Eragon: Wyrda un Moi escrita por Arduna


Capítulo 9
Declínio


Notas iniciais do capítulo

Olá cavaleiros!
Sinto muito por demorar tanto para postar esse capítulo, mas as férias não rendem! Eu acho que tinha mais tempo para escrever quando estava em aula... Mas aqui está o cap.
Assim como o outro ele ficou simplesmente GIGANTE, mas eu não conseguiria dividi-lo em dois, pois iria ficar muito vago e fragmentado. Os capítulos da história do Svider serão maiores mesmo, já que não quero me estender muito nessa parte e vou ter que resumir a vida toda dele. Então, por favor, me perdoem se o capítulo estiver muito cansativo para ler que eu tento fazer menor.
Muito obrigada pelos comentários no capítulo anterior, vocês me deixaram muito feliz!
Desejo a todos uma boa leitura.



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Svider esperou que uma explosão de perguntas partisse de Eragon, mas parecia que o jovem cavaleiro estava chocado demais para pensar em algo para perguntar. Ele olhava para a cena com os olhos arregalados de surpresa, abria e fechava a boca sem saber como interpretar aquilo, mas finalmente encontrou palavras, e perguntou de forma hesitante.

– Então... Vocês se conheciam?

Svider desviou o olhar e voltou-se para as duas crianças que conversavam animadamente e riam ao verem seus dragões brincando juntos. Quem diria que ambos tomariam rumos tão tortuosos no futuro.

– Galbatorix nem sempre foi o louco rei maldito que você conheceu, Eragon. Ele já foi um membro valioso da Ordem e um bom amigo – ele olhou irritado para Eragon quando viu que este estava prestes a protestar – É verdade! Ele cometeu um erro estrondoso e fez muitas pessoas sofrerem, mas as pessoas não nascem más. A maldade vem com o tempo. Nenhum dos Renegados era mau por natureza, nem mesmo Galbatorix.

– Mas Oromis disse que Galbatorix sempre havia sido meio estranho – Eragon contrapôs.

– Sim, ele tinha umas ideias um tanto diferentes, eu concordo, mas não era um vilão. – Svider fechou os olhos por um momento, tentando organizar os pensamentos. O que ele mostraria a Eragon dali para frente era doloroso demais para ele – Galbatorix achava que deveríamos nos intrometer na política das raças e impor nosso julgamento. De acordo com ele, isso traria a paz, mas ninguém concordava porque os reinos deveriam ter autonomia. Nós éramos guardiões, não ditadores.

– Mas Galbatorix não entendia isso – Eragon arriscou.

– Bom, ele suportava e aturava essa ideia, mas quando seu dragão, Jarnunvösk, morreu ele passou a acreditar com muito mais determinação nessa ideia, e isso o levou a destruir os cavaleiros – o cavaleiro castanho respondeu com uma carranca, lembrando-se do que havia acontecido – Vamos logo, seus amigos estão avançando depressa pela Passagem de Prata. Se continuarmos tagarelando não conseguirei te mostrar tudo.

Uma porta surgiu no ar, flutuando suavemente a alguns centímetros do chão gramado de Ellesméra. Eragon deixou seus olhos percorrerem a animada clareira ao redor da Menoa, com os vários dragões coloridos voando de um lado para o outro, cavaleiros rindo e disfrutando da companhia dos seus amigos da Ordem, os mestres conversando e rindo uns dos outros, o rei Evandar e a rainha Islanzadí pegaram a pequena Arya no colo e abraçaram enquanto ela ria e abraçava os pais de volta. E uma pergunta não deixava sua mente: Como alguém poderia destruir tudo aquilo?

– Eragon? – Svider chamou-o suavemente – Vamos.

O jovem cavaleiro fez um sim com a cabeça e olhou uma última vez para a criança que Galbatorix fora um dia e depois para a criança alegre e animada de Arya, antes de seguir Svider para a próxima porta que flutuava diante deles.

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– Não vou te mostrar todo o meu treinamento, pois ele foi muito parecido com o seu – Svider disse assim que ultrapassaram a porta. Diferentemente do que havia acontecido das outras vezes, só havia escuridão depois do batente, de modo que Eragon ficou meio perdido, se perguntando o que aconteceria a seguir.

– Que lugar é esse? – ele perguntou e ouviu sua voz ecoar durante vários segundos na profunda escuridão, inconscientemente Eragon estremeceu um pouco.

Svider não respondeu e andou rapidamente para o meio da escuridão, sua forma brilhava levemente naquela luz prateada, mas se Eragon não se apressasse ele iria desaparecer, por isso o jovem correu, tentando manter a silhueta brilhante do outro cavaleiro em seu campo de visão, mas Svider parecia se distanciar cada vez mais, tornando-se somente um ponto iluminado em um mar de trevas. Não importava o quanto Eragon corresse, nunca alcançaria o outro.

– Svider! – Eragon gritou, mas o outro não parou.

Eragon começou a correr o mais rápido que podia, tornando-se somente um borrão, mas nem isso parecia ser suficiente para se aproximar do cavaleiro. Ele começou a sentir uma leve brisa bater em seu rosto e as trevas ao seu redor começaram a se transformar, ondulando em círculos de uma cor acinzentada e prateada. Eragon parou derrapando, tentando entender o que via.

As formas ondulantes formaram duas fileiras, uma de cada lado dele, permitindo que ele andasse em meio a elas. Quando o cavaleiro prestou mais atenção, pôde discernir imagens e vozes em meio ao mar ondulante de branco e prata.

Eragon começou a andar devagar em meio às duas colunas ondulantes, tentando ver o que era retratado em seu interior esfumaçado. As formas levemente arredondadas e espiraladas começaram a mudar de cor: algumas ficando alaranjadas, outras azuladas, cada uma com tonalidades diferentes de uma cor, e as imagens ficaram mais visíveis e distinguíveis.

– As cores são... Como sentimentos – Eragon murmurou vendo como as cores combinavam com as imagens do interior e com as vozes que partiam delas.

Uma um tanto amarelada chamou a atenção do jovem cavaleiro. Ela mostrava um Svider mais velho, com talvez catorze anos de idade, treinando com Mestre Oromis em um campo ensolarado na cidade de Iliera, que Eragon reconheceu por ter visto a pintura na casa de Oromis enquanto treinava com ele. Svider sorria animado cada vez que recebia um elogio de seu mestre por executar com perfeição um golpe com a espada de metal pobre que era usada para os treinamentos.

Depois de mais algum tempo ele parou observando uma imagem de um branco prateado. Eragon ouviu risadas, rugidos e algo que parecia o bater de asas de um dragão, mas era muito mais forte, partindo dali e cerrou os olhos para poder ver melhor.

Pelo menos duas dezenas de dragões voavam em conjunto. O sol batia em suas escamas coloridas, que brilhavam intensamente. Seus cavaleiros gritavam e riam animadamente enquanto os dragões rugiam, soltando jatos coloridos de fogo no céu da manhã e o barulho de suas asas batendo era ensurdecedor. O solo coberto de árvores passava velozmente abaixo deles.

