Eragon: Wyrda un Moi escrita por Arduna


Capítulo 15
Compensação


Notas iniciais do capítulo

Oi de novo, cavaleiros!
Mil perdões pela demora para atualizar! Sinto muito mesmo! Eu literalmente perdi a noção do tempo que havia passado desde que tinha atualizado pela última vez. Para piorar, faltou inspiração para escrever esse capítulo, e mesmo depois de todas as tentativas que fiz para escreve-lo de forma satisfatória, ainda não consegui. Sim, eu sei, escritores não devem dizer isso aos leitores, mas eu estou sendo sincera. Então se a qualidade do capítulo estiver mais baixa do que a dos anteriores, me perdoem.
Bom, vou parar de falar agora e deixar vocês terem suas próprias opiniões do cap.
Boa leitura a todos^^



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Eragon correu para a nova porta, ansioso por saber o que haveria por trás dela. Svider caminhava calmamente atrás dele, com o cenho franzido em pensamento profundo, aparentemente o mais jovem não havia escutado as últimas palavras dos velhos dragões, mas Svider tinha certeza de que elas se referiam a Eragon... Como ele iria ajuda-lo, entretanto, Svider ainda não tinha muita certeza, embora uma ideia que ele havia descartado há muito tempo começasse a retornar com força total.

Eragon saiu para a próxima visão com a curiosidade aguçada, não reparando em como Svider olhava para ele.

Haviam voltado a fortaleza na Espinha, só que desta vez, criados e guardas andavam de um lado para o outro, preparando o castelo para a noite e trocando a guarda. Criadas subiam em escadas para acender as tochas nas paredes. Alguns homens carregavam mobílias novas para as muitas salas existentes na fortaleza. Guardas andavam apressados para substituírem os colegas nos turnos de vigia, mas todos eles faziam o máximo de silêncio possível, como se temessem falar.

Estava escuro do lado de fora, Eragon notou quando foi até uma das janelas. A floresta parecia totalmente silenciosa também, sem brisa, sem canto de pássaros, sem qualquer ruído que fosse normal em uma mata. Era como se todo o ser vivo num raio de cinco quilômetros em todas as direções prendesse a respiração.

Svider juntou-se a ele na janela, colocando os braços atrás das costas de forma pensativa e olhando pensativo para a floresta além, ao mesmo tempo em que os raios lunares começavam a aparecer.

— Por que tanto silêncio? – Eragon perguntou de repente, olhando dos empregados apressados para a janela e a floresta silenciosa. – A Espinha nunca foi um lugar quieto.

— O que você acha que acontece quando se tem um renegado por perto, Eragon? – Svider respondeu de forma sombria. – Você viu Galbatorix, sabe da energia que emana de pessoas que foram contaminadas pelas trevas. Com Morzan foi a mesma coisa. Não era diferente comigo. Isso assombra tudo que fica por perto.

— Mas você tinha mudado.

— Minha atitude mudou, Eragon, mas uma vez contaminado pelas trevas... bom, minha magia continua sendo das trevas, querendo ou não, virou uma parte de mim. – Ele suspirou e deu um sorriso torto sem graça – Minha mãe costumava dizer que os fins justificam os meios.... Eu segui esse conselho bem à risca, e consegui o que queria..., mas olhando agora... acho que ela não estava tão certa quanto eu pensava na época.

Enquanto olhavam, uma sombra enorme veio voando da floresta, batendo as grandes asas de forma silenciosa e precisa em direção a fortaleza. Quando a sombra se aproximou da luz do castelo, Eragon conseguiu ver um focinho amarronzado e enormes asas de um marrom alaranjado. Deloi.

O dragão marrom planou com leveza até a frente da fortaleza, depois bateu lentamente as asas e voou até a parte de trás da construção, sumindo de vista. Ao lado dos dois espectadores, um dos criados correu para a janela e sussurrou para os outros.

— Os mestres chegaram. Acendam logo essas lamparinas! Vamos! Não é bom aborrece-los.

As criadas redobraram a velocidade para iluminar o local. Assim que terminaram, desceram das escadas e outros criados vieram para retira-las, trabalhando em um silêncio tenso.

— Você era tão ruim assim com eles? – Eragon perguntou com uma sobrancelha erguida.

— Pior que não. – Svider disse coçando a cabeça e sorrindo ironicamente – Mas acho que o título de Renegado é mais forte do que a personalidade da pessoa em si. Eu sempre fui gentil com eles, mas isso não diminuiu nem um pouco sua reserva comigo.

