Eragon: Wyrda un Moi escrita por Arduna


Capítulo 5
Um Velho Amigo


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!! Eu voltei!!!! Sim, demorei para postar de novo, né? Mas esse capítulo foi no mínimo... Difícil de escrever, além do mais a escola vem me ocupando a maior parte do tempo (que novidade).
Mas enfim, espero que gostem do capítulo tanto quanto eu gostei de escrever.
Boa leitura^^



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Assim que Eragon viu a espada seu estômago se revirou, ele teve vontade de simplesmente sair correndo para o mais longe possível daquela coisa. Teve vontade jogá-la de volta ao mar e jamais ter que pensar nela, mas infelizmente não podia fazer aquilo, não podia virar as costas ao menor sinal de dificuldade. Aquela espada podia ser sua única chance de entender o que havia acontecido no passado. Eles a haviam encontrado e deveriam usá-la. Mais uma vez sua curiosidade falou mais alto que o bom senso.

Não gosto disso, Pequenino. Se Svider e Deloi se arrependeram pouco me importa, mas essa espada está impregnada de magia negra. Pode mata-lo! Saphira rugiu contrariada, cada vez mais achava que Eragon assumia coisas de mais, ele se preocupava muito em fazer o que achava que tinha que ser feito sem se preocupar se sobreviveria a isso.

Sei que está preocupada, mas eu tenho que fazer isso. De algum modo podemos ter algumas respostas, não posso recusar. Eragon respondeu calmamente tentando acalmar seu dragão.

Nasuada tem razão. Entre você, Murtagh e Roran eu não sei quem é mais teimoso!

Eragon sorriu para Saphira. O cavaleiro aproximou-se da amurada do navio e Saphira parou de nadar por um momento para que seu cavaleiro fizesse carinho em suas escamas.

Vou ficar bem. Você sabe disso, e sabe que tenho que que fazer isso. Além do mais, vou estar no navio o tempo todo, você estará aqui para me proteger, certo?

Saphira permitiu que uma centelha de esperança aparecesse em seus olhos, embora achasse difícil proteger Eragon daquela coisa sem machuca-lo. Ela não sabia como deveria ajuda-lo se a espada começasse a sugar sua energia vital de novo, da última vez com a união de todos a bordo eles tinham conseguido, mas será que conseguiriam uma segunda vez? Mesmo assim ela sabia que Eragon estava certo, eles precisavam saber o que havia acontecido, deveriam saber disso, além do mais seu cavaleiro não iria parar até saber de todas as respostas.

Vá, Pequenino. Vou estar bem aqui se precisar de mim.

Eu sei que vai. Eragon disse suavemente enquanto acariciava as escamas brilhantes de Saphira.

Os elfos tinham deixado tudo preparado para a “inspeção” da espada. O objeto tinha sido colocado ainda envolto em panos sobre uma pequena mesa de mogno que fora colocada lá por Alissa.

Ninguém parecia muito contente com a ideia de Eragon. Os elfos olhavam com desconfiança para o objeto, sussurravam insultos aos seus antigos donos. Mesmo depois da história contada por Eragon, eles não acreditavam que renegados pudessem se redimir. Na cabeça de todos, até mesmo na de Blödhgarm, uma vez, wyrdfell sempre wyrdfell. Aquela podia ser uma armadilha para matar Eragon, mas não contestaram o cavaleiro, se ele tivesse razão, muita coisa poderia mudar para sempre, mas se estivesse errado... Bom, ninguém queria pensar nessa possibilidade. Eragon parecia confiante com relação à suas ações e os elfos tinham aprendido durante a guerra contra Galbatorix que podiam confiar no jovem cavaleiro. Teriam que arriscar, pelo menos dessa vez.

Os Eldunarí passavam uma lista de recomendações para o jovem cavaleiro, uma lista bem grande e complexa, deixando Eragon um pouco confuso sobre alguns pontos, mas cada vez que perguntava os velhos dragões davam um jeito de deixar as coisas mais complicadas, em vez de explicar eles aumentavam as dúvidas do cavaleiro, de modo que Eragon desistiu de perguntar e ficou quieto apenas ouvindo as instruções.