Deloi voava mais próximo da visão do que os demais. Ele havia crescido muito, provavelmente estava maior do que Saphira. As escamas marrons refletiam a luz solar em um misto de preto, marrom e dourado, tornando quase impossível olha-lo fixamente. Svider estava montado em suas costas e ria animadamente a cada manobra que seu dragão desenhava nos céus.

Miwin estava mais a frente, ela olhava fixamente para trás e sorria para o amigo. Aiedail voava graciosamente, aproveitando todas as correntes de ar para se elevar no céu. Suas escamas esverdeadas brilhavam com tanta intensidade quanto a luz de um farol e ela fazia várias manobras no ar para não se afastar demasiado de Deloi, por quem cultivava uma grande amizade.

Eragon sentiu-se entristecido por saber o que aconteceria às duas. Realmente o velho ditado popular mostrava-se verdadeiro: o destino é cruel. Mais a esquerda voava um cavaleiro e seu dragão. Eragon cerrou os olhos ao vê-los, somente Galbatorix poderia estragar uma visão bonita como aquela. Cavaleiro e dragão voavam ao lado de Deloi e Svider e, frequentemente, faziam investidas em direção aos amigos em uma brincadeira aérea. Galbatorix e Svider riam em conjunto incentivavam seus dragões a continuarem naquele jogo. Pararam, porém, de repente, quando um rugido ensurdecedor preencheu o ar ao seu redor.

Somente naquele momento Eragon percebeu que Glaedr e Oromis voavam na dianteira do grupo de cavaleiros. Ele não sabia como não tinha percebido antes a presença de um dragão tão imenso e brilhante como Glaedr, que, ao refletir a luz, parecia brilhar como o próprio Sol. Oromis olhava para os dois cavaleiros com uma pontada de repreensão, mas foi Glaedr, rugindo novamente, que pôs fim à brincadeira.

Às vezes eles são muito chatos. Eragon ouviu Svider murmurar mentalmente para Galbatorix, no entanto, foi Deloi que respondeu.

Se acha isso, por que não fala para eles?

Está louco? Mestre Glaedr iria me comer vivo!

Bom, talvez seja melhor ele fazer isso mesmo. Assim me livro da sua incômoda presença. Galbatorix respondeu com uma risada, para mostrar que era brincadeira.

Ora, eu duvido que você conseguiria viver sem mim, Galb. Svider respondeu com o mesmo tom brincalhão e o silêncio do outro respondeu por si só, fazendo Deloi e Jarnunvösk rirem ruidosamente.

Ao andar mais alguns passos Eragon viu uma forma ondulante de cor azulada que chamou sua atenção. Um Svider com mais de dezesseis anos conversava de forma cabisbaixa com Miwin. O cavaleiro castanho havia crescido um bocado, estava mais alto do que Miwine bem mais musculoso. Ele usava uma capa pesada e roupas mais adaptadas para o frio, provavelmente um traje de voo, assim como Miwin. O cabelo dourado estava preso no costumeiro rabo de cavalo, e uma barba rala começava a surgir. Eles andavam lado a lado pelas enormes ruas e avenidas impecavelmente construídas da cidade de Dorú Areaba, em Vroengard. Vários dragões, das mais diferentes cores e tamanhos, voavam por todos os lados ou entravam nos edifícios resplandecentes e enormes da cidade dos cavaleiros. Eragon não pôde deixar de sorrir ao ver a grandeza do lugar, mas não entendia a tristeza de Svider. Ele se concentrou em ouvir o que falavam. O som das outras memórias, como Eragon percebeu que eram, foi completamente barrado, e o cavaleiro conseguiu ouvir como se estivesse ao lado deles.

– Isso não é justo – Svider reclamava pesadamente, mal reparando nos dragões que passavam por ali – Eles aumentaram o tempo de treinamento. Agora é obrigatório que estudemos até os vinte anos, mas eu e Deloi já estamos prontos!

– Como você sabe? – Miwin perguntou desviando-se agilmente de um filhote de dragão que corria de forma descuidada pela movimentada avenida.

– Porque Mestre Oromis disse. Já tenho mais qualificação do que muitos aqui – ele respondeu com tristeza, mas apressou em completar o pensamento ao ver Miwin franzir o cenho – Claro que você tem uma qualificação muito maior.

Ela sorriu e colocou um braço ao redor dos ombros dele.

– Não se apresse muito em se formar, sua hora vai chegar em breve, mas você deve ter paciência. – Ela sorriu e o conduziu para um grande edifício repleto de janelas enormes de onde podiam se ouvir o som do retinir de espadas, metal contra metal – Como você mesmo disse, há muitos cavaleiros que ainda não têm a qualificação desejada, e com o tempo de treinamento que tínhamos antes muitos não teriam qualificação alguma. Posso numerar para você pelo menos uns dez cavaleiros que precisariam de mais treinamento, mas já estão formados.

– Mas eu e Deloi não fazemos parte desse grupo – Svider respondeu carrancudo.

– Talvez não, mas um pouquinho mais de treinamento não faz mal para ninguém – ela sorriu novamente e parou, fazendo com que ficassem um de frente para o outro – Além disso, eu sei o quanto você gosta de Oromis. Tenho certeza de que vai sentir muita falta dele quando se formar.

Svider arregalou levemente os olhos azulados, ao que parecia, ele nunca havia pensado muito no assunto.

– Tem razão – ele murmurou derrotado, então ergueu a cabeça com uma expressão brincalhona – Como sempre.

Miwin riu novamente e seus olhos impossivelmente azuis brilharam de contentamento.

– É claro que sim! Eu sempre tenho razão, ainda bem que sabe disso – ela disse de forma brincalhona.

Svider sorriu um pouco e se aproximou rapidamente, abraçando-a com força. Miwin ficou parada por um tempo, mas logo retribuiu o abraço, afagando o cabelo loiro do amigo.

– Obrigado – ele sussurrou ao ouvido dela.

– Não precisa agradecer... maninho – Miwin respondeu com um sorriso radiante. Ele se afastou um pouco e a olhou surpreso – O que foi? Sempre quis ter um irmão caçula e acho que você já o é desde o dia em que o vi.

Svider afastou-se mais um pouco e coçou o queixo, fingindo pensar no assunto.

– É, acho que sempre quis ter uma irmã mais velha – ele disse balançando levemente a cabeça.

– Então vamos, maninho, vamos ver o quanto evoluiu na espada – ela disse bagunçando os cabelos dele e soltando o rabo de cavalo, deixando os cabelos dourados do outro caírem livremente.

– Eu ainda vou vencer você. Pode ter certeza disso – ele disse correndo atrás dela em direção ao grande edifício.

– Só em seus sonhos – ela gritou antes de ultrapassar as grandes portas duplas. Svider riu e a seguiu rapidamente porta adentro.