Depois disso Svider bufou indignado e começou a andar pelo corredor, agora totalmente iluminado, até grandes portas duplas de maneira lustrosa e esculpida de forma simples. O cavaleiro castanho a atravessou sem pestanejar, mas Eragon teve que respirar fundo e fechar os olhos antes de fazer o mesmo.

O outro lado provou ser o mesmo quarto que Eragon tinha visto na outra vez que visitara a fortaleza, com as mesmas poltronas perto da lareira e a cama perto da parede, assim como a pouca mobília, só que desta vez havia uma mudança: uma enorme janela com vista para a floresta dava passagem para um enorme ninho no qual Deloi podia se deitar.

O dragão marrom estava aconchegado ali, limpando as patas dianteiras, enquanto Svider retirava sua sela.

Um criado entrou cuidadosamente por uma porta lateral para acender a fogueira, seus olhos verdes observavam apreensivamente Svider e Deloi, como se temesse que eles fossem mata-lo a qualquer instante. Ele se ajoelhou na frente da lareira com cuidado e começou a raspar duas pedras para fazer fogo.

— Olá, Rivian, tendo um bom dia? – Svider cumprimentou o criado alegremente enquanto colocava a sela de Deloi em um canto perto do ninho. Ele vestia uma roupa preta grossa e uma capa da mesma cor feita de lã, obviamente para protege-lo do frio. Mirovir estava em sua cintura e ele retirou-a da bainha para limpa-la em um pedaço de pano que retirara da sela, fazendo o criado estremecer e choramingar baixinho, já que além de tudo, espada estava molhada com sangue. Eragon olhou para o espírito ao seu lado com a respiração presa, mas Svider só lhe deu um olhar pesaroso antes de mover os lábios para formar uma única palavra sem som: Urgals. Eragon suspirou e franziu a testa ao se voltar para a cena.

— S-sim, meu senhor. – O servo respondeu de forma trêmula à pergunta, fazendo uma pequena reverência com a cabeça e redobrando seus esforços para acender a fogueira. Uma fina camada de suor começou a cobrir seu rosto enquanto o nervosismo aumentava, não demorou muito para que ele perdesse o controle das pedras que usava. Elas caíram ruidosamente no chão, deslizando para longe com um zumbido sutil. Rivian se encolheu ao ver que uma havia ido parar bem aos pés Svider.

O cavaleiro ergueu uma sobrancelha, colocou a espada parcialmente limpa em cima de uma mesa na perto da janela e se abaixou para pegar a pedra, poupando um olhar para o criado trêmulo no chão, que tentava formular pedidos de desculpa coerentes.

— S-sinto muito, Senhor... eu...

— Ora, não se preocupe com isso, meu caro. – Svider respondeu com um sorriso jovial, se aproximando do criado e devolvendo-lhe a pedra. – Pode deixar que eu acabo de acender o fogo.

— Mas, meu senhor...

— Não é culpa sua. Tenho certeza de que está cansado depois de um dia de trabalho duro. – Svider segurou uma das mãos do criado e o ajudou se levantar. Rivian olhava-o pasmo, ainda sem decidir se deveria continuar com medo ou se poderia relaxar.

— Meu senhor?

— Descanse um pouco, todos precisam disso de vez em quando. – Svider deu-lhe uma piscadela antes de abrir uma das mãos e fazer com que a outra pedra flutuasse até ela, depois devolveu-a ao homem paralisado e sorriu. – Vá descansar, homem. Amanhã é outro dia.

Rivian olhou-o com os olhos arregalados sem saber o que pensar.

— S-sim, senhor...

Ele se apressou para a porta, ansioso para sair dali.

— Ah, e Rivian? – Svider chamou e esperou que o criado o olhasse, ele viu medo nos olhos do outro e sorriu de forma tranquilizadora – Peça para alguém me trazer um pouco de comida, sim? Não tive uma refeição decente o dia todo.

— C-claro, Senhor...

Com isso ele rapidamente fechou a porta e seus passos apressados logo deixaram de ser ouvidos.

Svider suspirou pesadamente e estalou os dedos, fazendo a lareira irromper em chamas no mesmo segundo. Ele pegou a espada e o pano e andou para perto de Deloi, reclamando em como as pessoas eram impressionáveis quando alguém bateu na porta da criadagem.