Lembre-se. Aconselhou Umaroth pela quarta vez, para garantir que o cavaleiro guardasse bem a lição. Não deixe que a espada o domine completamente. Você não deve se entregar. Svider e Deloi podem ter se redimido, mas mesmo assim foram corrompidos por magia negra. Os encantamentos que cercam a arma são muitos, são maléficos. Deve se manter sempre atento, nunca se deixe levar, se isso acontecer nem nós conseguiremos ajuda-lo. Tome cuidado.

Se achar que as coisas estão saindo do controle use o nome dos nomes, ele será sua única arma. Acrescentou Glaedr, repetindo o mesmo conselho pela quinta ou sexta vez seguida.

Eragon fazia o possível para não se impacientar, sabia que os velhos dragões estavam preocupados com ele e que só queriam seu bem estar, mas ficar ouvindo os mesmos conselhos o tempo todo o estava irritando.

Eu sei mestres. Vou tomar cuidado. Apesar de sua ansiedade, o cavaleiro conseguiu dizer calmamente as palavras.

No fundo estava realmente surpreso com a preocupação dos velhos mestres, nunca esperaria um tratamento assim de dragões. Geralmente só Glaedr e Umaroth se pronunciavam, mas dessa vez mais um dos corações falou.

Matador de Rei?

Assim que as palavras foram ditas Eragon soube que era um dragão bem jovem, na verdade era uma fêmea. O cavaleiro procurou entre os Eldunarí pela fêmea que falara, mas não conseguiu encontra-la.

–Cuaroc? – Eragon chamou em um sussurro, mas sabia que tinha sido ouvido.

O guardião não se mostrava desde que tinham saído de Alagaësia, na maior parte do tempo Eragon esquecia-se de sua presença, mas Cuaroc estava sempre ali, vigiando os ovos e Eldunarí, cuidando de todos eles. Ao ouvir seu nome o guardião veio de seu lugar perto da amurada do Talíta. Uma cadeira tinha sido colocada ali para que o guardião se sentisse mais confortável. Cuaroc nunca se mexia, mas sua espada estava sempre sobre seus joelhos e ele a usaria ao menor sinal de ameaça.

Cuaroc aproximou-se do cavaleiro, seus pés faziam grande barulho no chão de madeira da pequena embarcação. O guardião olhou para Eragon e acenou levemente com a cabeça em sinal de que havia entendido o desejo do cavaleiro. Eragon olhou intrigado quando a estátua curvou-se sobre a pilha de Corações e pegou um deles. Era um Eldunarí esverdeado, muito pequeno, menor que qualquer outro que o cavaleiro já tivesse visto. Cuaroc segurou-o com uma mão e o entregou a Eragon, depois voltou em silêncio para a sua cadeira e sentou-se, ficando novamente parado.

Eragon notou os olhares curiosos dos elfos, mas não se importou com isso. Seu olhar se focou no pequeno Eldunarí em seus braços. Era tão pequeno, Eragon podia segurá-lo tranquilamente com uma única mão. O cavaleiro admirou a cor verde clara do coração. Pequenos pontos verde-escuro dançavam no interior da esfera brilhante. Era de fato muito bonito, a dragão devia ser muito bela quando ainda tinha um corpo, isso o fez pensar porque ela tinha transferido sua consciência para o Eldunarí.

Sim? Eragon perguntou calmamente, mas a dragão não respondeu, ele viu que ela hesitava, como se não estivesse muito certa do que dizer. Pode me contar o que quiser. Não mordo.

Assim que disse essas palavras uma torrente de imagens inundou a mente do cavaleiro. Ele viu quando um belo dragão esverdeado nasceu para uma jovem humana de cabelos dourados, a menina não devia ter mais do que dez anos de idade. Viu quando o dragão fora batizado de Aiedail, como a estrela da manhã. Eragon testemunhou o treinamento de dragão e cavaleira, sentiu a alegria de Aiedail quando conseguiu voar pela primeira vez ou quando cuspiu fogo. Viu as duas crescerem e se graduarem na ordem, a felicidade e a amizade que ambas compartilhavam, o amor entre as duas e o laço de dragão e cavaleiro se tornando cada vez mais forte.

Foi aí que as imagens mudaram.

