A Retribuição escrita por BadWolf


Capítulo 12
A Espiã e o Detetive


Notas iniciais do capítulo

Hey!
E aqui vou eu, com mais um cap!!!
Espero que gostem!!



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Whitehall, Inglaterra. 18 de Maio de 1900.

(Alguns dias atrás...)


O Gabinete das Relações Internacionais estava de portas fechadas há horas.

Embora ainda estivesse convalescente, devido às queimaduras, Mycroft exercia seu patriotismo e fazia um enorme esforço na tentativa de amenizar o clima sombrio que parecia se armar contra o governo, desde o seu atentado. Ele sentia apaziguar a sensação de insegurança e caos que pairavam sobre a cabeça de todos eles. O número de russos a praticar crimes em Londres estava altíssimo. Boa parte deles tinham adentrado á cidade a menos de dois anos, como o Serviço de Inteligência já tinha avisado. A população da cidade, como um todo, já se mostrava hostil à presença deles, fosse quem fosse, e jornais suplicavam às autoridades que expulsassem esses estrangeiros. Um claro temor xenófobo estava instaurado, e nas mãos de Mycroft estava a responsabilidade de pôr ordem e calma no Governo, que parecia estar longe de um consenso.

–Qual o relatório do Serviço de Inteligência? – ele perguntou, após dar um atípico soco na mesa e assim calar o murmurinho incessante.

Mr. Sparks, antigo chefe de Esther, abriu sua pasta e tomou a palavra.

–São todos russos, em sua maioria homens, com idade entre 20 e 30 anos, de todo o tipo de classe social, mas com maioria baixa renda. Conseguiram empregos na Spencer & Bro. Company, uma indústria têxtil às margens do Tâmisa. Essa fábrica foi comprada recentemente pelo Barão de Stroika, Mr. Salazar Peshoivkz, em 1895. Ele argumentou que prefere a mão-de-obra russa e alega que esta é mais disciplinada que “os vadios e molengas dos britânicos”, suas palavras.

Os ocupantes da sala estavam indignados.

–Devemos pedir que o serviço de imigração impeça a entrada de mais gente desse nível! Um absurdo, lotar nossa cidade com meliantes apenas para satisfazer esse senhor! – esbravejou um deles, sendo apoiado por alguns.

–Senhores, cautela. A questão não é tão simples. O Barão tem contatos, e alguns deles são amigos do Czar. Todos nós sabemos as dificuldades diplomáticas que enfrentamos com aquele país, pois o Czar é parente direto de nossa Família Real. Se hostilizarmos alguém tão próximo do Czar, poderemos declarar por iniciada uma batalha diplomática. – disse Sparks.

Mycroft estava o tempo todo em silêncio, fumando seu charuto.

–Mr. Holmes, alguma sugestão? – pediu Sparks, em meio ao impasse.

Deixando seu charuto de lado, Mycroft começou.

–Se quisermos restringir a presença de gente deste homem, precisamos de provas contundentes do grau de periculosidade das pessoas que ele está conduzindo ao nosso país. A melhor solução seria dificultar – e não impedir – a entrada de russos, exigindo bons precedentes. Ouvir dizer que último preso era um conhecido estuprador e degolador de policiais na Sibéria! Exigiremos de nossos diplomatas um maior vigor e investigação. Aliás, o primeiro passo é provar que não queremos estes homens aqui, provando que eles cometem todo o tipo de crime em nosso território. Não os queremos em nossas cadeias, mas queremos deportá-los, para que a Rússia defina o que fazer com eles. Devemos aproveitar o momento para também rastrear os aliados do Peshoivkz – que podemos concluir que existem – e manda-los no mesmo pacote. Podemos acreditar que esse problema poderá ainda eclodir posteriormente, mesmo após estas medidas, caso deixemos alguém para trás. Mr. Sparks, eu sei que o Serviço de Inteligência costumava monitorar bem a presença russa em território britânico nos últimos anos...

Mr. Sparks pigarreou. – Sim, Mr. Holmes. Possuíamos uma agente dedicada à esta tarefa, mas ela abandonou o seu posto por problemas pessoais, pelo que soube. Aliás, ela tinha dados importantes a respeito disto, que não estão comigo.

–E quem é este agente? – perguntou um deles.

Sparks olhou de relance para Mycroft, como se pedisse autorização para falar. Com o consentimento dele, ele contou.

–Um descendente de Abraham Katz.

A mesa parecia pasma, e ouvia-se comentários por toda parte.

–Senhores, silêncio! – pediu Mycroft. – Posso entender que estejam surpresos em saber que temos um descendente de nosso melhor espião em nosso time, mas o momento não é de surpresa. Mr. Sparks, se este agente está afastado, chame-o de volta. O momento pede urgência. Senhores, creio dar por encerrada a reunião.

À medida que todos se levantavam e abandonavam a sala, Mycroft, com charuto em punho, refletia, em meio à névoa do fumo.

Espero que esteja pronta para este desafio, Miss Katz.

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Londres, Inglaterra. 05 de Junho de 1900.


Esther se sentia como uma menina, diante de um desafio de adultos.

Seria a primeira vez que ela trabalharia lado a lado de Sherlock Holmes, secretamente seu amigo, marido e agora parceiro. Holmes também tinha sido designado para esta tarefa, que ele aceitou com relutância. Não queria que Esther estivesse envolvida, mas preferia estar por perto para assim controla-la – ou ao menos, ter esta sensação.

