A Retribuição escrita por BadWolf


Capítulo 23
A Maior das Traições


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!


Sugiro se sentarem, porque esse cap é nervoso!!!
Heheh, o que posso dizer é que chegou o dia mais aguardado para muitos. Posso dizer que esse dia vem sendo esperado por vocês desde a primeira fanfic. Confesso que escrevi esse cap em uma porrada só, kkk. Foi impressionante, parecia que a situação se desenhava sozinha em minha cabeça... Enfim, os personagens têm esse poder. Ás vezes, tenho a sensação de que eles tem vida própria.

Enfim, chega de rodeios e vamos logo ao cap! Boa leitura!



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Bairro de Westminster, Londres. 12 de Julho de 1900.


Mr. Jenkins estava sentado em um banco, em um parque público. Fazia uma manhã tranquila e convidativa para uma caminhada. Em seus tempos morando na Rússia, uma das poucas coisas que lhe fazia desejar a Inglaterra eram os passeios no parque, que em certas épocas pareciam impossíveis, pelo vigoroso frio russo.

Ele encontrou o Duque Ivanov a caminhar em sua direção. Embora não fizesse muito calor, ele era capaz de perceber gotículas de suor resplandecendo no rosto do nobre, pouco acostumado a locais mais quentes e com vestes inapropriadas para um passeio de manhã, especialmente com um sobretudo negro e de tecido pesado.

Seu semblante não era dos melhores, e Jenkins sabia que não poderia culpar apenas o calor londrino.

–Soube de uma invasão à fábrica recentemente. Levaram alguns objetos de valor e dinheiro, além de uma carroça com mercadorias, mas conseguimos recuperá-la. Espero que não seja obra do detetive.

–Londres é povoada por ladrões, Sua Graça. Além de quê, a sua fábrica também.

O Duque sentiu-se ofendido. – Está chamando meus empregados de ladrões, Mr. Jenkins? Como se atreve?

Jenkins nada disse, esperando o Duque se inquietar.

–Então? Conseguiu abrir os olhos do Doutor Watson?

–Um pouco. Agora, tudo depende dele.

–Porquê não abrir um pouco mais?

–Não vejo necessidade. Acho que ele já uniu os pontos o bastante. Já o fiz descobrir que Holmes mentiu a respeito da presença de Mr. Sigerson no tiroteio que matou o filho do banqueiro Carlston Holmes. Rose me contou que Watson está decepcionado com algo. Tenho certeza de que ele está começando a pensar em Holmes como alguém... Interessado em Esther Katz.

O Duque pareceu subitamente irritado.

–É Sophie Sigerson, para você, Mr. Jenkins. Apenas eu tenho o direito de chama-la assim, e mais ninguém. Nem mesmo esse detetive arrogante.

Ele e esta obsessão com a moça... Realmente, não posso entender.

–Perdoe-me, Sua Graça. Mas como eu estava dizendo, este era o subterfúgio que precisava para deixa-lo mais atento. A desconfiança é capaz de abrir até o mais velado dos olhos.

O Duque parecia refletir, ainda indeciso.

–Só isto? Francamente, Jenkins, eu até entendo sua estratégia, mas ela me parece um tanto demorada... Isso pode demorar meses! E eu estou farto desse maldito país!

Jenkins concordou.

–Bom, mas se deseja algo mais pesado... Eu tenho uma segunda alternativa, Sua Graça. Pelo que soube, Dr. Watson foi noivo dessa mulher, Mrs. Sigerson... Uma mulher sempre é capaz de quebrar os mais profundos laços de amizade, não?

O Duque nada disse, com um sorriso satisfeito no rosto, contemplando alguns londrinos passeando pelo parque.

–Sugiro algo pesado, então. Algo que não apena abra seus olhos, mas deixe-os arregalados. Permanentemente.


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Londres, Inglaterra. 14 de Julho de 1900.

221-B, Baker Street.


Fazia uma noite agradável, muito embora Mrs. Hudson suspeitasse que a madrugada seria chuvosa. Por precaução, a senhoria fechou as janelas com cuidado. Havia ainda o jantar para preparar aos seus inquilinos. Na ausência de Dr. Watson naquela noite, Mrs. Hudson sabia que pouco haveria a se fazer, não fosse pela presença de Mrs. Sigerson naquela casa, uma das poucas pessoas corajosas o bastante para afrontar Holmes e questioná-lo a respeito de seus hábitos alimentares. Aquela seria a noite do sanduíche, se não fosse por Mrs. Sigerson, e Mrs. Hudson era grata por sua presença.