— Nossa, essa foi rápida. – Svider murmurou para Deloi. – Entre! Pode deixar a comida na mesa, e está dispensado. – ele disse enquanto recomeçava a limpar a espada.

— Não vim com comida. – uma voz conhecida disse em baixo tom e de forma seca.

Eragon virou a cabeça com rapidez na direção da voz e engasgou ao ver Brom fechando a porta com cuidado. Ele vestia roupas simples: camisa de uma cor cinzenta gasta e calças de um verde manchado. Havia uma capa do mesmo tom de verde envolvendo-o, fazendo-o parecer um pobre caçador. Eragon tinha certeza de que se Brom estivesse no meio das árvores, teria ficado quase invisível.

— Como ele conseguiu entrar? – Eragon perguntou com um sorriso, ao ver o cavaleiro castanho ficar parado em choque.

— Eu informei isso a ele ao mesmo tempo em que mostrava no mapa onde ele poderia me encontrar – o espírito de Svider respondeu calmamente.

— Brom? – Svider perguntou num sussurro chocado, depois se encolheu quando uma forte dor de cabeça o invadiu, deixando a espada cair no chão com um baque. Deloi rosnou e escondeu a cabeça entre as patas, tentando parar a dor que também o atingia.

Brom andou calmamente até eles e segurou os ombros de Svider com força.

— As memórias estão voltando, não? – ele disse calmamente, olhando para o cavaleiro castanho de forma fria – Vamos lá, Svider. Deixe a dor assumir, pare de lutar e as lembranças vão voltar... – ele suspirou ao ver Svider se encolher mais uma vez e então o sacudiu com força – Faça o que eu digo!

Aos poucos Svider relaxou. Brom segurou seus ombros com firmeza para impedir que ele cambaleasse e caísse.

Eragon começou a ter vislumbres do que o cavaleiro castanho estava relembrando. Todas as lembranças, no entanto, só se referiam a Brom. Se qualquer outra pessoa estava presente na lembrança também, era apagada, deixando um espaço vazio. Até mesmo a Floresta dos elfos havia se tornado quase irreconhecível, de forma que Svider não se lembraria de Oromis e Glaedr ou de ter entrado em território élfico. A única coisa que se lembraria de sua cura seria Brom.

— É um feitiço inteligente. – Eragon murmurou espantado.

— Verdade. A única falha é que ele não funciona depois da morte, por isso me lembro de tudo agora. – Svider concordou com um sorriso pensativo.

— Brom... – Svider sussurrou ao se afastar um pouco e segurar a cabeça entre as mãos. – Onde... Como você... – então ele parou, aparentemente se lembrando das conversas que haviam tido em... em algum lugar – Você me curou? – ele resolveu perguntar por fim.

— Não. Foi alguém mais sábio que eu. – o outro respondeu de forma indiferente. – E não. Você não vai se lembrar da pessoa. Minha mente está protegida caso você tente procurar respostas... E eu não tentaria se fosse você. O último que tentou investigar minhas memórias ficou inconsciente por uma semana.

Svider abriu a boca para retrucar, mas aparentemente pensou melhor e fechou-a com um estalo.

— Então você veio para montarmos uma rebelião contra Galbatorix.

— Foi isso que você me prometeu. Mudou de ideia?

— Não! Quer dizer, não, eu não mudei de ideia. Só estou meio surpreso no momento.

Svider voltou-se para Deloi e arregalou os olhos enquanto o dragão lhe dizia alguma coisa.

— O que ele disse? – Brom perguntou pacientemente.

— Que alguém está vindo. Rápido. Esconda-se.

Svider apontou para o ninho de Svider e Brom correu para lá. Deloi ergueu uma das asas e o outro só hesitou por meio segundo antes de se aproximar e sentar-se, logo depois o dragão baixou a asa novamente e o quarto ficou em silêncio.

Svider embainhou Mirovir, ainda parcialmente suja, e correu para a porta quando uma batida suave soou. O cavaleiro correu para lá e agradeceu a empregada rapidamente, pegou a comida fumegante e rapidamente fechou a porta atrás de si. Depois andou até Deloi, que levantou a asa e a dobrou cuidadosamente. O cavaleiro sorriu para Brom enquanto se sentava e colocava a comida entre os dois. Mesmo estando ao ar livre, eles podiam conversar sem temer serem ouvidos, já que os feitiços que cercavam a Fortaleza impediam que sons internos fossem ouvidos além da barreira de proteção.

