Eragon: Wyrda un Moi escrita por Arduna


Capítulo 16
Reta Final


Notas iniciais do capítulo

Olá de novo, Cavaleiros!
Mil perdões pela demora! Mas eu estava muito receosa em postar esse capítulo, porque finalmente a viagem do Eragon chegou ao fim, e agora a história tomará um novo rumo.
Antes de tudo, quero agradecer a JuliaBueno9 e a Mandy por favoritarem a história. Muito obrigada! Esse capítulo é para vocês!
Boa leitura a todos^^
Ps.: Leiam as notas finais!
Xoxo



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/595963/chapter/16

Eragon atravessou a nova porta sem saber ao certo o que esperar. Algo lhe dizia que sua viagem ao passado estava terminando. Bom, não algo, mas alguém. Svider parecia nervoso, ansioso ou terrivelmente perturbado, Eragon não sabia qual dos três. As mãos do cavaleiro castanho estavam sempre tremendo, mesmo cerradas em punhos, e o jovem havia visto uma expressão estranha nos olhos do outro, era dor, instabilidade, ou algo mais, ele não tinha certeza disso também. Mas a atitude nervosa era indicativa suficiente de que se aproximavam do fim. E Eragon estava dividido entre a ansiedade por saber o que aconteceria e o medo de ver como tudo iria acabar.

Eles estavam do lado de fora da fortaleza na Espinha. As grandes torres feitas de granito escuro erguiam-se sombriamente contra o céu estrelado. A floresta estava silenciosa como de costume, e a lua começava a subir no céu. A única outra iluminação provinha das janelas da fortaleza, vindo de velas e lamparinas a óleo. Uma suave brisa soprava incessantemente, deixando a noite agradável.

Svider andava calmamente ao redor da Fortaleza, fazendo uma espécie de ronda misturada com caminhada noturna. Uma bengala de caminhada estava em suas mãos, e Svider a girava de um lado para o outro de forma descontraída. Deloi não era visto em lugar algum, provavelmente estava caçando.

— Esta foi uma de minhas últimas noites aqui. – o espírito de Svider disse ao lado de Eragon.

— Por quê?

— Olhe para trás, Eragon.

O mais jovem ergueu uma sobrancelha, mas se virou mesmo assim, investigando a escuridão a sua volta. Mesmo com sua visão aguçada, demorou alguns minutos para que visse um leve movimento em sua visão periférica: uma sobra passando momentaneamente pela luz de uma das janelas. Um arrepio passou por sua espinha ao reconhecer a forma hominídea espreitando no escuro da noite e ele se tornou repentinamente consciente do par de olhos que os observavam silenciosamente.

— Eu estava sendo seguido há algum tempo. – disse o espírito interrompendo os pensamentos de Eragon bruscamente. – Como você já sabe, Galbatorix desconfiava de mim desde a investida aos anões. Ele mandou dois espiões me vigiarem, mas infelizmente, só notei um deles, no caso, foi esse que estava me seguindo agora. Ele era um mago forte e extremamente habilidoso em magia de ocultação, mas eu tinha um pequeno truque na manga, eu senti sua energia, isso nenhum mago consegue esconder.

— Sentiu sua energia? – Eragon perguntou confuso, mas Svider se recusou a responder, por isso o cavaleiro resolver perguntar outra coisa. – E quem foi o outro espião?

— Um Ra’zac.

— O quê!?

— Tenho certeza de que já teve contato com essas criaturas, para resgatar a noiva do seu primo, certo? – Svider esperou Eragon assentir antes de continuar. – Então sabe que suas mentes não podem ser percebidas, não me pergunte o motivo. O Ra’zac me espionou desde o ataque dos anões, portanto, Galbatorix sabia que eu estava construindo alguma coisa, embora ele não soubesse o que, já que eu e Deloi nunca falávamos nossos planos em voz alta. Além do mais, os Ra’zac não nos seguiram através do mar. Enfim, Galbatorix sabia o suficiente, mas mesmo assim, mandou um segundo, para que eu percebesse e o enfrentasse. Acho que ele ainda esperava descobrir que tudo não passava de um mal-entendido...

“O Ra’zac conseguiu interceptar uma de minhas mensagens para os Varden e levou a informação para Galbatorix, selando nosso confronto. Até hoje, eu acho que Galbatorix sabia que eu iria fugir para o deserto, porque tudo aconteceu de forma muito bem planejada para ser mero acaso”.

— O que aconteceu? – Eragon perguntou ansioso, mas ao mesmo tempo hesitante, uma parte dele tinha uma ideia de como tudo havia acabado.

Svider não respondeu, mas não teve necessidade, porque naquele instante a versão viva de Svider virou-se com um movimento rápido e lançou a bengala de caminhada na direção do perseguidor. Diante dos olhos de Eragon a bengala se dobrou a volta do espião, enrolando-o como uma cobra faria para matar sua presa. Uma camada de luz dourada cobriu o estranho e este gritou de surpresa ao cair no chão, sem conseguir ficar de pé.

— Quem é você e o que faz aqui? – Svider perguntou com a voz enganosamente calma. – Por que está me seguindo?

O outro não respondeu, mas seu corpo se contorceu com o riso.

— Se não quer falar, tudo bem. Eu posso arrancar a resposta à força.

O espião ficou em silêncio por mais alguns momentos enquanto seu corpo se contorcia silenciosamente, em uma mistura de riso e esforço para se libertar da armadilha em que caíra. Finalmente ele pareceu desistir e sua forma ficou subitamente relaxada.

— Tolo. – ele sussurrou, sua voz era baixa e rouca, repleta de ódio.

— Perdão?

— Você é um tolo. – o espião repetiu, levantou a cabeça e sorriu sombriamente. Seus olhos brilhavam dourados na escuridão e seus cabelos negros eram curtos o suficiente para não cobrirem sua visão. A pele era morena e algumas tatuagens estranhas marcavam seu rosto e braços. – Desafia o rei bem de baixo do nariz dele.

