A Retribuição escrita por BadWolf


Capítulo 28
Uma Arma Contra O Duque


Notas iniciais do capítulo

Olá!

E Holmes voltou para Londres com uma prova viva dos crimes recentes do Duque Ivanov!
É Duque, acho mehor você sair da Inglaterra o quanto antes... Holmes está começando a virar o jogo!
Isto é, se o pobre Igor cooperar...

Boa leitura, pessoal!



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Era manhã cedo quando o trem chegou a Londres.

O russo já estava de banho tomado, vestindo algumas roupas de Sherlock Holmes, mas insistia em usar sua boina vagabunda e suja, completamente destoante do resto de sua vestimenta. Ele mostrava-se ainda temeroso com seu destino, pois sabia que prestaria um depoimento contra um dos homens mais importantes da Rússia, mas Sherlock Holmes lhe garantiu que já sabia o que fazer.

Igor tinha contado a Esther que o outro russo, chamado Vladimir Bercovitch, era um homem solteiro e trabalhava em Moscou como um assassino de aluguel. Holmes decidiu usar a identidade do morto como denunciante para resguardar a família de Igor.

Mycroft já tinha recebido sua mensagem e imediatamente chamou Lestrade e um juiz para Pall Mall, onde receberiam Igor para colher o depoimento. Havia também um representante da Embaixada da Rússia, fato este que desagradou Holmes, que não tinha certeza se ele era de confiança.

Com relutância, Igor denunciou o Conde Ivanov, sendo encorajado por Esther e Holmes a continuar, por todo o seu depoimento. Quando o embaixador russo foi embora, ele pediu também proteção, pois tinha certeza que o embaixador pertencia à roda de amigos do Duque. Holmes se lamentou pelo fato.

–Não havia como fugir, Sherlock. É como manda o procedimento. Mr. Kratoi, ou melhor, Mr. Bercovitch será deportado, mas eu já sei o que fazer. Irei acionar o Serviço de Inteligência, alegarei que ele contribuiu para o Império e eles providenciarão uma nova identidade, uma nova vida, provavelmente em alguma de nossas colônias. A família Kratoi poderá em breve se reunir, eu tenho certeza.

–Mas se você está providenciando uma identidade, o que fará com a verdadeira?

Mycroft sorriu. – Uma “queima de arquivo” às avessas. Diremos que ele morreu à caminho da Rússia, mas ele será mandado para outro navio, provavelmente para Índia ou Austrália.

Esther traduzia as palavras de Mycroft para Igor, que sorria com as novidades, e por fim, começou a chorar.

–Ele está agradecendo aos senhores. – ela disse.

De repente, Mycroft disse alguma palavra estranha, para assombro de Holmes.

–O que você disse?

–“De nada”. Ora, Sherlock, acha mesmo que não tenho ao menos algumas noções de Russo? Aliás, me admira que não tenha aprendido nada com Esther ao seu lado. Ela é uma das melhores tradutoras que já conheci.

Esther e Mycroft riram do fato, enquanto Holmes mantinha o rosto aborrecido.

Quando Esther e o russo estavam distantes, descendo do apartamento de Pall Mall, Sherlock Holmes parou ao lado de seu irmão e perguntou, aos cochichos.

–Isso não irá acontecer, não é?

Mycroft ficou sombrio. – As pessoas precisam ter esperança, meu irmão, mesmo quando não há. Juro que farei o meu melhor para protege-lo aqui, em solo britânico, mas não há o que garantir quando o navio dele zarpar. – ele disse.

–Foi o que suspeitei. Nosso governo não oferece identidades falsas a estrangeiros. Esther foi a única exceção porque era filha de um espião britânico. Isso não é justo, Mycroft. – ele parecia inconformado. – Ele salvou a minha vida e a de Sherringford. Precisamos fazer alguma coisa para ajuda-lo.

Mycroft tomou Holmes em seu ombro.