Depois que isso aconteceu a imagem se dissolveu em fumaça prateada, e Eragon ficou parado olhando para o nada, tentando absorver o que vira.

– Infelizmente isso se provou verdadeiro – uma voz conhecida soou ao lado do jovem cavaleiro, que pulou de susto. Svider estava parado ao seu lado, olhando para suas lembranças com pesar.

– Onde você foi? – Eragon perguntou irritado.

– Calma, nervosinho – Svider disse com uma piscadela – Só fui olhar para frente.

– E o que viu?

– O futuro, meu caro Eragon. O futuro – o outro respondeu enigmaticamente – Venha.

Os dois andaram lado a lado em um silêncio confortável e amistoso, observando as memórias que flutuavam ao seu redor, até que uma chamou a atenção de Eragon, que correu para perto dela. A forma esfumaçada tinha uma cor esverdeada alegre, como Eragon nunca tinha visto até então.

– Ah! Essa aí é uma das melhores. – Svider disse sorrindo e parando ao lado do mais jovem – Foi o dia em que me formei e Mirovir me foi entregue.

Eragon olhou-o de soslaio, mas logo se voltou para a memória que se desenvolvia a sua frente.

Um grupo de oito cavaleiros e dragões estava postado em frente a um grande e decorado edifício na ilha de Vroengard. Dragões voavam por todos os lados e pousavam no chão ao redor da grande construção. Os raios do sol atravessavam as janelas coloridas, lançando luzes amarelas, vermelhas, azuis, verdes e todas as tonalidades do arco-íris por sobre a crescente multidão que ali se reunia.

Svider estava postado praticamente em meio aos outros aprendizes que haviam se formado naquele dia. Ao seu lado estava Galbatorix, ambos conversavam de forma animada, rindo na maior parte do tempo, e a alegria deles parecia contagiar os outros, espantando o nervosismo pela cerimônia.

Deloi e Jarnunvösk postavam-se atrás de seus cavaleiros e moviam nervosamente os rabos. Até que avistaram o contorno esverdeado de Aiedail, que voava no céu para presenciar a cerimônia. Ela e Miwin desceram graciosamente pelos céus e pousaram na primeira fileira de espectadores, sendo cumprimentadas por muitos dos presentes. Deloi e Jarnunvösk rugiram uma saudação para o belo dragão esverdeado, que curvou delicadamente a cabeça triangular, os olhos dourados e alaranjados, como fogo, brilhavam de orgulho.

Svider e Galbatorix acenaram para Miwin, que retirou sua espada da bainha e a ergueu em saudação para eles.

Por fim a espera acabou. Os mestres saíram do enorme e colorido edifício, que parecia ser o principal prédio da cidade. Seus dragões vinham logo atrás, e a terra tremia a cada passo que davam. Glaedr e Oromis eram os últimos, mas seu orgulho era visível. O elfo de cabelos prateados e olhar profundo olhou para Svider e sorriu orgulhosamente. No entanto, a atenção de Eragon foi desviada para a primeira dupla: um dragão enorme branco prateado e seu cavaleiro, um elfo majestoso e imponente, que inspirava lealdade e obediência em todos, seu poder e sabedoria eram visíveis em seus olhos profundos. O queixo de Eragon caiu, pois mesmo nunca tendo visto o corpo do antigo dragão, sabia que era ele.

– Espere. Aquele é Umaroth – o jovem disse apontando para o dragão branco, sua garganta estava um tanto seca de ansiedade – Então o cavaleiro a frente dele só pode ser...

– Vrael – Svider completou com respeito – O líder a Antiga Ordem e o mais poderoso de nós.

Eragon olhou novamente para o elfo que liderara durante muito tempo a grandiosa Ordem. Era como ele que Eragon deveria ser, mas, ao olhar para a figura imponente, alegre e sábia, duvidou que pudesse ser um líder tão bom quanto Vrael fora. Ele jamais seria Vrael. Svider olhou para o amigo com solidariedade, pois sabia o que se passava na cabeça de Eragon. Entretanto, deixou-o com seus pensamentos, não cabia a ele mostrar o caminho, mas sim a Eragon encontra-lo sozinho.

– Cavaleiros e dragões! – a voz de Vrael ecoou por todo o local, calando os murmúrios e conversas dos presentes. O líder dos cavaleiros abriu os braços em um gesto de boas vindas, seus olhos sorriam – Estamos aqui, mais uma vez, para celebrar a formação de tão queridos irmãos de nossa ordem, que depois de muito esforço e dedicação alcançaram maturidade de corpo e alma e tornaram-se dignos do título de Cavaleiros e Dragões!

A multidão aplaudiu com entusiasmo e muitos dragões levantaram as cabeças e rugiram, lançando jatos de fogo para o céu. Sevider sorriu um tanto encabulado pelas palavras do líder que ele admirava, e Galbatorix sorriu com orgulho. Deloi aproximou-se um pouco de seu cavaleiro rosnou levemente, orgulhoso por terem chegado ali. Juntos, como deveria ser.

– Mas como todos sabem... – Vrael continuou erguendo as mãos para que as comemorações se extinguissem – Com grandes honras vêm grandes responsabilidades. Todos nós existimos para proteger e zelar pela Alagaësia e seus habitantes. Devemos ser exemplo de justiça, lealdade, sabedoria e, acima de tudo, mostrar-lhes o caminho certo sem, entretanto, impormos nossa vontade perante eles. É nosso dever proteger e vigiar, é nosso direito velar por aqueles que necessitam e promover a justiça por todas as terras e por todos os povos!

Mais gritos e rugidos de concordância partiram da multidão, desta vez Svider e os outros aprendizes se juntaram a eles, erguendo os punhos para o alto alegremente. Seus dragões rugiram em conjunto.

Vrael sorria para os membros da Ordem, olhando para eles como se fossem seus próprios filhos, o que para ele era verdade. Vrael amava cada membro da ordem, e os considerava parte de sua família. Mais uma vez Eragon sentiu o desconforto da dúvida que se formava em seu interior: será que conseguiria ser um líder como Vrael fora?

– Por isso lhes pergunto: estão preparados para seguir adiante e tomarem o fardo de todas as vidas existentes em Alagaësia sobre seus ombros? – Vrael perguntou e sorriu mais ainda quando todos os jovens cavaleiros e seus dragões gritaram um “Sim!” como resposta – Juram, velar e proteger os necessitados e promover a justiça entre os povos?

– Sim! – responderam eles prontamente, Deloi foi o que rugiu em concordância mais alto, influenciado pela atmosfera alegre que cercava a multidão.

– Juram nunca impor sua vontade e permitir que a autonomia e livre arbítrio nunca seja retirada daqueles sob sua proteção? – Vrael perguntou, e mais uma vez o “Sim!” foi gritado por dezesseis gargantas. Eragon notou, entretanto, uma pequena hesitação da parte de Galbatorix, e isso o preocupou.

