Eragon: Wyrda un Moi escrita por Arduna


Capítulo 8
O Início dos Erros


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Mil perdões pela demora, mas estava em encerramento de bimestre na escola e as provas estavam ocupando todo o meu tempo. Para compensar aqui está um capítulo GIGNATE! Espero que gostem e muito obrigada por comentarem e acompanharem a fanfic, isso me ajuda muito.
Boa leitura^^



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– Assim que Deloi saiu daquele ovo eu soube que meu mundo mudaria para sempre... – Svider disse com um sorriso ao ver o garoto que ele fora um dia abraçar um recém-nascido filhote de dragão, enquanto os espectadores aplaudiam entusiasmados.

Eragon olhou para aquela cena e não pôde deixar de sorrir. Nunca tinha visto uma celebração como aquela e não sabia como seria ser escolhido por um dragão naquela época e entrar para a antiga Ordem dos Cavaleiros, mas com certeza devia ser uma experiência única. Não que a sua com Saphira não houvesse sido, muito pelo contrário, na verdade foi mais surpreendente ainda porque ele não fazia a menor ideia do que estava acontecendo até que ela rompeu a membrana fina de seu ovo azul.

Os olhos de Svider se encheram de lágrimas ao ver seu jovem dragão ali, na sua frente outra vez, fazia tanto tempo que não o via, era uma pena que fosse somente uma visão e não a realidade.

– Svider? – Eragon chamou-o. O cavaleiro mais velho retirou a mente daqueles pensamentos sombrios e se concentrou em sorrir para o jovem ao seu lado, que o olhava com simpatia. Svider sabia, porém, que Eragon começaria a odiá-lo muito em breve e, não pela primeira vez, ele se sentiu entristecido, pois sabia que estava prestes a decepcionar mais uma pessoa, logo agora, que havia começado a gostar da companhia do jovem cavaleiro.

Algo em seu semblante deve ter revelado seus sentimentos, pois Eragon ergueu uma sobrancelha e perguntou:

– Você está bem? Parece preocupado.

– Não é nada, parceiro. Venha, já nos demoramos muito aqui e você tem muito que ver ainda. Espero que não esteja cansado – Svider disfarçou sua tristeza com um sorriso, mas Eragon não parecia convencido.

– Eu nunca fico cansado de receber respostas para as minhas dúvidas – o jovem sorriu e virou-se para olhar a cena mais uma vez.

Uma criança maltrapilha com cabelo despenteado e roupas cinzentas rasgadas abraçava fortemente um jovem dragão amarronzado, como se nunca mais fosse solta-lo, o que não faria mesmo. Miwin sorria orgulhosamente para os dois e fazia carinho na pequena cabeça triangular do dragão recém-nascido, sua outra mão estava no ombro do jovem Svider, dando-lhe conforto naquela situação improvável. A bela Aiedail, já que não havia outra forma de descrever aquele dragão, soltava pequenas nuvens de fumaça pelas narinas enquanto se aproximava de seus mais novos irmãos, ansiosa para ver aqueles jovens crescerem e se tornarem os guardiões que deveriam ser.

Agora, mais velho, Svider percebia como devia tê-las agradecido por estarem ao seu lado, uma pena que ele nunca tenha feito isso.

– Vamos, suas perguntas nunca acabam, acho melhor voltarmos à viagem antes que você volte a me importunar – Svider empurrou Eragon até uma porta gasta de madeira que havia aparecido para leva-los a outro lugar, há outro tempo. Mas o desconforto de Svider continuava, pois ele sabia que as coisas só iriam piorar.

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Assim que transpuseram a porta Svider constatou que estava em seu antigo quarto na estalagem dos tios. Foi ali que seus erros começaram, infelizmente.

– Muito bem, o que eu vou levar? – perguntava animadamente um contente jovem que acabara de ingressar para a Ordem dos Cavaleiros de Dragões, os mais respeitados e poderosos guardiões de toda a Alagaësia – Vamos ver... Acho que preciso de roupas... Bom, não tenho muitas, mas estas servem, eu acho... Botas de viagem, comida... Água, claro... O que mais?

O jovem Svider andava de um lado para o outro do quarto, bagunçando todas as coisas e jogando o que não achava útil para trás. Um pequeno dragão estava enroscado na cama de seu cavaleiro e observava tudo com uma grande dose de curiosidade, seus olhos azuis safira brilhavam ao observar o garoto agitado. Ele rosnou baixinho e seu cavaleiro voltou-se para ele com um sorriso.

– O que é? Tenho que arrumar as coisas para a partida. Miwin disse que partiremos amanhã bem cedo e iremos para a floresta dos elfos! Consegue acreditar nisso? – Svider se jogou na cama ao lado de seu dragão, que deu um pulo de susto com o movimento brusco que fez a palha que compunha o colchão.

Eragon riu com aquilo. Involuntariamente lembrou-se da noite em que Saphira nascera para ele e viu o pequeno filhote azulado sentar em sua cabeceira e observar a lua por entre a janela. Aquele jovem dragão não era muito diferente dela e seus olhos eram exatamente da mesma cor, o que o assustava um pouco.

– Do que está rindo? Eu estava feliz, não podia? Iria sair daquela espelunca e visitaria os elfos! Era a coisa mais maravilhosa que tinha me acontecido até o momento, claro, depois do nascimento de Deloi – o espírito de Svider respondeu, tentando justificar suas ações naquele dia.

O jovem deitado na cama riu com o pulo de seu dragão e o abraçou, observando a marca em sua mão, como se para ter certeza de que não era um sonho, já que era muito bom para ser verdade.

– Por favor, não seja um sonho – ele sussurrou para ninguém em particular enquanto agarrava-se mais ao seu dragãozinho, fazendo com que esse se aconchegasse mais perto de si – Mas se for eu não quero acordar, quero continuar dormindo para sempre.

Passos foram ouvidos no chão de madeira fora do quarto e a porta foi aberta de supetão. Um homem nada contente adentrou no recintou e observou a bagunça em que o quarto estava. O menino se levantou rapidamente e sentou-se na beirada da cama, colocando seu dragão atrás de si.

– O que quer, tio?

– O que foi que você fez aqui? – perguntou o outro sem reparar na pergunta do garoto.

– Estou arrumando minhas coisas – respondeu Svider, com um fio de voz.

– Para quê?

– Vou para a floresta dos elfos para treinar e me tornar cavaleiro de verdade – disse o menino cheio de orgulho.

O homem corpulento riu, seu corpo se sacudia rapidamente e ele se curvava para frente, segurando a barriga com as mãos, como se achasse a situação extremamente engraçada. Tanto o Svider pequeno quanto o adulto torceram o nariz, incomodados. Eragon notou que o espírito de seu mais novo colega transbordava de raiva.

– Hum... Por que ele está rindo? – Eragon perguntou um tanto confuso.