–Uma semana. Este é o tempo máximo que posso mantê-lo na Inglaterra. O reino irá deportá-lo o quanto antes. Quando o navio que ele estiver zarpar, eu não tenho mais qualquer responsabilidade. Então, se você quer mesmo salvar a vida deste pobre homem, aconselho a derrubar sua principal ameaça o quanto antes.

Holmes assentiu, e voltou-se para a porta, de onde Esther já o chamava.

–Você sabe que me torno um homem sem lei quando o inimigo é desafiador. Eu farei o meu melhor para livrar o mundo de um sujeito tão sem escrúpulos quanto o Duque Ivanov, mesmo que... Mesmo que eu tenha que sujar minhas mãos com sangue.

Mycroft sentiu um arrepio cruzar-lhe a espinha.

–Não faça nenhuma besteira, Sherlock. Agora, você tem muito a perder, meu irmão. – ele disse, olhando para Esther. – Eu sei que você está feliz com ela, sei da perda que vocês dois tiveram... Só posso presumir que uma criança seja questão de tempo.

Holmes olhou para seus pés, procurando as palavras.

–Meu casamento com Esther está ótimo, mas... Ela tem suas ocupações, suas ambições e... Nunca tocamos neste assunto. Não sei se ela ainda deseja um filho, depois de tudo...

–Um bebê não precisa de planos para acontecer, Sherlock, você tem experiência nisso melhor do que eu. – ele disse, com um sorriso. – Vá, antes que ela fique impaciente.


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Esther e Igor continuaram conversando em seu dialeto completamente estranho, que deixava Holmes incomodado, especialmente porque o russo não era uma língua das mais agradáveis de se escutar, e também porque lhe irritava estar em uma situação onde ele era inferior. Ele sempre se gabava por ser fluente em francês e ter bons conhecimentos de alemão, italiano e até mesmo grego, mas o russo era um idioma que nunca o interessou. Ele sabia algumas poucas palavras, mas não o suficiente para ter uma conversa. Uma hora, quando tudo isso passasse, Esther lhe ensinaria alguma coisa. Afinal, ele era casado com uma professora!

Ele percebeu que Esther ficara inquieta, em uma parte da conversa.

–O que foi?

–Igor está me contando dos amigos que estão aqui na Inglaterra. Um deles é um especialista em vazamentos em sistema de gás.

Os olhos de Holmes se arregalaram imediatamente.

–Vazamento?

–Sim, ele me disse que se chama Sputzniev e que mora à beira do Tâmisa. Disse que já está na Inglaterra há um tempo, mas que vive oculto com uma identidade falsa.

–Por isso eu não o achei... – balbuciou Holmes. – Certamente, Esther, o amigo de Igor é o responsável pela explosão no Clube Diógenes!

O russo comentou mais alguma coisa a Esther.

–Ele está dizendo que Sputzniev é um dos mais bem pagos do grupo. Ele fazia esse tipo de trabalho em Moscou. Fazia as coisas explodirem e parecer um acidente.

–Será que ele também foi responsável pela explosão da fábrica? Esther, pergunte a ele se ele sabe precisamente há quanto tempo esse Sputzniev está aqui em Londres?

Esther perguntou e o russo lhe respondeu.

–Ele disse que há quase dois anos. Já sabe falar nossa língua.

–Ele já estava aqui quando a fábrica explodiu. Certamente, é mais um crime lhe facultando. Por Deus, Esther, achar esse russo foi a melhor coisa que fizemos. – disse Holmes, olhando para o russo, que não entendeu absolutamente nada do que ele estava dizendo. Esther garantiu, e o russo sorriu em resposta, mostrando seus dentes podres.

–Eu espero que você pare com a vida bandida por lá, Igor.

Esther traduziu mais uma vez e ele riu em resposta.