— Do que está falando?

— Não se finja de idiota. Ele sabe... Ele sempre soube.

— Eu não vou pedir de novo. O que diabos você está falando? – Svider se aproximou alguns passos, a voz aumentando uma oitava em sua crescente raiva.

— Galbatorix está vindo! – o espião gritou. – Ele sabe da sua traição e vai fazê-lo pagar.

— Não sabe do que está dizendo. – Svider respondeu com a voz cuidadosamente controlada, sua expressão tornando-se mais fria que o gelo.

— O rei viu as cartas. As cartas sobre os Varden. Vai negar isso?

Com um urro quase animalesco, Svider ergueu uma das mãos e fez o espião flutuar a sua frente, depois sussurrou uma única palavra.

Brisingr.

O espião foi envolto em chamas douradas quase imediatamente, gritando sua aflição para todos que pudessem ouvir. As tatuagens em sua pele brilharam fracamente, tentando lutar contra o poder do cavaleiro, mas elas se apagaram em pouco tempo e o mago testemunhou pela primeira vez o medo da morte.

Seus gritos se espalharam pela a noite, transformando-se em grunhidos de dor até que por fim os sons silenciaram completamente.

Deloi? Svider chamou com a voz tremida enquanto deixava o cadáver carbonizado do mago despencar no chão.

Estou aqui, parceiro. O que fazemos agora?

Svider suspirou enquanto se ajoelhava na frente do morto e fechava os olhos dourados.

Vamos embora. Nossa espionagem acabou.

~~~~~~~~~~**~~~~~~~~~~

Eragon ultrapassou a nova porta sem nem perceber, e quando viu, já estava em uma nova parte da história. O cavaleiro anda estava um pouco sem reação depois da última experiência, um entorpecimento que ele geralmente experimentava nos momentos conflituosos ao fim de uma batalha. Depois de um tempo esse torpor desapareceria e ele seria atormentado pelas lembranças das mortes e da dor. Por isso ele parou de pensar no que acabara de ver e passou a se concentrar no novo ambiente, permitindo-se ficar entorpecido por mais tempo.

Nem precisou de muito esforço. As montanhas Beor eram impossíveis de ignorar.

Os altos picos se elevavam por quilômetros a fio. Subindo tão alto que desapareciam em meio ao mar de nuvens brancas. Neve depositava-se nos picos mais altos, refletindo a luz do Sol e tornando difícil olha-la fixamente. Em altitudes mais baixas, árvores altas pontilhavam até onde a vista alcançava. O som de água batendo nas pedras indicava que estavam perto de uma cachoeira e um pequeno vale se abria em meio a duas grandes montanhas. O lugar era estranhamente familiar.

Um pássaro passou voando a poucos metros de Eragon e capturou um rato que estava correndo para sua toca em meio às raízes de uma frondosa árvore. Depois disso o pássaro voou para dentro do vale em direção a um grupo de árvores que devia abrigar seu ninho.

Mais uma vez Eragon se deparou com a estupefação de estar em um lugar tão inóspito e vivo ao mesmo tempo. Ele conseguia sentir a infinidade de formas de vida nos poucos metros a sua volta e sentiu-se um pouco menos apreensivo por estar em um lugar calmo como aquele. Seus olhos se moveram para o vale a sua frente e ele sorriu ao lembrar-se de um jovem cavaleiro viajando com uma elfa ferida e um filho de Morzan, fugindo desesperadamente de urgals enquanto procuravam a misteriosa rebelião dos Varden.

— Você nunca soube o esconderijo dos Varden? – Eragon perguntou ao espírito ao seu lado.

Svider lhe rendeu um sorriso torto.

— Não. Brom não seria tão descuidado ao permitir que um renegado entrasse em seu ninho, mas tenho uma noção de que estamos perto, não é?

Eragon assentiu e apontou para o vale.

— Uma das entradas fica logo em frente, atrás da cachoeira.

— Eu sabia! Eu sabia! Aquele bastardo do seu pai nunca poderia ter chegado ao nosso ponto de encontro tão rápido se a entrada fosse distante. Brom, eu realmente pensei que fosse mais esperto.

O cavaleiro castanho deu a Eragon um sorriso radiante antes de rir para si mesmo, gracejando de como ele sabia o tempo todo sobre a entrada secreta. Eragon sorriu para si mesmo enquanto observava Svider, se perguntando se essa seria sua última gargalhada antes do fim.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo barulho estrondoso das asas de um dragão. As árvores se curvaram com a súbita ventania e os animais correram para áreas mais distantes, fugindo da enorme fera que se aproximava.

Eragon olhou para o norte e viu a enorme figura de Deloi vindo em direção a eles, com as enormes asas movendo-se sem aparente esforço enquanto o dragão se preparava para pousar. Svider estava em seu torso com roupas pretas próprias para o voo e uma capa negra balançando a suas costas... Era exatamente o mesmo traje que o espírito do cavaleiro usava desde o início da viagem. Eragon sentiu a garganta fechar ao entender o que aquilo pressagiava.

De trás das árvores, uma figura encapuzada surgiu, andando calmamente até o dragão que descia para o chão e parando em frente a ele, não recuando um centímetro quando a enorme criatura pousou, fazendo toda a terra tremer.

A figura retirou o capuz e cruzou os braços em frente ao corpo enquanto esperava Svider descer.

Brom parecia mais velho do que Eragon o vira da última vez nas memórias de Svider, e mais parecido com o contador de histórias que ele conhecera em Carvahall, com alguns fios prateados na cabeça e a barba maior. Ele carregava uma expressão séria, fazendo com que as rugas em volta de seus olhos ficassem mais proeminentes. Seu nariz continuava o mesmo, com sua curva acentuada contribuindo para tornar a expressão ainda mais carregada.

— Algum problema, Svider? – Brom perguntou sem delongas assim que o cavaleiro ficou a sua frente.

— Oi para você também, meu velho amigo Brom. Como tem passado? – Svider retrucou sarcasticamente. Brom tomou uma respiração profunda para responder quando Deloi rosnou repentinamente.

Parem vocês dois, não temos tempo para isso. Parceiro, fale sobre o que viemos fazer aqui e vamos embora.

— Sim, sim. Você está certo, como sempre. – Svider acariciou o focinho de Deloi e murmurou quase inaudível. – Fomos descobertos.

— O quê? – Brom perguntou, a postura irritada desaparecendo completamente.

— Galbatorix estava nos espionando desde o ataque aos anões. Eu achei que o tinha convencido, mas parece que me enganei. Ele mandou um Ra’zac atrás de nós e interceptou uma de nossas cartas.

— Então... isso explica porque a carta do mês passado não chegou... – Brom sussurrou temeroso.

— É... Ele está vindo atrás de nós, temos que ir até as colinas e acabar logo com isso.

— Mas... – Brom começou, mas fechou a boca assim que viu o olhar sombrio no rosto do renegado, era como se uma névoa houvesse se estabelecido sobre a alma de Svider, e Brom estremeceu internamente ao ver que não podia fazer mais nada. Mesmo assim ele não deixou de tentar. – Pode ficar com os Varden. Vocês se provaram valorosos e confiáveis, não existiríamos se não fossem por vocês.

O líder dos Varden olhou suplicante para Deloi, esperando que o dragão conseguisse convencer Svider a ficar, mas Deloi estava cansado. Seu espírito estava tão destruído quanto o de seu cavaleiro e ele queria aquilo tanto quanto o outro. Ambos já estavam decididos, já haviam assinado a sina de morte.

— Ainda usa esse nome? – Svider perguntou de repente, fazendo Brom voltar a realidade. – Não disse que tinha um nome melhor para dar?

— Ainda estou pensando no assunto. – Brom respondeu zangado, fazendo Svider gargalhar.

— Boa sorte então, Comandante Rebelde. – Svider fez uma posição de sentido zombeteira e estendeu a mão para que o outro a apertasse.

Depois do comprimento, Svider deu meia volta e estava prestes a dar um passo quando Brom o segurou pelo pulso.

— Tem certeza? Pode ter um lar entre nós rebeldes e pode nos ajudar a vencer. Vocês podem...

— Não temos mais lugar aqui, jovem. É hora de enfrentar o passado. Só passamos para avisar.

Svider puxou o pulso do aperto do rebelde e andou resoluto até Deloi, escalou sua pata dianteira e montou com um movimento praticado. Brom afastou-se um pouco e olhou com a testa franzida para cavaleiro e dragão, tentando pensar em alguma forma de convencê-los a ficar.

Brom. Deloi chamou com o tom de voz exigindo atenção. Brom acenou uma vez com a cabeça, mostrando que estava ouvindo, e o dragão marrom olhou-o com seus penetrantes olhos azuis. Fique com um olho em Teirm, tenho um pressentimento que é dali que sua maior ajuda virá. Boa sorte.

Brom arregalou os olhos, mas concordou silenciosamente, sem saber o que dizer.

— Ah, não se esqueça de aparar a barba, está parecendo mais acabado do que eu usando esse treco na cara. – Svider disse jovialmente, fazendo com que um sorriso irônico passasse pelo rosto de Brom. – Até mais, cavaleiro. Tenho certeza de que Oromis estaria orgulhoso de você.

Sem esperar mais um segundo, Deloi tomou impulso com as patas traseiras e alçou voo, viajando rapidamente para seu destino final.

Brom ficou olhando-os até que se tornassem um ponto minúsculo no horizonte.

— Posso garantir que Oromis está muito orgulhoso de você, cavaleiro castanho. – ele sussurrou para o nada.

A figura solitária colocou o capuz sobre a cabeça enquanto caminhava de volta para o esconderijo, pensando em como contaria aos mestres sobre o fim trágico de seus maiores alunos.