– Espere um pouco, Eragon. Esse idiota vai parar de rir daqui a pouco – Svider disse com raiva. Eragon voltou-se para a cena que se desenrolava, por algum motivo não tinha um bom pressentimento sobre aquilo.

– Você não vai para lugar algum, garoto – disse o homem, subitamente recuperado de seu ataque de riso.

– O-o quê... ?

– Você ouviu exatamente o que eu disse. É óbvio que esse dragão estava confuso quando o escolheu. Quem nasceria para alguém como você? O ovo deve ter chacoalhado muito na vinda para cá com aquela cavaleira enxerida, devia estar com os miolos bagunçados. Ele fica comigo até você servir para alguma coisa. Agora arrume essa bagunça e volte a trabalhar, os clientes não gostam de esperar.

Ele se inclinou para pegar o dragão, que se encolhia atrás de seu cavaleiro, mas Svider tirou, sabe-se lá de onde, uma faca e a apontou para o homem a sua frente. Deloi rosnou ameaçadoramente, mas Eragon não soube dizer se fora para a faca ou para o homem que os ameaçava.

– Você não vai fazer nada conosco – disse o garoto numa voz perigosamente baixa.

Eles ficaram ali. Completamente parados, somente olhando um para o outro, analisando-se. Os olhos azuis de Svider faiscaram perigosamente enquanto ele segurava a faca com mais força.

– Largue isso, garoto – ordenou o outro, mas sua voz era um sussurro sem convicção, como se ele nunca tivesse sido desafiado por ninguém antes.

– Não... Você não pode tirar meu dragão de mim – lágrimas escorreram dos olhos do rapaz, mas sua voz estava firme – Ele me escolheu, eu sou um cavaleiro agora, você me deve respeito.

O tio não respondeu, mas ele parecia estar achando graça nas afirmações do rapaz.

– Eu vou embora e me livrarei de ver vocês para sempre, nunca mais voltarei para Teirm. Vou te mostrar que sou muito mais do que pensa! – Svider gritou as últimas palavras.

– Se acha que é tão bom, então não deve ter medo de sujar as mãos. Vamos lá, faça o que tem que fazer com essa faca. Ela foi feita para machucar, então por que não faz isso comigo? Veremos se você é mesmo homem – ele disse calmamente, mas Svider não se moveu, por um momento o horror passou por seus olhos – Viu? Eu disse. Você não passa de um rato covarde, não merece ser cavaleiro. Dê-me esse dragão agora.

O homem se inclinou novamente, mas, em um impulso, Svider mexeu a faca para cima, fazendo um profundo corte nas duas mãos do tio. Ele gritou de dor e se encolheu. Seus olhos brilhavam em choque.

– T-tio! O senhor está bem? – perguntou o garoto de forma assustada, como se ele houvesse se dado conta do que havia feito.

– É bom que vá embora, seu monstro – o homem cuspiu as palavras e saiu do quarto, mas antes de descer as escadas que levavam ao andar de baixo ele se virou e gritou – Você é idêntico ao seu pai! Nunca vai conseguir ser alguém na vida!

Ele desceu as escadas batendo os pés com força no chão de madeira. Svider sentou-se na cama e jogou a faca coberta com um pouco de sangue no chão, começando imediatamente a chorar. Deloi aproximou-se dele e lhe lambeu a face.

– N-não se preocupe, amiguinho. Nós vamos embora e eles vão se arrepender do que fizeram comigo durante todos esses anos – o garoto sussurrou em meio aos soluços, recomeçando a arrumar as coisas para sair dali.

– De onde você tirou aquela faca? – Eragon perguntou abismado.

– Eu guardava uma sob o colchão para poder destrancar a porta e fugir. Naquele momento ela parecia extremamente útil – o espírito do cavaleiro respondeu prontamente, ele olhou para Eragon e viu uma nova dúvida em seu olhar, mas sabia o que o mais jovem iria perguntar – Eu não senti dó de meu tio. Ele já tinha feito coisas piores comigo, só me defendi, mas o que me entristecia era suspeitar que talvez ele tivesse razão. Que eu nunca fosse me tornar alguém na vida. Esse foi meu primeiro erro, Eragon. Observe bem, pois temos que continuar.

O rapaz olhou um pouco contrariado para a cena e seus lábios se apertaram ligeiramente.

– Eu sei que reprova minhas ações, mas eu nunca fui santo – Svider disse com pesar – Até o final dessa viagem você irá me odiar, tenho certeza disso.

Eragon olhou-o com os olhos castanhos levemente arregalados, mas não fez perguntas, o que satisfez Svider imensamente. Ele não estava com vontade de ficar respondendo nada naquele momento, mas por outro lado, o que essa falta de perguntas poderia significar?

– Vamos, você tem muito para ver – Svider disse, e uma nova porta pairou no ar. Ele entrou primeiro, sem esperar por Eragon, estava ansioso para sair dali. E uma parte dele tinha medo de que o silêncio do outro cavaleiro começasse a dizer que o início de um profundo ódio estivesse começando a surgir.

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– Onde estamos? – Eragon perguntou assim que saiu do outro lado da porta. Ele ainda parecia chocado e contrariado, mas continuava curioso para saber o que aconteceria. Svider ficou um pouco aliviado ao perceber isso. Ele sorriu para o mais jovem e apontou para baixo.

– Por que você mesmo não descobre?

Eragon mirou-o um tanto desconfiado, mas mesmo assim olhou. Ele começou a sentir a brisa batendo em seu rosto à medida que a visão tornava-se mais real. O cavaleiro arfou ao constatar que... Que estava voando! Ele viu a grama verde lá em baixo ficar difusa pela velocidade que voavam, o vento gelado era cortante, mas parecia acolhedor e dava uma sensação de liberdade que Eragon apreciava. Olhou mais atentamente e constatou que estava nas costas de Aiedail, que voava rapidamente em direção a Du Weldenvarden. Miwin estava sentada a frente e segurava o pescoço de seu dragão. Seus olhos estavam fechados e ela sorria, aproveitando a sensação de liberdade que sentia ao voar. Uma criança agasalhada com roupas um tanto velhas estava sentada atrás dela. O jovem Svider tinha um pequeno dragão marrom no colo e eles olhavam para todos os lados, completamente encantados.

O espírito do cavaleiro castanho estava sentado pacificamente por sobre a asa esverdeada de Aiedaill. Svider riu ao ver a surpresa estampada no rosto de Eragon. O mais jovem decidiu imita-lo e sentou-se na outra asa, notando que flutuava levemente, como se sua alma não possuísse peso, o que era verdade.

Fazia dois dias que havíamos saído de Teirm. Svider disse na mente de Eragon para não ter que gritar. Acho desnecessário dizer que eu estava completamente encantado e não conseguia nem falar de tanta felicidade.

O cavaleiro castanho riu com leveza, mas Eragon voltou sua atenção para a pergunta que Miwin estava fazendo naquele exato momento.

– E então, Svider, já escolheu um nome para o seu dragão? – ela teve que gritar para ser ouvida pelo outro.