— Muito bem. – Svider disse enquanto estalava os dedos. – Vamos aos negócios. Primeiro o mais importante: qual será o nome do nosso time?

— Time?

— Nossa revolução, revolta, time. Tanto faz.

— O que importa isso agora?

— Brom, Brom, Brom. Nunca comece uma revolução sem ter um nome na cabeça.

O outro bufou em descrença e olhou-o desconfiado. Svider sorriu e franziu as sobrancelhas em concentração.

— Que tal... Revolucionários?

— Ridículo.

— Então talvez... Rebeldes?

— Isso é uma definição não um nome. – Brom respondeu frustrado, suas sobrancelhas espeças se uniram enquanto ele olhava para Svider irritado, obviamente lutando contra a raiva.

— Libertadores?

— Sem chance.

— Você é exigente. Vingadores?

— Não! – Brom disse ao perder a paciência, elevando a voz o máximo que se atreveu sem atrair a atenção dos criados. – Olha, eu não sei se você está brincando comigo, mas isso não é a escolha para o nome do grupinho da casa d’árvore! É uma revolução e...

— Que tal Varden? – Svider disse repentinamente, como se não tivesse ouvido a explosão do outro.

— Varden? – Brom piscou em descrença.

— Sim. Significa Os Guardiões na língua antiga, acho que serviria.

— Com o tempo eu penso em um melhor, mas por ora acho que dá para o gasto.

— Obrigado pela consideração. – Svider murmurou sarcasticamente, pegando um pouco de pão do prato a sua frente e comendo devagar.

— Ótimo. Já consegui unir algumas pessoas. Vamos nos esconder nas Montanhas Beör, tenho certeza de que o rei anão irá considerar nosso pedido de nos escondermos lá.

— Considerar não é uma garantia. Há todo o conselho anão para considerar.

— Eles têm uma dívida comigo, salvei muitos do povo anão dos renegados. Aceitarão o que eu pedir, para tentar quitar essa dívida.

— Se você diz.... Mas enfim, já temos um nome e um lugar, recrutar as pessoas fica por sua conta.

 - Faltam as informações que você me prometeu.

— Ah, sim. Informações. Vou lhe contar o máximo que eu puder no pouco tempo que temos. Você tem que partir o mais rápido possível. Temos que aproveitar que Galbatorix pensa que já tem tudo ganho e surpreendê-lo.

— Certo. Então comece. – Brom pressionou, pegando um pedaço de pão e examinando-o, garantindo que não estava envenenado.

Svider fechou os olhos por um momento e virou a cabeça em direção a Deloi, que começou a fazer um som profundo com a garganta.

— Acho que eu e Deloi concordamos que a informação mais importante é que Galbatorix possui três ovos de dragão, escondidos no castelo em Uru’bean.

— Ovos?!

O espírito de Svider acenou com uma mão e uma porta feita de mogno surgiu a frente deles, ela se abriu silenciosamente, girando calmamente nas dobradiças antes de ficar parada. O cavaleiro castanho fez um gesto para que Eragon fosse na frente.

O jovem encaminhou-se até a porta, observando Svider e Brom discutindo acaloradamente. Seu pai parecia cheio de esperança enquanto ouvia Svider falar sobre os ovos. Eragon sorriu pacificamente para a cena antes de atravessar a porta.