~~~~~~~~~~**~~~~~~~~~~

Eragon suspirou ao passar pela próxima porta, com a sensação incômoda de que esta era a última visão que teria ali.

Não foi com surpresa que o jovem se viu de volta à Passagem de Prata, que parecia ter finalmente sido terminada, mostrando-se idêntica à atualidade.

O céu estava encoberto naquele dia, e uma brisa fria soprava do norte. Longe de qualquer porção de terra, nem um único pássaro parrava por ali. As águas do mar estavam particularmente turbulentas e uma neblina cerrada parecia encobrir lentamente as águas, tornando o redor incerto e nebuloso.

Svider e Deloi estavam parados em uma das grandes colinas, entoando um feitiço de proteção. Das mãos do cavaleiro surgiam feixes de luz dourada, que aos poucos iam se espalhando pela passagem, agindo como um campo de força. Eragon notou com alarme que as mãos de Svider estavam tremendo muito, mas ele não sabia se era de nervoso ou cansaço.

— Svider... – ele começou a perguntar, mas foi interrompido quase imediatamente.

— Shhhh. – o espírito ao seu lado repreendeu quase inaudível.

Eragon voltou sua atenção para a cena e testemunhou o fim do feitiço. Os feixes dourados pararam de surgir e logo todos os vestígios da magia haviam se acabado, deixando as duas figuras solitárias em pé, sozinhas em meio à névoa.

— Svider! Tudo bem? Deu certo? – uma voz feminina chamou em algum lugar no mar.

Eragon se sobressaltou e caminhou pelas colinas até chegar à extremidade que dava para o mar, e surpreso, vislumbrou uma pequena canoa com estilo humano atracada ali. Na embarcação havia três pessoas: um elfo de cabelos louros, um humano de pele escura e uma anã com um lenço cobrindo a cabeça.

— Esta tudo bem, Lydia. O feitiço funcionou, agora ninguém pode destruir a passagem ou roubar as joias. E quanto às galerias de pedras preciosas? – Svider respondeu, e Eragon observou cada vez mais confuso enquanto a anã suspirava aliviada.