– Ainda não... Não sou bom com nomes... Será que você poderia me ajudar com isso? – ele perguntou, um tanto tímido, mas relaxou assim que a outra cavaleira riu.

– Tudo bem, eu ajudo, mas se o dragão não gostar não adianta. Fale para ele que falaremos alguns nomes, se ele gostar de algum deve rosnar. Pode fazer isso?

– Acho... que sim, mas não tenho certeza.

– Só deixe que seus pensamentos cheguem até ele e será ouvido – Miwin disse, virando-se levemente para encarar o menino. Seu cabelo castanho acabou em seus olhos, e ela os retirou com a mão, prendendo-os em um rabo de cavalo.

O garoto fechou os olhos e franziu a testa, tentando se concentrar em seu pequeno dragão. Em poucos minutos ele abriu os olhos e acenou positivamente para ela.

– Pois bem. Há muitos nomes importantes e que poderiam agradar você, dragãozinho – Miwin disse ao pequeno, que ouvia tudo admirado – Aiedail, se eu esquecer algum me avise.

Você sempre esquece algum, e eu sempre te lembro. Você só não esquece a cabeça porque ela está grudada no corpo. Nem precisava dizer nada, já sou um lembrete ambulante mesmo.

– Um lembrete ambulante? Ora, o que é isso. Só estou pedindo que me ajude, como cavaleira e dragão devem fazer! – reclamou Miwin.

É claro, é claro. Acho que eu prestei mais atenção nas aulas de história da Ordem do que você, mas vamos lá, comece. Duvido que não esqueça algum dos primeiros dez nomes.

– Isso é um desafio? – Miwin sorriu divertida.

Interprete como quiser. Mesmo falando calmamente, Aiedail rugiu desafiadoramente.

– Você ouviu, Svider. Vamos ver quem ganha – a cavaleira colocou as mãos na cabeça e massageou as têmporas, mas logo começou a falar – Havia Algö, Beoran, Briam, Clarïn, Drivor...

Ohen, o Forte, Jura, Fundor, Galzra, Gretiem...

– Ei! Você falou antes que eu pudesse terminar! Não é justo!

Você nunca lembra desses nomes. Contrapôs Aiedail de forma divertida.

– Desta vez eu ia lembrar – Miwin fez um biquinho emburrado – Viu, Svider? Ela trapaceou, portanto a aposta não valeu.

O garoto riu e acariciou a cabeça de seu dragão.

– Quais nomes mais existem?

– Bom, se ninguém mais ficar me interrompendo eu continuo – ela disse de forma sugestiva para Aiedail, que não fez outra coisa além de rir – Havia Roslarb, Hírador, Janiën, Farniel... – as duas continuaram falando nomes e mais nomes, mas o jovem dragão não parecia gostar de nenhum. Eragon se lembrou de quando fora conversar com Brom sobre os dragões, ainda em Carvahall, e o velho contador de histórias fizer um monólogo completo de vários nomes de grandes dragões. Será que isso era obrigatório na Antiga Ordem? Bom, talvez ele nunca soubesse – Você é um dragão difícil. – ponderou Miwin – Que tal tentarmos um nome na Língua Antiga? Svider, que nome você acha que combina com ele?

– Mas eu não sei nada sobre a língua antiga.

– Diga na língua dos homens e eu irei traduzir. Olhe bem para ele, que nome você acha? – Miwin voltou-se novamente para frente.

O pequeno Svider olhou para o filhote de dragão. Este mirou os olhos azuis safira em seu cavaleiro e o observou intensamente.

Do que você tem cara? Que nome quer ter? Eragon ouviu o garoto perguntar mentalmente para o dragão.

Este olhou para baixo, mirando a superfície esverdeada que passava velozmente lá embaixo.

Planta? Svider perguntou descrente, coçando levemente a cabeça. O dragão rosnou irritado e mordeu levemente o dedo de seu cavaleiro.

– Ai! – ele reclamou, um filete de sangue começou a escorrer do ferimento. Aiedail produziu um som engasgado em sua garganta, equivalente a uma gargalhada.

O dragãozinho olhou de novo lá para baixo e desta vez Svider prestou mais atenção. As plantas só existiam porque havia algo abaixo delas, se esse algo não existisse, não haveria nada.

Terra? Svider perguntou novamente, torcendo para que fosse o nome certo, não queria levar outra mordida no dedo. O dragão inclinou a cabeça para o lado e fez um movimento afirmativo. Rosnando levemente.

– Acho que ele gostou de Terra. Como é terra na Língua Antiga? – Svider disse em voz alta para a cavaleira a sua frente.

– Terra é Deloi. Acha que ele gosta desse nome? Deloi? – Miwin disse com um largo sorriso no rosto.

– É esse? – Svider perguntou – Você é Deloi?

O dragão fechou os olhos momentaneamente e então ronronou como um gato.

– Eu acho que ele gostou – Svider riu quando o filhote pediu mais carinho, brincando com as mãos de seu cavaleiro – É bom te conhecer, Deloi.

O dragão rosnou de felicidade e Miwin riu, virando-se para fazer um cafuné no dragão.

Aiedail mudou levemente de direção, dirigindo-se mais diretamente para a capital élfica, ela parecia feliz. Eragon não suportou pensar que elas haviam deixado de existir como cavaleira e dragão. O jovem pulou ao sentir uma mão em seu ombro. Svider o olhava por cima e apontava com a cabeça para uma nova porta, seu momento ali havia acabado.

– Vamos. Acho que você está ansioso para rever o Oromis – ele riu com a expressão espantada de Eragon.

– Você foi aprendiz dele, não é? – ele se levantou e seguiu o mais velho, flutuando nas asas de Aiedail. Svider abriu a porta e Eragon deu adeus à visão, com medo do que veria em seguida. Será que acabaria por odiar Svider, como o mesmo dissera?

– Sim, eu fui. Pena que eu não tenha seguido seus conselhos – dizendo isso Svider cruzou a porta e desapareceu, Eragon olhou novamente para o grupo que viajava feliz em direção à floresta élfica, uma pontada de desconforto passou por seu coração. Estava começando a temer o que veria pela frente, mas tinha que continuar.

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Assim que transpuseram o batente da porta, e esta desapareceu, Svider sorriu, reconhecendo a bela Du Weldenvarden passando rapidamente abaixo deles. Ainda estavam nas costas de Aiedail, que voava rapidamente em direção ao centro da floresta. O sol se punha e desaparecia lentamente no horizonte, indo para onde quer que ele fosse quando chegava o manto noturno, mais uma vez Svider se perguntou para onde o sol ia durante a noite, embora ele nunca tenha chegado a uma resposta coerente sobre o assunto. Nem os mais poderosos elfos sabiam da resposta para essa pergunta, que era considerada como um dos maiores mistérios existentes. Ele respirou fundo, apreciando os aromas da floresta élfica, ouvindo os animais se preparando para dormir e o piar das corujas, que saiam para caçar. Virou-se para encarar Eragon, que olhava para a copa das árvores com um sorriso, mais uma vez se perguntou o que o mais jovem pensaria dele em breve.