Uma pena que Mrs. Sigerson já era casada, lamentava Mrs. Hudson. Ela faria um par ideal ao Mr. Holmes. Sim, por mais que Dr. Watson fosse apaixonado por ela, Mr. Holmes precisava mais de Sophie Sigerson do que o doutor. Afinal, Watson tinha facilidade em arranjar outras mulheres. O mesmo não se poderia dizer para Holmes. Uma pena que ela fosse casada. Do contrário, faria tudo para fazer esses dois ficarem juntos, pensava Mrs. Hudson, enquanto subia com o jantar.

Mr. Hudson estava colocando o jantar sobre a mesa para um pensativo Holmes, que não parecia atento a nada a seu redor, até que o nome de Watson fosse mencionado.

–Mr. Holmes, o Dr. Watson deixou um recado ao senhor. Disse que precisará ir para Devon para visitar um paciente.

Ainda deitado em sua poltrona, com o olhar perdido sobre o teto a refletir, Holmes apenas assentiu com a cabeça.

–Mr. Holmes, eu espero que o senhor não se irrite com isto, mas eu pedi que Mrs. Sigerson jantasse aqui.

Holmes virou-se para sua senhoria. – E porquê fez isto, Mrs. Hudson?

–Porque fui pega pela notícia do Dr. Watson, e para não desperdiçar o seu jantar, eu decidi não preparar o de Mrs. Sigerson. O senhor vê algum problema nisto, Mr. Holmes? – ela perguntou, como se estivesse pisando em ovos. – Se quiser, eu posso...

–Tudo bem, Mrs. Hudson. – ele disse, acenando que sim e dispensando-a.

Cerca de quinze minutos depois, Esther já estava em seus aposentos.

–Holmes! Porquê está assim? – ela disse, sentando-se próxima dele, ao vê-lo com o cabelo levemente despenteado e vestindo um robe velho.

–Nada, apenas refletindo sobre algumas coisas. – ele respondeu em um tom mal-humorado.

–Reflita depois do jantar. Venha. – ela disse, pegando-lhe pela mão.

–Esther, por favor... – Holmes reclamava, sendo ignorado por Esther, que praticamente fez-lhe sentar sobre a mesa.

–Bondoso Deus, nem meu irmão David era tão insuportável!

Esther pôs o prato de Holmes, e o seu também. Ambos estavam jantando juntos, e às sós, como raramente ocorria. Poucas vezes a relação dos dois tivera tais momentos, desde o tempo que viveram na França, e ambos desfrutavam de cada segundo juntos.

–Preocupada? – ele perguntou, ao vê-la fechar o semblante.

–Eu sinto muito, Holmes... Seu irmão, sua família, os Irregulares... Fico pensando que nada disso teria acontecido se... Se...

Esther mal conseguia terminar sua frase, tamanha era a sua tristeza em colocar Holmes na linha de ataque de um dos homens mais perigosos que se tinha notícia. Como raramente fazia, Holmes pegou em sua mão.

–Nada disto é culpa sua. E eu não me arrependo de nada, Esther. Você fez uma grande diferença em minha vida. Não sei o que teria sido de mim se não a tivesse conhecido naquele navio, se não tivéssemos morados juntos em Montpellier e Paris – tomando sua mão com ternura, ele a beijou, sendo correspondido com avidez. – Não, não me peça para demonstrar arrependimento, porque isso é impossível. Independente da ameaça que nos rodeia, nós a enfrentaremos juntos.

Esther sentiu algo próximo a uma lágrima ameaçar rolar de seus olhos, antes que fosse beijada mais uma vez pelo homem que a amava, dando por encerrado aquele jantar.

–Aqui não, Holmes... – ela disse, tentando deter seus avanços. – Mrs. Hudson pode nos ver... Watson também.

–Mrs. Hudson já está recolhida há esta hora, Watson está em Devon...

–Mas ainda assim... Há sempre os seus clientes...

Impaciente, Holmes afastou-se de Esther. – Tudo bem. Vamos para o seu quarto, então.


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Watson estava em Charing Cross, esperando o trem noturno para Devon. Ele sentia que a mudança de ares Seria bom. No momento, estava tao confuso com as novas informações que encontrara a respeito deste John Sigerson que não sabia o que fazer. Alguém estava mentindo, e pensar na possibilidade de Holmes estar acobertando um assassino e enganando-o desta maneira era dolorosa.