— Já foram escondidas, meu amigo. – respondeu o elfo com uma voz melodiosa. – Mas tem tanta certeza de que serão necessárias? Você pode se esconder em nosso reino e...

— E o que, Andriel? Levar Galbatorix até vocês? Nunca. Já têm seus próprios problemas, não precisam que eu acrescente mais um.

— Mas... Como vai detê-lo sozinho, Svider? – disse o humano, erguendo-se na embarcação e apontando em direção à Alagaësia. – Pelo que nos disse ele fica mais poderoso a cada dia que passa. Além disso, ele aprendeu magia negra com um espectro! Acha que é capaz de enfrenta-lo?

— Não pretendo enfrenta-lo. – Svider disse secamente, pulando com agilidade para uma colina um pouco menor e deslizando para o barco. – Se o feitiço funcionar conseguirei mudar o passado. Se conseguir fazer isso, talvez nunca tenha que construir essas colinas, e se isso não acontecer significará que tive sucesso.

— São muitos “ses” nesse plano, se quer saber minha opinião. – a anã chamada Lydia resmungou contrariada.

— Eu não tenho escolha e vocês sabem disso. – Svider rosnou.

— Você sempre diz isso. – o elfo Andriel suspirou cansado. – Mas já lhe demos umas cinco opções diferentes, por que não dá ouvidos à razão?

— Eu agradeço por terem me ajudado, mas não há nada que possam fazer por mim agora. – o cavaleiro ignorou as palavras do elfo. – Devem sair daqui e ir para um lugar seguro antes que seja tarde demais, ele não pode vê-los. Fico feliz por tê-los conhecido. – Svider fez uma mesura polida e começou a se afastar para voltar para junto de Deloi quando o humano o segurou pelo pulso.

— Você não é uma pessoa ruim, Svider. Não tem que se matar desse jeito!

O cavaleiro castanho soltou uma gargalhada amarga e puxou o pulso do aperto do outro.

— Meu caro Levih, acho que muitas vezes você esquece que eu também fui ensinado por um espectro. Estou tão endividado quanto Galbatorix, acho que chegou a hora de pagar essa dívida.

— Mas...

Silêncio! Deloiu sussurrou alerta. Um rosnado profundo partiu de sua garganta e ele abaixou a cabeça para observa-los melhor. Galbatorix está aqui. Vocês têm que partir agora.

— O quê? Se vocês acham que vamos permitir... – Lydia começou, mas Andriel colocou uma mão em seu ombro para silencia-la.

— Boa sorte para os dois. Espero encontra-los de novo. – ele sussurrou entristecido.

Svider sorriu em agradecimento e se curvou novamente. Deloi baixou mais a cabeça e Svider se segurou em um de seus chifres para que Deloi pudesse levanta-lo até a colina mais alta.

Passem nossos mais sinceros agradecimentos a seus governantes. Nada disso seria possível se não fosse por vocês. Deloi proclamou em tom baixo.

Levih estava prestes a abrir a boca quanto o som de asas batendo chegou a seus ouvidos, e Andriel lentamente pegou um remo debaixo dos assentos, começando a remar para que fossem embora. Logo a canoa silenciosa e seus três tripulantes sumiram na neblina.

— Bem, é agora, Parceiro. – Svider sussurrou, engolindo em seco.

Sim, é agora ou nunca.

Svider abriu a boca para entoar o feitiço, mas de repente a voz de Galbatorix chegou a seus ouvidos.

Brisingr!

Uma enorme parede de fogo surgiu da neblina fazendo com que Deloi cobrisse seu cavaleiro com uma de suas asas, protegendo-o do fogo, enquanto Svider invocava um feitiço de proteção para proteger a ambos.

As chamas ardentes pararam tão repentinamente quanto começaram, e em meio a fumaça a figura ameaçadora do dragão de Morzan surgiu.

Com um rosnado repleto de ódio o dragão vermelho sangue se lançou em direção a Deloi, que mal teve tempo de alçar voo antes que fosse atacado. Por sorte, o feitiço de proteção feito por Svider era forte o suficiente para protegê-lo por mais algum tempo.

Consumido pelo desejo de afastar o dragão vermelho dali, Deloi usou suas garras, tentando arranhar a barriga exposta do adversário, distraindo-o por tempo o suficiente para poder ganhar mais altitude. E os dois dragões voaram cada vez mais alto, rosnando e soltando jatos enormes de fogo, até ficarem quase invisíveis em meio à neblina.

— Deloi! – Svider gritou em desespero. Esquecendo-se de sua própria segurança, o cavaleiro preparou-se para lançar um feitiço no dragão inimigo, mas então uma energia estranha o percorreu e ele ficou completamente paralisado, incapaz de pronunciar qualquer tipo de palavra.

Um novo bater de asas foi ouvido até que Shuruikan ficasse completamente visível, assim como Galbatorix e Morzan, que estavam em seu dorso.

O dragão negro rosnou enquanto pousava ruidosamente sobre as colinas, abanando o rabo de forma enlouquecida. Galbatorix e Morzan desceram rapidamente, aproximando-se de Svider como dois caçadores que cercavam a presa.

Svider arregalou os olhos e se concentrou, anulando o feitiço mentalmente e cambaleando para trás.

Galbatorix rosnou como um animal e desembainhou a espada, o fio duplo da lâmina cintilou prateado à luz esparsa do sol.

— Traidor. – o rei louco sussurrou, antes de gritar a plenos pulmões. – Taidor! Monstro!

Svider olhou-o com horror. O desespero mostrou-se em seus olhos e ele recuou, como se houvesse levado um golpe físico.

— Galb, por favor. Estou tentando consertar o que fizemos. Estou tentando ajuda-lo a...