Tudo se passava em Pall Mall, na casa de Mycroft, pois ninguém queria o envolvimento de Watson. Lá, nos aposentos do mais velho dos Holmes, armaram o plano que desvendaria o bote que estava sendo preparado contra a Coroa Britânica.

Aparentemente, devemos nos lembrar. Pois pouco nós temos de concreto sobre isso. Tudo pode não passar de uma horrenda coincidência.

Holmes tinha pouca fé sobre as conclusões dos demais ministros e da Agência. Para ele, não havia qualquer conspiração ali. Simplesmente, um descuido diplomático que enchera Londres de criminosos. E isso irritava profundamente Esther.

–Algo a acrescentar, Sherlock? – perguntou Esther.

–Não. Afinal, um detetive precisa de dados. Uma espiã, apenas de ordens.

Esther não pôde deixar de ficar ofendida com a afirmação de Holmes.

–Mais uma palavra e acabará no sofá, Mr. Holmes.

–Isso não vai acontecer, pois dormimos em camas separadas.

–Não em suas visitas noturnas aos meus aposentos...

–Ah, por favor, poupem-me dos detalhes domésticos! – reclamava Mycroft, envolvido com seu cigarro na boca. – O fato é que, sendo ou não uma ameaça direta à Rainha, esses russos estão fazendo mal à Londres. Então, ainda irão continuar com essas discussões inúteis ou chegarão a um consenso?

O trio estava diante de um imenso mural, exposto na sala de Mycroft. Havia reportagens, fotografias, desenhos, todo o tipo de informação levantada pelo trio a respeito da fábrica, conectado por linhas, formando um imenso emaranhado muito semelhante à uma teia de aranha.

Após um forte suspiro, Esther apresentou sua idéia.

–Bem, se estamos tentando entender o que está acontecendo, penso que uma saída seria invadir o escritório da fábrica atrás de evidências. Consegui algumas informações privilegiadas. Há dois anos atrás, essa fábrica passou por uma reforma. Eu já consegui detalhes importantes da planta da fábrica, obtendo por meio de um dos agentes, que invadiu o escritório do engenheiro responsável pela obra. Já analisei a planta e mapeei pontos vulneráveis. Podemos adentrar na fábrica entre as três e meia e quatro da manhã, período de troca entre os vigias e quando não há ninguém. Entraríamos pelos fundos, subiríamos um andar e acessaríamos o escritório. Certamente, as informações mais importantes estarão em um cofre, mas confio que Sherlock irá conseguir dar um jeito nisto, não é mesmo?

Mycroft observava a reação de Holmes de soslaio. Ele precisava dar o braço a torcer de que a mulher era muito tenaz quando queria.

–Seu plano é bom. – concordou Holmes. – Mas eu tenho outra proposta.

Esther rolou os olhos.

–Ao invés de me concentrar na fábrica propriamente, andei sondando os arredores dela. Os russos costumam beber em um pub, chamado “The Mad Pirate”, desde os operários até o pessoal do escritório. Soube que este bar está à venda por uma quantia miserável. Poderíamos compra-lo, e nos passar por donos, e assim sondar o que está acontecendo.

–Uma idéia tão boa quanto a de Esther, e devo concordar que menos arriscada. – ponderou Mycroft.

–Sim, mas lenta. Demorará semanas até obtermos a confiança deles e conseguirmos alguma informação relevante.

–A invasão à fábrica que você está planejando também precisa de semanas para ser realizada com eficácia. Precisaremos conhecer o terreno e arranjar apoio da Agência. O quanto menos envolvidos nisso, melhor. “Se” realmente há uma conspiração como vocês realmente acreditam, o que nos garante que não haja gente na Agência trabalhando a estes conspiradores?

–De fato. Eles conseguiram subornar pelo menos três funcionários do Clube Diógenes apenas para plantar a bomba em minha sala. Realmente, não sabemos em quem confiar. – concluiu Mycroft.

Esther concordou.

–Um prazo de duas semanas. Caso meu plano não seja eficaz, alteramos para o seu plano. – disse Holmes, selando o acordo final.

–Tudo bem.

–Ótimo. Mycroft, eu preciso que obtenha a quantia necessária para a compra do pub. Eu e Esther iremos nos passar por um casal e compraremos o negócio. E é claro, estaremos disfarçados.

O que não é muito difícil para vocês, pensou Mycroft, com desgosto.

–Basta dizer a quantia, que eu a obtenho amanhã.

–Esplêndido.


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Notas finais do capítulo

Holmes e Esther, donos de um pub... Sinto cheiro de confusão!
Holmes, Esther, um pub, clientes bêbados e saidinhos... Isso em Montpellier não prestou muito, vocês lembram, rs.
Esses dois são impossíveis, rs.

E vocês perceberam que o Holmes ainda não está acreditando na conspiração?? Mal sabe ele, tolinho, que ele é o alvo de toda essa bagaça. Se eu fosse ele, temeria pelos próximos eventos... Essa fábrica é só a ponta do iceberg.

Espero que vocês estejam gostando, pessoal. Eu sumi, mas voltei. E prometo que a história vai ser postada semanalmente, pelo menos na quarta ou quinta.

Um grande abraço! E deixem reviews!



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