Nico ficou pensando muito essa noite, demorou para pegar no sono, pensando que não queria mais Thalia como sua amiga, o que os dois ainda acham que são.

Thalia acordou meio cedo, mas continuou na cama se virando de um lado e para o outro e colocando as cobertas em seu rosto.

Nico toma uma decisão, que para ele era importante.

– Psiu - Cutucou a cozinheira. - Prepare strogonoff de carne com batata palha.

Ela assentiu e se virou para a pia.

– Eu vou sair, não sei que horas volto, se ela acordar a avise. - Ela assenti de novo. - Diga a todas.

E deixou a cozinha. Foi ao seu quarto e colocou sua calça preta, blusa e jaqueta, seus coturnos, levou consigo apenas seu celular, um cartão e o canivete que Thalia lhe deu, nunca tirava do bolso, um objeto simples, mas ele gostava muito.

Saiu para fora do portão e caminhou até o ponto de ônibus mais próximo. Quando ele chega Nico fura o ônibus deixando todos pensando que ele era um delinquente.

Saiu do ônibus pulando os degraus, no centro da cidade, andou tranquilamente nas ruas até avistar uma grande loja que lhe chamou atenção.

Nico queria comprar dois anéis, para pedir Thalia em namoro, mas só em pensar nisso suas pernas ficavam trêmulas e ele mordia o lábio, fazendo várias garotas suspirar por ele. Desde que conheceu Thalia, andou mais confiante, andando com passos largos e postura correta, o que o deixava com pinta de bad boy.

Algumas garotas alternativas que estavam andando no centro da cidade olhavam ele de cima a baixo. Mas ele estava começando a ficar incomodado por não ter os mesmos olhares de antes, que eram de zombarias, agora olhavam para ele com desejo, apreciando a aparência dele, o deixando desconfortável.

Ele atravessa a rua e entra em uma joalheria, com muitas mulheres em volta de uma comprida mesa com vários anéis, elas estranharam por um menino entrar na loja, mas outras acharam bonitinho porque provavelmente estava procurando um anel para dar para a namorada, o que era quase verdade, porém recebia alguns olhares desconfiados.

Uma moça de cabelo preso em um rabo de cavalo e com uniforme formal apareceu na frente de Nico.

– Gostaria de ajuda senhor? - ela pergunta sorrindo.

– Sim, estou procurando um anel para minha namorada.

Quando ele falou isso algumas garotas suspiraram.

– Ja tem alguma idéia?

– Um anel de caveira, de preferência prata.

A garota sai e depois de dois minutos ela volta com uma caixa cheia de anéis e alguns de caveira, Nico escolheu um que Thalia provavelmente gostaria e viu que tinha um exatamente igual, apenas um pouco maior, Nico olhou em volta procurando câmeras e tinha uma mas a luz vermelha não piscava, indicando que estava quebrada.

– Este. - Ele pegou o anel pequeno e deu para a moça. - Quanto custa?

– 319,90, senhor.

– Vou levar.

Ela olhou desconfiada para ele. Ele pega o cartão de banco e mostra para a ela, ela pegou o anel colocou em uma caixinha preta e prendeu com uma fitinha. A moça sai para pegar a máquina de cartão e Nico disfarçadamente coloca o outro anel igual no bolso. Ele só fez isso para não gastar demais de uma vez só. Esperou a mulher voltar.

– Crédito ou débito? Parcelamos em até 6x. - A moça dirigiu-se para ele.

– Não, à vista. Débito. - A mulher olhou para ele ainda desconfiada.

– Senha, por favor.

Nico colocou a senha e a mulher colocou a caixinha com o anel dentro de uma sacolinha de papel escrito o nome da loja.

Ao sair da loja, Nico estava tenso, até porque se teria os anéis, não teria desculpa para ele não pedir Thalia em namoro.

Olhou para o bolso e sentiu um arrepio. Deu um sorriso e fechou os olhos, estava se sentindo realizado.

Foi até um Mc Donalds comer alguma coisa, até porque não tinha comido nada antes de sair de casa, se dirigiu ao balcão e esperou.

– O que deseja sen... - Uma garçonete jovem fala sem olhar para Nico, mas quando ela olha nos olhos dele ela fica quieta distraída pela cor negra. - ...nhor.... - Fala ela abobadamente olhando para Nico achando-o lindo. - Desculpe, o que deseja? - Ela pergunta se dando conta que é um garoto.

– Um Mc lanche feliz por favor.

A garota assentiu debilmente e fez o pedido dele.

Nico pagou com o seu cartão e aguardou. Pegou sua bandeja e comeu seu lanche, não pode não reparar no brinquedinho que veio junto, um bonequinho sem nexo. Comeu tranquilamente, deixou a bandeja na mesa e saiu.

Furou novamente o ônibus e foi para casa. A cada ponto que se passava, mais tenso ele ficava.

Thalia, em casa, estava saindo do quarto, já 14h26. Procurou Nico e não o viu em lugar nenhum, ela perguntou para as empregadas, elas responderam que ele havia saído, se acalmou e foi assistir TV.

Nico chega na frente do portão e suspira. Entra em casa e sobe em cima de Thalia que estava deitada no sofá.

– Nem pra me acordar. - Thalia diz rindo.

– Desculpa. - Falou Nico enterrando o nariz no cabelo dela que cheirava a cigarro e shampoo.

– Aonde foi?

– No Mc Donalds, fiquei com vontade. - Nico responde dando de ombros.

– Ah sim.

Passaram a tarde toda deitados assistindo filmes, comendo balas de goma e bebendo coca cola. Nico nem prestara atenção nos filmes, estava muito ocupado se preparando psicológicamente para o que iria fazer à noite.