– Então, pelo poder em mim investido como líder da Ordem dos Cavaleiros de Dragão, digo que são oficialmente parte de nossa irmandade, criada na dor da guerra de Du Fyrn Skulblaka, onde o primeiro de nós, Eragon, percebeu que a guerra só gera mais guerra. Desde aqueles tempos remotos seguimos seu exemplo para manter a paz. Agora vocês também fazem parte disso! Usem o poder único existente entre cavaleiros e dragões que reside em vocês para que cumpram seu juramento e promovam a paz na Alagaësia! – Vrael disse erguendo sua espada branca. Atrás dele Umaroth rugiu, lançando um jato de fogo prateado para os céus, sendo imitado por todos os dragões ali.

Os mestres aproximaram-se de seus aprendizes. Elfos e humanos traziam consigo espadas coloridas enroladas em panos brancos e as entregavam para seus alunos, com sorrisos orgulhosos nos rostos.

Oromis aproximou-se de Svider com a espada embrulhada caprichosamente e a entregou ao seu antigo pupilo. Svider a pegou um tanto hesitante, como se a espada simbolizasse todo o peso de responsabilidades que cairia sobre ele a partir daquele momento. O jovem desenrolou o pando com cuidado e olhou abobalhado para a bainha impecável da cor amarronzada de Deloi. Ele passou a mão pelos pelo punho cravejado de joias, observando como eram belas e calculando quanta energia poderia armazenar ali. Olhou para Oromis em busca de consentimento e este fez um leve movimento de concordância com a cabeça, com confiança renovada Svider segurou com força o punho da espada e a puxou da bainha. O som de couro contra metal envolveu-o e ele sorriu ao ver a afiadíssima arma em suas mãos, completando-o como se fosse parte de seu corpo. Os outros cavaleiros faziam exatamente a mesma coisa, e Galbatorix ria orgulhosamente ao retirar sua espada da bainha.

– Tome conta dessa espada, Svider – Oromis disse para ele em um sussurro sério, escondendo perfeitamente sua emoção pelo momento - Rhunön-elda trabalhou muito nela, disse que é uma das melhores espadas que ela já fez. Use-a como símbolo de justiça e honra, em favor do que é certo e espalhe a paz por onde passar, ela estará a seu lado para auxilia-lo.

– ... Pode deixar, mestre – Svider respondeu completamente hipnotizado pela arma que tinha em suas mãos – Olhe, Deloi! Ela se parece com você. – ele disse alegremente, mostrando a espada para seu dragão.

Você me ofende, parceiro, ao me comparar com esse graveto. Bufou Deloi indignado.

– Ora, é uma bela espada!

Mas não se compara a mim! Sou um dragão, não um pedaço de metal para você usar a seu bel prazer! Deloi retrucou ainda mais irritado.

– Acho que devo concordar com isso – Svider respondeu rindo e acariciando o pescoço de seu dragão.

Glaedr e Oromis riram em conjunto, orgulhosos de seus aprendizes.

Que nome dará a ela, fedelho? Glaedr perguntou com curiosidade.

Svider estacou no lugar, pensando seriamente em um nome.

Lembre-se, não deve apenas escolher, deve ver que nome a espada parece ter, o que ela é. Deloi disse a ele sabiamente, recebendo um olhar espantado de seu cavaleiro.

Svider olhou novamente para a espada, buscando vê-la em seu todo. Deloi foi depositando uma enxurrada de nomes em cima dele, desconcentrando-o a todo o momento.

Que tal edur? Que quer dizer rochedo? Assim você teria uma espada chamada pedra e um dragão chamado terra! Deloi disse com alegria, como se achasse que a ideia era boa.

Quer me fazer um favor? Cale a boca! Svider respondeu irritado. Está me deixando maluco!

O quê? É uma boa ideia! Deloi respondeu indignado.

Você tem um péssimo gosto para nomes. Svider retrucou revirando os, mas Deloi não desistiu.

E que tal: Moedora? Destruidor! É, eu gostei desse, quem sabe... Estripador! Fogo da Manhã, ou talvez Moedor de ossos, ou talvez...

– São nomes estranhos para quem deve manter a paz – Svider retrucou segurando a gargalhada.

Ora, é assim que dragões mantém a paz. Deloi respondeu convencido.

– Você não me deu tempo para falar nada até agora, portanto fique quieto.

Você acabou de falar. Deloi respondeu em tom de provocação e riu quando Svider olhou-o com irritação, mas depois ficou quieto, deixando seu cavaleiro pensar.

Oromis e Glaedr observavam tudo divertidos, aquela era uma parte importante para a formação de bons cavaleiros e dragões. Svider fechou os olhos momentaneamente, com o cenho franzido em concentração, sua mente trabalhava a vapor, correndo como o vento para encontrar um bom nome para sua espada, Oromis quase podia ouvir as engrenagens se movendo. Então de repente o jovem abriu os olhos e sorriu orgulhoso.

– Já sei! O que acham de Mirovir? – ele perguntou olhando para Oromis em busca de aprovação, o que era um hábito para ele.

– Por que esse nome?

– Quando eu era pequeno minha mãe me contava histórias esquecidas do norte da Alagaësia. Ela frequentemente dizia essa palavra e me explicou que significava proteção em uma língua humana há muito extinta. Acho que é o nome perfeito, pois assim como eu fui protegido por vocês, deva passar isso adiante para proteger as pessoas. O que acha, ebrithil? – ele preguntou com os olhos azuis brilhando.

– Eu acho, meu jovem, que você tem uma percepção peculiar para nomes – Oromis respondeu com um sorriso – Mirovir, então! Que ela espalhe justiça e proteja a todos que necessitarem, como seu próprio nome diz.

Oromis então voltou para onde Vrael estava postado, sorrindo de orelha a orelha. Glaedr encostou a ponta de seu focinho na testa de Deloi e depois na de Svider, desejando-lhes sorte, e depois seguiu Oromis, parando ao lado de Umaroth, que era bem maior que ele. Os outros mestres fizeram o mesmo aos poucos, assim que seus alunos escolhiam os nomes para suas espadas.

– Portanto está feito! – Vrael disse com um sorriso – Vocês juram cumprir com sua palavra e juram manterem a paz e a justiça?

– Vel eïnradhin iet ai Shur'tugal! Pela minha palavra de cavaleiro – responderam eles em coro.

Vel eïnradhin iet ai skulblaka! Responderam os dragões em coro.

Então sejam bem-vindos, meus irmãos. Umaroth disse a eles com sua voz antiga e estrondosa.

Os mais novos cavaleiros ergueram suas espadas em saudação e seus dragões rugiram, lançando enormes jatos de fogo para o céu azul. Miwin foi a primeira a vir cumprimenta-los, ela correu e abraçou Svider com força, depois se afastou e o beijou no rosto, fazendo o outro corar rapidamente.

– Parabéns, maninho – ela sussurrou ao ouvido dele.