Ele não pôde deixar de se sentir culpado também por sua invasão à casa de Sophie, durante a manhã, quando ela não estava em casa. Ele mexeu em seus pertences, à procura de qualquer pista que relacionasse ao paradeiro de John Sigerson. Encontrou coisas curiosas, no entanto.

Havia um documento da Universidade de Montpellier, a respeito da descoberta de um Coltar chamado Katz, descoberto por John Sigerson. Ele não sabia que o aventureiro também era químico.

Havia também partituras feitas à mão, do que Watson conhecia como uma canção indecente da Irlanda, que costumava ser tocada em cabarés. Uma mulher como Sophie jamais teria uma coisa destas. Certamente, também do aventureiro Sigerson.

Mas aquela caligrafia lhe era tão familiar...

Outras coisas no apartamento de Esther denunciavam sua presença. Algumas poucas roupas no armário, de má qualidade. O fumo – coincidentemente, o mesmo que Holmes utiliza – e um par de sapatos rudes.

Enquanto mexia nos pertences de Sophie, Watson encontrou também um cordão de ouro com o símbolo do Judaísmo: uma Estrela de Davi. Em uma estante escondida no quarto de Esther, havia também uma seleção de livros judaicos. Talvez ele fosse judeu também.

Agora, no terminal, Watson suspirava. Sentia-se mal por ter invadido a casa de Sophie, a procura de sabe-se lá o quê. O que fez era errado, e ele sentia-se tão sujo quanto um criminoso. Talvez, esses dias em Devon, lhe iluminem a respeito de sua obsessão por John Sigerson.

De repente, ele sentiu alguém tocar em seus ombros. Era um senhor idoso, aparentemente boa pessoa.

–O senhor é o Dr. Watson?

–Sim, e por quê?

–Pediram para deixar este recado. Com licença, o meu trem vai partir agora. – e nisto, o velho se despediu.

Watson sequer pôde questioná-lo, ao ver o conteúdo do pequeno bilhete.


Mr. Sigerson está em casa agora.


Não houve tempo para raciocínios ou questionamentos. O mínimo de racionalidade que ainda percorria sua mente apenas impediu que ele se esquecesse de sua mala em pleno terminal. O doutor abandonou sua viagem à Devon imediatamente, compelido pelo dever de estar face a face com o homem que tomou a mulher de sua vida e só lhe trouxe problemas.

A rua estava deserta, e ele demorou a conseguir um cabriolé. Pedia ao motorista rapidez, em troca de uma boa gorjeta, e isso lhe permitiu que estivesse em Baker Street outra vez em quase um piscar de olhos.

Agora, ele estava ali, diante da porta do 221-A. Não havia nenhum chapéu no cabide, além de Sophie e de seu amigo Holmes, mas isso não queria dizer muita coisa. Descartando toda e qualquer boa educação, ele tentou abrir a porta do apartamento de Esther. Trancada. A uma hora destas, ela poderia estar dormindo, ele tentava imaginar. Mas e se o bilhete estivesse correto? E se neste momento, Sigerson estivesse ali? Aquela era uma chance que ele não queria deixar escapar.

Então, Watson entrou da mesma maneira que fez pela manhã. Ele tinha reparado no hábito de Sophie de deixar uma chave reserva dentro de um vaso, ao lado da porta. E lá estava ela. Ele a engatou na fechadura e abriu, com cuidado.

Naquele instante, estava em sua sala. Notou pares de sapatos, espalhados pela sala de maneira desordenada. Um par feminino e um masculino. Era uma prova de que, então ele realmente estava ali.

A porta do quarto estava fechada, mas entreaberta. Ao aproximar-se dela, ele ouviu o som dos gemidos. Watson reconhecia muito bem a natureza daqueles gemidos. Sim, havia um homem satisfazendo-a. Sentia-se sufocar, a ponto de quase cair em lágrimas, ao imaginá-la nos braços de outro homem. Embora a porta estivesse entreaberta, ele não quis prosseguir.

Enquanto caminhava pela sala, ainda atordoado por aquele momento, Watson esbarrou em um dos sapatos masculinos. Possesso de raiva, ele tirou-lhe do chão e levou-o na mão. Era um sapato caro e de classe. Jamais imaginaria um típico aventureiro utilizando um destes. Mas por quê algo neste sapato lhe parecia tão familiar?

Familiar... Tudo naquela casa lhe dizia isso.