– Você foi treinado aqui? – o outro perguntou curioso, tendo que gritar para ser ouvido.

– Mais ou menos. Você vai ver, mas tenha paciência – Svider riu quando Eragon revirou os olhos.

– Me dizem muito isso.

Eragon se calou em seguida, com a mente perdida em pensamentos, e o cavaleiro mais velho não ousou interrompe-lo, pois sabia que os pensamentos do colega estavam em certa elfa que o levara até ali para que ele treinasse com Oromis.

– Nós estamos há algumas milhas de Ellesméra, não é? – o jovem perguntou ao notar como as árvores eram mais altas e espaçadas ali – Como Aiedail consegue voar tão perto da cidade? Quando eu e Saphira viemos aqui ela teve de andar – Eragon perguntou, balançando a cabeça de um lado para o outro, tentando se livrar dos pensamentos sobre Arya. Ele havia evitado pensar nela durante a viagem, pois isso só o deixava com mais saudades, mas agora, vendo Du Weldenvarden novamente, ele não pôde deixar de pensar na rainha dos elfos.

– Naquela época a floresta não era tão protegida por magia quanto é atualmente. Os elfos não estavam isolados aqui, visitantes eram bem vindos e muitos cavaleiros eram treinados aqui. As espadas eram feitas aqui por Rhunön-elda antes de ela jurar nunca mais fazer armas que destruíssem vidas, sinto-me entristecido por saber que tive parcial culpa de decisão dela, que lhe causou um grande desgosto, e prejudicou muitas pessoas – Svider gritou com pesar. Eragon lembrou-se da elfa ranzinza que conhecera e fizera, por intermédio dele, sua espada.

Aiedail não parecia ter intenção de parar e continuou voando noite adentro enquanto seus companheiros de viagem se contentavam em comer um jantar frio composto por carne seca e algumas frutas. Eragon sentou-se ao lado de Svider sobre uma das asas da dragão esverdeada, observando a conversa que havia começado a se desenrolar.

– Acho que você vai precisar aprender alguma coisa sobre a cultura élfica antes de entrar em Ellesméra, tudo bem que você não ficará lá por muito tempo, seu treinamento, na maior parte das vezes será feito em Iliera, mas não custa conhecer algumas coisas. – Miwin disse enquanto dava pedaços de carne para Deloi, que as comia contente.

– O que preciso aprender? – Svider perguntou, acabou de comer a carne seca, e olhou atentamente para a outra cavaleira.

– Primeiro: Nunca desrespeite as regras que vou lhe ensinar agora. Os elfos são extremamente chatos com cortesia, tudo o que você fizer lá irá render pontos na avaliação dos mestres.

– Pontos? Eu vou ser avaliado? – Svider perguntou, um tanto assustado.

– Desde o momento em que pisar na cidade – Miwin respondeu suavemente. Svider engoliu em seco e se concentrou em comer as frutas que segurava. Deloi sentiu a inquietação dele e ronronou de leve – Por isso peço que preste atenção em tudo o que eu lhe disser.

Svider assentiu com a cabeça, ansioso por aprender.

– Os elfos dão uma importância exagerada, em minha opinião, para cortesia. Então você deve ser impecável nessa parte quando for falar com eles. – Svider assentiu novamente e Deloi se acomodou mais no colo de seu cavaleiro – Toda a vez que encontrar um elfo deve colocar os dois primeiros dedos nos lábios e dizer Atra esterní ono thelduin, o outro responderá Atra du evarínya ono varda. Em casos mais formais o primeiro deverá complementar o cumprimento com a fala Un atra mor’ranr lífa unin hjarta onr. Como você ainda não iniciou seu treinamento será sempre você a começar o cumprimento – Miwin disse mostrando como deveria ser realizado o movimento e fazendo Svider repeti-lo.

– Então quer dizer que eles são mais importantes que eu? – o jovem perguntou emburrado.

– Não é questão de importância, mas sim de se colocar em seu lugar. A maioria dos elfos está em classes mais altas na sociedade élfica do que você, por isso lhes deve respeito.

– E eles não me devem?

Pare de tentar se engrandecer, criança. A voz suave de Aiedail disse mentalmente para ele. Não é porque se tornou cavaleiro que é melhor do que os outros, tenha isso em mente. Uma sociedade só pode existir se houver respeito entre seus indivíduos, por isso, da mesma forma que eles devem ter respeito para com você, você deve ter para com eles. Entendeu?

– Sim, Aiedail. É que ter que falar esse monte de cumprimentos é muito estranho. Lá em Teirm as pessoas só falam “Oi” ou “Bom dia”, às vezes nem isso. E agora tenho que fazer tudo isso... É difícil.

– Eu sei. Também me senti assim quando comecei meu treinamento. Em minha cidade também não havia tanta sutileza assim, mas você se acostuma. – ela sorriu para ele, o grupo foi voando noite adentro.

O dia amanheceu rapidamente, a cidade de Ellesméra estava a poucos quilômetros de distância. Svider ficava repetindo baixinho todos os cumprimentos que havia aprendido para ter certeza de que não esqueceria. Eles pararam de voar e Aiedail pousou em uma grande clareira na floresta. O grupo andou rapidamente sob o manto das árvores, pouca luz do sol passava por ali. Pássaros cantavam e a brisa balançava suavemente as folhas das árvores, produzindo uma música suave.

Aiedail e Deloi brincavam de um jogo estranho que consistia um arranjo elaborado de rosnados, enquanto andavam ao lado de seus cavaleiros. Miwin seguia de forma decidia, ela parecia saber exatamente para onde ia, deixando Eragon completamente surpreso com isso, já que ele próprio havia se perdido várias vezes ali.

– Por que estamos andando? Não era só voar? – Svider perguntou.

– Temos que passar pelo guardião da cidade agora, não se pode passar sem a permissão dele.

– Nem mesmo os cavaleiros?

– Não, nem mesmo nós – Miwin respondeu rindo.

Chegaram a uma elevação no chão da floresta. Ali estava postado um elfo. O primeiro que Svider já vira, a julgar pela sua expressão. Ele usava um manto esverdeado que caía até o chão coberto de grama. Seu rosto nobre e sereno olhou-os com curiosidade.

Miwin fez uma reverência para ele e lhe mostrou sua palma direita, instruindo Svider a fazer o mesmo. Assim que o garoto o fez a cavaleira se pronunciou:

– Trago dois jovens prontos para aprenderem com os mestres da Ordem dos Cavaleiros de Dragão. Nós lhe pedimos passagem, ó Sábio Gilderien – ela sorriu e curvou-se novamente.

O elfo olhou-os com os olhos brilhando sob os poucos raios de sol que conseguiam penetrar na floresta, mas depois sorriu e abriu os braços.

