem atrasado sua viagem para coletar mantimentos...

— Não podemos mais contar com a sorte. Tudo o que fizermos deverá ser minuciosamente planejado. Não há mais espaço para atos impensados daqui para frente!

O xerife não parecera dar muita atenção às palavras do rei. Assim que Ezekiel finalizara a retórica, Rick dera as costas. Mais parecia que estava anestesiado, totalmente fora de seu corpo. O policial dera alguns passos, acelerando em seguida, correndo em direção à torre do campanário.

Michonne e Jesus o seguiram.

Ao chegar até o local, caíra de joelhos em frente ao corpo que despencara da torre durante o contrataque dos homens de Negan. Deixando mais algumas lágrimas escorrerem por seu rosto, voltara-se para o céu, levando as mãos aos cabelos.

Não era ela.

O corpo de um miliciano, já sem vida, encontrava-se tombado em meio a uma poça de sangue. Por mais inacreditável que pudesse parecer, Andrea havia conseguido sobreviver a tudo aquilo.

 

*****

 

Andrea havia acabado de atirar, assim como Rick lhe dissera para fazer. Porém, surpreendentemente, snipers de Negan, dos quais eles não tinham conhecimento, haviam conseguido contratacar.

A situação era muito complicada. Com o rifle de assalto posicionado, a sardenta tinha o líder dos assassinos em sua mira, e poderia estourar a cabeça do maldito em poucos segundos. Ao mesmo tempo, não havia como saber qual o tamanho real dos homens que realizavam suporte para Negan, e qualquer movimento em falso, poderia significar a morte de todos os seus amigos.

Um filete de suor escorrera por sua testa. Ela enxugara com o dorso da mão esquerda, observando ainda mais atentamente toda a movimentação em frente aos muros de Alexandria. Os membros de seu grupo agora eram obrigados a se ajoelhar, cercados pelos soldados do Santuário.

Seu dedo seguia no gatilho.

— Vamos lá Rick... Faça alguma coisa. Me dê um sinal... Eu consigo acertar esse cara daqui, você sabe que eu consigo. – Ela meneara a cabeça, inspirando profundamente – Não. Deve haver pelo menos mais três atiradores... Alguém poderia acabar morrendo. Eles estão com as armas apontadas para os nossos... É arriscado demais.

Ela se reposicionara, junto à janela no topo da torre.

— Só saia dessa vivo... Por favor. Você conhece a nossa regra, Rick... Nós não morremos. Nós não morremos!

— Ah, é mesmo?

Uma voz surgira as suas costas, fazendo com que ela se virasse rapidamente. Um homem de moicano, barba rala e casaco de couro, adentrara a sala onde a sniper se encontrava, trazendo um facão em uma das mãos. Sorrindo sadicamente, o sujeito girara sua arma no ar, caminhando lentamente em direção à loira.

Andrea pensara em reagir, mas um tiroteio se iniciara do lado de fora, chamando sua atenção. Ela tentara enxergar o que havia ocorrido, buscando desesperadamente em seu visor a imagem de Rick, torcendo para que nada tivesse ocorrido com ele.

— Mas que porra é essa! Vai me ignorar? – Bradara o homem.

A sardenta olhara para os dois lados. Não conseguira atestar a segurança de Rick, e no momento, sua mente só conseguia focar-se no bem-estar de seu companheiro. O homem então fora em sua direção, chutando o rifle de suas mãos e acertando um soco em seu rosto.

— O que está acontecendo lá fora não importa! Se liga no que vai acontecer aqui dentro! – Exclamara o Salvador.

Erguendo sua faca, o hostil se aproximara de Andrea, que caíra sentada após o golpe recebido. Estava longe demais de seu rifle, e por ter saído às pressas de sua residência, não tivera tempo para trazer nenhuma outra arma consigo.

O homem então olhara para a lâmina, mantendo o sorriso no rosto tomado por cicatrizes.

— Não... Rápido demais! – Ele jogara a faca para o lado – Eu quero aproveitar bastante esse momento! Preparada, vagabunda?