O espírito de Svider suspirou enquanto observava a cena. Ele olhou para Deloi, sentindo-se subitamente sozinho. Seu pobre dragão parecia em paz ali... E ele falhara em fazer com que essa paz continuasse. Ele condenara seu dragão... talvez Eragon conseguisse consertar isso. Balançando a cabeça para se livrar dos pensamentos incômodos e estranhamente esperançosos, Svider também atravessou a porta e o mundo mudou.

~~~~~~~~~~**~~~~~~~~~~

O jovem cavaleiro parou assim que ultrapassou o batente, olhando em volta com curiosidade. Seus olhos vagaram por um enorme salão negro repleto de colunas enormes de sustentação. Um trono ficava logo a sua frente. Atrás dele, enormes cortinas negras se estendiam do teto ao chão... mas elas pareciam se mover por vontade própria... como se fossem grandes asas.

Eragon ofegou quando reconheceu o lugar.

A sala do trono em Urû’bean.

— Eu sei, eu sei. Garanto que é por um bom motivo. – Svider disse atrás dele, colocando uma mão em seu ombro.

Eragon não respondeu, mas continuou a observar o lugar, recordando do que passara ali. Da total falta de esperança, da dor, do desespero, do medo que sentira por si mesmo, por Saphira e por toda a Alagaësia... e da raiva por Galbatorix.

Então as portas duplas douradas se abriram silenciosamente, dando passagem a ninguém menos que o próprio Galbatorix. Atrás dele vinham Morzan e Svider, que aparentemente estavam de mau humor, lançando olhares assassinos um para o outro.

Galbatorix, entretanto, parecia completamente feliz, sorrindo de orelha a orelha. Com um baque Eragon se lembrou do que seu pai dissera: Galbatorix gostava de ver seus seguidores brigando, era uma espécie de entretenimento para ele.

O rei louco vestia-se luxuosamente, com uma enorme capa vermelha e uma túnica prateada, o que o destacava na arquitetura obscura da sala. Sua coroa parecia atrair todo o brilho das tochas, fazendo-a brilhar. No total, Galbatorix parecia um dos heróis encantados de que toda criança ouve histórias antes de dormir. Morzan se vestia de forma semelhante, como se tentasse dizer que apoiava o rei até mesmo na vestimenta. Já Svider, vestia-se de forma simples, com uma roupa cinzenta mais grossa e uma capa feita com lã, obviamente ele estivera voando.

Galbatorix subiu os degraus do trono e sentou-se com um sorriso no rosto. Olhando mais atentamente, Eragon viu que os olhos dele brilhavam de raiva... ódio, na verdade.

— Ora, sorriam, meus caros. – ele disse. Sua voz reverberou no salão, mesmo sem que ele gritasse – Hoje não é um bom dia? Recebemos a ameaça aberta desse novo grupo que se intitula os “Varden”. Isso acaba com a monotonia, não é?

Morzan abriu um sorriso maligno e voltou os olhos para Svider.

— É claro que nem haveria ameaça contra vós, meu rei, se eles houvessem sido destruídos assim que soubemos de sua insignificante fagulha de revolta, como eu sugeri. – ele apontou um dedo acusador para Svider – Mas você disse que nada iria acontecer. Olhe agora! Suprimentos foram roubados e Stefan e Kwai foram atacados e quase mortos pelos rebeldes... As pessoas estão começando a falar.

Svider encarou-o com a expressão plana e controlada, mas não respondeu.

— Svider? O que tem a dizer, meu amigo? – Galbatorix perguntou com a voz surpreendentemente gentil, seus olhos se suavizaram quando encontraram com os de Svider, ele tinha o amigo em alta conta.

— Acho que esta é uma ótima oportunidade de demostrarmos a força do Império, meu rei. Se eles fossem massacrados muito cedo, as pessoas iriam perder a esperança de ter alguém que nos enfrente. – Svider respondeu calmamente.

— E por que iríamos querer que elas tivessem esperança quanto a isso? – Morzan perguntou de forma cética, seus olhos brilharam com ódio por ter sido contrariado abertamente na frente do rei.

— Porque pessoas sem esperança são perigosas, elas começam a não dar importância para a própria vida, tornam-se imprevisíveis e saem do controle. As pessoas precisam de uma chama de esperança, só temos que controlar essa chama para que se transforme em uma fagulha. – Svider respondeu, olhando para Galbatorix com o rosto em branco – Meu rei, sugiro que mostremos nossa força aos rebeldes, mas que os deixemos vivos, assim trabalharão a nosso favor. Devemos relembrar a todos do poder do Império, mas devemos controlar esse poder e mostrar “misericórdia” aos Varden, devemos fazer com que as pessoas fiquem do nosso lado até que possamos erradicar essa ameaça com o apoio do povo.

— Não precisamos do povo. – Morzan resmungou entredentes. – Chegamos ao poder sem nos importarmos com o povo, e vamos continuar assim.

— É aí que sua ignorância se mostra, Morzan. – Svider respondeu, mostrando, pela primeira vez, ódio na voz. – Se não deixarmos o povo do nosso lado, revoltas vão continuar surgindo, até que sejam grandes demais para simplesmente destruirmos. Se não conquistarmos a confiança de alguém não conseguiremos continuar no poder por muito tempo.

— Você duvida do poder de nosso rei?!

— Não duvido do poder dele, mas também não desprezo o do povo.

Morzan rosnou de raiva, mas parou o que quer que fosse fazer quando o rei ergueu uma mão.

Galbatorix recostou-se no trono e colocou uma das mãos sob o queixo enquanto pensava na questão. As grandes cortinas, ou melhor, asas atrás do trono moveram-se e um rosnado partiu dali. Galbatorix inclinou a cabeça para um lado e acenou positivamente, depois olhou para Svider e sorriu-lhe com carinho.

— Parece que eu e Shuruikan concordamos. Svider está certo. Meu amigo, você liderará o ataque...

— O quê?! Meu rei... – Morzan interrompeu com raiva, mas Galbatorix o ignorou.

— ... Já que a ideia foi sua, e se isso não der certo – nessa parte Galbatorix fechou a cara – será responsabilizado completamente pelo fracasso. Fui entendido?

Svider sustentou o olhar de Galbatorix por alguns segundos, mostrando que não fora intimidado, antes de curvar a cabeça em uma reverência respeitosa.

— Assim será, meu rei.

— Quando partirá?

— Ao amanhecer, meu senhor.

— Ótimo. Morzan – o rei se virou para o outro renegado, que estava parado com os braços cruzados em frente ao corpo de forma contrariada – Acompanhe Svider, vocês escolherão mais alguns cavaleiros e iniciarão o ataque. Me juntarei a vocês depois, assim que eu resolver uns assuntos.

Eragon franziu o cenho e olhou para o espírito ao seu lado.

— Foi você que atacou as cidades anãs e obrigou todos a irem para Farthen Dûr? – Ele perguntou, lembrando-se do que ouvira em Tarnag, a cidade anã acima da superfície, enquanto viajava para Ellesméra pela primeira vez.

Svider suspirou mas acabou assentindo.

— Eu tive. Se não os aterrorizasse, Galbatorix descobriria minha ligação com os Varden, eu tinha que deixar a situação convincente. Galbatorix estava incomodado com os rebeldes, eu tinha que garantir que a situação estava sob controle.

O espírito estalou os dedos e uma nova porta surgiu, ela estava repleta de runas dos anões gravadas na madeira velha e desgastada. Eragon a atravessou depressa, ansioso para sair da sala do trono. Svider esperou um momento antes de segui-lo, olhando para Galbatorix com culpa antes de adentrar na nova memória.