Miwin curvou-se novamente e Svider sentiu que deveria fazer o mesmo, mas pela expressão ele não parecia muito contente em se curvar perante o outro, estava até um pouco temeroso na presença do elfo.

– Venha, Svider – Miwin o guiou para longe do elfo, mas a voz deste ecoou na cabeça do menino, fazendo-o se assustar.

Cuidado com seu orgulho, criança. Cuidado com seus medos interiores.

Ao ouvir isso o jovem acelerou o passo, querendo sair dali o mais rápido possível.

– Venha, quero adiantar um pouco as coisas – o espírito do cavaleiro castanho disse assim que viu que Eragon iria perguntar sobre o aviso do guardião. Ele iria entender rapidamente o que aquilo significava. Uma porta se materializou em frente a eles e Svider entrou, sem se dar ao trabalho de responder às perguntas do outro, com medo do que este poderia achar das respostas.

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Eragon parou de perguntar sobre o ocorrido assim que reconheceu o palácio élfico de Ellesméra. Só que ali ele parecia muito diferente. Ou era impressão, ou a construção parecia mais cheia de vida e alegria. Provavelmente a segunda opção. O som da cantoria dos elfos era ouvida por todos os lados. Flores rodeavam o palácio real e as gotas de orvalho pingavam delicadamente por suas pétalas. Pássaros cantavam alegremente e a floresta parecia se engrandecer de vida à medida que o dia nascia.

Uma enorme quantidade de dragões voava por sobre as altas copas das árvores e muitos cavaleiros, tanto elfos quanto humanos andavam por todos os lados. Eragon estava completamente estupefato. Ele nunca havia visto tantos dragões e cavaleiros assim em toda a sua vida, com os ovos de dragão essa visão poderia se tornar realidade. Só de pensar que a Ordem poderia voltar a ser tão grandiosa quanto fora, já o enchia de alegria. Ele e Svider seguiam atentamente Miwin e Aiedail, guiando dois encantados jovens integrantes da Ordem, que seguiam em direção ao palácio. Eles eram cumprimentados por vários cavaleiros, que erguiam as espadas ou os saudavam. Alguns se aproximavam e abraçavam Miwin, voltavam-se curiosos para Svider e Deloi, sorrindo e dando-lhes boas vindas. Svider, podia se ver, parecia atordoado ao notar quantos cavaleiros existiam, para ele tudo aquilo sempre fora um exagero, mas a Ordem parecia ser bem maior do que ele pensara a princípio.

– Venha. Os mestres estão aguardando – Miwin chamou, retirando o jovem do meio de uma multidão de cavaleiros curiosos.

– Eles sempre ficam aqui na floresta quando escolhem seus aprendizes? – Svider perguntou, correndo para alcançar à humana. Deloi conseguia acompanha-lo correndo, já que já havia crescido muito durante a viagem e já estava grande demais para continuar no colo.

– Não, geralmente fazem isso em Iliera, mas resolveram vir para cá este ano – Miwin respondeu.

– Por quê?

– A pedido de Vrael, nosso líder. Ele disse que o poder dos cavaleiros não deveria ficar concentrado somente em Iliera, devia ser distribuído por todos os cantos da Alagaësia. A cada ano os principais mestres irão para um lugar diferente.

– Mas só são escolhidos aprendizes de ano em ano?

– Não, Svider. Novos aprendizes chegam a todo o momento, a qualquer dia, a qualquer hora.

– Então...

– Vrael fez esse rodízio para descentralizar o poder de Iliera e expandir o alcance dos cavaleiros. Por isso estamos aqui e não em Iliera. Não para escolher aprendizes, mas para aumentar nossa área de influência. Entendeu?

O garoto assentiu levemente e os quatro continuaram seu caminho até a porta do palácio, onde se apresentaram a dois guardas e a permissão de entrar lhes foi dada. Aiedail teve que seguir voando, apesar de ser jovem, ela não caberia dentro do edifício. Eles seguiram pelos corredores amplos do palácio até chegarem a um grande jardim que Eragon nunca havia visto em sua estadia em Ellesméra.

Várias cadeiras de respaldar alto estavam posicionadas em um amplo semicírculo no centro do jardim. Muitos elfos estavam sentados ali, e só havia dois ou três humanos. Enormes dragões, com vários séculos de vida, a julgar pelo tamanho, estavam postados atrás de seus cavaleiros, pelo que Eragon pôde supor. Ele notou que os homens e elfos carregavam espadas coloridas presas à cintura das mesmas cores dos dragões postados pacificamente atrás deles.

– Aqueles são os mestres? – Eragon perguntou para o colega, que seguia ao lado dele em silêncio.

– Eles mesmos. Olha o Oromis bem ali. O mestre Glaedr está logo atrás – Svider apontou para um elfo de cabelos prateados sentado em uma das cadeiras de respaldar mais alto.

Aquele Oromis parecia muito mais saudável do que o que Eragon se lembrava de ter como professor. Ele parecia mais jovem, mais forte e não carregava aquela tristeza que Eragon havia aprendido a ver nos olhos do mestre. Mesmo assim ainda mostrava sabedoria e compaixão em seu rosto antigo. Glaedr erguia-se imponente atrás de seu cavaleiro. Ele era um pouco menor do que havia sido quando ensinara Eragon e Saphira, mas continuava enorme, talvez um dos maiores dragões dali. Os olhos de Eragon se encheram de lágrimas ao notar que Glaedr ainda possuía sua perna esquerda dianteira. Isso queria dizer que Oromis ainda não tinha aquele ferimento que o paralisava de tempos em tempos.

– Se ele estivesse assim na luta contra Murtagh, não teria morrido – murmurou o jovem cavaleiro, suplicando para que a morte de seu mestre não houvesse acontecido, uma lágrima escorreu por seu rosto, pois ele sabia que aquele Oromis que se apresentava ali morreria um dia e isso o enchia de tristeza – Não podemos mudar isso? Não podemos avisa-los da armadilha que iriam sofrer?

Svider olhou para ele, seu rosto estava contorcido de dor. Os olhos estavam marejados e ele parecia se conter para não derramar o pranto.

– Não podemos mudar o passado, Eragon, agora eu sei disso. Não adianta tentar mudar as coisas porque isso não vai acontecer, já está feito. Não podemos salva-los, nem nossos mestres, nem todos esses cavaleiros que morreram quando Galbatorix ascendeu ao trono... – uma lágrima escorreu pela face do cavaleiro mais velho – Por isso você deve pensar muito bem no que está fazendo agora para não se arrepender depois. Eu não fiz isso e acabei por interferir na vida de centenas ou milhares de pessoas, condenando-as à morte, agora quando volto ao passado e vejo as pessoas que conheci, vejo quanta dor eu causei, mas não posso concertar isso, quando tive a chance não a utilizei, agora é tarde demais.

Svider fungou e secou as lágrimas com a manga. Ele estava trêmulo e seu rosto demostrava uma dor descomunal.