Eragon viu uma batalha acontecendo, Aiedail e sua cavaleira lutando contra outros cavaleiros. Viu a morte levando muitos deles e cadáveres espalhados por todos os lados. Eragon reconheceu Svider e Deloi e viu quando as duas os confrontaram. Observou quando lentamente perdiam a batalha e quando Svider atingiu a cavaleira com a espada. Sentiu a dor de Aiedail ao ver sua parceira morrer, ela acabou transferindo sua consciência para o Eldunarí, mas foi levada para Galbatorix e forçada a servi-lo. Tinha perdido sua companheira de corpo e alma, tinha perdido seu corpo, tinha sido forçada a servir o culpado pela morte de sua cavaleira, tinha enlouquecido.

Tome cuidado. Sussurrou Aiedail na mente do cavaleiro assim que as imagens desapareceram. Não me importo se eles se redimiram ou não. Aqueles renegados tiraram minha cavaleira de mim e eu não vou perdoa-los nunca. Não se deixe levar cegamente por qualquer coisa que a espada lhe mostrar. Eles mataram. Destruíram vidas. Destruíram a minha vida. Nada vai mudar isso. Não deixe Saphira como minha cavaleira, Miwin, me deixou.

Dizendo isso Aiedail calou-se. Eragon sentiu o pesar que emanava dela. Sentiu sua tristeza e seu desespero, ele tinha que consola-la, mal a conhecia, mas tinha se apegado a ela.

Não se preocupe, Aiedail. Vou ser cuidadoso, nada vai acontecer a mim ou à Saphira.

Eragon sentiu o momentâneo alívio partir da jovem dragão e não pôde deixar de sorrir levemente assim que Aiedail falou com a voz suave.

Isso é bom. Boa sorte, cavaleiro de dragão. Que as estrelas o acompanhem.

**

Lira encarregou-se de retirar os panos rasgados e velhos que cobriam a espada. A elfa fez isso da forma mais rápida que conseguiu, deixando bem claro todo o seu desprezo pelo objeto. Assim que a espada ficou livre Lira afastou-se rapidamente, segurando os panos nas mãos para que pudessem ser usados se fosse necessário. Ela odiava aquela ideia, temia que se arrependeriam daquilo. Eragon tinha ficado muito fraco da última vez. O que poderia acontecer com ele naquele momento?

Lira parou tensa ao lado do cavaleiro. Ela o observou com o canto dos olhos tentando ver qualquer sinal de hesitação que pudesse usar para fazê-lo mudar de ideia, mas infelizmente não viu nada daquilo nele. Eragon mostrava uma confiança anormal ao olhar para a espada, com os olhos levemente cerrados pela concentração enquanto ele observava todos os detalhes da arma.

–Tem certeza de que quer fazer isso, Shur'tugal? Não seria melhor deixar tudo isso de lado? – a elfa simplesmente não se aguentou mais e teve que falar, ela nunca fora conhecida por sua paciência quando morava na floresta, na verdade era conhecida por sua impaciência e agitação quando problemas ocorriam.

Eragon olhou-a com um sorriso seguro, ele não se sentia nem de longe tão confiante como aparentava, mas havia aprendido com os elfos a esconder suas expressões. Se ele mostrasse fraqueza agora, ninguém permitiria que ele fizesse o que tinha que fazer, o impediriam e a espada seria jogada no mar. Ele não podia deixar que isso acontecesse, pelo menos não até saber o que havia acontecido com Svider e Deloi. Por isso sorriu para Lira ao ouvir a preocupação na voz dela, se ele fraquejasse a elfa faria de tudo para impedi-lo de examinar a espada, ela e os outros iriam protegê-lo como haviam sido incumbidos de fazer.

–Não se preocupe. Vai dar tudo certo – ele assegurou. Mentalmente agradecendo por sua voz não ter saído tremida, muito baixa ou muito alta.

–Mas... E se algo der errado? – Lira perguntou erguendo uma sobrancelha.

–Vou me defender. Tenho o nome dos nomes comigo, posso cuidar de mim – Eragon afirmou com muito mais de confiança do que sentia, mas ficou satisfeito quando a elfa simplesmente assentiu, confiando nas palavras dele.

–Estamos prontos, Matador de Espectros – Blödhgarm disse olhando para o jovem cavaleiro com os grandes olhos amarelos levemente franzidos de preocupação.

Ele e os outros elfos estavam postados em espaços regulares em um círculo ao redor da espada. Todos atentos a cada movimento do cavaleiro, a cada gesto e a cada expressão. Prontos para intervir a qualquer momento. Lira juntou-se a eles no círculo, ficando entre Lifaen e Blödhgarm.