Já eram 19h30, mais um filme acabou e eles finalmente se levantaram.

– Vamos lá fora um pouco? - Nico pergunta e Thalia assenti.

Os dois vão saindo e Nico passa pela cozinha e sussurra para a empregada preparar a janta e arrumar na mesinha de mármore cor creme que tinha no meio de um jardim que era iluminada com velas num toldo acima.

Eles vão andando e conversando, no pequeno bosque onde atiraram flechas.

– Ainda bem que pegamos suspensão. - Falou Thalia.

– Podemos descansar. - Falou Nico com felicidade.

Andaram lado a lado pelo bosque, Nico viu as flechas cravadas nas árvores, ele esticou a mão, tocou na pena de uma e a arrancou.

Nico por cima do ombro de Thalia viu a empregada vindo para avisar que a janta está servida.

Nico deu um sorrisinho e assentiu, a mulher deu meia volta e saiu.

– Tenho uma surpresa para você. - Falou Nico trêmulo.

– Jura? - Thalia foi cortada de uma história que ela estava contando, coisa que não gostava.

– Vamos jantar?

– Até que enfim falou isso, to morrendo de fome. - Thalia vai se direcionando para dentro de casa mas Nico a puxa.

– Vamos comer aqui fora hoje. - Nico fala e Thalia o segue, contemplando todo o ambiente.

Chegando lá Thalia perde o fôlego vendo o quanto era bonito aquele lugar, ela nunca tinha reparado naquela mesinha. Ela viu tudo pelo lado de fora da cerca, quando Nico empurrou o alto portão, as dobradiças rangeram e Thalia abriu um sorriso no qual Nico se apaixonara mais uma vez.

– Nico... Isso é maravilhoso! - Ele sorri para ela e olha nos olhos azuis.

Tinha um cercado de ferro alto que circundava todo o jardim, que continha rosas vermelhas vibrantes, caminhos de pedras, fontes e estátuas antigas.

Thalia, ainda calada, se senta. Os dois começam a comer. Nico estava tremendo suficiente para que Thalia percebesse.

– Por que esta tremendo? - ela pergunta num tom que voz que Nico adorava.

– Só estou com um pouco de frio.

– Temos que ir ao médico então porque esta bem calor. - Ela fala.

– É só que eu não gosto muito desse lugar.

– Então por que viemos para cá?

– Achei que iria gostar dele. - Nico desvia o olhar.

– Qualquer lugar pra mim é bonito se eu estiver com as pessoas certas. - Thalia responde dando sua última garfada e dirige essa "pessoa" para Nico.

– Na verdade esse e o lugar que meu pai pediu minha mãe em casamento. - Nico fala, já parando de tremer.

– Realmente, é muito lindo. - Ela fala olhando em volta.

Nico se levanta e pega na mão de Thalia, a fazendo levantar. Ele guia Thalia pelo caminho de pedra, uma leve brisa jogava a franja dela para os lados, mostrando seu rosto. Segurando a mão de Thalia, andaram um pouco no meio das flores, até que Nico para no caminho e Thalia vai para sua frente.

– Bom... agora eu te pergunto... - Nico fala olhando em seus olhos, pronunciando cada palavra lentamente. - Thalia Grace... Você gostaria de ser minha namorada? - ela perde a cor, ficando imóvel. Nico tira os olhos dos dela e olha para o anel que já estava em seu dedo indicador.

– Sim... - Thalia responde baixo. - Sim... sim, sim, sim. - Ela beija ele com calma, com os lábios trêmulos.

Ele com as mãos inquietas pega de seu bolso o anel de Thalia, desliza as mãos pelo braço dela, ela coloca a mão direita para frente e Nico coloca o anel no dedo indicador dela, depositando um beijo na mão dela.

Os anéis eram iguais, igual suas almas, suas histórias, seus problemas, seus vícios, suas preferências, sendo assim, obviamente, o anel teria de ser igual também.

Aquilo não era bem um anel de compromisso, era apenas um objeto simbólico, importante para os dois.

Os dois com roupas de se usar em casa, tudo muito simples, mas estavam mais felizes do que nunca.

– Eu te amo. - Thalia diz colocando sua mão sobre os ombros dele. Encosta os lábios nos dele e sorri. Ele coloca as mãos em sua cintura, ela agarra os cabelos da nuca de Nico, apertando ele contra si, o beijo era quente, feliz e de certa forma selvagem.

– Eu também te amo. - Nico diz ofegante sem tirar os lábios dos dela. - E pela primeira vez eu posso dizer com a mais absoluta certeza. - E voltam a se beijar.

*** Mais tarde ***

Thalia queria ficar grudada com Nico a noite inteira, estava se segurando para não chorar na frente dele, mas agora que estava sozinha, enterrou a cara no travesseiro e chorou, chorou muito, mas com um sorriso escancarado no rosto.

Ainda com lágrimas escorrendo e o fios negros colados em sua face úmida, estava de barriga para cima, acariciando seu novo anel, o girando no dedo. Colocava a mão para cima e ficava contemplando aquele pequeno objeto.

A felicidade dela estava a mil, juntamente com o seu coração. Pela primeira vez, esqueceu de seus problemas, seus vícios, suas mágoas.

Nico estava no banheiro, apoiado com as mãos na pia, se olhando no espelho, sorriu e jogou o cabelo para trás, estava radiante, completo, seus olhos estavam marejados, e sua face encharcada de tanto passar água no rosto para ver se acordava, mas estava feliz, muito feliz. Ficou olhando para o anel em seu dedo, pensando na garota que roubou seu coração. De todos os roubos que ja foram feitos, o de Thalia foi o pior.