– Desculpe – ele murmurou depois de alguns segundos, mas o choro continuava, ele havia segurado as lágrimas durante muito tempo. Eragon só o encarava, tentando decidir se sentia pena, compaixão ou raiva dele. Os olhos castanhos mostravam indecisão e Svider temeu que o cavaleiro fosse seguir o caminho do ódio, mas se surpreendeu quando Eragon colocou a mão em seu ombro e sorriu de forma amigável.

– Você se culpa demais. Carrega sobre os ombros todas as consequências da ascensão de Galbatorix, sendo que você não fez o trabalho todo sozinho. Havia mais treze que fizeram coisas muitos piores do que você e há o próprio Galbatorix, que arquitetou e provocou tudo isso. Eu não o culpo, Svider. Não sei exatamente porque você ficou ao lado de Galbatorix, mas tenho alguns palpites. Sei que se arrependeu e que tentou lutar, isso já conta muito.

– Mas não adiantou. Não mudou nada – Svider olhou novamente para Oromis e Glaedr, havia sido uma grande decepção para eles.

– Mudou sim. Você ajudou meu pai a criar os Varden e contou a eles que Galbatorix guardava três ovos de dragão. Você lutou contra Galbatorix e tentou concertar as coisas, não se julgue tanto pelo que aconteceu. Como você acabou de dizer, não dá para mudar o passado, mas você pode escolher mudar o seu futuro ao mudar suas ações e foi isso o que você fez. – Eragon sorriu de forma solidária – Lembre-se, você não é Galbatorix. Quando o enfrentei em Urû’baen só precisei fazê-lo entender o que havia feito e ele próprio se destruiu porque não aguentou as consequências de seus atos. Você aguentou e tentou mudar o rumo das coisas, isso é admirável – Eragon parou por um tempo e então continuou, com uma convicção capaz de derrubar montanhas – Eu te perdoo, Svider e sei que muitos vão fazer o mesmo quando eu passar a sua história adiante.

Svider olhou para Eragon com os olhos azuis arregalados de surpresa. Uma última lágrima escorreu por seu rosto, mas logo ele sorriu. Aquele garoto, que não passava de um adolescente havia falado com mais sabedoria do que muitos anciões élficos. Havia perdoado alguém que acabara de conhecer, mesmo que esse alguém tenha cometido atrocidades no passado. Pela primeira vez na vida Svider se sentiu em paz.

– E você ainda se pergunta por que foi escolhido por Saphira – Svider disse e sorriu diante da confusão do outro.

– Como assim? – Eragon perguntou, retirando a mão do ombro do amigo.

– Nada, esqueça... Você vai dar um bom professor – ele murmurou, até aquele momento tinha duvidado de que Eragon conseguisse liderar a Nova Ordem, mas suas dúvidas haviam acabado. Eragon sorriu surpreso, embora ele parecesse um tanto descrente nesse ponto – E Eragon? ... Obrigado.

– Disponha – ele respondeu com um sorriso encorajador, voltando-se para a cena que se desenrolava a frente deles.

Aiedail havia se juntado ao pequeno grupo e se curvara perante os cavaleiros e dragões mais velhos, Miwin acompanhara o movimento de sua parceira e depois se afastara para o fundo do jardim com Aiedail em seu encalço. Ali também se encontravam mais seis cavaleiros e dragões, que pareceram muito felizes ao reverem as antigas companheiras. Eles ficaram quietos, somente observando o que iria acontecer.

Havia alguns jovens elfos e humanos com pequenos dragões de todas as cores já postados ao lado de seus novos mestres, seis ao todo. Só restava Svider, que parecia completamente perdido no meio do jardim.

– Acho que você já percebeu, mas eu estava completamente perdido ali. Não fazia a menor ideia do que tinha que fazer e todos ficavam me olhando, como se esperassem que eu começasse a falar fluentemente na língua antiga a qualquer momento. Eu estava sendo testado, teria que fazer alguma coisa para mostrar aos mestres para que fosse aceito.

– Isso era comum na Antiga Ordem?

– Não. Aquela era uma situação especial. Geralmente eram feitos testes, sim, mas não havia tanta gente olhando.

Eragon virou-se novamente para o jovem Svider, que parecia finalmente ter tomado uma decisão sobre o que fazer. Ele curvou-se e depois colocou os dois dedos nos lábios, dizendo em bom som a saudação.

– Atra esterní ono thelduin.

Os mestres viraram levemente as cabeças para o lado e Oromis sorriu. Juntos, todos colocaram os dois dedos sobre os lábios e responderam em coro.

– Atra du evarínya ono varda.

– Un atra mor’ranr lífa unin hjarta onr. – Svider completou a saudação, fazendo uma reverência logo em seguida.

– Muito bem, meu jovem – disse um dos humanos, com um sorriso simpatizante nos lábios. Ele possuía cabelos escuros anelados até a altura dos ombros e uma barba bem aparada. Os olhos eram verdes e ele parecia ser alguém calmo e sereno – Pode dizer-nos seu nome e o de seu dragão?

– ... Meu nome é Svider filho de Cecília e este é Deloi, senhor – ele disse com certa hesitação, dizendo o nome da mãe ao invés do pai.

– Hum, e quem é seu pai, jovem Svider? – Oromis perguntou com sua voz suave.

– Eu não tenho um pai, senhor.

– Não o conhece?

– Conheço, mas prefiro esquecer que ele existiu.

– Por que, exatamente? – Oromis perguntou, erguendo uma sobrancelha.

– Ele... Ele só desonrou minha família – Svider respondeu hesitante, mas Oromis o incentivou a continuar. Com muito custo o menino prosseguiu, ele acariciou a cabeça de Deloi e não olhou para os mestres ao falar, mas seu rosto estava rubro de vergonha – Ele era um ladrão procurado em Teirm e muitas outras cidades portuárias... Destruiu nossa honra e nossa reputação. Acabou endividando a família e deixando minha mãe desesperada. Ele não mereceria que eu o reconhecesse como pai, por isso digo que não tenho um.

– Interessante... Você disse que ele era um ladrão, não é mais, deixou de roubar? – Oromis perguntou, tamborilando os dedos na cadeira.

– Não, senhor. Ele... ele morreu na forca – assim que Svider disse isso uma imensa solidariedade pelo jovem pareceu se espalhar por entre os mestres.

– E você viu – disse Oromis com os olhos arregalados e com certa desaprovação.

Svider arregalou os olhos e lentamente fez um sim com a cabeça, seus olhos se encheram de lágrimas, mas ele não permitiu que elas caíssem.

Filhotes não devem ver coisas desse tipo. A voz de trovão de Glaedr soou na mente de todos ali, e o dragão dourado rosnou. Muitos outros seguiram o seu exemplo. O jovem cavaleiro pulou de susto ao sentir a vasta consciência do dragão em contato com a sua. Só estava acostumado a consciências menores como à de Aiedail e Deloi, mas a vastidão da consciência do dragão dourado o pegou de surpresa.