— Eu. Não. Preciso. Da. Sua. Ajuda! – Galbatorix gritou pausadamente, erguendo a antiga espada de Vrael e a apontando para o peito de Svider. Atrás do rei, Morzan sorria sombriamente.

— Você não vê o que fez a si mesmo?! – Svider gritou de volta – Olhe só para você! Está completamente louco! Não parece o amigo que eu tive na Ordem, aquele cavaleiro inteligente de alegre. Olhe para você! Destruir a Ordem lhe fez algum bem?!

— Eles mataram meu dragão!

— Você o matou! E destruir a Ordem não trouxe Jarnunvösk de volta! Tudo o que conseguiu fazer foi envenenar a si mesmo!

Galbatorix se encolheu e colocou as mãos nos joelhos, arfando como se lutasse uma batalha interior.

— Você... Está errado. Vou reconstruir a Ordem e ela será digna de existir... – ele sussurrou entrecortado.

— Vai reconstruí-la a sua própria imagem? Galb, que direito temos de decidir quem é digno ou não? Não somos deuses, somos cavaleiros. Demorei para aprender isso, mas está claro agora – Svider murmurou de forma amena, aproximando-se um pouco do rei.

— Ele é seu rei, agora. É bom demonstrar respeito, traidor! – Morzan urrou atrás de Galbatorix, tirando o cavaleiro negro de seu torpor. O Renegado sorriu para Svider sombriamente quando a ira do rei se inflamou novamente.

— Você quer o meu lugar! Isso foi sempre o que você quis, não é? – Galbatorix avançou novamente, apontando a espada para o pescoço de Svider. Este, então, retirou Mirovir da bainha, mas somente para desviar a lâmina mortal do outro. O som de metal contra metal parecia anunciar a morte.

— Não! Galb, por favor! Me escute! Eu posso concertar isso! Podemos ser como uma família novamente!

— Nunca fomos uma família... – ele parou e olhou para Svider atentamente antes de continuar em um sussurro magoado e confuso – Você me traiu... Por quê?

Svider calou-se por um momento antes de responder.

— Porque eu não aguentei ver no que estávamos nos tornando. Você teve motivos nobres um dia, Galb. Mas olhe o que fizemos! Genocídio! Eu sei que você se arrepende, por favor, confie em mim.

— Você não sabe de nada! E não me chame de Galb! – Galbatorix gritou novamente, avançando mais e usando a espada para levar Svider para a beirada da colina de diamantes.

— Por favor – Svider implorou, deixando sua espada de lado e permitindo que Galbatorix encostasse a dele em sua garganta – Por nossa amizade.

Galbatorix parou e olhou-o assombrado. Naquele momento Eragon viu o quanto ele estava sofrendo, ele não queria machucar Svider, mas a parte enlouquecida de sua alma era forte demais, e ela o havia dominado, deixando somente um fio pequeno de sanidade que só servia para fazê-lo sofrer, ao ver o mal que fazia.

— A amizade acabou. – ele sussurrou por fim.

Com um golpe rápido, ele cortou o pescoço de Svider, logo uma tira de sangue começou a se formar. Ao lado de Eragon, o espírito do cavaleiro ofegou, levando a mão quase transparente ao pescoço, enquanto uma cicatriz tornava-se visível.

Deloi gritou em horror no céu acima deles.

O cavaleiro castanho olhou para o rei chocado. Ele sufocou algumas palavras, mas nada conseguiu ser ouvido.

De repente uma energia dourada partiu de Svider e foi para Mirovir. Então os olhos do cavaleiro ficaram opacos e ele caiu para trás, em direção às águas turbulentas e sumiu de vista, assim como a espada.

NÃO!!!! Deloi gritou enlouquecido, rugindo um enorme jato de fogo laranja.

Galbatorix e Morzan montaram em Shuruikan, e juntos partiram para o céu, para enfrentar Deloi.

O dragão de Morzan já o atacava por trás, mas o dragão marrom não parecia notar.

SVIDER!! NÃO! SVIDER!!!! Ele gritava repetidamente, mordendo e arranhando loucamente o dragão vermelho que o seguia em sua queda desenfreada até o mar, até Svider.

Um ódio sem precedentes atingiu Deloi naquele momento. Ele decidiu que expulsaria Galbatorix e seus seguidores dali para sempre. Nenhum deles tinha o direito de manchar estas terras com mais sangue.

Usando a energia das colinas recém-formadas, e o pouco de sanidade que ainda possuía, Deloi invocou um feitiço que Eragon nunca havia ouvido, mas ele sabia o que significava, era uma maldição. Se Galbatorix e os seus ousassem retornar, sua única recompensa seria a dor eterna, mesmo após a morte.

Eragon ofegou ao ver aquilo acontecer. Uma enorme onda de energia azulada saiu de Deloi, atingindo seus inimigos e embrenhando-se neles, penetrando em suas almas. Imediatamente Galbatorix e Morzan começaram a gritar, seus dragões rugiam em agonia. Eles caíram vários metros antes de conseguirem recobrar o suficiente da consciência para fugir rumo a Alagaësia, a maldição os perseguindo até que cruzassem as fronteiras do Deserto Hadarac. E dali nunca mais passaram novamente.

Deloi urrou em fúria, soltando chamas alaranjadas por todos os lados. Seus olhos ficaram brilhantes com a chama da loucura e ele saiu voando para as Terras Além, sumindo na neblina, embora flashes laranja fossem vistos de vez em quando e o rugido da besta enlouquecida fosse ouvido como um arauto do horror.

Eragon e Svider ficaram parados olhando, até que tudo o que se ouvia era o barulho do mar e os flashes haviam desaparecido.