Eragon acenou levemente com a cabeça para os elfos e caminhou lentamente em direção à espada sem saber ao certo o que deveria fazer com ela, mas seu corpo se moveu sozinho. Seus pés andaram calmamente pelo convés do navio e ele se agachou diante da arma, olhando-a fixamente por alguns momentos, observando o cabo cravejado de joias e a lâmina de cor marrom com as bordas afiadas mortais para qualquer inimigo.

Boa sorte, Pequenino. Vou estar aqui o tempo todo. Saphira sussurrou na mente dele. Eragon não pôde deixar de sorrir, tocado pela preocupação dela.

Eu sei, Saphira. Até daqui a pouco.

Dizendo isso o cavaleiro tocou firmemente o cabo da espada com a mão direita, fechando seu punho sobre as grandes joias marrons. Ele não sabia ao certo o que estava fazendo, ficou esperando por alguns segundos para ver se algo acontecia, mas a espada continuou imóvel.

Um minuto se passou... Depois dois... Dois e meio...

Eragon começou a perder as esperanças de que algo pudesse acontecer, estava prestes a soltar a espada quando um grande choque percorreu seu braço. Sua Gedwëy Ignasia começou a arder loucamente, lançando um brilho prateado sobre a espada e o cavaleiro. Ele ficou rígido com a súbita mudança e nunca soube explicar ao certo o que aconteceu em seguida. Nem os elfos, nem os Eldunarí ou mesmo Saphira conseguiram lhe dizer exatamente o que aconteceu. A única coisa que Eragon conseguiu descrever sobre o acontecimento anos depois foi que ficou momentaneamente cego pelo brilho da Gedwëy Ignasia e depois o mundo sumiu, deixando-o na total escuridão, flutuando em um mar de trevas.

**

Eragon ficou flutuando na escuridão por muito tempo, pelo menos foi essa a impressão que ele teve. Era impossível medir o tempo naquele lugar, se é que era um lugar, parecia mais um vácuo. Sem som, sem vento, sem objetos, sem vida. Somente Eragon.

Ele não sabia se estava se movendo ou se estava parado no mesmo lugar. Mexeu os braços e as pernas tentando se movimentar, mas ele não conseguia enxergar se havia tido êxito ou não. A escuridão era absoluta, de forma que ele decidiu fechar os olhos, o que não fez a menor diferença.

O cavaleiro tateou suas roupas e constatou que não havia nada faltando, até Brisingr estava ali, o que era estranho, mas ele ficou aliviado por sua espada estar consigo. Nenhum cavaleiro é o mesmo sem sua espada.

Eragon nunca soube quanto tempo ficou no escuro. Poderiam ter sido minutos ou horas. O silêncio era tão absoluto que chegava a ser incomodador. Não havia simplesmente um único som, mas os ouvidos do cavaleiro insistiam em ficar zunindo. Sem nada para fazer, ele expandiu lentamente sua mente, esperando o tempo todo um ataque, mas não houve nenhum. Eragon não encontrou uma única mente naquele lugar, aos poucos ele relaxou ao ver que não havia perigo, deixando sua mente vagar para onde quisesse.

Ele conseguia sentir vagamente a presença de Saphira em algum lugar nas profundezas de sua consciência pelo elo que tinham, mas ele estava entorpecido e fraco, como se sua parceira estivesse a quilômetros de distância.

Saphira?

Eragon tentou chamar mentalmente, ele esperou pela resposta dela, mas sua parceira não respondeu. Tentou mais algumas vezes chama-la, mas o resultado foi igual. O cavaleiro tentou chamar Blödhgarm ou qualquer um dos outros elfos, mas ninguém respondeu. O mesmo aconteceu quando tentou chamar os Eldunarí. Nem mesmo Cuaroc o ouviu.

–Que ótimo – o cavaleiro murmurou com sarcasmo, sua voz ecoou na escuridão. Ele não podia se comunicar com ninguém, estava completamente sozinho.

Onde ele estava é que era o problema. Talvez tudo isso estivesse acontecendo em sua mente e ele ainda estivesse no Talíta, mas e se isso não tivesse acontecido? E se ele tivesse sido levado a outro lugar? E se estivesse mesmo flutuando em um vácuo? Eram muitos ses sem resposta. O que ele faria para sair dali?