– Por que você estava lá, criança? – um elfo de cabelos escuros perguntou.

– Meus tios disseram que eu deveria ver aquilo para não ficar como meu pai e não afundar ainda mais a família, senhor.

– Isso é horrível! – murmurou um dos cavaleiros humanos.

– Por que está aqui, Svider? – Oromis perguntou, mudando completamente de assunto.

–... Para completar meu treinamento, senhor – o menino respondeu hesitante.

– E o que espera aprender?

– Gostaria de aprender magia e o manejo de armas, senhor.

– Por quê?

Svider fechou os olhos por um momento, pensando na questão. Depois de alguns minutos, em que os mestres ficaram olhando fixamente para ele, analisando-o de cima a baixo, o garoto respondeu.

– Quero mostrar para as pessoas que duvidaram de mim que posso ser muito mais do que elas pensam, que posso fazer algo certo, que posso ser alguém na vida. Eu... eu quero mostrar que sou capaz.

Os mestres assentiram levemente com as cabeças e alguns dragões remexeram-se para ficarem mais confortáveis.

– Só lembre-se, menino, ser um cavaleiro significa transmitir a paz e zelar pelas pessoas, não se tornar melhor do que elas. Compreende? – o primeiro humano que se pronunciara tornou a falar e sorriu quando Svider assentiu rapidamente.

– Pois bem, eu fico com ele – Oromis se pronunciou, levantando-se levemente de seu assento – Alguém tem algo contra a Glaedr e eu treinarmos estes jovens?

Nenhum cavaleiro ou dragão se manifestou, só assentiram, concordando que Oromis deveria treina-lo.

Muito bem, fedelhos. Vocês treinarão conosco a partir de agora. Glaedr disse gravemente para os dois jovens.

– E deverão nos chamar de Mestres ou ebrithil, entenderam? – Oromis perguntou calmamente, com um sorriso acolhedor nos lábios finos.

– Sim, sen... Mestres – Svider disse rapidamente. Deloi rosnou baixinho e curvou levemente a cabeça.

– Muito bem, - anunciou outro elfo, os cabelos eram longos e lisos eram levemente amarelados, como os claros raios do sol – Agora que todos os novos aprendizes foram aceitos, vamos ao banquete que o rei Evandar e sua família prepararam para nós.

– Quem é aquele? – Eragon perguntou para o espírito de Svider.

– Não é Vrael, se é isso que está pensando. É um dos mestres mais antigos. Foi ele quem disse que todos os Eldunarí deveriam ser transferidos para Vroengard durante o ataque de Galbatorax. Seu nome era Saladiän, ele era muito sábio, mas era convencido demais.