Ele partira para cima de Andrea, que erguera o joelho, acertando-o nos testículos. O homem berrara, dobrando o torso e levando as duas mãos ao local atingido. A loira então chutara com força o tórax do Salvador, que tombara de lado, perdendo parcialmente o fôlego.

— Sim, eu estou preparada, seu filho da puta! – Vociferara Andrea, desferindo mais dois chutes contra o sujeito.

O homem conseguira segurá-la pelo calcanhar, puxando-a com força e a desequilibrando. Aproveitando-se da queda da sardenta, o miliciano se erguera, puxando-a pelos cabeços e batendo o seu rosto algumas vezes contra o chão, com força o bastante para deixá-la totalmente atordoada.

Andrea virara o rosto de lado, buscando forças para se levantar. Sentira um gosto amargo em sua boca, e provavelmente pelo menos dois dentes haviam sido perdidos no processo. Seu nariz estava tomado por sangue, sua cabeça latejava e parecia que agora estava com o dobro do tamanho. Sentira o seu rosto inchar-se instantaneamente. Era difícil até mesmo se mexer.

— Você vai morrer agora, sua vadia!

Ele dera mais um soco, mais forte até que os anteriores. Seu rosto se impactara com o solo outra vez. O homem então a puxara pelo colarinho, envolvendo sua mão em seu pescoço.

— Já está cansando, não é putinha?

O sangramento acima de seu olho direito a impedia de enxergar em sua totalidade. Os diversos hematomas em sua face começavam a se ampliar de tamanho. Os cortes nos lábios, no nariz, no interior de sua boca... O intermitente gosto acre. Andrea mal conseguia focar sua visão em único ponto, mas pudera perceber que o sorriso no rosto do maldito ainda se mantinha.

Ela pensava em Rick. Não podia morrer ali, daquele jeito. Não podia deixar o seu grupo na mão. Não podia deixá-lo...

— Vá se foder! – A sardenta juntara forças para xingar o seu algoz, tentando demonstrar que ainda não havia se entregado. Mas suas forças se esvaíam cada vez mais.

O Salvador passara então a enforcá-la, apertando os dedos em volta de seu pescoço, cada vez com maior veemência.

— Tá na hora de você morrer! – O carrasco se ajoelhara sobre o quadril da sardenta, reforçando a esganadura com os polegares contra sua garganta – Sabe... No mundo de hoje em dia, com os mortos comendo todo mundo... Você tem fazer muita merda para sobreviver! – Estranhamente ele passara a falar, como se aproveitasse os últimos suspiros de Andrea para se confessar – Eu me sinto mal por estar matando você, afinal de contas, eu nem te conheço... Nós poderíamos estar até do mesmo lado...

— Pela sua cara... – Prosseguira, os olhos fixos nos de sua vítima – Você deve ter passado por tanta merda quanto eu... Mas é assim que as coisas são. Ou você mata, ou você morre... Foi mal, loirinha, mas hoje chegou o seu dia de morrer!

A faca que outrora estivera nas mãos do miliciano, encontrava-se agora caída no chão, há alguns centímetros do alcance de Andrea. Aproveitando-se do discurso do sujeito, a sniper esticara os dedos, tomando a arma em mãos e o golpeando com o pouco de energia que ainda lhe restara.

O golpe acertara o ombro do homem, que se jogara para trás, evitando uma nova investida da atiradora. O corte fora profundo, lançando um jato de sangue assim que fora impetrado.

— Merda! Merda! – O homem tentava estancar o sangramento com uma das mãos – Eu vou arrancar sua cabeça, sua puta! – Esbravejara – Vou meter meu pau na boca até você morrer sem ar, vagabunda de merda!

Andrea o atacara mais uma vez, conseguindo realizar um novo corte, dessa vez no antebraço. Ela tentara implementar uma sequência de investidas, mas seu adversário fora mais rápido, conseguindo desviar-se. A loira ainda estava fraca, grogue e tonta após tantas pancadas na cabeça, por isso acabara sendo dominada outra vez.