Se achar que as coisas estão saindo do controle use o nome dos nomes, ele será sua única arma.

As palavras de mestre Glaedr vieram a sua mente como navalhas, deixaram tudo mais claro. O cavaleiro tinha abrido os olhos momentaneamente, mas voltou a cerra-los para que se concentrasse o máximo possível. Ele sentiu o poder do nome dos nomes o preencher, estava pronto para usá-lo. Eragon respirou fundo para pronuncia-lo quando ouviu uma voz que jamais esperava ouvir de novo.

–Eu não faria isso se fosse você, rapaz.

Eragon engasgou com o ar que havia inspirado ao ouvir as palavras. Aquilo era simplesmente impossível! Ele abriu os olhos e girou a cabeça rapidamente, procurando a origem do som. Foi então que ele o viu. Envolto em uma luz prateada estava o mesmo rosto, o nariz de águia, os cabelos prateados, as sobrancelhas grosas e os olhos profundos. Estava tudo lá. Mas... Ele não podia estar lá! Ele estava morto. Eragon o tinha visto morrer, ele não se atreveu a acreditar. Era bom demais para ser verdade, mas mesmo assim sussurrou:

–... Brom?

O velho homem sorriu ternamente ao ouvir seu nome, fazendo uma reverência exagerada enquanto mexia a mão em círculos a sua frente e deixava uma mão a suas costas. Ele usava um manto de um verde escuro sobre os ombros, uma bainha azul estava presa a sua cintura e Eragon pôde distinguir uma túnica élfica sob o manto. O capuz estava jogado para trás, deixando seus cabelos prateados a mostra, a cor era ainda mais proeminente com o brilho levemente prateado em que Brom estava envolto, dando-lhe uma aparência quase etérea.

–É um prazer revê-lo, Eragon. O que Oromis disse é verdade, você cresceu – Brom soltou uma sonora gargalhada ao se erguer e ver a expressão pasma no rosto do jovem – Ora, não pareça tão surpreso.

–O-Oromis? E-Ele... Falou? Meu deus! Isso é impossível! – Eragon coçou a cabeça e fechou os olhos com força, tentando crer que era tudo um pesadelo... Ou uma sonho, que seja!

Seus pensamentos foram interrompidos por outra gargalhada de Brom. Eragon olhou-o com desconfiança.

–Como posso saber se é mesmo o Brom? – o jovem cavaleiro apontou para o peito do velho homem sorridente à sua frente, para enfatizar a ameaça ele tirou Brisingr da bainha e a apontou para o suposto Brom.

–Que bom que perguntou! Vejo que se tornou precavido, isso é muito bom, muito bom mesmo. Os elfos lhe deram uma boa espada, não é? Realmente é uma das melhores que eu já vi. Tem muita sorte, rapaz – o homem pensativo coçou a barba branca e levemente encaracolada que caia sobre seu peito.

–Não respondeu à pergunta. Prove que é o Brom. Diga uma coisa que só ele saberia – Eragon tentava se convencer de que aquilo não era real, pois se fosse ele ficaria satisfeito e se não fosse, ele não se decepcionaria. Era impossível que seu... Seu pai estivesse ali. Não era?

–Tudo bem, tudo bem. Não quer brincar, não? - Brom ergueu as mãos acima da cabeça em um gesto de rendição, mas ainda sorria orgulhosamente e Eragon não entendeu o pretexto para aquele sorriso – Olhe, eu sou Brom – ele começou de forma brincalhona, mas Eragon só ergueu uma sobrancelha e ergueu um pouco mais a espada. O homem bufou algo como “Onde está o seu senso de humor?” ou talvez tenha sido “Seu olfato é um horror”, mas provavelmente era a primeira, pois como Brom poderia saber se o olfato de Eragon era um horror? E o que o olfato tinha com aquilo? Não fazia o menor sentido.

–Eu era um “contador de histórias” em sua aldeia – ele continuou destacando bem as aspas na frase – Claro, isso era um disfarce para esconder minha verdadeira identidade e... – Brom hesitou um pouco antes de prosseguir, olhando atentamente para todos os movimentos do jovem cavaleiro com seus olhos atentos – Minha ligação a você.

Eragon perdeu a respiração. Ele tinha tocado em um ponto crucial, ninguém jamais saberia o grau de parentesco entre Eragon e Brom, pelo menos não quando o velho ancião ainda era vivo.