~~~~~~~~~~**~~~~~~~~~~

Eragon atravessou a nova porta com rapidez.

A primeira coisa que notou era que estava caindo.

O vento uivava ao seu redor, como se tentasse rasgar sua pele e espalhar o que sobrasse dele por todos os lados. Se ele não estivesse tão acostumado a voar em Saphira, certamente teria entrado em pânico.

Em vez disso, o jovem lutou para se posicionar em uma posição horizontal, abrindo os braços e pernas no processo, tentando retardar sua queda. Seus olhos lutavam para não se fecharem com a intensidade do vento, mas o choque contra o ar os fazia arder terrivelmente, levando lágrimas aos olhos do cavaleiro e deixando sua visão embaçada.

Portanto foi uma surpresa quando sentiu uma mão se fechando em torno de seu pulso, puxando-o para trás.

E então ele parou de cair.

Abrindo os olhos devagar (embora ele não se lembrasse de tê-los fechado), Eragon viu que estava flutuando algumas polegadas acima das costas de Deloi. O espírito de Svider estava a sua frente, ainda agarrando seu pulso. Os olhos azuis brilhavam com adrenalina e ele sorria de orelha a orelha. Os cabelos dourados estavam bagunçados e chicoteavam para todos os lados ao sabor do vento.

— Ah! Nada como uma boa queda livre para fazer um homem se sentir vivo! – ele disse alegremente, soltando o pulso de Eragon para voltar a prender o cabelo.

— Ahn... Eu concordo em descordar. – Eragon resmungou, suspirando para tentar fazer o coração parar de bater. Lembrou-se da batalha contra Murtagh assim que retornara do treinamento, e de sua investida maluca contra o jovem dragão Thorn... Saphira havia ficado furiosa com ele. Uma das diferenças daquele momento, era que ele não havia tido tempo para pensar. Depois de se jogar do torso de Saphira, só havia tido um pensamento: ferir o dragão. Depois eles haviam continuado a lutar. Mas agora... era como se ele tivesse despencado para a morte e revivido quase instantaneamente, deixando-o um tanto atordoado.