Watson aproximou-se outra vez da porta. O som continuava, cada vez mais emergente, até culminar em um rouco grito feminino, que Watson sabia bem o significado. No entanto, suas veias se congelaram imediatamente, quando ele pôde ouvir a palavra dita por aquele grito feminino, dado no auge de um momento de prazer entre dois amantes.

–Sherlock...

Watson ainda estava com o sapato em suas mãos. Como se aquele objeto estivesse em chamas, ele o deixou cair instantaneamente sobre o chão. Sentiu de dentro de si uma vontade de vomitar emergir. Naquele momento, as peças que se mostravam diante de si tinham se reunido.

As partituras, o gosto pela Química...

John Sigerson, um aventureiro. Sherlock Holmes, seu amigo.

Uma mesma pessoa.

Ele não pensou duas vezes. Não havia como impedir que as lágrimas rolassem, tamanho era seu ódio e sua decepção de ser tão duramente enganado por seu melhor amigo e pela mulher que ele amava. Ele lembrou-se que havia um revólver em sua mala, que estava na porta do apartamento de Sophie. A passos leves, voltou-se ali, e em um momento de desespero, retirou o revólver dali e voltou para o 221-A.

Já de arma em punho, ele abriu a porta do quarto de Sophie, deparando-se com a mais terrível cena que um homem desejaria ver.

A mulher que ele amava, Sophie Sigerson, deitada com a cabeça sobre o peito de seu melhor amigo, Sherlock Holmes, estando ambos completamente despidos.

Completamente pego de surpresa com a aparição inesperada de Watson, Holmes instintivamente sentou-se sobre a cama, deixando uma também chocada Esther escondida por suas costas, em uma fraca tentativa de protege-la.

–Um soldado nunca se esquece de como entrar sorrateiramente, Mr. Holmes. – respondeu Watson, com frieza na voz, ainda apontando o revólver aos dois. – Ou deveria dizer, Mr. John Sigerson?

–Watson...

–Por quanto tempo pensou que poderiam me enganar? – esbravejava Watson, aos gritos. – Há quanto tempo venho sendo apunhalado pelas costas, sendo feito de tolo por vocês dois?

–Watson, abaixe esta arma... – pedia Holmes, enquanto Esther se agarrava às suas costas, soluçando. – Por favor, Watson...

–Eu confiava em você, Holmes! Você era o meu melhor amigo! Eu sempre lhe contei sobre Sophie, sobre o quanto eu a amava! E você casou-se com ela!

–Por favor, John... – era a voz de Esther.

–Cale-se! – Watson aponta a arma para ela, desta vez. – Eu não quero ouvir sua voz! Eu quero que ele conte-me tudo!

Holmes tinha o olhar envergonhado. – Por favor, Watson... Deixe-nos por agora... Você está deixando Esther nervosa...

–Esther?! Então é assim que você a chama? O que é isso, é um apelido carinhoso, é? Ou ela gosta de ser chamada assim enquanto vocês estão transando?

–Essa é uma longa história, Watson. Você irá saber de tudo hoje, mas por favor, saia por agora. – pediu Holmes. – Ao menos permita que estejamos em um estado... Decente.

Observando Esther em um estado de nervos e envergonhada, Watson assentiu, parando de mirá-los com o revólver e fechando a porta com força.

Com a porta fechada, Esther mergulhou nos braços de Holmes, chorando sem parar.

–Eu sabia que isso um dia iria acontecer! – ela dizia, em meio aos soluços.

–Por Deus, eu não queria que ele soubesse de uma maneira tão ruim... – concordou Holmes, tentando confortá-la. – Mas agora, ele merece saber a verdade. Toda a verdade. Venha, vamos nos vestir.

Esther percebeu que as mãos de Holmes estavam trêmulas, mas ainda assim, ele tentava manter calma. Recolheu as roupas lançadas pelo quarto e as vestiu, ajudando Esther a também se vestir, sendo tal tarefa feita em total silêncio.

Watson estava sentado em uma poltrona, ainda com um revólver em sua mão. Seus olhos estavam vermelhos, mas ele não estava mais chorando. Holmes saiu do quarto, já completamente vestido, embora com o cabelo despenteado e a gravata apenas pendurada no pescoço, acompanhado de Esther, vestida e com os cabelos loiros e soltos caindo pelo ombro.

Os dois amigos se entreolharam brevemente. O olhar de Watson não era nada amistoso, algo entre o ódio e a decepção, dois sentimentos que, misturados, mostram-se uma química explosiva e perigosa.

–Até mesmo esta poltrona é semelhante à sua, em Baker Street. E eu não percebi isto... Você tinha razão em dizer que eu vejo, mas não observo, Mr. Holmes.