O sujeito a segurara pelos ombros, tentando lhe tomar a faca enquanto batia as costas da sardenta contra a parede. No meio do duelo de forças, os dois acabaram estacionando em frente à janela da torre, lutando por espaço.

O Salvador empurrara Andrea, tentando jogá-la pela abertura, uma queda que certamente seria fatal. Após muito esforço, a loira conseguira tocar a lâmina de sua faca no pescoço do algoz, que seguia pressionando-a para baixo. Ela não conseguiria suportar por muito tempo, sentia suas pernas fraquejarem, a cada segundo ela era deslocada alguns milímetros.

— E então? – O homem seguia mostrando os dentes em um doentio sorriso – Acha que consegue me matar antes que eu te jogue daqui de cima? Quer mesmo apostar?

Ela não poderia morrer. Era forte, mas do que imaginava. Não morreria para um sujeito como aqueles. Não deixaria Rick na mão.

Juntara então toda a energia que lhe restara, forçando os ombros, dando um passo a frente e cortando a garganta do miliciano. O peso do corpo do assassino quase a fizera cair da torre, mas a sniper conseguira ser ágil o bastante para impedir que isso ocorresse. Com a jugular pulsando sangue arterial, o capanga de Negan tombara, despencando cerca de dez metros do mais alto ponto do campanário.

Cambaleante, Andrea caíra ao solo, de costas, os olhos fixos no teto antigo de madeira. Havia conseguido mais uma vez. Havia sobrevivido mais uma vez. Assim como prometera a Rick.

— Nós... Nós somos sobreviventes... – Sussurrara, tentando manter-se consciente – Nós não morremos, Rick... Nós não morremos...

 

*****

 

[A NOITE, NO SANTUÁRIO]

...

O caminhão dos Salvadores havia acabado de aportar. Os buracos de bala haviam perfurado boa parte da lataria, mas por uma sorte do caralho não causaram nenhum efeito no motor. Caso contrário, não haveria mais Salvador algum para contar a história.

Seth havia tomado a porra de um tiro na cara. Aparentemente ainda estava respirando, mas não deveria durar muito. Negan sinalizara para que o levassem até a enfermaria, e tentassem pelo menos aliviar a dor do miserável.

Um aglomerado de pessoas já começava a tomar conta do pátio, um bando de abutres atrás de carcaça, tentando atestar qual o tamanho da tragédia. Ele não podia demonstrar fraqueza, principalmente naquele momento. Olhara para Lucille, ferida, desfigurada. Aqueles filhos da puta precisavam pagar.

Haviam cutucado o maior vespeiro do novo mundo.

Aproveitando a multidão que se formara, o chefe do Santuário subira no capô de um dos carros estacionados no pátio, improvisando o seu próprio palanque. Com o seu bastão em mãos, o grande símbolo de sua liderança, estava pronto para fazer um puta discurso. Um puta e importantíssimo discurso.

— Nós temos mandado e desmandado nessas terras durante um bom tempo. Mas ao que parece, há algumas pessoas que acham que tem um pau maior do que o nosso! Então vamos mostrar para eles quem é que tem o pau maior e mais grosso dessa porra! E vamos mostrar que o nosso pau é tão grande e grosso que vai esporrar na cara de todos esses filhos da puta!

Negan erguera Lucille.

— É isso mesmo, bando de bastardos! Oficialmente nós estamos em guerra!


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?

RIP Isaiah-Matti... Alguém aí já imaginava que esse seria o destino final do homem mudo? Bom, eu admito, todo o BOOM em volvendo a introdução de Negan nesse último episódio da sexta temporada me inspirou um pouco, mas de toda forma, a morte de Matti já era planejada... Eu curti bastante desenvolver o personagem, e espero que tenham curtido também!

Eu não irei tecer comentários sobre esse episódio final... Sinceramente... Ainda não sei o que dizer...

O capítulo foi totalmente explosivo, não é mesmo? Bom, como eu já disse, a guerra está apenas começando! Preparam-se para mais momentos repletos de ação e mais mortes... Sim, mortes de personagens principais! Toda guerra exige o seu preço...

Vejo vocês nos comentários...

Moi moi.



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