A Retribuição escrita por BadWolf


Capítulo 11
Agitações


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!

Então, eu voltei com um cap!!! As coisas começarão a andar na história, eu juro!!!
Boa leitura!!



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Londres, Inglaterra. 30 de Maio de 1900.

(Alguns dias depois...)


Excitação e medo.

Isso era tudo que se passava pela mente de Esther, quando ela acompanhava Norah por suas excursões pelo mundo dos sindicalistas, comunistas e afins. Esther não era das mais fervorosas nisto. Claro, ela acreditava na luta pela igualdade de gêneros e classes, mas não era tão valente assim, como Norah. Por vezes, ela achava que a coragem de Norah advinha do fato de ela ser casada com um Inspetor-Chefe, mas ao saber que a moçoila já frequentava o submundo da política bem antes de conhecer Reid, Esther precisou rever seus conceitos. Talvez, o fato de Norah ser casada com Reid fosse mais um empecilho que uma ajuda, mas ainda assim, Norah se mantinha firme em praticamente qualquer luta por um pouco mais de igualdade.

Esther e Norah estavam nos arredores da Fábrica de Parafusos Kznov. A fábrica esteve fechada por alguns meses, após um grande incêndio, até ser reaberta por um grupo de empresários russos, desejosos em investir seu dinheiro em algo mais sólido que os empreendimentos de seu país. Era esta a Fábrica que estava sob suspeita do governo britânico, e que ela estava encarregada de investigar. Por isso, aceitou o convite de panfletagem de Norah, ao saber que iriam justamente para lá.

Mas o que tornara a Fábrica de Parafusos também na mira do Sindicato foi o fato de ela não ter contratado nenhum dos milhares de desempregados de Londres, mas misteriosamente ter “importado” mão-de-obra.

Sabendo que todo apoio era bem-vindo, Esther decidiu seguir sua amiga Norah pelo submundo comunista. E lá estava ela, com alguns colegas de Norah, em um pubnos arredores da fábrica. Na porta, havia a placa de “vende-se”, e um casal um tanto idoso e cansado. Não era difícil entender o porquê. A clientela deles consistia de operários russos, que não tinham o costume de agir com educação e gentileza, pelo contrário.

–Já estive na Rússia uma vez. – disse Peter Heinz, o líder dos sindicalistas e, não por acaso, primo de Norah. – Os russos não costumam ser tão submissos assim às vontades de seus patrões. Greves costumam acontecer, muito embora haja violência policial. Não entendo porquê os russos daquela fábrica não escutam a gente.

Peter e Norah estavam indignados. Fizeram várias tentativas de se aproximar com os operários, escutar suas demandas, incitá-los a buscar seus direitos, mas todos não pareciam dar ouvidos a isto. Nem os mais tradicionais dos operários londrinos eram tão indiferentes assim, e isso deixava Norah intrigada.

–Eles parecem... Não sei. Coagidos, amedrontados.

–Todos são amedrontados, Norah. – disse Peter, tomando cerveja. – Mas devo concordar com você. Há algo mais, que escapa de nossa vista. Deveríamos investigar, e se possível, reportar às autoridades. Estes trabalhadores podem estar sendo escravizados – mais do que o costume, cabe ressaltar.

Norah riu. – A interferência do governo nisto me parece um tanto impossível, primo. Parece que o dono da fábrica é alguém muito próximo ao Czar russo.

–Ao Czar russo? Deveras?

A mera menção de alguém próximo ao Czar na conversa fez Esther ficar sobressaltada. Até então, ela estava absorta, tentando escrever alguns folhetos de incitação em russo, numa esperança de que a língua materna ajudasse na aproximação. Então, as suspeitas de Sparks estavam certas...

–Mas o que alguém tão próximo assim do Czar poderia querer com uma fábrica aqui em Londres? – indagou Esther, curiosa.

–Esta é a pergunta do século, companheira. – disse Peter. – Mas não vamos perder as esperanças. Hoje, faremos mais que uma panfletagem na fábrica. Levarei alguns homens do partido, e tentarei discursar. Alertá-los de que estão sendo explorados, de que não é errado lutar por nossos direitos.

Esther ficou sobressaltada. Aquele seria um claro comício do Partido Comunista, e Esther sabia que eventos assim sempre terminavam em confusão e pancadaria, tanto da polícia quanto dos comunistas. Muitas vezes, amos os lados estavam errados, cegos por suas ideologias e com aversão ao lado oposto, tornando um diálogo impraticável.

Mas ela precisava continuar.

Subitamente, Norah se virou para Esther.

–Se não quiser participar disso, eu entenderei.

–Sem problemas. – ela disse. – Eu vou com vocês.



Era perto das oito da noite, quando a sineta da Fábrica de Parafusos tocou, e os portões de metal foram abertos, liberando uma quantidade considerável de pessoas de sua cansativa rotina.

No entanto, Esther estava surpresa. Ela já tinha estado em portões de fábrica outras vezes. Não esperava que as pessoas daquela fábrica estivessem tão... Pouco cansadas. Como se sequer tivessem trabalhado.