A frente dele, Svider havia ficado sério de repente. O sorriso sumira e os olhos haviam ficado tristes. Ele olhava para Deloi de forma melancólica. Pela primeira vez Eragon se perguntou o que acontecera com o dragão marrom. Ele estava prestes a colocar a sua pergunta em voz alta quando pensou melhor. Lembrou-se de quando vira Saphira ser ferida por uma das lanças élficas, feitas especialmente para matar dragões, enquanto lutavam contra o Império. Ele não gostava nem de pensar naquilo, muito menos falar da experiência com alguém. Era melhor Svider ficar sozinho com seus pensamentos.

Para se distrair, o jovem olhou para a cena a sua volta: Svider estava montado no torso de Deloi, vestindo roupas de lã e couro simples, mas desta vez as cores eram negras como as escamas de Shuruikan. Deloi voava rapidamente, buscando as correntes de ar mais favoráveis para lhe dar mais velocidade. Um pouco mais a frente, Shuruikan voava em toda a sua glória enlouquecida, suas escamas negras refletindo a luz do sol de forma sombria e sua sombra parecia ser o sinal da morte. Em seu torso, Galbatorix estava sentado calmamente, sua coroa parecia brilhar com luz própria e ele nunca olhava para trás. Atrás deles vinham quatro renegados e seus dragões, um deles era Morzan, montado em seu dragão vermelho sangue. Eragon engoliu em seco ao ver o quanto Murtagh se parecia com ele.

Balançando a cabeça, ele voltou o olhar para as redondezas. Estavam atravessando rapidamente uma área com poucas árvores e arbustos ressecados, adentrando em uma floresta expeça aos pés da maior cadeia de montanhas de toda a Alagaësia.... Estavam indo em direção às Montanhas Beör.

O tempo acelerou de repente quando o espírito de Svider fez um aceno com a mão. E então eles estavam em um massacre.

As cenas pareciam passar em um borrão. Ou isso, ou o cérebro de Eragon havia ficado entorpecido pelo horror.

Dragões cuspiam fogo, destruindo aldeias anãs inteiras e milhares de vidas. Renegados gritavam feitiços e maldições, fazendo com que suas vítimas gritassem em agonia. E os gritos... os gritos eram a pior parte. Altos, desesperados, repletos de medo, dor e ódio. Anões tentavam fugir e se esconder, buscar ajuda ou proteger suas famílias.... Tentavam qualquer coisa para impedir o massacre, mas falhavam miseravelmente. Nenhum deles esperara por isso.

Svider e Deloi tentavam ao máximo não fazer tantos danos, destruindo construções mais afastadas e assustando os anões o suficiente para que Galbatorix não suspeitasse.

— Venha, Eragon. – Svider murmurou ao lado dele. Uma porta flutuava a poucos palmos de distância. O jovem levantou-se de forma mecânica, quase sem pensar. Dentro dele algo mudava, seu coração endurecia levemente. E apesar de ele lamentar todas essas perdas, sabia que havia sido por algo maior, mesmo que ele não concordasse. Havia sido por causa disso que os Varden haviam conseguido sobreviver.... Eles haviam conseguido enganar Galbatorix.

Os gritos aumentaram novamente, enquanto o dragão de Morzan incinerava um grupo de anões guerreiros que tentavam enfrenta-lo. Eragon se encolheu e olhou para Galbatorix, que montava Shuruikan à poucos metros de distância. O jovem arregalou os olhos ao ver que o rei louco olhava atentamente para Svider e Deloi em sua tentativa de acabar com os anões. Em seus olhos só havia um sentimento: desconfiança.