Holmes deixou Igor em um local seguro, protegido por homens de confiança de Mycroft. O cabriolé partiu, deixando um sorridente e humilde russo, pouco consciente do perigo que ainda lhe rondava.

–Ele estava me falando de seus filhos. São seis.

–Seis?! Santo Deus... – disse Holmes, com um sorriso no rosto.

–Lev, Mikhail, Anya, Josef, Sacha e Natasha.

–Muitas bocas para alimentar, Esther... Não me surpreenda que seja um falsificador e que tenha abandonado o Exército. Nem imagino como é criar seis crianças em um local de extrema pobreza. – Holmes parecia ainda mais importunado, pelo derradeiro destino que poderia ter o tão prestativo russo, com tantas pessoas dependentes de si.

–O que foi? Você parece preocupado...

–Não é nada. Apenas estou pensando como devo proceder. Sabemos que a denúncia já foi feita, que as provas contra o Duque que conseguimos na fábrica estão reunidas. Há também o diário do noivo americano de Miss Molly... Se acharmos nosso colega incendiário, o cerco contra o Duque se fecha. Creio que um mandato de busca será questão de tempo.

Esther parecia hesitante.

–Não tanto assim, Holmes. A burocracia costuma ser um pouco maior quando trata-se de mandados expedidos contra estrangeiros. Ainda mais alguém como o Duque, que pode ser avisado e se preparar. Ele pode até fugir.

Holmes negativou com a cabeça.

–Mycroft garantiu que os portos serão vigiados. Ele não pode sair enquanto esta pendência não estiver solucionada. Devemos estar preparados, Esther. Ele virá até nós com muito ódio.

Esther sentiu um arrepio, e entrelaçou seus braços ao de Holmes, recostando sua cabeça sobre seu ombro.

Finalmente eles estavam de volta à Baker Street.

–Teremos de ter paciência com a nova ocupante... – ele pediu a Esther. – Watson está com os nervos quentes e não está conseguindo mais mensurar seus atos.

–É melhor você buscar o resto de suas coisas, porque eu não quero que você...

Esther foi interrompida, de repente, pela voz estridente de Rose, bastante animada a descer as escadas.

–Sigerson! – ela disse, correndo para um abraço, deixando Esther de olhos arregalados em surpresa e consternada.

Eles se conhecem?!

Parecia que todo o sangue que circulava pelo corpo de Holmes tinha se concentrado em seu rosto, tamanho era o estado vermelho de suas bochechas. Seria uma longa história a se explicar...

–Inacreditável, Sigerson! Você fez a barba! Está muito melhor assim... – disse Rose, acariciando brevemente o rosto de Holmes, num tom sedutor demais para os ouvidos de Esther, que imediatamente se meteu naquela situação.

–Ei! O que está havendo aqui?!

Rose parecia satisfeita com a confusão, e escondia um sorriso vitorioso. Holmes estava atordoado.

–Esther... Por favor...

–Você não contou à ela sobre nós dois, Sigerson? Sobre o tempo em que moramos em Whitechapel?

Esther ficava ainda mais chocada, com cada revelação de Rose.

–Rose, pare com isso! Você está distorcendo tudo! Esther, não acredite piamente nela, ela está nos provocando!

–Acho que eu já tive o suficiente de você. – disse Esther, encarando Rose. – E quanto à você, Holmes, eu acho que precisamos conversar.

Ambos entraram no pequeno apartamento do 221-A, enquanto Rose subia as escadas, plenamente satisfeita com o resultado de suas ações.

–Ouvi confusão... – disse Watson, enquanto lia um jornal. – Eram eles, não era? – ele disse, com desprezo na voz. – Parece que retornaram de sua lua-de-mel relâmpago...

–Pare de pensar neles, John... – disse Rose, enquanto lhe acariciava os ombros. – Estive pensando: porquê você não me leva ao Teatro? Eu nunca fui...

Watson parecia considerar. – Rose... Veja bem...