– Não teria conseguido sem você – ele respondeu, abraçando-a também, seu rosto continuava corado e seu coração saltitava alegremente no peito, ele torceu para que ela pensasse que o coração acelerado era por causa da celebração e não pelo beijo, mas ele se sentia flutuando naquele momento.

A multidão se aproximou fazendo congratulações e desejando glória e honra para seus mais novos irmãos. Galbatorix aproximou-se de Svider, que ainda estava abraçando Miwin e sorriu maliciosamente, fazendo o amigo corara mais ainda. Svider afastou Miwin delicadamente e encarou Galbatorix com um olhar brincalhão.

– Ora, por favor, não fique envergonhado, não tive a intensão de interromper – Galbatorix disse alegremente, colocando uma mão no ombro de Svider.

– Bom, mas você já interrompeu – o cavaleiro castanho respondeu revirando os olhos, mas depois seu rosto se iluminou com uma nova ideia que lhe vinha à mente – Galb, vamos ver como essas belezinhas funcionam?

– Com certeza! – o outro respondeu sem hesitar. Ambos amarraram as bainhas em suas cinturas e ergueram suas espadas – Em guarda!

Eles começaram uma luta de brincadeira, exagerando nos movimentos e tornando-os ridículos de se ver. Pareciam dois bêbados brincando com espadas. A multidão ria a cada golpe encenado e exagerado que davam e Miwin sorria mais que os outros, não por causa da brincadeira, mas somente por observar Svider, que para ela estava se tornando muito mais que um amigo.

– Oh não! Me acertou! – Svider disse fingindo ter recebido um ferimento fatal e tombando no chão. Galbatorix, depois de receber animados aplausos dos espectadores por ter vencido a luta simulada, olhou para seu próprio peito e fingiu uma careta de dor.

– Não! Você me acertou! Adeus mundo cruel! – então ele também foi ao chão, caindo ao lado de Svider e fingindo desfalecer. A multidão foi a loucura e riu ainda mais alto, depois alguns cavaleiros foram ajudar os dois “desfalecidos” a levantarem do chão.

Sabe, às vezes me pergunto por que escolhi esse idiota como cavaleiro. Deloi disse para Aiedail e Jarnunvösk, seus melhores amigos.

Tenho as mesmas dúvidas com relação ao Galb. Ainda duvido que ele é o mais velho. Jarnunvösk respondeu de forma divertida.

Deixem que eles se divirtam um pouco. Aiedail disse docemente e Deloi olhou-a com crescente admiração. Além do mais, foi divertido ver esses dois tontos brincando.

Com toda a certeza. Deloi respondeu prontamente, só para ter o prazer de ver Aiedail olha-lo com aqueles olhos flamejantes, nem se dando conta de que seu cavaleiro fora chamado de tonto.

– Deloi e suas ilusões – Svider murmurou ao lado de Eragon. Ele tinha os olhos marejados, mas mesmo assim sorria.

Eragon estava quieto, tentando juntar os pontos. O que mais o espantava era Galbatorix, aquele realmente não parecia o rei maluco que ele conhecera, era mais um jovem alegre e repleto de amigos. Será que perder seu parceiro de corpo e alma doía tanto assim? Eragon estremeceu, não querendo saber da resposta. No entanto, a pergunta que ele pronunciou foi outra.

– Você... e Miwin eram bem próximos, não é? – ele perguntou hesitante, e parou abruptamente ao ver o rosto de Svider se contorcer de dor.

– Sim, nós éramos – dizendo isso ele fechou os olhos e respirou fundo, tentando conter as lágrimas – Ela era muito mais do que uma irmã para mim.

Eragon cerrou o maxilar, tentando conter a próxima pergunta que vinha à sua mente, mas era impossível e sua curiosidade o venceu novamente. Ele teria que melhorar aquilo, não poderia sair por aí fazendo perguntas a esmo, precisava controlar a língua.

– Você... Você a amava? – ele recuou um passo quando os olhos azuis de Svider se arregalaram e voltaram-se para ele, parecendo faiscar. Eragon arrependeu-se na hora de ter feito aquela pergunta – Desculpe, eu não...

Entretanto, Svider ergueu uma mão, pedindo para que ele se calasse. Seu rosto era uma máscara de serenidade, mas seus olhos desmentiam esse estado de espírito, pois eles estavam tristes e turbulentos. Ele olhou para Eragon por um momento, tentando se decidir se poderia dizer isso ao garoto, ou melhor, ao homem a sua frente. Nunca tinha dito algo tão íntimo a ninguém, mas sentiu que poderia confiar no cavaleiro se pretendia contar o que aprendera há tantos anos. Svider suspirou e fechou os olhos para evitar que lágrimas caíssem.

– Sim. Eu amava. – depois disso ele se virou e saiu andando.

Eragon ficou parado mais alguns momentos, mas logo o seguiu, prometendo a sim mesmo a não continuar fazendo perguntas idiotas sobre o passado do cavaleiro mais velho. Se ficasse fazendo isso talvez Svider o expulsasse e ele jamais ficaria sabendo o que acontecera. Ao olhar novamente para a lembrança da formação do mais velho e ver Miwin e Svider rindo juntos, ele não pôde deixar de pensar em Arya mais uma vez e se perguntou o que ela e Fírnen estariam fazendo naquele exato momento.

Eles caminharam lado a lado em um silêncio um tanto constrangedor. Eragon olhava para as memórias com curiosidade, parando de tempos em tempos para observar algumas que lhe chamavam a atenção, no entanto parou ao ouvir a voz calma de Svider chamando-o.

– Eragon, acho que vai gostar dessa – Svider parecia ter se recuperado da visão anterior e seu rosto estava com aquela expressão alegre de sempre, mas Eragon sabia que ele sofria por dentro.

O jovem cavaleiro se aproximou da névoa ondulante de cor prateada e parou ao lado de Svider, sem fazer uma única pergunta, sentia que já havia ultrapassado os limites e não cometeria o mesmo erro de novo. Por isso somente olhou para a imagem e esperou que as respostas para suas perguntas fossem respondidas com o tempo. Svider olhou-o de canto de olho e percebeu a mudança de atitude, não conseguiu deixar de sorrir.

– Acho que você não vai reconhecê-lo, embora aquele nariz de águia seja sua marca registrada – Svider começou, e ao receber um olhar indagador do mais jovem ele continuou – Isso aconteceu uns dois anos depois de eu ter me formado. Eu e Deloi éramos muito populares, pois ajudávamos quem precisava, como era o propósito da Ordem, embora muitos não fizessem mais isso e simplesmente se aproveitassem da privilegiada posição que tinham como cavaleiros de dragões. Havíamos retornado a Iliera para receber mais uma missão de nosso líder, Vrael. Foi naquele dia que conheci seu pai.

Eragon arregalou os olhos em pura surpresa.

– Você é mais parecido com ele do que pensa. Naquela época ele me atormentava com perguntas o tempo todo, você é mais suportável – ele disse a Eragon com um sorriso sincero.