Estremecendo, Eragon rapidamente atravessou a porta, tentando escapar da sensação de impotência que parecia acompanhar cada atitude que Svider tomava.

~~~~~~~~~~**~~~~~~~~~~

Atrás da porta eles continuavam voando. Só que desta vez, sobre a vastidão ressecada do Deserto Hadarac. Os raios solares incidiam sobre eles enquanto o Sol se aproximava de seu ponto mais alto no céu. Svider vestia as mesmas roupas de couro negro que antes e Deloi voava calmamente em direção a algum lugar desconhecido, suas escamas refletiam a luz do Sol, fazendo-o brilhar de forma quase ofuscante.

Eu estou lhe dizendo, Deloi. Ele estava nos observando. Tem feito isso desde o ataque aos anões. Ele suspeita. Svider dizia mentalmente, soando preocupado.

Então você vai continuar com essa sua ideia maluca? Deloi respondeu, soando irritado. Parceiro, ninguém nunca conseguiu nem ver o passado, quanto mais muda-lo. Temos que encontrar outra maneira.

Já estamos construindo as colinas desde o ataque, Deloi. E isso foi dois meses atrás. Não vou dar meia volta agora. Vou até o fim disso.

Deloi bufou irritado, fazendo com que fumaça negra saísse de suas narinas e fosse levada pelo vento até o rosto de seu cavaleiro, que a afastou com um aceno irritado.

Nós conversamos com Brom várias vezes já. Passamos toda a informação que tínhamos, mas podemos facilitar mais as coisas para ele e os rebeldes. Uma porta aberta aqui, um guarda sumido lá... Deloi sugeriu mais uma vez.

Isso atrairia ainda mais a atenção de Galbatorix, não podemos arriscar. Temos que dar tempo para eles se fortalecerem. Foi isso o que aconselhamos que Brom fizesse: não ataque por um tempo, ganhe força, aprenda com os inimigos, espione, se infiltre, ganhe aliados. Não podemos apressar as coisas agora... E até que os Varden fiquem prontos, Galbatoix terá descoberto nossa traição. Svider respondeu com convicção, apertando dom força a sela, como se quisesse esganar alguém.

Você tem tanta certeza disso?

Claro! Ele não é idiota e fica mais poderoso a cada dia, controlando os Eldunarí cada vez mais.... Lembra que ele tentou nos dar alguns dos corações? Ele não queria nos ajudar, queria nos espionar. E além de tudo, eu acho que Galbatorix está procurando o nome da Língua Antiga.

E você está assustado.

Claro que estou! Ele vai nos descobrir em breve e não temos poder para enfrenta-lo.

Por isso a única opção lógica seria voltar no tempo?

Sim!

Parceiro, me escute. Podemos nos esconder com os Varden. Buscar os segredos da magia que nem mesmo Galbatorix conhece. Podemos fortalecer os Varden e fazer essa rebelião se transformar em um exército poderoso.

Eles não vão nos aceitar.

Talvez Brom aceite.

Não, ele não confia tanto em nós, tanto é que não nos mostrou aonde estão se escondendo. Não, Deloi. A única maneira de tudo melhorar é a de fazer com que nada disso aconteça. Ou morrer tentando.

Muitas pessoas morrem pelo que acreditam, mas a verdadeira coragem está em viver e sofrer pelo que acreditam.

.... Sim, eu sei, Deloi. Você disse isso a Brom em nossa última reunião. Mas sabe qual é a diferença entre mim e ele? A diferença é que eu não tenho coragem. Vou correr e me esconder na primeira oportunidade, sempre vou ir pelo caminho mais fácil e me aproveitar de quem conseguir. Vamos, temos que convencer os povos das Terras Além de que não vamos machuca-los.

Claro, claro, parceiro. Mas ainda acho que é uma má ideia.

E provavelmente você está certo.

— Espera, você conheceu as Terras Além? – Eragon perguntou.

— Claro. Como acha que tive permissão para construir a Passagem de Prata? E não, não vou lhe contar o que há lá. Você deverá descobrir por si mesmo. – Eragon estava prestes a protestar, mas Svider o parou com um olhar duro. – Confie em mim, Eragon, saberá pelos próprios habitantes sobre nossa estadia por lá. Por ora, não temos tempo. A reta final está chegando e não posso me estender muito mais.

Eragon franziu a testa e suspirou contrariado, esforçando-se para não ficar irritado com a contínua recusa de Svider em lhe revelar o que ele mais queria saber.

O tempo foi acelerado novamente, e quando tudo voltou ao normal, estavam seguindo o rio Edda rumo ao Mar depois do deserto. Ali, pequenos cumes brilhantes se erguiam a beira mar, um pequeno presságio do que depois se tornariam magníficas colinas feitas de diamantes cruzando uma imensidão azul de água.

Svider suspirou pesadamente e olhou para Deloi. Por que ele não havia escutado a sabedoria de seu dragão? Isso havia arruinado a ambos. Talvez sua vida tivesse sido amaldiçoada no dia de seu nascimento. Seria uma desculpa mais inspiradora do que o fato de ele escolher o lado errado sempre que uma decisão lhe era dada... Da sua total incapacidade de fazer o certo.

Ele olhou para o céu azul e límpido com uma pergunta silenciosa em seus lábios: por que eu?


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Notas finais do capítulo

E então o que acharam? A jornada de Eragon e Svider está próxima do fim. O que esperam do próximo capítulo?
Muito obrigada por chegarem até aqui comigo!
Nos vemos em breve^^



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