–Já sei! – Rose levantou-se, irada. – Você tem algum compromisso! Um maldito paciente para atender, não é? Pois eu te digo, Dr. Watson, o senhor tem vergonha de mim!

–Não é nada disso, Rose. – disse o doutor, sério. – Eu apenas... Bem, eu não sou um homem de fazer saídas noturnas, apenas isso. Ei, Rose?

Era tarde demais. Ela já estava trancada em seu quarto.

Watson bufou, retomando o seu jornal e cachimbo, pensativo.

O que tinha feito Holmes e Sophie – não, Esther – saírem tão repentinamente de Londres? Decerto não foi uma viagem romântica, Watson tinha certeza de que o perfil não se encaixa a nenhum dos dois, ainda que o próprio Holmes tenha admitido que mudara. Então, o que estava acontecendo?

Ele se lembrara da noite em que flagrara os dois na cama. Aquela maldita noite! Ultimamente, tinha até pesadelos com aquele momento nefasto. Ele tentava se lembrar de todas as palavras de explicação ditas por Holmes, mas apenas fragmentos soltos vinham à mente. Ele estava tão possesso pela raiva e pelo desgosto que mal conseguira armazenar tudo, mas apenas agora, com a mente mais relaxada, ele se esforçava em se lembrar que Holmes tinha mencionado alguma coisa sobre perigo. Perigo contra Sophie – não, Esther! – e que ela fugia há muito tempo. Claro, ela era filha de um espião, e seu pai certamente tinha inimigos. Mas que perigo ela ainda corria agora?

Ele virou uma página do jornal, e viu, em uma nota que ocupava um quarto da página, uma notícia surpreendente.

APÓS FUGIR DE DARTMOOR, CORONEL SEBASTIAN MORAN É MORTO EM YORKSHIRE

O ex-Coronel tentava invadir a casa de um ilustre fidalgo

Ilustre fidalgo, em Yorkshire... Seria alguém da família Holmes?

Holmes nunca contou a Watson sobre sua família, além de Mycroft. Aliás, ele mesmo demorou a saber da existência do excêntrico Mycroft, e Holmes também mentiu no início a respeito da profissão de seu irmão. Mas Waston conseguiu arrancar algumas coisas, e uma delas era que Holmes pertencia a uma família de fidalgos de Yorkshire. Era coincidência demais que Moran tenha ido até lá, e acabasse morto.

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–Essa maldita mulher, tentando lançar a discórdia sobre nós dois... – resmungava Holmes, tentando escapar das cobranças de Esther. – Eu sei que deveria ter te contado que já a conhecia, mas... Bem, a princípio eu não via qualquer razão para isto. Nós dois apenas moramos no mesmo prédio e por pouquíssimo tempo. Sequer nos falávamos.

–Eu jamais tive ciúmes de você, Holmes, porque sei que você é tão focado e ama tanto a sua profissão que jamais se envolveria com alguém, ainda mais uma mulher como aquela. Eu fico até mesmo surpresa que conseguimos nos tornar um casal.

–Você é diferente, Esther. – ele confessou. – Mas eu vejo que você está despreocupada com este assunto, então, porquê fez-se de enciumada?

Esther sorriu. – Simplesmente quero mostrar a ela que me preocupo com o que eu tenho.

Holmes ergueu as sobrancelhas, um tanto surpreso. – Oh, com o que eu tenho... Você me vê como um objeto, Mrs. Sigerson?

–Você entendeu o que eu quis dizer, Holmes. – ela disse, deixando escapar um sorriso. – Mas agora, mudando de assunto. Esse Sputzniev...

–Sim... Igor disse que ele mora perto do Tâmisa... Não deve ser difícil acha-lo. Irei acionar os Irregulares. – disse Holmes, descendo as escadas. – Tenho também outras coisas para fazer.


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Notas finais do capítulo

Hum... O que será essas "outras coisas a fazer"?

Aguardem o próximo cap...



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