– Isso é uma ofensa ou um elogio?

– Interprete como quiser – ele riu, então, ao ver Eragon revirar os olhos.

Entretanto o jovem já prestava atenção na memória e viu quando Svider e Deloi sobrevoavam a gloriosa cidade de Iliera. Cavaleiros e dragões estavam por todos os lados, assim como os habitantes da cidade e visitantes, como comerciantes, que montavam barracas coloridas nas ruas movimentadas para venderem suas mercadorias. Era inverno, gelo e neve cobriam edifícios, ruas, barracas, casas e as torres élficas esverdeadas.

Deloi pousou com um estrondo no chão de pedra coberto pela neve. Svider desceu de seu torso com leveza, ajeitando o manto ao redor dos ombros, estremecendo de frio. Deloi aproximou-se e respirou sobre seu parceiro, jogando grande quantidade de ar quente de suas narinas. O cavaleiro suspirou e acariciou a cabeça de seu dragão, agradecido por ele estar ali.

Os dois caminharam pelas ruas da cidade até passarem por um grupo de crianças recentemente escolhidas por dragões. Eram todos humanos, tanto meninos, quanto meninas. Eles se aproximaram rapidamente de Svider e Deloi, pois ouviram os rumores sobre um cavaleiro e seu dragão marrom, que voavam para ajudar as pessoas que necessitavam, muitos ali os tinham como heróis. O cavaleiro responsável por eles sorriu para Svider e se aproximou para cumprimenta-lo. Seu dragão de um avermelhado puxado para o vinho, Aenür, vinha logo atrás.

– Bom dia, Svider. Que bom revê-lo.

– Olá, Fenör, digo o mesmo – Svider respondeu alegremente, aquele era um dos cavaleiros que se formara com ele.

Então as crianças, ao reconhecerem o nome das histórias, começaram a perguntar milhares de coisas ao mesmo tempo. Muitas tinham seus dragões no colo, mas outros os deixavam andar livres, e estes andaram correndo de encontro a Deloi, curiosos pela presença do dragão mais velho. Deloi abaixou a cabeça triangular e deixou que os filhotes brincassem nela.

Svider tentava responder as perguntas que o bombardeavam, mas era difícil acompanhar a rapidez das crianças, que ele constatou que teriam de dez a doze anos. O que mais perguntava era um garoto vestido com um manto escuro e comprido que o cavaleiro só tinha visto em um lugar: Kuasta. O menino devia ter dez anos de idade e tinha um nariz parecido com o bico de uma águia, o que o tornava um tanto diferente das outras crianças, por isso Svider gostou dele no mesmo momento e tentava responder a todas as perguntas do menino.

– Vamos lá, todos vocês. Deixem Svider e Deloi continuarem o que vieram fazer aqui. Quanto a nós, temos que ir para os alojamentos. Amanhã começarão a treinar com seus mestres – Fenör repreendeu e as crianças e seus dragões começaram a se afastar – Nos vemos em breve.

– Até – Svider respondeu. Entretanto, ao voltar-se novamente para Deloi, reparou que o menino que o enchera de perguntas estava lá, assim como seu dragão de um azul safira. Ambos olhavam encantados para Deloi – Hey garoto, qual seu nome?

O menino olhou-o espantado, mas depois bateu três vezes no peito, realmente ele era de Kuasta.

– Me chamo Brom, senhor – ele disse formalmente, curvando-se em seguida.

– Ora, deixe de ser tão formal! Somos irmãos na Ordem agora, me chame pelo nome, Brom.

– Ah, desculpe... Svider – ele disse com um sorriso, o que tornou seu nariz maior.

– Quem é seu dragão?

– Ela se chama Saphira. Nasceu para mim há duas semanas – Brom respondeu, tirando o pequeno dragão azul de perto de Deloi, que ria divertido.

– Saphira, não? É um bonito nome – Svider acariciou a pequena cabeça triangular e os olhos azulados do dragão se apertaram enquanto ela apreciava o carinho, ronronando levemente.

Com que mestre aprenderá, garoto? Deloi perguntou a ele com calma.

Brom pulou de susto ao ouvir a voz do dragão marrom em sua cabeça, só estava acostumado a ouvir a voz de Aenür em sua mente.

– Vamos aprender com mestre Oromis e mestre Glaedr – ele respondeu rapidamente.

– Que bom! Nós aprendemos com eles – Svider respondeu.

– Sério? Como eles são? São bons mestres? Eles... Mestre Glaedr é muito grande. O olho dele é do tamanho de um escudo! – Brom murmurou temeroso, fazendo Svider rir.

– Calma! Não se preocupe com o tamanho de Glaedr. Ele não vai pisar em você, pode ter certeza, embora ele ameasse se você o irritar suficientemente – Svider respondeu com alegria vendo os olhos do menino se arregalarem – Mas eles são bons mestres, pode contar com isso. Talvez sejam os melhores. Ouça tudo o que disserem e será um grande cavaleiro, Brom. E você, pequena, um grande e assustador dragão.

Saphira guinchou como se rugisse, adorando a ideia e fazendo Brom e Svider rirem.

– Agora é melhor você ir até os alojamentos e descansar. Oromis e Glaedr são muito exigentes. – o menino assentiu assim que Svider pronunciou aquelas palavras. Ele se despediu e saiu correndo, com Saphira em seu encalço, as escamas azuis brilhando na luz tímida do sol de inverno. Então Svider lembrou-se de uma coisa e chamou Brom novamente – Garoto, mande um olá a eles por mim, sim? Diga a eles que me surpreendo por ainda não terem morrido de saudades minhas.

E minhas. Deloi acrescentou divertido.

– Pode deixar – Brom disse rindo, correndo rapidamente e sumindo da vista deles.

Svider sorriu, mas logo se encaminhou para o prédio principal para receber sua próxima missão. Deloi deitou-se na neve macia e descansou um pouco, esperando seu parceiro voltar com as novidades.

Eragon sorria ao ver a lembrança. Nunca imaginara Brom como uma criança, ainda mais como uma criança curiosa, mas o velho cavaleiro sempre tinha surpresas para ele. Svider, entretanto, balançou as mãos no ar, fazendo com que todas as lembranças ali presentes sumissem e a escuridão tomou conta do lugar.

– O que aconteceu? – Eragon perguntou olhando para o mais velho, a única coisa que ele enxergava naquele breu.

– Chega de minhas lembranças no treinamento, já viu o suficiente e nosso tempo é curto. Agora você verá meu declínio, Eragon. A partir deste momento verá como me tornei um renegado e as consequências de meus atos. Espero realmente que não me odeie depois do que vir – Svider disse sem demonstrar emoção alguma.

– Eu já disse que não vou odiar você – Eragon contrapôs.

– Você vai mudar de opinião – Svider disse começou a se encaminhar para uma porta de madeira com o desenho de um grande dragão esculpido nela, que surgira diante deles, luz vinha dali, assim como vozes tristes e melancólicas.