Só então Svider se permitiu chorar.

~~~~~~~~~~**~~~~~~~~~~

Eragon nunca soube quanto tempo ficou olhando a neblina silenciosa. Ele se sentia estranhamente entorpecido, era como se sua mente tentasse protege-lo de sentir ou pensar sobre os recentes acontecimentos. Era uma teoria que ele gostaria de compartilhar com os elfos no Talíta, talvez eles possuíssem alguma resposta.

O mar batia suavemente nas paredes brilhantes da Passagem de prata. O dia nublado começava a desaparecer, escurecendo aos poucos até dar lugar a uma noite silenciosa, sem lua ou estrelas. Não havia sinal de Mirovir ou do corpo de Svider, e há muito Deloi havia deixado de ser ouvido, era como se nada houvesse acontecido.

É engraçado, não importa o quão importante sejam os acontecimentos que regem as raças pensantes da Terra, Eragon pensou, distraído. Revoluções, guerras, novos governos.... Não importa o quanto as coisas mudem, o mundo tem um jeito de se reconstruir, se adaptar e continuar. E logo, todos os grandes feitos e nobres batalhas, se não forem registrados, ficam esquecidos..., mas a natureza continua a ir em frente, sem os medos racionais que cercam as pessoas.

Svider estava parado ao lado do jovem, olhando para a neblina com o rosto em branco, mas seus olhos estavam opacos com a tristeza. Suas mãos estavam totalmente transparentes, assim com seus pés, deixando-o parecido com os fantasmas de histórias de terror. Os cabelos estavam soltos e flutuavam levemente em volta de seu rosto marcado. Suas lágrimas haviam parado de cair, secas pelo vento que vinha do mar. A cicatriz em seu pescoço parecia ter sido reaberta e doía tanto quanto na hora em que o ferimento fora feito.

Deloi... Seu pobre dragão... Deloi não merecia um destino tão horrível... E Svider sabia que era o culpado... Ele não podia fazer nada agora, ou será que podia?

— Eragon? – Svider chamou hesitante, olhando culpado para o jovem cavaleiro que flutuava ao seu lado... ele parecia uma estátua, quase como se houvesse sido esculpido em mármore. A única coisa que retirava o efeito era que seu cabelo castanho esvoaçava a sua volta.

Lentamente, o cavaleiro azul virou a cabeça para encara-lo. Seus olhos estavam tristes.

— O que foi Svider?

— Chegamos ao fim agora. Não há nada mais que eu tenha que lhe mostrar.

— É... Não há.

Svider abriu e fechou a boca. Ele nunca fora bom com despedias ou coisas do tipo. Eragon havia sido a única pessoa com quem ele tivera contato em quase cem anos... e agora chegara a hora de deixa-lo seguir com sua viagem e reconstruir a Ordem. E Svider tinha certeza de que não havia pessoa melhor para treinar os cavaleiros.

— O que aconteceu com Deloi? – Eragon perguntou o mais suavemente que conseguiu, vendo que Svider estava perdido em pensamentos.

— Ele... – Svider parou, sua voz recusando-se a colaborar. – Ele ainda está vivo... em algum lugar das Terras Além.

— Como sabe disso? – Eragon perguntou, surpreso.

— Acredite, você sabe quando alguém que compartilha sua alma morre.

O jovem olhou para Svider em choque, sem saber ao certo o que fazer.

— Sabe, Eragon? Quando eu e Deloi criamos este feitiço, tínhamos propósitos bem diferentes. Eu pensei em voltar no tempo e concertar tudo antes que nossa decadência começasse. E apesar de conseguir voltar o tempo, não tive como interferir nos acontecimentos, ficando preso em meu próprio passado, como você bem sabe. – Svider sorriu palidamente antes de continuar. – Passei muitos anos pensando em como sair daqui.... Em como me livrar da prisão de tortura que eu mesmo criei. Então deduzi que precisava que alguém de fora me libertasse. Mas algo estava impedindo... Todas as tentativas falharam. Não sei se foi alguma consequência da forma como o feitiço foi realizado, mas nada funcionava.

— Espera... Tentativas? Alguém já tentou tirar você daqui?

— Ah, sim. – Svider disse calmamente, olhando para a neblina mais além – Fiz alguns amigos nas Terras Além, aqueles que você viu mais cedo, talvez eles te ajudem nessa jornada. Mas enfim, esses meus amigos tentaram de tudo, desde os mais variados feitiços até formas mais arcaicas, como tentar quebrar Mirovir com um machado. Mas nada funcionou. Eles, por fim, decidiram fazer uma outra forma de encantamento: cobriram a espada com um feitiço que a levaria a encontrar alguém que pudesse ajudar. Eles colocaram Mirovir em um labirinto de cavernas feitas de pedras preciosas no fundo do mar.

— Foi onde Saphira encontrou a espada! Mas ela disse que as cavernas haviam sumido.

— É claro que sumiram. Ninguém em sã consciência deixa pedras preciosas espalhadas por aí a plena vista ou sem proteção. A Passagem de Prata praticamente tosta qualquer ser vivo que chega a tocá-la, mas meus amigos decidiram que precisavam de descrição para as cavernas submersas, e as esconderam da visão de todos. Saphira conseguiu vê-las porque o feitiço reconheceu que ela poderia ajudar, viu sua alma e a julgou valorosa o suficiente para que eu confiasse meus segredos a ela, assim como a você. Meus amigos são muito engenhosos, não me lembro de já ter dito isso a eles. – Svider parou momentaneamente, sorrindo para si mesmo. – Mas enfim, durante todo esse tempo eu me preocupei em achar algo para oferecer em troca de minha liberdade. Algo que pudesse ajudar a apagar o dano que fiz.... Algo que me redimisse. Algo que ajudasse o escolhido, o vencedor, como os velhos dragões chamaram.

— .... Eu?

— Quem mais? – Svider riu um pouco e olhou para Eragon com os olhos brilhantes. – Você é o Matador de Espectros, o primeiro cavaleiro em um século, o Matador do Rei e o futuro da Ordem. Irá reconstruí-la e torna-la melhor do que jamais foi. Não me olhe assim, eu sei que você consegue, mas posso te dar um empurrãozinho.