Eragon pensou na questão enquanto uma porta feita a estilo élfico surgia à frente deles e os levava à outra visão.

~~~~~~~~~~**~~~~~~~~~~

Um grande banquete estava preparado à frente da árvore Menoa assim que eles transpuseram o batente da porta élfica. Várias mesas esculpidas impecavelmente em uma madeira escura estavam posicionadas uma ao lado das outras. Elas possuíam centenas de pratos de todos os tipos para satisfazer os diferentes gostos dos cavaleiros sentados ali. Dragões coloridos voavam para dentro e fora da clareira, a luz do sol que batia em suas escamas era refletida no chão, formando pequenos pontos luminosos.

A grande árvore se agitava levemente e vários dragões estavam empoleirados em seus galhos. Eragon sorriu ao lembrar que Saphira fizera a mesma coisa quando adentraram na clareira pela primeira vez.

Os cavaleiros riam e conversavam em uma cacofonia repleta de alegria. Svider e Deloi estavam na ponta de uma das mesas e o garoto conversava com alguns novos cavaleiros que estavam presentes no jardim élfico há poucos momentos. Miwin estava ao lado dele, mas conversava com cavaleiros que pareciam ser seus amigos há muito tempo.

– Reuniões assim eram um pouco raras naquela época – o espírito de Svider disse ao lado de Eragon – Já que os cavaleiros viviam espalhados por todos os cantos da Alagaësia, muito raramente amigos conseguiam se reunir somente para conversar, como estava acontecendo aí.

– Você parecia muito feliz – Eragon disse ao ver o menino rindo e conversando com os outros cavaleiros. Deloi estava perto do parceiro e brincava alegremente de morder ou correr outros os filhotes. Eles faziam a maior bagunça, e muitas vezes derrubavam cavaleiros que estavam no caminho das corridas, provocando ondas de gargalhadas por toda clareira.

– E não devia estar? Havia acabado de ser aceito na Ordem e seria treinado por um dos melhores mestres existentes. Eu finalmente sentia que tinha uma família que estaria sempre comigo e isso era o suficiente para mim naquele momento – Svider respondeu de forma melancólica, que dera ele pudesse ter continuado tão inocente e pouco ambicioso como era quando criança, talvez muitas coisas horrendas não houvessem acontecido.

Eragon sorriu levemente para ele, mas seu olhar se voltou para o lugar onde os mestres estavam conversando. Oromis estava de pé em uma das raízes da Menoa falando animadamente com um elfo de cabelos escuros e rosto alvo, uma coroa magnífica estava em sua cabeça e ele usava uma bela túnica de cor clara, aquele deveria ser o rei Evandar, pai de Arya. Ao seu lado estava a bela rainha Islanzadí. Eragon notou que ela parecia mais feliz do quando haviam se conhecido. Seu rosto claro e de beleza quase etérea sorria de forma encantadora e seus olhos brilhavam de felicidade. O jovem cavaleiro não pôde deixar de admirar, novamente, o quanto mãe e filha eram parecidas.

Maud, a menina-gata, estava em pé logo atrás do rei élfico. Sua juba de mechas brancas continuava emaranhada e seus caninos pareciam mais brancos ainda. Os olhos dela voltaram-se para os dois cavaleiros que observavam a cena em silêncio. Ela inclinou a cabeça para o lado e seus dentes brancos se tornaram visíveis quando ela sorriu. Maud ergueu uma pequena mão para o alto e acenou para eles, mas logo sumiu no meio da multidão de cavaleiros com espadas coloridas.

– Todos os meninos-gatos podem nos ver? – Eragon perguntou confuso. Primeiro Angela e Solembum os viram, agora Maud também?

– Ao que parece sim, mas essa raça é tão misteriosa que é impossível ter certeza de alguma coisa. – Svider respondeu, dando de ombros.

Quando Eragon percorreu mais a fundo a clareira com o olhar lhe faltou ar... Ali estava ela. Embora ela ainda fosse criança, sua beleza parecia ter sido multiplicada por mil, tornando-a muito mais perfeita do que já era. Ali estavam os mesmos cabelos de cor escura, os mesmos olhos verdes brilhantes e o mesmo sorriso. Estava tudo ali... Arya estava ali. Ela utilizava uma túnica élfica de cor esverdeada, que se adequava perfeitamente em seu corpo, e seus cabelos brilhantes estavam presos em uma trança elaborada.

Seu coração acelerou assim que a viu rir e o som melodioso de sua risada misturou-se perfeitamente às outras vozes. Poucas vezes a vira rir, mas se encantava quando ela o fazia. E ali, Arya parecia tão mais leve e alegre, sem ter enfrentado nenhum dos sofrimentos da vida. Seu pai ainda não havia morrido e nem sua mãe. Os cavaleiros ainda estavam lá e os elfos não precisavam se esconder. Ela não precisava se esconder... Podia ser quem quisesse.

Ao seu lado estava um jovem elfo que parecia ser muito próximo à Arya. Eragon soube imediatamente de quem se tratava, Fäolin. Ele sentiu uma pontada de ciúmes ao ver como os dois elfos pareciam felizes juntos e brincavam de correr um atrás do outro por entre as mesas lotadas, mas logo esse pensamento saiu de sua cabeça. Arya merecia ser feliz. Se ela estivesse bem, Eragon estaria bem. Ele ficou feliz por ela ter encontrado essa felicidade, mesmo que não houvesse sido com ele, havia sido com Fäolin, uma pena que este tenha ido para o vácuo. Ou será que havia algum lugar após a morte? Brom havia morrido, mas retornou em espírito. Ou isso havia acontecido, ou era uma alucinação.

– Ela tinha somente seis anos de idade nessa época, mas já era fato que seria uma elfa belíssima. Você tem paladar refinado para um camponês – Svider murmurou de forma divertida ao lado de Eragon.

– O... O quê? – o jovem perguntou, sem tirar os olhos de Arya. Tentando guardar a imagem dela eternamente em sua memória.

– Vejo como olha para Arya Dröttningu. Tinha que ser uma princesa? Justo uma princesa élfica? E agora a Rainha dos elfos, pelo que eu sei. – ele disse com uma risada – Você é muito complicado, Eragon. Vive se metendo em situações impossíveis.

Eragon achou melhor ficar calado, pois sabia que seu rosto estava completamente vermelho. Seus olhos não saíram de Arya em momento algum. Ele queria que ela estivesse de verdade a sua frente. Queria poder ouvir sua voz mais uma vez...

– Por que toda essa melancolia? O trouxe aqui para que a visse. – Svider perguntou curioso.

Eragon olhou-o com surpresa, mas respondeu mesmo assim.

– Porquê... Eu sei que ela não corresponde o que sinto por ela. – Eragon disse tristemente.

– Não corresponde? Interessante... – ele coçou levemente o queixo – O que fizeram na última vez em que se viram? – perguntou com um sorriso convencido.

– Nós... Nós trocamos nossos nomes verdadeiros, mas...

– Ah! – o outro disse com um sorriso triunfante. Jogou os braços para o alto e seus olhos azuis brilharam – Quer maior declaração de amor que essa?! Você é muito exigente!

Eragon emudeceu. Não havia encarado a troca de nomes uma declaração de amor. Fora mais uma prova de verdadeira amizade, nada mais, não foi?

– Isso... Isso não importa, porque nunca mais vou vê-la – Svider apontou freneticamente para a criança contente que brincava em meio aos cavaleiros, e Eargon acrescentou impacientemente – Pessoalmente, quero dizer. Nunca mais vou vê-la pessoalmente.

– E por que não?

– Porque Angela previu que...

– Ah! – ele bufou resignado – Você ainda acredita na profecia de Angela?

– Claro. Por que não acreditaria? Tudo o que ela previu se concretizou. – Eragon respondeu, sem entender o motivo daquilo.

– Profecias não servem para nada além de bagunçar a cabeça. – Svider resmungou mais para si mesmo – As pessoas ficam tão preocupadas com o que foi previsto que deixam de ver as coisas por outros ângulos. Não tenha pressa em interpretar uma profecia, pois você pode se enganar.

– Mas ela disse que eu jamais voltaria para a Alagaësia!

– Ela disse Alagaësia?

– Não!... Ela disse esta terra. Mas dá no mesmo.

Svider riu sonoramente e repetiu as palavras de Eragon de forma debochada.

– Ela disse esta terra. Mas dá no mesmo. – ele fez uma careta – Ora, me poupe. Bem, já que você não consegue ver o óbvio, vamos até aquela mesa. Acho que há alguém lá que você vai detestar rever – Svider disse contrariado, obviamente achando engraçada a relação do jovem cavaleiro ao seu lado com a rainha.

Eragon não fazia a menor ideia do que esperar diante da declaração do amigo, mas estava pronto para descobrir. Ele sorriu enquanto andava atrás de Svider, pois a imagem de uma Arya sorridente invadiu sua memória. Ele voltou-se uma última vez para ver a criança que ela fora um dia brincar alegremente em seu lar. Eragon havia evitado pensar nela o máximo possível desde que saíra de Alagaësia, mas não o faria mais, pois isso só o fazia sofrer. A partir de agora não tentaria esquecê-la, se lembraria do amor que sentia pela rainha dos elfos. Ele sempre a amaria. Até o seu último suspiro.

Svider parou ao lado da mesa, atrás de Miwin, e fez um sinal para que Eragon se aproximasse. Ainda com a cabeça imersa em pensamento sobre Arya, Eragon se aproximou. Olhando curioso para o jovem Svider, que comia avidamente sua comida enquanto conversava com Miwin.

Deloi brincava com outros filhotes, próximo ao seu cavaleiro, até que um deles mordeu sua pata com força suficiente para arrancar sangue. O dragão marrom rugiu em agonia e o outro o soltou rapidamente. Svider gemeu de dor ao compartilhar as sensações com seu dragão.

– Jarnunvösk! O que foi que eu te disse? Sem morder! – um garoto com cabelos pretos e olhos escuros disse zangado, ele se ajoelhou no chão ao lado de seu dragão e Svider fez o mesmo enquanto Miwin curava a pata de Deloi – Me desculpe. Ele fica muito agitado quando está feliz – o menino se desculpou para Svider.

– Não se preocupe – Svider respondeu assim que viu seu dragão curado – Obrigado, Miwin. – ele sorriu para a cavaleira quando ela voltou a se sentar para comer – Aposto que o Deloi já esqueceu.

De fato, os dois dragões já estavam brincando novamente. O menino sorriu, e aquele sorriso parecia muito familiar a Eragon.

– Meu nome é Svider, e o seu? – Svider estendeu a mão em cumprimento.

O menino sorriu de novo e Eragon teve absoluta certeza de que o conhecia... mas não podia ser! Ele olhou para o cavaleiro castanho com os olhos arregalados, mas Svider somente acenou positivamente com a cabeça. Ele também não parecia feliz com aquilo.

– Prazer em conhecê-lo. – eles apertaram as mãos enquanto o outro se apresentava – Sou Galbatorix.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Por favor comentem suas opiniões sobre a história até aqui.
Até mais^^
Atra esterní ono thelduin.



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