– Às vezes eu acho que você quer que eu o odeie – Eragon murmurou, seguindo o outro de perto.

– Isso porque eu não consigo ver como você poderia não me odiar. Assim que souber o que fiz, vai agradecer quando Mirovir o libertar.

– Por que não me mostra logo o que tanto teme e deixe que eu julgue por mim mesmo? – Eragon perguntou irritado, por isso se surpreendeu quando viu Svider sorrir.

– Gosto do seu jeito, garoto. Pois bem, vamos lá – dizendo isso ele abriu a porta e entrou. Eragon foi logo atrás.

~~~~~~~~~~**~~~~~~~~~~

Assim que a porta fechou-se atrás deles, Eragon notou que estava chovendo. Nuvens negras avançavam ameaçadoramente, raios brilhantes eram vistos entre elas e os trovões faziam todo o lugar estremecer. O vento soprava forte, arranhando o rosto de Eragon e o forçando a cerrar os olhos. Árvores balançavam ameaçando cair e o uivo do vento era ensurdecedor, tampando todos os outros sons.

Depois de olhar por mais um tempo, constatou que estava em Iliera novamente. Eles estavam em uma região mais afastada da cidade, onde só havia algumas poucas cassas e ninguém andava nas ruas, provavelmente estavam em casa se protegendo do temporal, mas então Eragon conseguiu distinguir três figuras que andavam cambaleantes contra o vento: uma era um dragão e as outras duas eram pessoas encolhidas em mantos negros para se protegerem da chuva.

Svider e Eragon andaram naquela direção no exato momento em que as figuras entravam em uma casa e o dragão, ou melhor, Deloi deitava-se no lado de fora. Svider avançou rapidamente e Eragon o seguiu, se perguntando o que o outro planejava, mas não colocou suas dúvidas em palavras. Os dois andaram rapidamente até a pequena construção e o cavaleiro castanho simplesmente atravessou a porta, como um fantasma faria nas histórias de terror que eram contadas em Carvahall há tantos anos. Eragon estacou, sem saber como agir.

– Svider? – ele perguntou um tanto hesitante e pulou de susto quando a cabeça do outro surgiu por entre a madeira.

– Vamos logo! Vai perder toda a conversa desse jeito. É só andar para frente e você atravessará a porta. – ao ver que Ergon hesitava, Svider bufou ele ergueu a mão e puxou Eragon pela manga, forçando-o a entrar.

O jovem cavaleiro fechou os olhos involuntariamente ao ver a madeira gasta se aproximando de seu rosto, ele sentiu um frio repentino, mas depois tudo passou e ele abriu os olhos devagar notando que estava dentro da casa. Uma lareira crepitava lentamente ao fundo, lançando uma luz dourada ao aposento. As duas figuras que eles haviam visto entrar ali haviam retirado os mantos negros e estavam sentadas em uma mesa, comendo algumas frutas e tomando grandes goles de café.

– Não foi tão difícil, foi? – Svider perguntou animadamente ao lado dele.

– Você podia ter me avisado que iria atravessar a porta – Eragon respondeu irritado.

– Ora, você foi atravessado por pessoas, tochas e forcados, atravessar uma porta não deveria surpreendê-lo – Svider contrapôs divertido, fazendo Eragon revirar os olhos.

O jovem cavaleiro olhou mais atentamente para as duas figuras silenciosas que comiam e constatou que um deles era Svider, ele devia ter uns vinte e quatro anos ou algo do tipo. O outro era ninguém mais, ninguém menos do que Galbatorix. Os olhos do cavaleiro estavam vermelhos e inchados e seu rosto estava sombrio. Svider parecia pouco a vontade.

– Estou feliz que esteja bem, Galb – ele começou tentando acalmar o amigo.

– Bem? É isso que você chama de estar bem? – Galbatorix respondeu com amargura apontando para si mesmo.

– Você voltou vivo, pelo menos. Deve agradecer por isso – Svider respondeu.

– Eu preferia estar morto. – uma lágrima escorreu pelo rosto do outro – Aqueles urgals malditos os mataram. Você entende isso, Svider? Jarnunvösk se foi. Não, você não entende. Ainda tem Deloi com você. Não sabe como é sentir esse vazio, saber que nunca mais vai vê-lo. Isso dói, dói muito.

Svider ficou quieto e abaixou a cabeça, não sabendo o que dizer naquela situação. Um simples “sinto muito” não iria ajudar em nada, por isso ele ficou quieto esperando que o outro continuasse e colocasse a amargura para fora.

– Isso é culpa deles – por fim Galbatorix disse, depois de vários minutos de silêncio.

– Culpa de quem?

– Dos outros cavaleiros. Eles estão felizes, com seus dragões ao seu lado e gozando de toda a riqueza que acumulam. Por culpa deles Jarnunvösk se foi, eles são os culpados – Galbatorix respondeu com raiva.

– O quê? Como pode ser culpa deles? – perguntou Svider completamente aturdido.

– Quem foi que me mandou para aquela missão ridícula, hein Svider?! – Galbatorix gritou levantando-se rapidamente da cadeira, fazendo-a ir ao chão com um baque seco.

– Você e os outros sabiam que não podiam entrar em território urgal! – respondeu o outro tentando manter a calma por respeitar a dor do amigo pela perda de seu dragão.

– Então é isso? Ficará ao lado deles e me abandonará como todos estão fazendo? – Galbatorix perguntou mais calmo, com evidente mágoa no olhar.

– Ninguém o está abandonando, Galb. Estamos aqui com você – Svider também se levantou e colocou uma mão no ombro do amigo.

– Você não entende, eles se recusaram a dar a mim outro dragão. Condenaram-me a viver sofrendo. Você também quer me ver assim? – Galbatorix permitiu que mais uma lágrima caísse de seus olhos.

– Não! É claro que não. Eu faria o que estivesse ao meu alcance para ajuda-lo, Galb.

Galbatorix ergueu os olhos e olhou para Svider, com um sorriso de fingida surpresa no rosto. Eragon conseguiu ver a loucura nos olhos do cavaleiro, embora Svider, naquele momento, a houvesse confundido com a dor da morte de Jarnunvösk. Era uma encenação, o luto já havia passado e Galbatorix já havia sucumbido à loucura.

– Faria mesmo? – o cavaleiro perguntou inocentemente, com os olhos ainda marejados.

– É claro. Basta pedir – Svider respondeu, vendo ali uma chance de tirar seu melhor amigo da dor, ou loucura, como ele descobriu no final.

Galbatorix sentou-se sorrindo e indicou para que Svider fizesse o mesmo. Assim que o amigo já estava acomodado e prestava bastante atenção nele, Galbatorix começou a espalhar as sementes de sua loucura.

– Reparou que o propósito dos cavaleiros está sendo deixado de lado? O que Vrael nos disse quando nos formamos não é seguido com fidelidade. Não vê como os mestres estão cada vez mais ricos? Como as regras são burladas e os cavaleiros se sobressaem?