— Olha, eu estou lisonjeado e tudo o mais, mas não sei se sou a pessoa certa. – Eragon disse, tentando ao máximo esconder seu embaraço.

— Claro que é! – Svider murmurou com um bufo exasperado, aproximando-se de Eragon e olhando-o em dúvida. – Mas não vou lhe passar o conhecimento se você não quiser, não vou força-lo a isso.

Eragon olhou-o em dúvida por um momento. Uma parte de si gritava: Ele é um Renegado, não confie nele. Mas outra parte desconfiava de si mesmo. Svider havia lhe mostrado, literalmente, sua vida. Havia confiado isso a Eragon, acreditando que o mais jovem conseguiria ir em frente, e nunca o forçou. Eragon não se lembrava de quantas vezes lhe fora oferecida a chance de sair de Mirovir. Não, não era Svider que o preocupava, mas sim a si mesmo. Ele não sabia se estava pronto para algo maior. Já tinha o nome da Língua Antiga consigo, não sabia se conseguiria aguentar mais um peso sobre as costas... mas se ele não tentasse, talvez falhasse em liderar os Cavaleiros. Ele precisava de todo o conhecimento que pudesse adquirir.

Por fim, Eragon suspirou e olhou para Svider.

— Que tipo de conhecimento é esse?

— É um que eu adquiri ao explorar a Espinha, ao caçar urgals.

— Na Espinha?

— É. Aquela floresta contém muito mais mistérios do que muitos conhecem. Florestas geralmente são assim. Por que acha que os elfos as adoram? – ele deu um sorriso torto para o mais jovem, mas não deu mais nenhum detalhe. – Estou divagando. Voltando ao assunto: adentrei em uma clareira enquanto caçava os urgals. Eu e Deloi pousamos na clareira sem reparar nas estranhas rochas pontiagudas posicionadas quase na linha das árvores, formando um círculo perfeito. Naquela época, não dávamos importância a coisas aleatórias como aquela. Mas o círculo continha segredos que nem eu, nem Deloi, conhecíamos. Eu fiquei curioso, claro. Nunca tinha ouvido nada sobre círculos de pedras, então sempre voltávamos lá. – Svider parou momentaneamente e suspirou, colocando os pensamentos em ordem. – Com o tempo, notei que havia algo ali que não havíamos percebido antes. Não tenho certeza ainda do que era, mas estava me mudando. Era mais ou mesmo a mesma energia que havia conhecido no Norte, enquanto Galbatorix me mostrava o que havia aprendido com Durza. Só que de alguma forma era diferente, não parecia me influenciar de forma negativa, acho que foi por causa daquela energia que consegui lutar contra a magia negra dentro de mim por tanto tempo. Passamos a observar a influência dessa energia na floresta e vimos que em nenhum outro lugar as plantas cresciam tão bem. Fiquei curioso com essa observação e tentei achar uma resposta.

— E qual foi?

— Há uma teoria bem antiga e quase esquecida em meio aos novos conhecimentos da Velha Ordem. Por sorte eu sempre tive interesse por contos antigos e liguei os pontos. Muito tempo atrás, quando os elfos chegaram à Alagaësia, eles não conheciam a magia da forma que ela existe agora. Alguns diziam que eles nem conseguiam controla-la, provocando acidentes terríveis, antes de finalmente descobrirem a Língua Antiga. O elfo mais antigo que conheci afirmou que seu povo tinha sido expulso de onde quer que tenham vindo justamente por não conseguirem controlar seu poder, infelizmente, nunca consegui arrancar mais informações do velhote. – Svider olhou para Eragon de forma séria, garantido que ele prestasse atenção, mas suspirou ao ver a pergunta nos olhos do jovem. – Não, você nunca ouviu sobre isso porque desde que os dragões morreram, tanto humanos, quanto elfos, enfraqueceram. A memória élfica foi quase completamente danificada e muito do conhecimento escrito foi perdido com a queima da Biblioteca de Doru Areaba. De qualquer forma, quando os elfos chegaram aqui, tinham que tentar controlar sua magia, então criaram os círculos de pedra, que funcionavam como um isolamento contra distrações, fazendo com que eles vissem o mundo de forma mais profunda. Foi nesses círculos que a Língua Antiga foi descoberta e a magia pôde ser controlada.

— Como assim?

— Os círculos funcionam com um princípio básico: isolam as distrações, como eu já disse e controlam energia, e essa é a forma mais básica da magia, já que tudo, em seu princípio, é composto por alguma forma de energia. Dentro dos círculos, os elfos aprenderam a controlar a energia dentro de si, e viram como a Língua Antiga poderia facilitar esse caminho. – Svider olhou para as colinas brilhantes abaixo de si enquanto formulava as próximas palavras. – Assim, a magia que existe hoje foi criada e a compreensão da vida aumentou muito. Eu e Deloi nos lembramos desse conto antigo e o interligamos à estranha energia que emanava das pedras. Com nosso frequente retorno ao local, acabamos sofrendo influência dessa energia e fomos induzidos a ver as formas primitivas da magia com mais facilidade. Foi assim que senti a presença dos Eldunarí em Voengard. Conseguiu entender?

— Não muito. – Eragon admitiu, era muita informação junta, sem querer, sua mente se voltava para Oromis e ele se perguntava se seu antigo mestre sabia desse conto.

— Imagine a magia como uma... cebola, isso, uma cebola. – Svider juntou os dedos formado um círculo oco com as mãos. – Vê os dedos? São a camada externa da cebola, a mais visível, é nessa camada que a maioria dos feitiços são percebidos, mas a magia não se resume somente a essa parte. Existem camadas mais finas e menos perceptíveis, que as vezes são ignoradas por nós. O que você vê no centro?

— Nada?