Eles parecem tão... Dispostos. Será que estavam mesmo trabalhando?

Alguns até saíam cantarolando! Cantarolando!

–Hunf... Adoraria saber o que um terço da fábrica faz durante um expediente de mais de doze horas... – comentou Peter.

–Por quê diz isto, Peter? – perguntou Norah.

Peter resmungou. – Andei sondando que apenas dois terços da fábrica estão trabalhando. O outro um terço entra, mas não vai para o chão de fábrica.

–Como você sabe disto? – perguntou Esther, curiosa.

–Eu tenho um contato no governo que me contou tal estranheza. E ao ver a cara de alegre e descansado de alguns, acabo por compartilhar da mesma estranheza.

Esther também sentia que a situação era estranha. Que tipo de gente é contratada para não trabalhar? E afinal, o que eles faziam ali dentro, se não trabalhavam?

De repente, um grupo de homens se aproximou dos três. Sem dúvida pertenciam ao Partido Comunista Londrino.

–Companheira Reid... Companheiro Heinz... – disse um deles, enquanto trocavam apertos de mãos. Começaram a conversar sobre como fariam o discurso, que pontos da lei Trabalhista da Inglaterra deveriam ser tocados, dentre outros. O assunto não era dos mais atrativos para Esther, de modo que foi com quase alívio que ela percebeu uma presença bastante familiar ali.

Era sua amiga, Molly, carregando uma bolsa, com o semblante um tanto triste. Mas o que ela fazia ali, àquela hora?

–Molly! – chamou Esther. Seu chamado, entretanto, deixou a moça sobressaltada.

–Er, Sophie? O que você faz aqui?

–Eu estou ajudando uma amiga. – disse Esther, sem dar mais detalhes. – Mas o que você faz aqui, a uma hora destas?

Esther percebeu que as mãos de Molly estavam trêmulas.

–Molly... Você está bem?

Esther notou certo temor em Molly, acentuado quando ela percebeu que o discurso comunista estava começando. Sem dúvida, aquele não era ambiente para se ter uma conversa apropriada.

–Podemos conversar em minha casa, se desejar.



Esther serviu à Molly uma xícara fumegante de chá de camomila. A moça aceitou, apesar de ainda se manter estranhamente agarrada àquela pesada bolsa, como se sua vida dependesse disso.

–Você pode coloca-la no cabide, enquanto isso. – comentou Esther, estendendo uma mão para pegá-la. Molly parecia em pânico, mas finalmente cedeu. Quando Esther a colou no cabide, o peso da bolsa finalmente cedeu, e o conteúdo acabou por cair ao chão. Para pasmo de Esther, a bolsa estava carregada de dinheiro. Muito dinheiro.

Ao notar o olhar confuso de Esther, Molly caiu em uma crise de choro.

–Oh, Sophie! Eu sou um monstro por aceitar este dinheiro imundo!

Colocando o dinheiro rapidamente na bolsa, Esther correu para consolar sua amiga, tentando entende-la.

–Molly, o que está acontecendo?

–Este dinheiro... Este dinheiro não é meu, mas de Brian!

–Brian?

–Sim! Ele... Ele fez algo terrível! E foi tudo por minha causa!

–C-Como assim, Molly?

–Eu recebi um comunicado do novo dono da fábrica...

–Mesmo? E qual é o nome dele? - tentou sondar Esther.

–Oh, só o que sei é que é um russo. Mas ele teve a coragem de dizer que meu marido... Que meu Brian... Ateou fogo na fábrica!

–O quê?! – exclamou Esther, estarrecida com esta revelação. Molly parecia a ponto de desabar, mas continuou, despejando toda a sua tristeza naquela conversa.

–Deram-me o dinheiro, para que eu ficasse quieta sobre isto. Disseram que este seria o pagamento de Brian, e... E Brian disse que... Que... Se algo acontecesse com ele... Eu deveria ficar com o pagamento.

–Oh, Molly... Eu sinto muito!

–Eu tenho certeza... – balbuciava Molly, com o coração acelerado. – Eu tenho certeza de que ele aceitou começar o incêndio para receber o dinheiro e acelerar o nosso casamento. Oh, eu estava pressionando tanto para nos casarmos depressa! É tudo culpa minha!

–Não diga isso, Molly. – disse Esther, afagando-lhe as costas. – Você não poderia prever nada disto.

Molly chorava copiosamente, agarrada à Esther tal como uma criança. Esther não era acostumada a consolar as pessoas, mas tinha ao menos um mínimo de sensibilidade para lidar com aquela situação. E além do mais, ela entendia o que Molly estava passando. Ela tinha acabado de descobrir que não conhecia muito bem o homem que amava – situação esta bastante similar com a que ela passara com o falso John Sigerson. A própria Esther se lembrara de ter passado a noite em claro, chorando sem parar, quando soube a verdadeira identidade de Holmes. Não havia como não sentir compaixão.