Enquanto Esther estava com a cabeça baixa, Holmes encarou-lhe olho no olho.

–Quando? – foi o que perguntou Watson.

–1891.

Watson parecia surpreso. – Nos EUA?

–Não. Em um navio a caminho da França.

–França? O que estava fazendo na França? Não disse que estava trabalhando no governo em Washington?

–Eu menti sobre isto também... Na verdade, estive em alguns países durante o tempo que fui dado como morto. Tibete, Pérsia, Itália, França...

–Parece que se divertiu... – concluiu Watson, decepcionado.

–Não tanto quanto você deve estar pensando. Quase morri por várias vezes. Estava fugindo do Coronel Moran, até que decidi ir ao Tibete, um dos locais mais perigosos para um britânico ir. Sobrevivi e fui rumo à França. Nessa viagem, conheci Esther. – disse Holmes, voltando-se para Esther, rapidamente.

–Por quê a chama de Esther o tempo todo?

–Porque meu nome é Esther Katz. – foi a vez de Esther responder. – Sophie Evans foi o nome que precisei adotar. Eu sou filha de um espião britânico, chamado Abraham Katz. Quando eu conheci Holmes, eu estava fugindo de meu... Meu marido.

Watson parecia chocado. – Então, você já era casada!

–Não, eu sou viúva. Meu marido era um russo chamado Dmitri Kyznetsov.

–Espere, esse nome... O russo que foi morto por Holmes?! Mas esta história é pior do que pensei!

–Pior?! Você não sabe o que passei com aquele maldito! Minha vida era um inferno desde que o conheci, até eu conhecer John Sigerson.

Esther, que já deixava algumas lágrimas caírem, foi amparada por Holmes, que continuou.

–Nós nos conhecemos durante uma viagem de navio à França. O irmão de Esther morreu durante a viagem e ela ficou sozinha, sem rumo e sem dinheiro. Eu a ajudei e nos tornamos... Amigos.

–Posso imaginar a natureza de sua associação. – resmungou Watson, deixando Esther envergonhada e um tanto indignada. Holmes defendeu-se.

–Não. Durante todos estes anos, nós dois fomos apenas amigos. Moramos em Montpellier e Paris durante alguns meses, até que ela precisou voltar à Inglaterra. Só ficamos juntos depois que ela terminou com você, Watson.

Watson ainda estava descrente.

–Então, você sequer teve a hombridade de assumi-la, de dar-lhe o sobrenome Holmes... Preferiu montar um falso casamento, com duas identidades falsas...

–Watson, Esther não pode voltar a usar seu nome verdadeiro, e se eu me casasse com ela, a transformasse em Mrs. Holmes, eu a colocaria em mais perigo. Até hoje ela permanece sendo perseguida por gente importante do Czar. Aliás, no momento um homem poderoso e inimigo dela está atrás de mim, porque eu matei o seu filho.

Watson ficou em silêncio por um momento. De cabeça baixa, ele continuou.

–Então, ela estava grávida de você?

–Sim. Ela estava esperando um filho meu.

–E você me acusando de ser o pai da criança! Como pôde?!

Holmes corou-se. – Por favor, Watson... Este foi um momento muito vergonhoso, como um todo...

–Eu quero saber de tudo, Holmes! – esbravejou Watson, segurando o revólver outra vez. – Todos os detalhes, mesmo os mais “vergonhosos”, tudo!

Holmes bufou. Acuado, não viu outra saída.

–Eu passei uma noite com Esther, antes de nos casarmos. Mas eu não me lembrava disso porque estava drogado.

–Santo Deus... Se você passou uma noite com ela, isso significa que... Você me traiu! – esbravejou Watson, com os olhos convertidos em puro ódio, diante de Esther. – Como pôde, Sophie? Você me traiu desta maneira tão sortida, se deitando com outro homem enquanto eu te cortejava?!

–John...

–Ela não tem culpa, Watson. Eu a seduzi. Nada teria acontecido se eu não tivesse sido insistente. Mas por Deus, eu estava drogado! Só depois de muito tempo eu consegui entender o que tinha se passado.

–Não Holmes. – ela interveio. – Isso também foi de minha responsabilidade. Nós dois somos culpados por isso.

Watson estava com a sobrancelha franzida, segurando sua raiva. Apenas sua dignidade o impedia de estapear os dois, ou mesmo desferir uma bala na cabeça de cada um deles. Holmes percebeu seu dedo coçar.