— Errado! Dá a impressão de não haver nada, isso porque as camadas da cebola vão se tornando menores e mais finas, mais difíceis de se perceber. Aqui se localizam alguns feitiços de ocultação ou proteção, entre outros. Muita gente simplesmente ignora isso, mas eu e Deloi aprendemos a ver as camadas mais finas e imperceptíveis, isso torna mais fácil entender o mundo ao seu redor, torna mais difícil ser pego desprevenido. Entendeu agora?

Eragon assentiu com a cabeça, aturdido com a informação. Isso elevava toda a sua concepção de magia, poderia muito bem ajuda-los a encontrar um novo lar para os dragões e a proteger a nova Ordem. Entretanto, o jvem se assustou quando o rosto de Svider escureceu de repente, tornando-se sombrio.

— Você entende a profundidade do que estou te contando, Eragon? Com esse conhecimento você pode mudar a própria essência da vida se for longe demais. Entende? Ao invés de controlar a magia, você controla a energia de tudo a sua volta.

— Você nunca usou isso? – Eragon perguntou surpreso, podia imaginar uma centena de formas de Svider ter mudado o destino de Alagaësia com aquele conhecimento.

— Não! Claro que não! Acha que eu seria melhor do que Galbatorix se usasse esse poder para mudar tudo a minha volta? Eu tenho uma visão distorcida do mundo, Eragon. Se eu fizesse isso poderia ter ficado pior do que Galbatorix e você teria que ter me enfrentado ao invés dele. Vê? Esse poder não é para uma pessoa sozinha, ninguém tem o direito de mudar a existência por mero capricho.

— Então por que está me contando isso? Se esse conhecimento é tão perigoso deveria ficar oculto, tenho certeza que foi a esse tipo de magia que Oromis se referiu.

— Estou dizendo isso porque sei que você vai achar uma boa maneira de usar, e além disso, vai precisar. – Svider respondeu de forma ácida, fazendo Eragon recuar um pouco. – Olhe, não temos muito tempo, seus amigos já estão quase na costa. Vai aceitar essa habilidade ou não?

Eragon fechou os olhos por alguns minutos, medindo os prós e os contras dessa decisão. Os Eldunrí poderiam ajuda-lo a ver uma forma melhor de usar esse poder. Ele tinha que ter tantos recursos quanto conseguisse para criar uma ordem inteira. Era esmagador. No final, o destino do mundo continuava sobre seus ombros e ele tinha que pensar no que era melhor para todos, e não para si.

Lentamente, Eragon concordou com a cabeça.

Svider sorriu de forma brilhante. Com certeza o feitiço tinha feito um bom trabalho ao escolher a pessoa certa. Finalmente ele poderia cumprir as palavras dos velhos dragões. Ele sabia que Eragon faria um trabalho maravilhoso.

— Antes disso quero te pedir um favor. – Eragon fitou-o com uma expressão curiosa, ansioso por saber o que mais viria. – Encontre Deloi. Encontre-o e diga que o feitiço funcionou, em parte. Diga a ele que sinto muito...

Svider olhou-o de forma suplicante, mas antes que ele pudesse continuar, um grande estrondo foi ouvido.

— Estamos saindo! Prometa isso, Eragon!

— Eu... Eu prometo.

Svider sorriu tanto que a boca quase saltou para fora do rosto. Ele ergueu uma mão, agora totalmente visível, acima da cabeça de Eragon e colocou o dedo indicador em sua testa.

— Obrigado por tudo, Eragon. Se precisar da ajuda de meus amigos, vai saber onde acha-los. Que as estrelas o guiem.

O mundo começou a desmoronar, como se a terra tivesse sido atingida por um grande tremor. Eragon não conseguiu ver ou ouvir mais nada. Sem saber o que fazer, ele gritou o nome do cavaleiro enquanto uma energia estranha o envolvia, deixando-o tonto.

— Svider!

Bem longe, quase longe demais para ser ouvido, a voz de Svider soou, pacífica e alegre.

— Lembre-se de sua promessa, Eragon! Ah, e pode me chamar quando precisar do concelho de um Renegado!

Então tudo se tornou escuridão e a voz de Blödhgarm soou, como um eco em uma caverna.

— Eragon? Pode me ouvir?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom... O que acharam? Por favor, não me matem! Juro que sofri muito escrevendo esse capítulo!
Sobre a última parte, tenho algumas explicações a dar. Só explicando: o que vou falar agora são teorias, e somente isso. Nada de fatos reais!
Eu sou muito viciada em O Senhor dos Anéis. Li todos os livros que consegui e sempre procuro novidades sobre esse universo tão fantástico e rico. Lendo o Silmarillion, comecei a relacionar algumas passagens com eventos da Alagaësia e montei minhas próprias teorias malucas:
1- Em um determinado momento, os elfos decidem explorar o mar, assim como os humanos depois deles. Assim, é possível assumir que eles podem ter chegado à Alagaësia e se estabelecido ali? Eu sei que isso não explica os urgals, mas essas histórias se complementam quase perfeitamente.
2- em ambos os mundos os anões surgiram das rochas. E isso explicaria porque, no começo, só havia anões na Alagaësia.
3- também é dito que os dragões chegaram à Alagaësia pelo mar, então eles poderiam ter fugido de alguma coisa? No universo do Tolkien, os dragões são seres criados pelo primeiro Senhor do Escuro. Mas o livro contradiz essa afirmação dizendo que esse Senhor do Escuro não podia criar nenhuma nova criatura. Então ele pode ter transformado os verdadeiros dragões em seres das trevas e os que sobraram podem ter fugido para o mar, chegando a Alagaësia.
Bom, isso são só teorias que eu encontrei para justificar alguns mistérios de ambos os universos. Espero que tenha esclarecido um pouco.
Qualquer dúvida, deixem nos comentários que eu respondo, ok?
Sinto mito pelo fim trágico do Svider, mas eu sempre digo: a morte não é o fim, é um novo começo. Tirem daí as conclusões que quiserem.
Bom, é isso. Nos vemos em breve^^
Obrigada por me acompanharem ate aqui!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Eragon: Wyrda un Moi" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.