Mas a história envolvendo a Fábrica de Parafusos estava ficando cada vez mais esquisita.

Esther tinha muitas perguntas a fazer a respeito das pessoas que lhe entregaram este dinheiro, mas ela sabia que aquele não era o momento de fazê-las. Ela precisava ter calma e paciência, para aguardar o momento certo. Tudo que Molly precisava era de conforto, não de um interrogatório sobre algo que, certamente, tinha sido desagradável.

Mas enquanto as respostas não chegavam, Esther precisava agir.




Passava da meia-noite quando Sherlock Holmes ouviu o som de passos na escada. Passos que ele conhecia bem.

Ele suspirou, pesadamente. Era Esther. Desde que ambos conversaram com Sparks a respeito dos últimos acontecimentos envolvendo a conspiração, Holmes e Esther tinham se distanciado. Uma discussão feia, que durou menos de dez minutos, mas bastante séria. Holmes detestava discutir com Esther. Ambos tinham seu relacionamento respaldado na amizade, e naquele momento eles precisavam estar mais unidos do que nunca. Holmes não queria repetir os mesmos erros que levaram Esther a ser raptada por um maníaco, há alguns anos atrás.

Mas agora, ela estava atrás dele, mais uma vez.

–Boa noite, Mr. Holmes.

Holmes ergueu uma sobrancelha. Ela jamais o tratou tão formalmente assim.

–Boa noite, Mrs. Sigerson. O que deseja?

Conversar em local reservado.

Holmes assentiu. Decerto era algo envolvendo o caso em que estavam trabalhando juntos. Ele se levantou de sua poltrona e a acompanhou até seus aposentos. Watson estava dormindo em seu quarto, tal como Mrs. Hudson. Ninguém poderia vê-lo.

–Holmes... Minha amiga Molly acabou por me informar sobre seu noivo, Brian.

–Ah, creio que sei quem é. O engenheiro que morreu tentando salvar seu projeto.

–Pois bem. Ele não estava tentando salvar coisa alguma. Pleo contrário, ele estava tentando destruir.

Holmes ergueu uma sobrancelha.

–Foi ele quem começou o incêndio, não é?

Esther ficou desconfiada.

–Você... Não parece surpreso com isso.

–Não depois que li o relatório do Corpo de Bombeiros. O incêndio começou devido a uma máquina que permaneceu em funcionamento, mesmo com o fechamento da fábrica. Os responsáveis pela produção eram conhecidos por serem cuidados e sempre desligarem todos os aparelhos. No relatório, a máquina não foi identificada, entretanto eu estive em um depósito de sucata que recebeu os restos da fábrica incendiada e acabei encontrando os destroços de uma máquina interessante que estava no incêndio. O problema é que esta máquina jamais deveria estar lá.

–Por quê diz isto? – perguntou Esther, surpresa. Holmes sorriu em vitória.

–A carcaça de máquina que encontrei era um tanque homogeneizador. Algo que tem utilidade para algumas indústrias, mas não para uma Indústria que fabrica nada mais que parafusos. Ou seja...

–Alguém colocou aquela máquina lá. – concluiu Esther.

–E quem melhor para fazer isto que o engenheiro-chefe?

Esther pensou em chamar Holmes de “gênio”, mas mudou de idéia. Ele não estava merecendo elogios.

–Como Brian colocou uma máquina lá, sem ser notado?

Holmes deu de ombros. – Não sei. Mas o fato é que eu comprei a sucata e já comecei a analisa-la. Creio que se localizar o fabricante, posso chegar em algum lugar e mesmo elucidar alguns pontos.

–Ou seja... – concluiu Esther, enquanto circundava Holmes. – Você játinha chegado a esta conclusão, de todo modo.

Holmes suspirou. Sabia que ela estava irritada.

–Bom, isso não torna a sua informação irrelevante. De todo modo, creio que a chave de nossos problemas é a Fábrica. O quanto mais pudermos descobrir, melhor. Tenho certeza de que saberemos quem está causando tantos problemas. E então, você verá que o Conde Ivanov nada tem com isso.

–Isso é o que você pensa. – respondeu Esther, rispidamente.


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Notas finais do capítulo

Ah, estes dois...
E a investigação tá começando... E coisas estão começando a surgir...


PS OFF: Estou muito feliz em saber que o próximo jogo do Assassin's Creed se passará na Inglaterra Vitoriana!! Tipo, é a INGLATERRA VITORIANA, GENTE!!! Imaginem só, escalar a Abadia de Westminster, andar pela Ponte de Londres, investigar Jack o Estripador, o Conan Doyle pode aparecer, etc!! Fora que ele irá envolver fábricas, sindicatos, etc!!! Ah, tô até me imaginando dando um Salto de Fé do Parlamento, ou mesmo direto no Tâmisa (eca!!!) Mas esse é o espírito!!! Ah, eu preciso comprar um PS4!!!

Espero que tenham gostado do cap!!!



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