–Eu... Eu não devia ter ido morar em Carvahall. Oromis disse que seria perigoso demais, para você e para mim, mas eu não dei ouvidos, não é? – ele murmurou com pesar, sacudindo os ombros levemente, mas ainda olhando fixamente para Eragon.

–Continue – o jovem cavaleiro respondeu rispidamente, sem se atrever a acreditar que aquele era o Brom de verdade. Não podia... Não podia ser.

–Como queira – Brom sorriu tristemente, mas ele logo continuou – Eu não conseguia me separar de você. Simplesmente não suportaria a ideia de perdê-lo também. Primeiro foi Saphira, depois... sua mãe, Selena. Eu não conseguiria viver sem você. Apesar de eu não tê-lo criado como meu próprio filho, como era minha vontade, eu pude vê-lo crescer. Isso para mim foi muito melhor do que qualquer outra coisa que a vida poderia me dar – Brom sorriu e uma lágrima prateada escorreu por sua face – Meu... Meu filho.

Eragon abaixou a espada devagar. Sua mão tremia muito, de modo que foi difícil para ele coloca-la na bainha, ainda mais sem olhar, pois não tirava os olhos de Brom, mas assim que o fez ele ficou encarando sem reação o velho barbado que estava a alguns passos de distância, mas Eragon não ousou se mexer. Temia que se piscasse ou virasse o rosto, Brom sumiria e ele ficaria de novo na escuridão.

–É... É impossível – o jovem cavaleiro sussurrou arregalando um pouco mais os olhos castanhos – Você morreu. Eu vi quando você se foi. Não... – Eragon parou momentaneamente para continuar com a pouca força que lhe restava – Não consegui salvá-lo. Eu não consegui. Não tinha capacidade para isso. Permiti que você morresse.

Brom de repente fez uma coisa que Eragon nunca imaginaria vindo dele. O velho aproximou-se com três passadas rápidas e precisas, como se houvesse algum chão onde estavam, e então abraçou o filho com força.

Eragon ficou momentaneamente em choque, sem conseguir reagir ao gesto dele... De seu pai. Mas por fim o cavaleiro cedeu, abraçando Brom de volta com a mesma força deste. Eragon finalmente deixou as lágrimas escorrerem e apoiou a cabeça no ombro de Brom, deixando-se levar pelo momento.

Ele notou que Brom também chorava, mas o velho contador de histórias não o soltou por um bom tempo e os dois ficaram ali. Em um abraço apertado e sofrido, finalmente vendo exatamente quem eram.

Quando os dois se separaram Eragon notou que estava uns dois centímetros mais alto do que o velho ancião, mas isso não tinha a menor importância naquele momento. Pela primeira vez em sua vida não viu Brom como o contador de histórias, ou como o criador dos Varden, também não o viu como cavaleiro de dragão. Para ele aquele era seu pai, seu mentor, seu amigo.

Brom tinha várias lágrimas escorrendo por seu rosto, mas ele sorria radiante. O contador de histórias colocou uma mão sobre o ombro do filho e sorriu tristemente.

–Meu... filho – disse ele saboreando as palavras com um largo sorriso.

Eragon sorriu também. Ele estava falando com seu pai! Devia ter morrido ao encostar na espada, era a única explicação, mas ele não conseguia entender. Aquele não parecia ser o paraíso, nunca o tinha imaginado daquela forma. O sorriso de Brom sumiu lentamente e ele ficou sério.

–Olhe, preste muita atenção às minhas palavras, pois não tenho muito tempo – ele esperou até que Eragon assentisse e então continuou – A viagem que você realizará agora nunca foi feita antes. Você verá o passado, mas não em um sonho ou em visões, nem haverá outras pessoas para mostrarem suas memórias. Você vai literalmente ver o passado. Esse é um feitiço que ninguém nunca realizou até hoje, como você bem sabe. Os que tentaram, morreram, mas você não está sozinho.

–O quê? Como não estou sozinho? Que história é essa? Arya me disse que era impossível ver o passado, como vou fazer isso? – Eragon simplesmente não conseguiu segurar a torrente de perguntas, mas parou assim que viu Brom revirar os olhos.