– Eu... já testemunhei algumas coisas desse tipo, mas não é frequente. – Svider respondeu hesitante, sem entender o porquê da conversa.

– Mas isso vai piorar. Muitos cavaleiros não se importam mais com a justiça e com os outros, mas só com sigo mesmos. Eu acho que nós devemos acabar com isso. – os olhos de Galbatorix brilharam ao proferir aquelas palavras, vendo que Svider estava inclinado a concordar.

– Em que isso lhe ajudará?

– Vamos poder livrar a Ordem de gente arrogante e impura e poderemos, finalmente, fazer o que Eragon, o primeiro dos cavaleiros, queria: mostrar que todos são iguais e merecem ser respeitados. Devemos limpar a Ordem dos que se aproveitam do título para usufruir o melhor da vida. Assim eu saberei que livrarei outros de meu sofrimento.

– Você disse livrar... – Svider começou e parou ao ver o brilho se intensificar nos olhos de Galbatorix – Espere, Galb. Você não está pensando em usurpar o poder, está?

– Eu farei o que for preciso para salvar a Ordem e trazê-la a seus antigos dias de glória – Galbatorix respondeu friamente.

– Galb, talvez você devesse deixar isso a encargo dos mestres e de Vrael. Diga-lhes o que vem acontecendo e as coisas vão ser bem melhores – Svider não acreditava no que estava ouvindo.

Tome cuidado, parceiro. Galbatorix está muito perturbado. Avisou Deloi estritamente para Svider.

– Ora, se não é o orgulhoso Svider sendo submisso. O que aconteceu com você? Por acaso Miwin o amoleceu? Sei que têm passado muito tempo juntos, talvez não se importe em ajudar um velho amigo, ou talvez não se importe tanto com a Ordem como diz. Talvez seja um fraco ganancioso como todos os outros – Galbatorix disse com raiva se levantando rapidamente.

Do lado de fora Deloi rugiu ameaçadoramente, mas foi Svider quem tomou a dianteira. Ele levantou-se ainda mais rápido do que o outro e segurou-o pela gola da camisa empurrando-o contra a parede de pedra da pequena cabana que servia como alojamento para os cavaleiros. Na parede Galbatorix ficou completamente preso e não conseguia alcançar sua espada para se defender, mas esse nunca fora seu desejo. Ele havia enfurecido Svider e Deloi com muito mais rapidez do que esperava. O ego deles era maior do que ele pensara. Seu objetivo estava prestes a ser alcançado.

– Primeiro: não envolva Miwin nisso, ela não tem nada haver com isso, portanto não a envolva. Segundo: eu me importo com você e com a Ordem, não insinue o que não sabe – Svider disse baixo, porém firmemente. Seus olhos azuis faiscavam perigosamente. Entretanto, Galbatorix ria por dentro.

– Se você é fiel a mim e à Ordem então me ajude a purifica-la.

– Isso é trabalho para Vrael!

– Podemos ajuda-lo! Pese bem você impressionará a todos. Sei como é bom e querido pela Ordem. Quando você e eu a restaurarmos, seremos heróis! Talvez eles o coloquem junto com os mestres. – Galbatorix disse animado, erguendo os braços para cima enquanto falava.

– Isso... isso são promessas infundadas – Svider respondeu, mas ele começava a hesitar, pensando como seria ele entre os mestres, vendo um futuro glorioso para si mesmo. Deloi também hesitava, ambos eram orgulhosos e queriam ser maiores do que qualquer um na Ordem. Isso ocorrera desde o primeiro dia de treinamento, mas com o tempo passou a ser uma obsessão.

– Podem deixar de ser infundadas. – Galbatorix respondeu com a voz calma e convidativa notando que a pressão em sua gola estava sendo aliviada aos poucos – Além disso, você estaria me ajudando.

Svider estava completamente dividido. Ele não conseguia decidir se ficava fiel à Ordem ou se seguia Galbatorix... Mas e se ele só estivesse sendo fiel aos cavaleiros se seguisse o amigo? Afinal, eles só fariam o bem. Ajudariam os cavaleiros de dragões a crescerem. Não era uma rebelião para o mal... mas sim para o bem. Ele estaria ajudando seus irmãos e mostrando o caminho certo. Seriam admirados e idolatrados. Eles seriam líderes muito melhores do que os que lideravam naquele momento. Poderiam receber a ajuda de Vrael e assim a Ordem seria limpa dos arrogantes, e o propósito de Eragon seria realizado. Não era isso que ele queria?

Svider nada sabia naquele momento, mas a maior parte desses pensamentos eram impostos a ele por meio de Galbatorix, que ultrapassara as barreiras do amigo sem que este percebesse, graças à magia negra que lhe fora ensinada pelo espectro Durza. Naquele momento Galbatorix sabia que havia vencido, pois Svider o soltara e olhava para um ponto na parede, refletindo, ou melhor, sendo influenciado por Galbatorix, isso também acontecia com Deloi, ambos estavam sob suas garras. Mesmo assim o cavaleiro resolveu apressar um pouco as coisas.

– E vocês não fariam de tudo para impressionar Miwin e Aiedail? – ele sorriu interiormente ao ver os olhos de Svider se arregalarem e soube que havia ganhado a batalha mental.

Svider suspirou, convencido de que o que faria era certo. Ele confiava em Galbatorix e a menção de Miwin fizera seu coração se aquecer. Deloi sentia coisas parecidas. Faria qualquer coisa por Aiedail, além disse seu ego falava mais forte e ele queria ajudar a Ordem e Galbatorix. Ambos concordavam com aquilo.

– Muito bem, me convenceu – Svider disse olhando para o amigo novamente – Como pretende salvar a Ordem?

– Bom... Para saber se você é a pessoa certa para o serviço eu vou lhe dar um teste. Se passar estará dentro e será meu braço direito. O que acha? – Galbatorix perguntou, jogando toda a sua força de vontade sobre Svider e Deloi. Dizendo com o pensamento uma única palavra: aceite.

O cavaleiro castanho cerrou levemente os olhos azuis, mas ele e Deloi sentiam uma vontade enorme de aceitar. Eles conseguiriam tudo o que queriam, um teste era mais do que justo e depois disso mudariam para sempre a vida dos cavaleiros e dragões. Os salvariam da traição e abuso. Miwin e Aiedail vieram à mente de ambos e eles não conseguiriam resistir à proposta. Deloi mandou pensamentos de concordância para Svider e este os expressou:

– Muito bem. O que quer que façamos?

Galbatorix deixou um sorriso grato e aliviado surgir em seu rosto, mas internamente ele se vangloriava. Ninguém o impediria com Deloi e Svider ao seu lado. Ele se vingaria e, como dissera, “limparia” a Ordem dos impuros e abusivos cavaleiros e dragões.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? E o que esperam no próximo capítulo?
Sé onr sverdar sitja hvass.



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