–Por favor, Watson. Não há por que estar de posse de um revólver. – tentou pedir Holmes. – Em nome de nossa amizade...

Watson riu, nervosamente. – Lembrou-se que ela existe agora, Mr. Holmes? Pois ao que me parece, o meu melhor amigo morreu, de fato, em Reichenbach Falls. O Holmes que retornou à Baker Street anos depois de forma alguma era o meu amigo. Porque um amigo de verdade jamais permitiria que o outro sofresse e chorasse sua morte, enquanto se divertia em Paris com um rabo de saia!

Imediatamente, Holmes se levantou. Era sua vez de explodir. Ignorando o fato de Watson estar emocionalmente perturbado e de posse de uma arma, ele ergueu-se contra seu amigo e apontou-lhe um dedo.

–Não ouse mencionar Esther desta maneira!

Perturbado com sua reação, Watson parecia analisa-lo.

–Você mudou.

–Realmente, Watson. O Sherlock Holmes que você conheceu está morto. O velho Sherlock Holmes, a máquina de calcular, insensível, imprevisível e gélida acabou. Ele foi destruído, dia após dia, sufoco após sufoco, e reconstruído habilmente por uma mulher chamada Esther Katz. Eu estava só, sem meios para trabalhar, temendo ser encontrado por meus inimigos, não encontrava mais motivação para viver além da solução sete por cento, até conhecer Esther. Ela me trouxe coisas novas, sensações novas, tão estimulantes quanto à cocaína. Eu estava em ruínas, meu caro. Você não faz a mínima idéia do que passei durante o tempo em que fui dado como morto, sendo caçado dia e noite por um atirador, dormindo ao relento sem saber se estaria vivo no dia seguinte ou mesmo se haveria uma emboscada me esperando nos próximos metros de minha caminhada... Eu poderia ter morrido de overdose também, porque até a minha ida à França o meu vício me consumia. Então, Esther apareceu e me renovou. Esse é o Holmes que restou deste período. Talvez eu não seja mais o fiel retrato de Paget, ou de suas histórias, mas agora eu sou o que sou. E caso queira saber, eu já me acostumei com a mudança. Eu estive relutante em admitir isso, inclusive esse foi um dos motivos para eu ter demorado tanto a me declarar, a admitir meus sentimentos, mas o que importa é que... Eu a amo, Watson.

Esther ficou emocionada. Ele jamais tinha sido tão sincero, ou mesmo dito tais palavras para ela. Ela não pode deixar de ficar feliz, mas reprimia sua felicidade, temendo ferir Watson ainda mais.

Desnorteado com a atitude de Holmes, Watson largou a arma em uma mesa.

–Eu quero que você vá embora de Baker Street, Holmes.

–Watson...

–Não suporto olhar para você um só minuto, sem que a idéia de te matar me passe pela cabeça. Não há mais qualquer condição de dividirmos um apartamento, e acredito que minhas finanças estão boas o suficiente para que eu possa pagar o aluguel sozinho. E seja grato de você ainda estar vivo. Pois acredite, é em nome de nossa velha amizade que não há uma bala em sua cabeça. – ele disse, caminhando para a porta. Esther sentiu um estranho temor, pela aspereza das palavras de Watson.

Antes de abrir a porta, ele fez uma pergunta.

–Uma última coisa. Mrs. Hudson sabia?

–Não.

–Ao menos há alguém aqui que não me traiu. – ele concluiu, por fim, deixando os dois sozinhos.


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Notas finais do capítulo

OH.... MEU... DEUS!!!

Chocados?! Eu também fiquei, acreditem em mim!!!

Mas no fundo, Holmes e Esther construíram essa situação. Deveriam ter revelado tudo ao Watson desde o início. Ele acabou descobrindo tudo da PIOR MANEIRA POSSÍVEL!!!

Sério, deve ter sido doloroso pegar o Holmes e a Esther depois de.... Pois é.

Pra não dizer que o Duque deve tá pulando de alegria em saber que o Holmes perdeu o melhor amigo e fiel parceiro... Se ele queria ferir o Holmes, está conseguindo. Vejamos o que mais falta para atingir o Holmes...

Bom, isso ainda vai repercutir muito na história, e creio ser este também um divisor de águas.
Fiquem atentos aos próximos episódios. Ainda tem muita coisa para acontecer.

Um grande abraço e obrigado por acompanharem esta história desde o começo. Se cheguei a´te auqi, foi graças ao apoio e ao carinho de vocês. Até o próximo cap!!!



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