–Nisso você não mudou nenhum pouco, tem sempre milhares de perguntas para fazer – Brom sorriu com suavidade – Svider planejou muito bem o que queria que as pessoas fizessem quando encontrassem Mirovir. É o nome da espada – esclareceu ele antes que Eragon pudesse fazer a pergunta – Eu não gostava muito de Svider, mas tenho que admitir, ele era inteligente – Eragon não deixou ne notar que Brom havia usado o tempo passado – Junto com Deloi eles descobriram como ver o que aconteceu no passado, mas isso requer uma grande quantidade de energia como você já deve saber, certo? – Brom não esperou a resposta de Eragon e continuou – Por que você acha que encontrou essa passagem de diamantes? Colinas feitas com pedras preciosas recheadas de energia? Svider as criou para que o feitiço pudesse ser executado.

Eragon abriu a boca em um perfeito “O” quando ouviu as informações.

–Quer dizer que Svider fez A Passagem de Prata?

–Passagem de Prata? É, esse é um bom nome, boa escolha – Brom piscou levemente para ele, mas continuou impassível – Sim, Svider criou a passagem quando saiu de Alagaësia, fugindo de Galbatorix.

–Mas...

–Posso falar primeiro? – perguntou Brom irritado com as contínuas perguntas do rapaz – Enfim, você saberás as respostas durante a sua, anh, visita ao passado de Svider.

Assim que Brom disse isso uma porta de madeira apareceu atrás dele. Feixes de luz passavam pelas frestas da porta e Eragon pôde ouvir vozes e música vindo dali.

–Assim que passar por aquela porta você estará no passado. Tudo o que vir já terá acontecido, você não poderá mudar. Nem será visto na verdade. Será invisível para todos lá. Lembre-se, só estará lá para observar, então preste atenção em tudo.

Eragon tentou assimilar todas as questões, mas não conseguiu.

–Isso tudo é real? Ou está acontecendo em minha mente?

–Oh, sim. Está acontecendo em sua mente, mas por que não seria real? – Brom sorriu de novo, Eragon não lembrava-se de vê-lo tão feliz em vida – Vá agora. Você será avisado quando for hora para retornar ao Talíta.

Eragon fez um sim com a cabeça. Queria conversar com Brom sobre tantas coisas, mas aquele não era o momento certo. Ele tinha que ir em frente, talvez encontrasse Brom de novo e então poderiam conversar. O cavaleiro começou a andar até a porta, era como se houvesse um chão abaixo dele, mas ao mesmo tempo não houvesse nada ali. Estranho. Foi a única coisa que Eragon conseguiu pensar sobre o assunto.

–Eragon, espere – Brom chamou atrás dele.

O cavaleiro parou com a mão erguida para a maçaneta da porta e virou-se para encarar o antigo mentor.

–Estou orgulhoso de você. Sua mãe também está. Todos nós nos orgulhamos de quem se tornou e eu principalmente me orgulho de seu progresso e sua maturidade, nem parece o jovem irritadiço e imaturo que conheci em Carvahall.

Eragon abriu a boca e a fechou, sem saber o que dizer, mas por fim sorriu um pouco encabulado pelo elogio. Brom sorriu para ele de novo e disse suas últimas palavras.

–Vamos nos ver em breve. Muito antes do que imagina. Adeus, meu filho. Que as estrelas o guiem.

Eragon olhou para Brom uma última vez, tentando gravar cada detalhe dele na memória.

–Adeus... Pai.

Ele viu Brom sorrir de novo, mas virou-se para ir embora, precisava partir. O jovem cavaleiro respirou fundo e segurou na maçaneta de metal da porta, girou-a suavemente e a abriu para logo depois atravessá-la e ver o que o aguardava do outro lado.


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Notas finais do capítulo

Wyrdfell: Nome élfico para Renegados.
Shur'tugal: cavaleiro de dragão.
Gedwëy Ignasia: palma cintilante.

É isso por hora. Vou ver se consigo postar o próximo capítulo durante esse feriado, mas não prometo nada. Talvez estejam pensando que esse capítulo foi meio desnecessário, mas eu simplesmente fiquei inconformada quando Brom morreu. Desde que isso aconteceu eu fiquei torcendo para que Brom aparecesse de novo, principalmente quando descobrimos que ele era pai do Eragon, mas como isso não aconteceu na série eu decidi colocar ele na minha história.
Espero que tenham gostado do capítulo e até mais!^^
Sé onr sverdar sitja hvass!



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